SAUDADES DA MINHA TERRA QUERIDA: OUTRA OUTRORA

Por Zé Carlos Gonçalves

Outrora,

na minha terra,

vinha o silencioso luar
namorar,
no apogeu do plenilúnio;

e

o riacho passeante,

em suas áridas entranhas,

enebriava-se com tamanha
pujança
mistérios
e
maravilhas;

e

as curacangas,

sedentas das batinas,

tornavam-se devoradoras
das almas,
sedentas dos pecados;

também,

o estio abrasante,
explodia prenhe
em todas os tons,
a colorir a fome

dos pássaros,
que “avoavam” os voos
leves e alegre

e

dos animais,
que tateavam as madrugadas,
pródigas em sementes!

Hoje,

na minha terra,

ainda,

há palmeiras,
que somem
na velocidade da ganância.

sumiram …

o curió
o azulão
o totoriá
a patativa
o “caboquinho”

… na gula das gaiolas.

o nambu
a jaçanã
a siricora
a marreca
a surulina
a japeçoca

… na gula das espingardas!

Paradoxalmente, restam

as “galças”,
desconfiadas das maldades
humanas,

e

os “arubus”,
fingindo-se ingênuos,
a dominarem a cidade!

A FORÇA DE UM SONHO: Filha de porteiro e faxineira é a aprovada em Medicina na USP

Filha de porteiro e faxineira é aprovada em medicina na USP após estudar 17h por dia durante três anos

Marya Teresa Ribeiro, moradora de Santos(SP), contou ao g1 que chegou a fazer mais de 250 redações para treinar a escrita.

Marya Teresa Ribeiro, 20 anos, realizou o sonho de ser aprovada em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Ela é de Santos e conta que teve de estudar cerca de 17h por dia por três anos até a conquista da vaga.

No período, segundo Marya, ela escreveu cerca de 250 redações se preparando para o exame da USP. Para suportar a rotina, contou com o apoio dos pais, que trabalhavam como porteiro e faxineira e nunca fizeram faculdade.

“Eles acreditaram em mim e apoiaram no meu sonho”, disse.

Marya contou ao g1 que não acreditou quando foi aprovada na primeira chamada. Segundo ela, a ficha só caiu quando veteranos do curso mandaram mensagens desejando parabéns. “Eu percebi que era real e que aquela lista não estava errada”, disse.

Naquele dia, a jovem se preparava para fazer uma visita a uma universidade particular em Bragança Paulista, onde também foi aprovada e conseguiu uma bolsa integral.

“Contei para minha família e foi um momento de muito choro e alegria. Eles acompanharam meu sofrimento, minha trajetória”.

Jovem contou ter feito mais de 250 redações para treinar a escrita — Foto: Arquivo pessoal

Trajetória

A preparação para este “grande dia” durou três anos. A jovem começou a estudar em um cursinho pré-vestibular particular em 2020, após conseguir bolsa integral na unidade. Foi lá que Marya percebeu que estava “atrasada” no conteúdo que costuma ser abordado nas provas.

Estudante de escola pública durante todo o Ensino Médio, ela afirma que ao prestar o curso intensivo se deparou com uma realidade totalmente nova, especialmente na escrita. “Na minha redação, no cursinho, eu tirei – 27”, conta.

– Positivo para Carcinoma. Carcinoma é câncer!

Por Ana Creusa

Estava indisposta, a única coisa que eu conseguia fazer era assistir à televisão, liguei na série Casa de Papel, mas a “preguiça” não passava. Permaneci deitada com pensamentos confusos, não conseguia me concentrar!

Virava na cama, não conseguia uma posição confortável, deitei de barriga para baixo, com um travesseiro para apoiar o busto, aquela posição esbarrou no seio, uma dor fina e profunda me acometeu, senti gosto de sangue na boa e sensação de desmaio. Pensei imediatamente: é câncer, uma doença, antes inimaginável para mim.

Marquei consulta com a ginecologista, Drª Marina, e relatei o fato, ela me indicou um mastologista e este marcou um exame de mamografia. Perguntei ao radiologista:

– Qual seria a probabilidade de ser câncer?

Ele falou:

– A probabilidade é 50%.

Eu disse:

Esse percentual não quer dizer nada! Pode ser ou não ser na mesma proporção.

O médico me tratou muito bem, além do normal, pois que eu já tinha feito outros exames de mamografia com ele, isso me dava a certeza que o médico desconfiava, ou sabia que era câncer, só não queria dizer.

E eu insistia:

– Qual a probabilidade de ser câncer, Doutor, ele disse:

– 70% (setenta por cento)!

Foi o suficiente para eu ter certeza que era câncer.

Saiu o resultado, levei ao mastologista, ele me encaminhou para fazer a biópsia. Também me tratou bem demais! Perguntei o percentual de chance. Ele pediu que eu esperasse o resultado da biopsia.

A biopsia foi feita. Durante o procedimento, novamente aquele tratamento vip me foi dispensado, aquele que se dirige aos coitados!

Durante o exame perguntei:

– Qual a probabilidade de ser câncer?

A médica disse logo:

– Setenta por cento!

O resultado sairia daí uma semana.

Reuni minhas quatro irmãs e relatei os fatos. Houve choro e declarações de Fé de que não era câncer e se fosse, o tratamento iria me deixar curada.

Passado o tempo, o resultado veio. Não abri o envelope. Reuni minhas irmãs novamente para poder abrir o envelope do Laboratório Cedro. Eu tinha certeza que era câncer e já planejava o tratamento e pensei: inaugurei mais um evento na Família!

Alguém abriu o envelope: a leitura foi feita por minha irmã da área da saúde. Inicialmente confundimos e pensamos que o resultado seria negativo. Eu não conseguia acreditar nesse resultado negativo. Cleonice leu os exames e disse:

– É positivo para Carcinoma! Carcinoma é câncer!

Nos abraçamos e prometemos que o tratamento seria feito! Eu decidi que contaria sobre a doença a todos que eu tivesse relacionamento, pois, não queria carregar esse estresse. Lembrei do meu tempo de asma, que tinha que omitir a enfermidade para não sofrer preconceito.

Voltei ao mastologista, ele marcou a cirurgia. Foi feito o procedimento, com exame de linfoma, provando que não havia metátese!

Fiz o tratamento, com Plano de Saúde: a cirurgia e quimioterapia e, no Aldenora Belo, a Radioterapia.

Como sequela desenvolvi problema de tireoide e diabetes.

Não conto os detalhes sobre o tratamento, os efeitos da quimioterapia e outros desafios, porque nesse período eu estava praticando a Lei Universal do Distanciamento, que equivale à Parábola das Pegadas na Areia. Durante o tratamento, estive nos braços de Jesus.

Minha Gratidão aos Anjos que me acompanharam nessa jornada.

 

Escrito em 04 de fevereiro, Dia Mundial de Combate ao Câncer

IRACEMA VALE ACUMULA MAIS UM PIONEIRISMO NO MARANHÃO

IRACEMA CRISTINA VALE LIMA é a Deputada Estadual mais votada da história do Maranhão e agora acumula mais um pioneirismo, e agora é primeira mulher eleita como presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão.
A deputada estadual Iracema Vale (PSB) foi eleita, por aclamação, nesta quarta-feira (1º), presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão. Ao assumir a função, a parlamentar se torna a primeira mulher a comandar o Legislativo maranhense, em quase duzentos anos de fundação da Casa. Além disso, a condução de Iracema ao mais alto cargo da Mesa Diretora quebra outro paradigma no estado ao torná-la, também, a primeira parlamentar de primeiro mandato a presidir o Parlamento Estadual.
A eleição para a Mesa Diretora da Alema aconteceu logo após a cerimônia de posse dos deputados estaduais eleitos e reeleitos no pleito de outubro. O ineditismo dos atos representa um marco histórico para a Assembleia Legislativa do Maranhão, o que foi amplamente exaltado pelos parlamentares presentes.

“Após quase dois séculos de existência da Casa do Povo, será a primeira vez que estaremos sendo protagonistas dessa história. É muito importante saber ousar e enfrentaremos todos os desafios com coragem e determinação”, disse Iracema Vale.

A nova presidente liderou a chapa “União pelo Maranhão”, composta ainda por Rodrigo Lago (1° Vice-Presidente), Arnaldo Melo (2° Vice-Presidente), Fabiana Vilar (3º Vice-Presidente), Andreia Martins (4° Vice-Presidente), Antônio Pereira (1° Secretário), Roberto Costa (2° Secretário, Osmar Filho (3° Secretário) e Guilherme Paz (4° Secretário).

A primeira sessão preparatória foi conduzida pelo deputado Arnaldo Melo (PP), decano da Assembleia, auxiliado pelos deputados Andreia Resende (PL) e Ricardo Arruda (Republicanos). A solenidade seguiu o rito tradicional, com a execução do hino do Maranhão, leitura do termo de compromisso e juramento dos empossados.

Ao término, o deputado Arnaldo Melo destacou a importância do ato. “O Poder Legislativo é importante e soberano, pois é quem elabora e reforma as leis que regem a vida da sociedade”.

Iracema Vale durante a solenidade de posse, realizada no Plenário Nagib Haickel, na manhã desta quarta-feira

Iracema Vale durante a solenidade de posse, realizada no Plenário Nagib Haickel, na manhã desta quarta-feira

Eleição

A sessão para eleição da Mesa Diretora foi conduzida pelo deputado Neto Evangelista (União Brasil), auxiliado pelas deputadas Dra. Viviane (PDT), Ana do Gás (PCdoB) e Mical Damasceno (PSD).

O deputado Dr. Yglésio (PSB), que havia registrado seu nome de forma isolada para concorrer ao cargo de 1° Vice-Presidente, encaminhou ofício à Mesa dos trabalhos anunciando desistência.

Neto Evangelista foi quem anunciou o resultado da eleição unânime da chapa encabeçada por Iracema Vale. A presidente eleita foi empossada e deu sequência aos trabalhos, auxiliada pelos 1° e 2° Secretários, Antônio Pereira e Roberto Costa, respectivamente.

A nova presidente fez seu discurso de agradecimento e prosseguiu anunciando a reeleição, também por aclamação, da deputada Daniella (PSB) para a Procuradora da Mulher.

Lembrando que em resultado extraordinário na eleição de 2022, ela conquistou sua vitória com a maior votação para deputada estadual já vista no Maranhão e os números são impressionantes: mais de 104 mil votos.

Fonte: https://www.al.ma.leg.br/

JOSÉ DOS SANTOS, UM HOMEM DE FÉ

Nasceu em 02/02/1922, é natural de Palmeirândia, terra de seus pais. Foi criado no Povoado Cametá, no Sítio Jurema – Peri-Mirim/MA, filho de Ricardina Santos e Máximo Almeida, o nome do seu pai não consta no seu registro de nascimento, pois não eram casados. Sua mãe era negra e seu pai, louro de olhos azuis. Pelos padrões da época, não havia casamento entre essas raças. É patrono da Cadeira nº 24 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por José Sodré Ferreira Neto.

Naquela época predominava os bailes separados pela cor da pele. José na adolescência, apesar de não ser negro, geralmente, sofria resistência para entrar nos “bailes dos brancos”, por ser filho de Ricardina.

Sua mãe teve 8 filhos, mas faleceu muito jovem, quando José tinha apenas 18 anos. Na época, sua mãe não tinha nenhum companheiro – criava os filhos sozinha.

Homem de poucas letras, estudou apenas 03 meses. Naquela época não tinha escolas, os professores eram contratados pelos fazendeiros para educar apenas os seus filhos. João Guilherme e Mariana Martins contrataram uma professora para ensinar seus filhos e Ricardina pediu para que os amigos deixassem seus filhos maiorzinhos estudarem na casa deles.

Com três meses José já sabia ler e rabiscar algumas letras. A professora mandou comprar-lhe livro de 2.º Ano, porém, a professora teve que ir embora, por se envolver em um triângulo amoroso que contrariava a vontade dos patrões.

A professora pediu a Santoca (alcunha da mãe de José), para que levasse José consigo, para que ele pudesse aprender mais. Mas a mãe não podia deixar: José era seu filho mais velho e já lhe ajudava nas tarefas da vida.

Sem a professora, mas com o Livro de 2.º Ano nas mãos, José leu e releu o livro. Memorizou todas as lições, que mais tarde viria a contar para seus filhos e netos: ele sabia os afluentes da margem direita e esquerda do Rio Amazonas e várias lições como: “Vá e entrega-se ao vício da embriaguez” e tantas outras.

Antes de falecer Ricardina pediu a José e Maria Santos que cuidassem dos seus irmãos. O irmão mais novo, Manoel Santos, tinha apenas 4 anos de idade.

Os filhos de Ricardina são: 1) Joelzila; 2) Maria Santos; 3) José Santos; 4) João Pedro; 5) Alípio; 6) Antônio; 7) Izidoro e 8) Manoel. Destes, apenas João Pedro ainda está vivo.

José tinha muitos sonhos, o mais forte deles era servir a Pátria Amada. Ele gostaria de seguir a carreira militar no Exército Brasileiro e tocar clarinete na Orquestra do Exército, mas com a missão de continuar a criação dos seus irmãos, não pôde realizar esse sonho.

Com esse sonho ainda vivo, José estimulou três dos seus irmãos a servir o Exército, foram eles: 1) João Pedro, 2) Alípio e 3) Antônio. Todos eles ao cumprirem o tempo obrigatório, engajaram na Polícia Militar do Maranhão. João Pedro e Antônio foram destacados para o município de Coelho Neto, para dar segurança à família Duque Bacelar e depois deixaram a PM e por lá casaram-se e tiveram seus filhos.

Alípio permaneceu na PM, galgando a maior posição que um Praça pode alcançar, cargo em que se reformou.

José e Maria Santos criaram seus irmãos com princípios e valores sólidos: todos lhe tomavam a bênção e lhes deviam respeito. Os irmãos homens tinham o hábito de somente sentar-se à mesa na cabeceira, mas quando Zé Santos os visitava, na hora das refeições, todos eles cediam o lugar da cabeceira da mesa a José, que comandava a Família do irmão naquele momento solene, sempre antecedido de orações. Pode-se ver que José cumpriu muito bem a missão que a sua mãe lhe confiou.

José na Mocidade, cumpre registrar, era um jovem simpático, forte e musculoso, campeão de “cana-de-braço”, amansador de burro bravo, pé de valsa, ´brincante de bumba-meu-boi, comparecia às festas com terno de linho belga “arvo”, sapatos de couro, sorriso fácil, era muito cobiçado pelas moças do lugar.

José começou a namorar uma moça, filha do fazendeiro Benvindo Mariano Martins. Ela é Maria Amélia, sabia ler, escrever, fazer belas costuras e bordados e tinha um belo jardim, que costumava cuidar no final da tarde, quando Zé Santos já saía do trabalho e por ali conversavam.

Casaram-se e tiveram muitos filhos: 1) Francisco Xavier; 2) Ademir de Jesus (in memoriam); 3) Cleonice; 4) Edmílson José; 5) Ricardina; 6) Ademir; 7) Maria do Nascimento; 8) Ana Creusa; 9) Ana Cléres; 10) José Maria e 11) Carlos Magno (in memoriam).

José era um exímio educador, pois educava com amor, carinho e, principalmente pelo exemplo, pois era líder comunitário em Peri-Mirim, juntamente com Pedro Martins. José Santos era um homem de Fé.

Antes de falecer José ainda queria realizar um sonho: construir uma casinha no exato lugar onde fora criado (na Jurema), para que fosse celebrado o seu aniversário, com uma missa em homenagem à sua mãe Ricardina. Ele realizou esse sonho como idealizou, aos seus 94 (noventa e quatro) anos.

Também idealizou que uma vez por ano fosse feita uma reunião na Comunidade de Cametá, na casa que construiu para homenagear a sua mãe, para que todos se reunissem para celebrar a união e gratidão pelas pessoas do lugar.

José faleceu antes que fosse realizada a 1.ª Ação de Graças que idealizou para que fosse realizado todo ano no último sábado do mês de julho. No dia 29 de julho de 2017 foi realizada a 1.ª Ação de Graças na Jurema; a 2.ª Ação de Graças 28 de julho de 2018 e a 3.ª em 27 de julho de 2019.

José dos Santos era um líder, um educador nato, possuidor de uma inteligência ímpar, um homem digno, que merece entrar para a imortalidade ao ser escolhido para ser um dos patronos da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, para que sua história seja contada às futuras gerações – foi um homem exemplar, motivo de orgulho para toda a sua descendência.

José dos Santos sempre pregou a União, vivia na graça, era um Homem Feliz, faleceu no dia 25 de fevereiro de 2017, aos 95 (noventa e cinco) anos, em São Luís, onde está sepultado juntamente com seu filho Carlos Magno.

 

A QUEBRADEIRA DE COCO BABAÇU

Por Gracilene Pinto

 

O mato todo ainda está molhado 

pelo sereno que cai nas madrugadas, 

e as ervas do caminho, perfumando, 

dão à mulher a paga das pisadas. 

Do chão subindo em nuances olorosas, 

que a brisa leve levanta pelos ares,  

seu cheiro doce invade a alma,  

se espalha nos palmares.  

A mulher olha o céu agradecida 

que ainda não seja o tempo da invernada.  

Mesmo sabendo que a água é que dá vida, 

com a chuva a tarefa é mais pesada. 

Finalmente, adentra o babaçual 

onde as altas e viridentes palmeiras 

generosas deitam ao chão seus cocos, 

sustento único de tantas quebradeiras. 

O cofinho, vai na cinta pendurado, 

Na mão direita o companheiro patacho, 

sua arma e instrumento de trabalho.  

Mesmo as coqueiras botando os cocos abaixo, 

vai que uma hora precisa cortar um galho? 

As palmeiras esparramam pelo chão  

seus frutos duros, tão duros como a vida, 

mas, vê-se logo também que não é vão 

aquele jeito todo de mulher atrevida. 

Juntando os cocos, na cabeça põe o cofo, 

e do seu peso não reclama, sequer geme, 

pois foi talhada para a lida, e seu estofo 

é de guerreira, a baixadeira nada teme. 

Em casa, logo começa o toc-toc… 

Na mão esquerda o coco enfrenta o afiado 

machado e sofre os golpes da manceta 

e as amêndoas retiradas com cuidado 

vão enchendo a cuia grande ao lado 

enquanto o cofo depressa se esvazia. 

Quebra o coco, tira o coco, põe na cuia… 

passa a mulher nessa labuta o dia inteiro 

e o toc-toc da manceta é boa música, 

pois, dessa lida é que lhe vem algum dinheiro. 

Trabalha e canta para espantar os males 

que não há remédio melhor que a alegria, 

e assim passa os dias, passa a vida, 

passam as mazelas que atormentam o dia a dia. 

E ninguém pense que a madrugada a vê insone 

a matutar na vida dura que a consome, 

após a prece, onde agradece a Deus por tudo, 

dorme feliz, pois conseguiu matar a fome.

AQUELAS MÃOS

Por Gracilene Pinto

(Para Odila dos Anjos, in memoriam).

Um pedaço de chão, 

Uma tamarineira, 

E em volta muito mato sem divisas,  

Sem cerca, sem moirões, 

Como a continuação 

Do campo que além se estende. 

Mais adiante um cajueiro, duas mangueiras, 

E é tudo que restou do velho casarão. 

Nada há que relembre os tempos idos! 

Nem a mangueira manteiga resistiu 

Com suas mangas tão doces, saborosas, 

Que faziam a disputa de quem a viu 

Carregada das frutas olorosas. 

Onde estão as escadas, assoalhos e porões? 

Onde o velho pêndulo do corredor, o lavatório? 

Onde estão aquelas ternas e meigas mãos 

Que me mimaram, cuidaram, e que de graça 

Me ofertaram tanto amor e atenção? 

Tábuas, tijolos, telhas,  

Nada restou do antigo casarão. 

Mas, como uma fada alvar 

A sua alma amiga 

Ainda povoa o lugar, 

E a voz antiga 

Que me ninava nos tempos de criança 

Ficou guardada em meu coração 

Na feliz lembrança 

Da mais linda canção, 

E da presença, que se faz  

Sem cheiro, toque ou cor, 

Em forma de saudade 

E do mais sublime amor. 

Nota: Odila era prima da avó da autora, morava em São Vicente Férrer/MA.

SÃO VICENTE FÉRRER, UMA HISTÓRIA DE FÉ

Por Gracilene Pinto

Dizem que tudo começou quando o Capitão de El-Rei, Luís Gonçalo de Guimarães começou a procurar o lugar Jabutituba para seu descanso e recreação, levado pelo clima aprazível e águas piscosas. Tais fatores, juntamente com a fertilidade da terra, levaram outras pessoas a pedir Cartas de Sesmaria para ali fincar raízes.

Segundo a saudosa professora Zazinha Costa, foi isto o que ocorreu com um português de nome José Gomes da Costa, o qual se fixou no lugar chamado Tapuio, e, mais tarde, seus descendentes vieram a fundar a Vila de Frexeira, com um traçado topográfico igual ao centro histórico da cidade, no lugar onde antes havia um aldeamento indígena.

O crescimento econômico da região deve ter sido o fator primordial para que em 05/11/1805 a Rainha de Portugal assinasse uma Provisão Régia desmembrando territórios de São Bento e Viana para criação de uma nova Freguesia consagrada ao sacerdote e grande pregador espanhol. Assim nasceu a Freguesia de São Vicente Férrer do Cajapió, com dois Distritos, sendo primeiro o de Frexeira e o segundo de Cajapió. Em 25/10/1830, o Vigário encomendado Francisco de Paula e Silva, agindo em nome do Arcebispo do Maranhão, Dom Marcos Antônio de Sousa, deixou provisão para edificação da Igreja Matriz. E, em 27/08/1856 a Lei Provincial nº 432 elevou a povoação à categoria de Vila.

Considerando que as sedes dos dois Distritos já existiam quando da criação da nova Freguesia, só a cidade de São Vicente Férrer completará 217 anos em 05/11/2022, comprovadamente. Bicentenária, portanto, o que está sobejamente comprovado com provas documentais. E a autorização para edificação da sua Igreja Matriz completará 192 anos em outubro de 2022.

Assim como seu padroeiro, São Vicente Férrer tem uma história de fé e de amor. Não só no nome. Mas, também na luta daqueles que, eclesiásticos ou leigos, consagraram sua vida à praticar e propagar o Evangelho de Jesus, lutando por um futuro melhor, sem esquecer de preservar os valores primordiais ao ser humano, resistindo às vicissitudes e mantendo a esperança no futuro, sempre confiantes na Providência Divina. Sim, São Vicente também ofertou filhos seus à Igreja Católica para o labor clerical e a divulgação do Evangelho.

Esta é a nossa Terra da Carambola, terra dos campos verdes e piscosos, das festas e procissões, das lendas e dos serões, comemorando 166 anos de Município e duzentos e tantos anos de existência, onde o povo audaz e valente sempre leva à frente o estandarte do amor e da fé!
Parabéns.
Por: Gracilene Pinto
PASCOM, São Vicente Férrer-MA, Missa, 27 de agosto de 2022.

COISAS E LOAS XX (A CASA BEM ASSOMBRADA)

Por Zé Carlos

Trago comigo a casa dos meus avós, situada na esquina da rua Floriano Peixoto e da travessa Artur Sá, como uma parte essencial da minha jornada. De verdade, é uma referência forte, que me deu, me dá estrutura e me forjou para a caminhada segura e feliz; embora, algumas vezes, se apresente tão árdua e cheia de imprevistos.

A casa, de minha infância, esteve sempre repleta. Em um vivo movimento e com histórias fantásticas. Histórias, que permeiam a vida de muitas e muitas pessoas. Histórias reais, em que a presença marcante da minha avó impõe-se, a evitar, sempre, que houvesse um colapso, sem medidas.

Senão vejamos. Os meus avós receberam, como morador, o compadre AJ, com acentuados distúrbios mentais, que era o terror para nós, quando crianças. E, como crianças, em nossas curiosidades infantis, queríamos desvendar tanto mistério. O que faltava era somente a coragem. Então, só nos restava o medo, ao passar pela porta do seu quarto, sempre fechada, em um silêncio aterrador, quebrado apenas pela tosse seca e persistente, que assustava sem medida. Hoje percebo que o proibido dava-nos uma tamanha adrenalina, que nos empurrava a tentar descobrir o que não nos cabia. Mas, a verdade é que a simples menção me faz tremer ainda hoje.

Marcante, também, é o pouso de um “preto velho”, misterioso, que meu tio resgatou do frio e da fome, da fila do FUNRURAL. Ele vinha das bandas do Turi e, sem a menor cerimônia, mentia “que só”, passando o dia todo, todo dia, a comer “fumo de mólho”. Deixava-se ficar por um longo tempo, até partir, para retornar 4, 5 meses depois. Essa visita fez-se constante por anos e anos. Ao cessarem suas idas e vindas, só nos restou imaginar que já tinha feito a passagem. Partiu desta para melhor. Bateu as botas. Desencarnou.
Invariavelmente, os músicos, do interior ou de municípios vizinhos, vinham em busca de hospedagem, pois tocavam com o meu tio. Aí, eram vários dias de ensaios e um espalhar de rede pela corredor, varanda e sala, num contar de causos e gargalhadas até altas horas.
Nesse cenário, uma moradora do Bom Viver, Chica Polícia, era uma presença constante. Acho, até, que passava mais tempo na minha casa sagrada do que em sua própria. Ainda mais que estava, invariavelmente, às voltas com pendências policiais e jurídicas, vivendo em um mundo paralelo, em que buscava vantagens e mendicância, sempre.

Se parasse por aqui, já estaria de bom tamanho, mas preciso dizer que a minha avó criou muitas “filhas alheias”. O que invariavelmente rendeu boas histórias. Só, para termos uma pequena ideia disso tudo, houve uma, que, ao lhe ser pedido para verificar se o óleo, na frigideira, estava quente, mergulhou o dedo e saiu “sabrecada”. Que palavra desenterro! Infame!

E o que dizer da comadre M, moradora do Alto do Braga, que, depois de uma “descansada”, após o almoço, deitada numa rede, armada na pequena despensa, ao despertar do sagrado cochilo, questionou a minha avó. Queria saber “quem era a velhinha feia, que estava dentro da portinha a espiar”. Já estava, vejam só, incomodando!? Minha avó, um pouco cismada, foi verificar o ponto indicado e descobriu que a velhinha feia era a própria comadre, refletida no espelho do guarda-roupa, que ficava à frente da rede, em que ela descansara. Barbaridade!

E, para fechar, sem entrar no universo político, das inúmeras reuniões realizadas na sala grande, era comum encontrar, na cozinha da vovó, em serenidade impressionante, Domingas e Felicidade Bucho Pôdi, que lhe vinham pedir “abênçãos”. Haja vovó, a ser o fiel “fiel da balança” e equilibrar tudo isso!

Agora, tenho certeza de o porquê da casa da minha vida ser bem assombrada! Axé!

ENTRE MÁSCARAS E MASCARADOS

Por Zé Carlos

Em tempo de cuidar da saúde, a máscara apresentou-se como um instrumento protetor, seguro, eficaz. Ainda que suscite as mais diversas reações, é certo que vem sendo responsável pela preservação de centenas de milhares de vidas, em todo o planeta.

Às vezes, é incômoda para os mais sensíveis, para as crianças, para os arreliados. Que palavra fantástica: ARRELIA! E, só de pensar em tal, “já estou arreliado”! “Me coçando pra falar”!

Às vezes, torna-se sufocante para os privados de uma normal respiração. Também, para os sufocados em suas chatices. Às vezes, “vira” um indispensável acessório de elegância para os “descolados” e os narcisos. A verdade é que se tornou peça indispensável, uma obsessão, para os maníacos por saúde.

Às vezes, traz-nos surpresas, por demais “surpreendentes”. O rosto que idealizamos desfaz-se ou constrói-se em uma rapidez “fandanga”. Eis que surge “o mais completo desconhecido” ou a mais completa (re)afirmação de nossas expectativas.

Às vezes, a máscara prega-nos peças hilárias. Como se estivesse a minorar nossas dores. Foge displicente e lentamente, negando-nos a proteção, para se fixar bem abaixo do nariz.

Quanta ironia! E nós, perdidos em voraz apatia, seguimos alheio a tamanho sacrilégio. Ou, então, ela se torna invisível, mesmo tão “na cara”! Quantos de nós já não recorremos a “São Longuinho”, a procurá-la; e ela, ali, debaixo do queixo, a se fingir de morta, vendo a nossa insensibilidade e loucura?! Que barbaridade!

A Verdade é que a máscara veio, está e ficará conosco por um bom tempo.
Agora, temos um sério e grave problema, vêm chegando os mascarados. Sem disfarces, sem artimanhas, sem rodeios. De cara limpa. Opa! Excuse me, com a bendita máscara, que veio a calhar e se tornar a grande aliada das falácias, das caducas promessas, dos improváveis milagres.

Fiquemos com as máscaras, e não mandemos os mascarados a “pátria que os pariu”. Não. Afinal, a nossa pátria não os merece. Mandemo-los, sim, para não sermos grosseiros, ao mais e mais profundo silêncio e ao esquecimento definitivo!