O NAUFRÁGIO DA LANCHA PROTEÇÃO DE SÃO JOSÉ, OU O PODER DA MÚSICA

Por Gracilene Pinto

A noite estava amena naquela terça-feira, vinte e sete de outubro de 1965.

Os irmãos João e Manoel Pinto, primos da minha mãe por ser filhos de Mariana e Chico Pinto, de São Vicente Férrer, haviam embarcado cedo na lancha Proteção de São José, afim de ter o privilégio de escolher um bom local para armar suas redes brancas de fio tecido.

Havia três lanchas ancoradas no Porto de Rapôsa naquele dia: Fátima, Maria do Rosário e Proteção de São José. É provável que a escolha desta última haja sido influenciada pela devoção familiar ao santo que lhe emprestava o nome. Mas, também pode ter sido simplesmente porque com o grande fluxo de passageiros e cargas, a lotação das embarcações se completasse rapidamente, razão pela qual as lanchas quase sempre viajavam com excesso de carga.

As três lanchas zarparam juntas do Porto da Raposa com destino à Capital do estado, o que talvez fosse uma estratégia de autoproteção dos seus comandantes para enfrentar a aventuresca viagem com mais segurança, já que a perigosa travessia em mar aberto era tarefa para mestres experientes, e que, com a escuridão da noite, punha à prova até mesmo a coragem de quem já lhe conhecia os percalços, como escreveu Batista Azevedo, e, mais tarde, Raimundo Corrêa Cutrim em seu livro Perfil da Baixada Maranhense. Viajando próximas umas das outras, poderiam mais facilmente auxiliar-se em algum eventual problem. Mas, a Proteção de São José seguia serena, até onde se pode usar tal palavra para designar a movimentação de quem navega nas águas nada mansas do Golfão Maranhense no segundo semestre do ano.

Tendo em vista não ser a primeira vez que encaravam tal aventura, os irmãos João e Manoel Pinto estavam tranquilamente deitados em suas redes perfumadas de oriza e confortavelmente embrulhados nos alvos lençóis, desfrutando da boa música que tocava no rádio a pilhas da lancha. Com o balanço da maresia, terminaram por adormecer.

Porém, eis que inusitadamente próximo ao Porto do Itaqui, na altura de Tauá Redondo, já em plena baía de São Marcos, a lancha Proteção de São José chocou-se com os arrecifes de uma croa, e, em questão de minutos, ocorria a maior catástrofe marítima que até hoje teve por palco o Maranhão, com a embarcação partindo-se e ocasionando a morte de cerca de 270 pessoas, que poucos foram os sobreviventes, pois a tragédia ceifou a vida da maior parte dos passageiros e tripulantes da embarcação.

Quanto aos irmãos João e Manoel Pinto, tão confortáveis se achavam em suas redes macias, que não despertaram nem mesmo com os gritos e o vozerio do povo, grunhidos e cacarejos dos animais ou com o ensurdecedor barulho dos motores, ficando sepultados na Baía de São Marcos, pois seus corpos nunca foram encontrados.

Testemunhos dos poucos sobreviventes, dão conta de que, no exato momento do acidente, no rádio sintonizado com a Rádio Difusora do Maranhão tocava a magistral “Valsa da Meia Noite”. Aquela mesma música cuja autoria é atribuída por uns a Nullo Romani (que a gravou juntamente com seu conjunto) e por outros a Frank Amodio, sendo, tanto um como outro, dois ilustres desconhecidos.

Entre os poucos sobreviventes que tive conhecimento, estão Bijuca Figueiredo Marques (o Bijuca do São Francisco, que nadou do Boqueirão até o Cais da Sagração, em São Luís, onde chegou vivo, mas em estado tão lastimável, que sequer conseguia manter-se em pé); Pedrinho Duarte e sua esposa Dona Marinete (única mulher a se salvar), os quais perderam no sinistro sua primeira filha, de menos de dois meses; Pedro de Geraldo; Sandaia; Batista de Pacherá e Quidinho.

De algumas das vítimas, como os irmãos João e Manoel Pinto, Francisco Pires Corrêa, Bijuca do Goiabal e Zenaide Aranha, sequer seus corpos foram encontrados.

Em São João Batista, por iniciativa do então Vereador Zezi Serra, foi sancionada uma Lei Municipal que tornou o dia 27 de outubro, dia do naufrágio da lancha Proteção de São José, feriado municipal, em memória daqueles que sucumbiram nas águas da Baía de São Marcos.

Em São Vicente Férrer a “Valsa da Meia Noite” passou a ser considerada sinônimo de luto, tão grande é o poder da música que fica registrado como um verdadeiro marco em nosso espírito. E, a partir de então, Batista Souza, mais conhecido como Batista de Nhoí, proprietário do sistema de difusão sonora por autofalantes naquela cidade, enquanto viveu, antes de transmitir qualquer notícia fúnebre, sempre tocava a magistral Valsa da Meia Noite, honrando a memória, não só do falecido naquele momento, mas também dos conterrâneos vitimados na tragédia de 27 de outubro de 1965.

CHESTERTON, um GIGANTE invisível

Por Diego Guilherme da Silva*

Muitos são os autores que deixaram marcadas com suas “penas” as páginas da literatura universal. No entanto, apesar de clássicos, ficam esquecidos como nota de rodapé de velhos livros empoeirados. É evidente o desconhecimento de grande parte dos brasileiros em relação a um dos maiores escritores do século 20 que, juntamente com outros dois ingleses, C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, se tornou um clássico da literatura universal.

Gilbert Keith Chesterton, também conhecido pela sigla G.K.C., ou apenas Chesterton, nasceu em Kensington, distrito central de Londres, em 29 de maio de 1874. Batizado no Anglicanismo, desde cedo sentiu um chamado da Igreja Católica, à qual se converteu em 1922, aos 48 anos de idade. Chesterton é um desses homens de letras muito difícil de classificar, pois era romancista, poeta, crítico literário, ensaísta, polemista, apologista, jornalista, biógrafo, cartunista e filósofo. Os escritos chestertonianos se compõem de frases geniais e paradoxais, que, mesmo tomadas isoladamente, nos permitem ver a lucidez de seu pensamento. Seu bom humor era tamanho que, perguntado certa vez por um jornalista que livro levaria para uma ilha deserta, respondeu: “Um manual de como construir uma canoa”.

Filósofo do senso comum em um século marcado pela exaltação alucinada da razão, chamado a prestar contas sobre todos os mistérios entre o céu e a terra, Chesterton também bateu de frente com o pensamento dos céticos, a quem certa vez se referiu nestes termos: “Nossos céticos modernos sempre começam afirmando aquilo em que não acreditam. Mas mesmo de um cético queremos saber primeiro o que ele faz crer. Antes de discutir, queremos saber o que não precisamos discutir. E essa confusão aumenta infinitamente pelo fato de que todos os céticos do nosso tempo são céticos em diferentes graus de dissolução do ceticismo.” (Philosophy for the Schoolroom).

Os escritos chestertonianos se compõem de frases geniais e paradoxais, que, mesmo tomadas isoladamente, nos permitem ver a lucidez
de seu pensamento

Escreveu os livros Ortodoxia (1908), The Heretics (1905), O homem que foi quinta-feira (1907), São Francisco de Assis (1923), O Homem Eterno (1925), A Inocência do Padre Brown (1911), Santo Tomás de Aquino: biografia (1933), obra a que Étienne Gilson assim se referiu: “Chesterton desespera qualquer pessoa. Estudei Santo Tomás a vida inteira e nunca teria sido capaz de escrever um livro como este.” […] E conclui dizendo que “Chesterton foi um dos pensadores mais profundos que existiram. Era profundo porque tinha razão, e não podia deixar de tê-la; mas tampouco podia deixar de ser modesto e amável; por isso, considerava-se um entre muitos, desculpava-se de ter razão e fazia-se perdoar a profundidade com o engenho”.

Por meio do livro A Inocência Do Padre Brown, ele se tornou mais conhecido no Brasil. G.K.C. criou um personagem muito diferente daqueles que normalmente povoavam a literatura policial, como os detetives C. Auguste Dupin, de Allan Poe, e Sherlock Holmes, de Conan Doyle. O detetive que descobre os casos insólitos é um simples sacerdote, Padre Brown, que aparenta ingenuidade, mas age com incríveis perspicácia e agudeza investigativa.

Escreveu também mais de quatro mil artigos. Durante 30 anos colaborou semanalmente com o Illustrated London News e, ao longo de 13 anos, escreveu para o Daily News, além dos textos diversos que redigiu para o seu próprio jornal, o G.K.’s Weekly. Chesterton valia-se desses espaços para combater a mentalidade modernista, cientificista e reducionista. Travou longas batalhas com intelectuais como George Bernard Shaw, Herbert George Wells, Bertrand Russell e Clarence Darrow.

Estabeleceu uma amizade fecunda com Hillare Belloc, levando um dos seus opositores a se referir aos dois como o “monstro biforme Chesterbelloc”. Eles são os autores do Distributismo (ou Distribucionismo), teoria política crítica do capitalismo e do socialismo sob inspiração cristã. Para eles, a propriedade privada não deveria ser abolida, e sim impedida de se concentrar nas mãos de uns poucos. “O problema do capitalismo é que não há capitalistas suficientes”, afirmava Chesterton.

Também recebeu elogios de Jorge Luiz Borges, que se referia a ele como “um homem de gênio, um grande prosador e um grande poeta. A literatura é uma forma de felicidade, talvez nenhum escritor me desse tantas horas felizes como Chesterton”. Intelectuais brasileiros como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima foram influenciados pelas obras do inglês. Apesar de desconhecido da grande maioria dos leitores brasileiros, artigos e livros de Chesterton têm sido traduzidos por iniciativa, entre outros, do professor Antônio Emílio Angueth, do Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Tarefa que não é nada fácil, dada a dificuldade em reproduzir o sentido irônico e paradoxal de que muitas vezes Chesterton, como bom inglês, se utiliza para combater os adversários.

Chesterton morreu em 14 de junho de 1936, em sua residência, em Beaconsfield. É uma pena que não seja tão conhecido no Brasil; devemos tornar visível e acessível à nossa língua a obra desse gigante. Se vivo fosse, certamente não se preocuparia com o fato de seu desconhecimento entre nós. Pelo contrário: talvez até demonstrasse um esboço de sorriso e pensasse na frase registrada no livro All things considered: “Clássicos são escritores que podemos elogiar sem nunca tê-los lido.”

*Estudante do 7° Período de Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação, bolsista Fapemig de Iniciação Científica no projeto Modelagem Conceitual para Organização Hipertextual de Documentos (MHTX)

A IMORTALIDADE DE GONÇALVES DIAS

Por Gracilene Pinto

Não sei se pelo viés quase lendário da sua história com Ana Amélia; pelo caráter passional das suas obras românticas e nacionalistas, que casam tão bem com minha natureza poética; ou mesmo por seu natural poder de sedução, Gonçalves Dias sempre me encantou.   

O poeta consegue seduzir até depois da vida.   

Acresce a isso, o fato de eu ter lido durante toda a adolescência na parede frontal do Ginásio Costa Rodrigues os célebres versos da Canção do Tamoio:    

“Não chores, meu filho; 
Não chores, que a vida 
É luta renhida: 
Viver é lutar. 
A vida é combate, 
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos 
Só pode exaltar.”  

Certo é, que desde muito cedo me senti fascinada pelo poeta maranhense, por seu histórico de vida e pelos seus versos, que declamei muitas vezes.   

Há um poema dele que me inebria sobremaneira intitulado Leito de Folhas Verdes:     

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo  

À voz do meu amor moves teus passos?  

Da noite a viração, movendo as folhas,  

Já nos cimos do bosque rumoreja.  

  

Eu sob a copa da mangueira altiva  

Nosso leito gentil cobri zelosa  

Com mimoso tapiz de folhas brandas,  

Onde o frouxo luar brinca entre flores.  

  

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,  

Já solta o bogari mais doce aroma!  

Como prece de amor, como estas preces,  

No silêncio da noite o bosque exala.  

  

Brilha a lua no céu, brilham as estrelas,  

Correm perfumes no correr da brisa,  

A cujo influxo mágico respira-se  

Um quebranto de amor, melhor que a vida!  

Gonçalves Dias é, e eu me refiro a ele no presente porque ele continua vivo dentro de cada poeta, de cada coração maranhense, uma criatura tão sedutoramente especial que, até seus ídolos depois de conhecer suas obras, viravam seus fãs.   

O consagrado português Alexandre Herculano, por exemplo, não só se tornou um fã, e mais tarde amigo também, como, após ler seu primeiro livro, “Primeiros Cantos”, escreveu elogiosa crítica ao trabalho do poeta e maior expoente do romantismo e do indianismo brasileiro.  

Baixinho, feiinho fisicamente, e mulato, quando isso ainda era um verdadeiro estigma, além da origem pobre, Gonçalves Dias nasceu na maranhense Caxias em 10/agosto/1823, filho de um comerciante português de Trás-os-Montes com uma mestiça brasileira. O pai, logo separou-se da mãe e deu-lhe uma madrasta, que por sorte o estimou.    

Revelando ainda muito cedo inteligência e talento, tanto que, desde a meninice demonstrava paixão pela leitura e aos 10 anos de idade já fazia a escrituração simples da loja do pai, este desejou tivesse o filho uma educação que lhe possibilitasse desenvolver o intelecto e garantir-lhe um futuro promissor. Infelizmente, seu genitor faleceu antes de pôr em prática tal projeto.   

No entanto, a estrela do garoto brilhava, e havendo recebido apoio da madrasta e de outros mais, tais como, o Juiz da Comarca Dr. Antônio Manuel Fernandes Júnior (que depois foi desembargador) e uma comissão de conterrâneos, os quais contribuíram com quotas mensais para subsidiar ao menino a fim de que pudesse ir estudar em Coimbra, onde se tornou, além do poeta que era por nascimento, advogado, jornalista, etnógrafo, teatrólogo, ensaísta e articulista (artigos que ele escrevia, geralmente, sobre suas viagens de estudo para o Amazonas e demais lugares do Nordeste, e até alguns países europeus e Oceania, onde esteve em missão governamental).   

Foi assim que o menino franzino, Antônio Gonçalves Dias, tornou-se um intelectual, um poliglota, que, entre outras línguas, dominava o alemão e escreveu até um dicionário de Língua Tupi, que dizem ter sido encomendado por Dom Pedro II.   

Elogiado e paparicado por todos no Brasil e em Portugal, em razão do seu talento, tinha dificuldade, no entanto, de obter os resultados materiais necessários à sua subsistência. E, apesar dos elogios que choviam sobre os seus escritos, também não estava livre dos desgostos causados por algumas críticas infundadas.  

Por exemplo, tendo enviado por outra pessoa os dois dramas escritos em Coimbra, Patkull e Beatriz Cenci, ao Presidente do Conservatório Dramático (não queria que soubessem que os textos eram de sua autoria para não ter um julgamento avaliado e aprovado em homenagem ao seu nome), descobriram nos textos os avaliadores mil defeitos e galicismos imperdoáveis.  

Magoou-se o poeta ante a injustiça sofrida, pois sabia-se um purista, e despicou-se escrevendo Sextilhas do Frei Antão. O tipo de vingança das pessoas grandiosas de espírito. 

Em outra ocasião, em carta enviada ao seu amigo Teófilo Leal, Gonçalves Dias queixava-se de ter postulado junto aos amigos que o apresentassem ao imperador, o que ainda não acontecera.   

“… nossos grandes homens – disse ele – recebem-me com a carinha d´agua, namoram-me quase como se eu pudesse dispor de alguns votos, e estou certo que se for bem recebido pelo Imperador, a quem terei a honra de ser apresentado um destes dias, ninguém será mais festejado, mais gabado… pois, veremos se os bons olhos do nosso monarca farão mudar a minha sorte; de promessas já estou farto… qualquer dia.”  

No entanto, mais tarde foi efetivamente apresentado ao Imperador. E dizem ter sido Dom Pedro II um dos correspondentes com quem ele se comunicava com assiduidade. É verdade que pelo governo imperial foi encarregado de cumprir algumas missões.   

Provido a Secretário e Professor de Latim, do Liceu de Niterói, Gonçalves Dias recebia um magro salário que mal dava para garantir-lhe o sustento. E, quando as cadeiras do Liceu de Niterói foram extintas, para sobreviver com decência, fazia extratos das sessões da Câmara dos Deputados e também artigos humorísticos e folhetins para o Correio Mercantil. No ano seguinte foi redator dos discursos do Senado para o Jornal do Comércio.   

Finalmente, em 1849, foi nomeado Professor de História Pátria e Latim, do Real Colégio Pedro II. Esse emprego, que era desejado pelo poeta, se não era algo soberbo quanto à questão financeira, juntamente com os resultados advindos da pena literária lhe garantiria certa estabilidade e folga.  

Encarregado pelo Ministro do Império, Visconde de Monte Alegre, de coletar nos mosteiros e arquivos das câmaras municipais e secretarias das províncias ao Norte da Corte do Império os documentos mais importantes para o Arquivo Público, bem como, avaliar as condições da instrução pública nessas províncias, começou Gonçalves Dias por São Luís do Maranhão, a fim de abrandar as saudades da terra natal, pois dizia:   

Minha alma não está comigo… está a espreguiçar-se nas vagas de São Marcos, a rumorejar nas folhas dos mangues, a sussurrar nos leques das palmeiras…”     

Mas, deixemos de lado os dados biográficos. Afinal, de tanto que já foi falado sobre ele neste seu bi-centenário, essas informações quase todo mundo já sabe.  

Igualmente, não quero falar sobre o Gonçalves Dias funcionário público administrativo, que, nessa fase da sua vida pouco tempo dispunha até para sua verdadeira produção literária, e se decepcionava com os compatriotas, pois dizia:   

Tudo nesta terra é divino, exceto o homem que a habita.”  

 Vamos nos ater ao poeta e ao seu lado romântico, porque, entre tantas qualidades, atributos e conquistas, foi a poesia que o imortalizou definitivamente, quando, cheio de saudades da Pátria, escreveu a sua Canção do Exílio, um dos mais lindos poemas da língua portuguesa que, de tão belo e tão cheio de brasilidade, os compositores do Hino Nacional Brasileiro lhe roubaram alguns versos para mais enriquecer sua obra:   

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá  

As aves que aqui gorjeiam   

Não gorjeiam como lá…   

…..  

Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá.    

sem qu´inda aviste as palmeiras onde canta o sabiá.   

Eu sempre acreditei que o que imortaliza o ser humano é sua obra, seu legado. E o que imortaliza o escritor é a sua capacidade de expressar os sentimentos de modo a perpetua-los no imaginário popular através dos tempos.    

De nada adiantam os títulos e as loas momentâneas, se a obra não tiver a força suficiente para se consagrar no imaginário popular e transcender no tempo, porque as criações morrerão com o autor.  A obra que não conseguir falar ao coração de gregos e troianos, dos intelectuais aos indivíduos mais simples, não terá cumprido seu papel.    

Por isso, considero que, o que realmente imortalizou Gonçalves Dias não foi só sua intelectualidade, a métrica, a erudição e o romantismo dos seus versos, mas, foi o modo como expressou suas emoções com tal profundidade, que fez com que sua obra conseguisse tocar no coração das pessoas e mexesse com os sentimentos mais lídimos, mesmo depois de passados dois séculos.    

Tudo isso, somado ao seu lendário e transcendental romance proibido com Ana Amélia, mexe com o imaginário popular, com a alma dos indivíduos, que se colocam no lugar do amante sofredor, para também vestir o manto do amor vitimado pela incompreensão.  

Todo mundo está careca de saber que Gonçalves Dias era apaixonado por Ana Amélia Ferreira do Vale. Embora, nas horas vagas, também haja se apaixonado por uma dúzia de outras mulheres, como Céline, em Bruxelas; Leontina e Natália, em Dresden, na Alemanha;  Joséphine e Eugénie N., em Paris, (por causa desta última Gonçalves Dias enfrentou a maior treta com a esposa, pois Olímpia, não se sabe como, teve conhecimento da relação dos dois e das cartas trocadas). Isto, sem falarmos na outra Amélia, a Amélia R., uma brasileirinha filha de um alto funcionário do Tesouro, que o conheceu enquanto passeava na Europa em companhia da mãe, e, com Gonçalves Dias, idealizava projetos de casamento futuro, sonhando acordada com o filhinho que teriam, que deveria chamar-se Antoninho.   

Enfim, um sedutor por excelência é o que foi o nosso Gonçalves Dias. A todas cortejava, à todas fazia promessas, e à todas piedosamente mentia, segundo a necessidade do momento.   

De acordo com Manuel Bandeira, estudioso e biógrafo de sua vida e obra 

 “nem o trabalho exaustivo das comissões, nem o peso dos íntimos desgostos, ser-lhe-iam entrave ao vezo de namorador impenitente… aquele homenzinho de um metro e cinquenta, coração agora ulcerado pela paixão de Ana Amélia, continuava o mesmo autêntico devastador de corações femininos, e nesta matéria aproveitou gulosamente as suas folgas de tempo nos quatro anos de Europa. O poeta queixava-se, era um chorão, mas o homem agia. Era junto às mulheres, como o viu João Francisco Lisboa, na festa de N. Sra. dos Remédios. Sabia falar, tinha lábia inesgotável.”     

Porém, isto, ao meu modo de ver, não significa, absolutamente, que não tivesse amado à Ana Amélia, ou que estivesse sempre mentindo para as outras Amélias.  

Quero mesmo crer que, no momento em que fazia promessas e juras às namoradas, fosse realmente o que sentia naquele momento o seu volúvel coração de poeta.  

Ou, quem sabe, muitas vezes mentisse apiedado por não conseguir sentir com a mesma intensidade a paixão despertada. Talvez a mentira fosse apenas um modo de retribuir de alguma forma o afeto recebido e não deixar a parceira constrangida por tê-lo amado.  

Quanto à Ana Amélia, seria verdadeiramente amor o que sentia pelo poeta ou apenas uma fantasia criada graças à proibição familiar?   

Segundo o  testemunho de um tal de Onestaldo de Pennafort, genro de um sobrinho de Ana Amélia, ela, que tinha um tipo mignon, vivos olhos negros e rasgados, e uma tal expressão de doçura e simpatia envolvente, nunca esqueceu de todo o poeta, e sobre ele, ainda na velhice, discorria com arroubos de sentimento. Foi uma musa digna do poeta. Não obstante, seguiu sua vida, chegando a casar-se duas vezes.    

E Gonçalves Dias, seria Ana Amélia sua alma gêmea ou apenas uma espécie de fata morgana, uma imagem idealizada do amor proibido que não pudera exaurir as emoções como devia?   

  Não se pode descartar de todo que Gonçalves Dias talvez não amasse verdadeiramente nem Ana, nem Amélia, nem Olímpia… amasse somente a ideia de um amor perfeito.  E assim, impossiblitado de ter em seus braços sua musa, imortalizou-a em seus versos, e amou-a tanto quanto alguém pode amar.   

Mas, também seguiu sua vida e casou-se com Olímpia, com quem teve uma filha, que, infelizmente, não viveu por muito tempo.   

É provável que, a seu modo, Gonçalves Dias tenha sentido algum afeto por Olímpia, pois casou-se com ela. Mas, o gênio forte desta, aliado à inquietude do marido, não permitiram que entre os dois fomentasse um amor do mesmo calibre e com o mesmo lirismo, a mesma transcendentalidade do amor que devotou à Ana Amélia.  

Porque o amor que sentimos por uma pessoa nunca é igual ao que sentimos por outra. Somente nas almas que do além se reconhecem, os corações pulsam no mesmo tom.  

E penso que, somente um amor assim, transcendental, poderia haver inspirado Gonçalves Dias a escrever, entre os outros tantos poemas maravilhosos da sua lavra, a mais bela declaração de amor em forma de poema que se conhece à paixão da sua vida, quando reviu Ana Amélia anos depois em Lisboa. Estou falando de Ainda Uma Vez Adeus.    

“Enfim te vejo! — enfim posso,  

Curvado a teus pés, dizer-te,  

Que não cessei de querer-te,  

Pesar de quanto sofri.  

…………..  

Adeus qu’eu parto, senhora;  

Negou-me o fado inimigo  

Passar a vida contigo,  

Ter sepultura entre os meus;  

Negou-me nesta hora extrema,  

Por extrema despedida,  

Ouvir-te a voz comovida  

Soluçar um breve Adeus!  

Lerás, porém, algum dia  

Meus versos d’alma arrancados,  

D’amargo pranto banhados,  

Com sangue escritos; — e então  

Confio que te comovas,  

Que a minha dor te apiade  

Que chores, não de saudade,  

Nem de amor, — de compaixão.  

O fato é que, quando se fala em Gonçalves Dias lembra-se logo de Ana Amélia. Ninguém pensa nos seus outros amores. Porém, sem querer de forma alguma desdourar a imagem do poeta, nem desmerecer seu amor pela maranhense, eu sempre me pergunto: teriam Ana Amélia e Gonçalves Dias sido felizes, se houvessem concretizado esse amor ideal, casado, gerado filhos, e vivido a rotina normal de qualquer casal?   

Pode ser que sim, pode ser que não.  

Talvez nem chegassem realmente até o casamento, porque muitas vezes a oposição familiar acaba dourando uma pílula, que afinal pode ser amarga, exacerbando em nós o desejo de possuir aquilo que nos é proibido. Isso, muitas vezes já restou comprovado. É o poder da ausência sobre a presença. Tanto que, muitos dos melhores textos de autores maranhenses foram escritos quando estavam fora do Maranhão. Gonçalves Dias não fugiu à regra, sublimando tal premissa com a Canção do Exílio.  

Consideremos que, Gonçalves Dias era um poeta, um romântico passional de alma inquieta, alguém que não se satisfaz com menos que a plenitude de um encontro de almas. Um homem cuja intelectualidade e expressividade verbal seduzia tanto às mulheres quanto aos homens. Os homens no sentido da amizade sincera. E, como poeta, incapaz de se ver refletido nuns olhos cheios de paixão sem empatizar-se com esses olhos, e com a dona dos tais olhos, fossem esses espelhos da alma negros, verdes, azuis ou castanhos.  

Teria Ana Amélia a fleuma, a sabedoria necessária para manter a harmonia do lar casada com um mulherengo, ou o poeta teria aquietado o coração se estivesse nos braços da sua musa?  

Não é demais lembrar novamente que ela, apesar de não haver esquecido o poeta dos belos versos e falar sedutor, como há testemunhos, foi capaz de reconstruir sua vida e casar-se e ter filhos com outros, pois casou-se duas vezes.  

Eis a questão que nunca se conseguirá responder!   

Isso acontece com os poetas e cantores, com os cantadores de boi, que volta e meia pelos arraiais maranhenses despertam desses amores efêmeros nas expectadoras. Estas, atraídas muitas vezes somente beleza da música e da voz, que nem todos os cantadores tem a sorte de ser fisicamente bonitos. Mas, tem carisma. E contam com a magia da música, que é embriagante. E, convenhamos, Gonçalves Dias não era bonito fisicamente. Mas, com certeza tinha muito talento e carisma. Tinha molho. Daí fazer o estrago que fazia.  

Eu, de fato acredito na sinceridade das declarações de amor de Gonçalves Dias por Ana Amélia. Afinal, foi um sonho que não se realizou, ficando apenas na dimensão do ideal, e isso tem bastante peso. 

 Mas, não desacredito também da sinceridade do poeta quando fazia suas promessas e demonstrações de afeto pelas outras Amélias que passaram por sua vida.  

Talvez, nos momentos de paixão, ele próprio irrefletidamente acreditasse no amor que dizia sentir. Porém, passado o arroubo, conseguia ver o quanto fora impulsivo e talvez lhe viesse um arrependimento tardio. Quem sabe?   

Amigos, a verdade é que Ainda Uma Vez Adeus, mesmo passados tantos anos, ainda emociona a todos. E a Canção do Exílio, tão simples e eloquente, ainda hoje se impõe como o primeiro poema do simbolismo no Brasil, e, Gonçalves Dias, segundo Carpeaux, foi “o primeiro poeta verdadeiramente nacional”, também classificado por José Veríssimo como “o maior e mais completo poeta do Brasil”.  

Deste modo, para felicidade geral da Nação, o melhor mesmo é deixarmos de lado os alvitres e digressões filosóficas e aceitar a corrente que idealiza o amor através de Gonçalves Dias e Ana Amélia. Assim também viveremos felizes para sempre com nossas convicções.  

Pois, foi lembrando da saga de Antônio Gonçalves Dias que, em 03/11/2020, dia em que se rememorava o falecimento do poeta a bordo do navio Ville Bologne, na Baía de Cumã, eu me vi, de repente, meditando que, a despeito dos outros títulos auferidos por ele, a despeito de ser patrono da Cadeira nº 15, da Academia Brasileira de Letras, que eu saiba, o poeta não foi membro de nenhuma academia, só do Instituto Histórico, não precisou disso. Foi a sua obra que o imortalizou. 

Imaginei também que, que se a fé pública pode encantar Dom Sebastião na Ilha dos Lençóis, quem sabe também Gonçalves Dias não esteja encantado na Baía de Cumã, de onde já podia avistar suas amadas palmeiras, mesmo que, do sabiá só pudesse ouvir o canto em sua imaginação? Mas, convenhamos, imaginação de poeta é coisa milagrosa!   

E, naquele momento até pareceu-me ter ouvido Gonçalves Dias afirmando cheio de certezas:    

 mentira, não morri! 

Não morri nem morrerei, 

Nem hoje nem nunca mais.    

Minha alma já fez morada 

Na pátria dos imortais.

Palestra de Gracilene Pinto na AMEI, 21 de agosto de 2023

Lourival Serejo diz que Gonçalves Dias escreveu Canção do Exílio movido pela saudade da pátria

Ao comemorar os 200 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, o presidente da Academia Maranhense de Letras, escritor Lourival Serejo dissecou, para O Imparcial, pontos importantes da obra fenomenal de caxiense da Canção do Exílio.

“Estamos mantendo acesa a vela da imortalidade do nosso maior poeta, que merece todas as homenagens do Maranhão e do Brasil”, disse ele.

Para Lourival Serejo, a Canção do exílio “é uma canção inserida no movimento romântico, mas com as tintas do estilo e das inovações técnicas do gênio do poeta de Caxias”. Acredita que o poeta foi “impulsionado pela saudade da pátria” ao elaborar o poema mais sublime do romantismo brasileiro”. Até o Hino Nacional captou dois versos da Canção0 do Exílio em sua composição.

Goncalves Dias, poeta maranhense nascido em 10 de agosto de 1823

“Afinal, Gonçalves Dias foi também etnógrafo, historiador, jornalista, cronista e dramaturgo. No magistério, destacou-se como professor no Colégio Imperial Pedro II e na intensa pesquisa que fez sobre nosso sistema educacional, conta Lourival, na entrevista abaixo:

O que levou a Academia Maranhense de Letras comemorar o bicentenário de Gonçalves Dias?

Comemorar o bicentenário do Poeta Nacional, o maior poeta do romantismo brasileiro, não é uma efeméride qualquer. Como maranhenses, como acadêmicos responsáveis por manter acesa a vela da imortalidade, é nosso dever festejar essa data, que não se reduz a 10 de agosto, data do seu nascimento, mas ao ano inteiro. Gonçalves Dias merece todas a homenagens do Maranhão e do Brasil.

Qual a importância de Gonçalves Dias para a poesia, a literatura, o magistério e o jornalismo brasileiro em sua época?

Como poeta, Gonçalves Dias é o autor do poema mais conhecido e recitado do Brasil: Canção do Exílio. Foi ele que deu a tonalidade técnica e conduziu a evolução do nosso romantismo ao mais alto patamar, tanto do Brasil como da Europa, então considerada a medida de todas as produções poéticas e literárias. Não só na poesia, revelou-se o gênio de Gonçalves Dias: foi etnógrafo, historiador, jornalista, cronista e dramaturgo. No magistério, destacou-se como professor no Colégio Imperial Pedro II e na intensa pesquisa que fez sobre nosso sistema educacional.

Gonçalves Dias era conhecido também como poeta indigenista, qual o legado que ele deixou para a causa indígena brasileira, um tema tão atual nos tempos presentes?

Valiosa a posição de Gonçalves Dias em defesa da causa indígena. Se Gonçalves Dias ainda estivesse vivo, com certeza estaria ao lado dos indígenas atuais na luta por seus direitos. O legado que ele deixou em favor dos povos originários foi o reconhecimento dos seus valores culturais e sua importância na edificação do país.

Das obras indianistas de Gonçalves Dias destacam-se Canção do Tamoio, Os Timbiras, I-Juca-PIrama, O Canto do Piaga e Leito de Folhas Verdes. Como entender hoje esse enfoque nada lírico abordado com tanta ênfase pelo grande poeta da literatura brasileira?

Esses poemas despertaram a consciência nacional sobre a existência desses heróis anônimos que representavam a identidade nacional. Pode-se perceber que a inspiração gonçalvina pela causa indígena já continha um grito de alerta para a importância pelo reconhecimento das agendas atuais desses povos.

Pela inspiração de Gonçalves Dias ao realçar a palmeira do Babaçu e o canto do Sabiá – estando ele na Europa –, o clássico Canção do Exílio tinha mais a ver com romantismo ou com o meio ambiente, tema na época fora do padrão literário?

A Canção do exílio é uma canção inserida no movimento romântico, mas com as tintas do estilo e das inovações técnicas do gênio do poeta de Caxias. Impulsionado pela saudade da pátria, Gonçalves Dias elaborou o poema mais “sublime” do romantismo brasileiro, tanto que o Hino Nacional captou dois versos dele em sua composição. Como poeta, ele também era profeta. Então, extrai-se desse poema uma mensagem ambientalista de conservação da natureza que teria aplicação mais além do ano em que foi produzida.

Fonte: BLOG DO RAIMUNDO BORGES

.. É UMA BISCA! (… É UM BISCATE!)

Por Zé Carlos Gonçalves

Ainda inebriado “pela viagem” em meu “indioma baixadeiro”, não consegui dormir “dereito”. Sempre acompanhado por uma “gastura”, “qui num quê mi largá, meu Deus, neim mi dá sussego”. Até pensei estar perseguido por “um exército de expressões”, querendo se apresentar na crônica anterior.

Desconfiei até que eram umas almas penadas, que queriam me assombrar. E, aí, capitulei. “Tremi todo. Caguei fino. Arreguei”. Fui vencido. Só me resta dar passagem ao linguajar, que, de repente, me trouxe à memória duas figuras fantásticas. E não sei por quê. Chiquitó e “Me Dá Cem”. Encastelados em suas peculiaridades.

Mas, deixemos “de papo furado”. Matei “foi, um tiquinho, a sordade du meo falá”. Por onde ando, ultimamente, “a moda” é câmbio, deficit, superavit, flutuação, feminicídio. E, por aí vai. “Coisas”, que não escutava “no meu tempo”. Esta expressão, sim, é “porreta!” “No meu tempo!” Será que, hoje, eu ando perdido, “fora de tempo”?! “Sem documento e sem lenço?!” E “outras coisitas” mais?!

O certo é que “não ouvia nada”, há muito, como “tá ti olhano de rabo de olho, ou só anda cum a barriga desarranjada, ou tá cum u bucho afulozado”.

O que posso afirmar é que me empolguei em minhas lembranças e, no maior flagra, me peguei balbuciando “caxa di fôfi e aqui tá vasqueiro”. E, para completar a minha alegria, ataquei de “Oh, nojo!” Só para me vingar de tanto tempo ausente dos meus.

O interessante, nisso tudo, é que um sincero e leve sorriso brotou em mim, ao “me tomar a cabeça” a palavra BISCA. Vejam só! BISCA e sua plurissignificação. Ainda mais, bem acompanhada. “Êssi diabo quê levá ‘o raio’ de umas bisca. Êssis aí tão como ‘um raio’ jogano bisca. Êsse daí é ‘um raio’ de uma bisca”.
Acredito até que há um estreito parentesco, desta última, com a expressão “é um biscate!”
Que doidiça!

Síndrome de abstinência do baixadês: PANDU (… o vital baixadês)

Por Zé Carlos Gonçalves

Há muito tempo ausente, e saudoso, da Baixada, começo a ter síndrome de abstinência do baixadês. E só quem é “da gema” sabe o tanto que dói essa falta de contato com o “nosso falá”. E sofre!

Aí, a minha única saída é tatear a memória e buscar “o meu combustível”, que me mantém vivo.
E, “nessa louca viági, mi indentifico cum argumas” pérolas. E que maravilhas!
Maravilhas, que me fazem respirar, “de novo, outra vez”.

E, aí, me vejo acalentado por expressões, que “me lavam a alma”. E exemplo é o que não falta. Por isso, “Mi encho de corági i seim sabê ôndi mora u perigo”, para afirmar categórico e desafiador, com uma autoridade “qui só”. “Eu sou eu, e boi não lambe”. Ou quase “morrê di raiva”, ao ser associado a “um caniço”, dado a meu aspecto esquelético. Mas, o pior era ser chamado de “tisguinho”; o que acho está associado à terrível palavra “tísico”. Que medo! “Bato inté na madera trêis veiz”.

E, ainda, não “sastifeito”, busco, nas madrugadas infindas. De repente, me sinto no meio dos meus, a ser bombardeado, como se nos comunicássemos em outro “indioma”. Para indicar que havia pouco tempo para terminar um trabalho: “sol virô tá di tárdi”. Falta de espaço, na despensa: “intupetada de bregueço”. A mostrarem que “eu não passo” de um ingênuo e até incapaz “de pensar”: “êssi caiu numa esparrela”.

“Se viravam”, em dois animais, a esperteza e a ignorância: “quer dar uma de urso e é um cavalo batizado”. E o reflexo da gula “vem” em autênticos neologismos: “com bucho ‘afolozado’ e ‘impazinado”.

São tantas expressões baixadeiras, que nos irmanam! E muitas sem “nenhuma” necessidade de explicação. Se bastam e nos fartam. “Irgá um carrapeta; respeito é bom e eu gosto; e é melhor cair na graça do que ser engraçado”.

No entanto, nem só de situações desagradáveis “vêvi o ômi”. Então, trago a palavra mais bonita de minha infância. “Nadica de nada” de reles “chibé e tiquara”. Sim, sinhô! Sem dúvida, a sonoridade, mais sonora, agradável, alegre e convidativa é PANDU! De café, de leite, de água com açúcar, de maracujá, de juçara, de murici … de … de quarqué invençonice!
“Dá inté pra lembê us bêçu!”

GRANDES LÍDERES

Por Aroucha Filho*

As eleições para prefeito e vereadores ocorrerão no próximo ano – 2024, mas para a política é uma data bem próxima, embora a antecedência seja de 15 meses.

As movimentações na classe política, fase preparatória para esse pleito eleitoral, já iniciaram. Filiações e migrações partidárias ocorrem neste momento. Os presidentes dos partidos começam a selecionar, por meio de reuniões, possíveis candidatos para o cargo de prefeito e vereadores. Nessa etapa preliminar, é bastante comum na região, os pré-candidatos a prefeito coordenarem e/ ou participarem ativamente desse processo. Focam na coesão dos grupos aos quais pertencem e na conquista de novos aliados. É uma atividade que demanda muita conversa e articulações políticas, em busca por mais alianças partidárias. Portanto, é uma atividade ainda no âmbito dos bastidores …

Em tempos recuados, a nossa política não possuía essa dinâmica. Os Grupos, basicamente dois, eram praticamente imutáveis. Dois lados, duas “ bandas” políticas. Assim perdurou por décadas.
Esse início de dinamicidade foi possível com o surgimento de novos atores políticos, todos desta geração que exerce esse papel no palco da nossa política atualmente.

Lembro do processo político das décadas de 50 e 60, que compreende o período entre a emancipação até os anos 1970.

Apesar de não ter sido o primeiro prefeito eleito, pois essa escolha recaiu sobre o Sr. Aniceto Mariano Costa – elegendo-se como único candidato; o grande líder político, o senhor João Amaral da Silva, conhecido como Juca Amaral, era um expoente político que reunia muitas virtudes. Tinha a humildade como um dos seus maiores valores. Não obstante, fosse o homem mais rico do município, a ostentação e arrogância era abominada por ele. Na condição de liderança, foi o protagonista da emancipação política de Matinha. Nessa luta, contou com a parceria dos deputados Afonso Matos, federal e Santos Neto, estadual.

Matinha foi emancipada através da Lei Estadual n° 267 de 31 de dezembro de 1948. Vale sublinhar que o senhor Manoel Antônio da Silva, foi o prefeito nomeado para implantar o município e organizar a primeira eleição para escolha do prefeito por meio do voto popular.
Juca, foi o segundo prefeito eleito de Matinha. Disputou e venceu essa eleição com Dr. Francisco das Chagas Araújo, que se tornara o grande líder da oposição.

Dr. Araújo, na eleição seguinte, concorreu com o Sr. Benedito da Silva Gomes, perdeu a eleição e Bibi Gomes tornou-se o terceiro prefeito de Matinha.

A quarta eleição foi disputada entre Juarez Silva Costa, filho de Aniceto e sobrinho de Juca Amaral, contra Dr. Araújo. Nessa contenda eleitoral, Dr. Araújo sagrou-se vencedor, vindo a ser o quarto prefeito eleito. Na sucessão de Dr. Araújo a disputa foi entre Raimundo Silva Costa (Pixuta), irmão de Juarez e José Conceição Amaral. Pixuta elegeu-se para o seu primeiro mandato de prefeito.

Após esses comentários introdutórios, passaremos a declinar a pretensão principal do texto, o qual elencará os Grandes Líderes Políticos do nosso território, denominado “Centro”.
Os líderes da região dos Campos será objeto de outro capítulo.

A nominata desses líderes terá como critério a minha percepção da atuação deles na política, considerando suas ações de liderança no âmbito das comunidades onde residiam e aquelas sob suas influências.

Nesses tempos pretéritos, a prática política era de uma pureza singular, as ações e atitudes eram direcionadas para o bem comum, o coletivo social. Os líderes eram altruístas e buscavam amparar as comunidades. Não havia pecúnia na atividade política. As reinvidicações prioritárias sempre eram focadas no setor da educação. Conseguir a contratação de uma professora era uma conquista festejada. Vejam, nessa época, as aulas eram ministradas na casa das professoras leigas, não havia unidades escolares construídas. A construção da primeira escola, de alvenaria e telha, fora na sede do município, só veio a ocorrer na administração do Prefeito Dr. Araújo, 1966/1969. Aliás, a educação foi prioridade no governo de Dr. Araújo. Nesse governo foi criado o Ginásio Bandeirantes em nossa cidade, um grande passo para a formação educacional dos jovens matinhenses.

Outra demanda requerida por esses líderes, consistiam nos “roços” e “cavação” das estradas, as quais não passavam de caminhos enlarquecidos.

Essas provincianas lideranças eram imbuídas do mais nobre princípio da política, o bem comum coletivo. Não exerciam a política com interesse patrimonialista, todos, sem exceção, durante suas atividades políticas, não tiveram acréscimo em seu patrimônio econômico financeiro. Sou testemunha desse fato.

Os mais destacados líderes desse período, anos 50/60, na zona rural, no alcance da minha memória, foram:
• Com base política no povoado Nova Olinda – assim era chamado o povoado pertencente a Matinha antes da emancipação do município de Olinda Nova do Maranhão -, o mais destacado líder político foi o Senhor OSÉAS DA MOTA COTRIM – grafia do seu assentamento civil. Uma liderança absoluta e incontestável. Sempre lutou pelos interesses de Nova Olinda, tudo o que foi levado de benefícios para esse povoado, foi conduzido pelos esforços dessa forte liderança. O senhor OSÉAS nunca perdeu uma eleição em Nova Olinda. Elegeu-se vereador por vários mandatos. Dele descende a maior expressão política do município de Matinha, retratada em seus filhos e netos.

Cito-a: Raimundo Freire Cutrim – prefeito de Matinha, 1989/1992. Prefeito de Olinda Nova do Maranhão, 1997/2000 e 2005/2008. Edmar Serra Cutrim – deputado estadual com três mandatos – 1991/2000. Glalbert Cutrim – deputado estadual no terceiro mandato, início do primeiro mandato/2015. Gil Cutrim – prefeito de São José de Ribamar, 2010/2016 Presidente da Federação dos Municípios do Maranhão -FAMEM, 2013/2016. Deputado Federal, 2019/2022.

• No Povoado Cutias II e povoados adjacentes o senhor MARCELINO PAIVA CANTANHEDE foi a grande liderança política. MARCELINO era um idealista, usava a sua influência política para carrear benefícios à região em que atuava como líder. Mesmo com grandes condições de eleger-se vereador, nunca se candidatou. MARCELINO era um entusiasta da educação,embora semi- analfabeto. Era muito amigo de Juarez Silva Costa e por extensão, a amizade dos irmãos Justino Cantanhede e Pixuta foi também muito sólida. Em sua homenagem o prefeito Pixuta eternizou o nome MARCELINO PAIVA CANTANHEDE numa escola no povoado Cutias III.

• Preguiça Nova e Preguiça Velha a liderança foi exercida pelos Irmãos Martins, principalmente o senhor JOÃO MARTINS. Era uma referência nas duas Preguiças e povoados circunvizinhos. JOÃO MARTINS ocupou cadeira na câmara de vereadores.
• ANANIAS ANTÔNIO MENDES se consolidou como grande liderança de São Felipe e redondezas. Com simplicidade, elegância e paciência conseguiu exercer com altivez o papel de grande líder. A exemplo das demais lideranças citadas, a sua luta direcionava-se na defesa dos interesses dos seus liderados. Nada em causa própria.

Seu ANANIAS foi vereador por dois mandatos – 1966/1970.
• No Piraí, o destaque vai para EDNA SILVA que exerceu essa liderança dentro das adversidades impostas pela época, uma vez que a questão de gênero tolhia a ascensão das mulheres no protagonismo político.
Ainda assim, EDNA foi eleita e exerceu o mandato de vereadora.
Finalizando o elenco das grandes lideranças do “Centro”, lado esquerdo da MA – 014, listo uma exponencial liderança desse período político de Matinha.

• JUSTINO CIPRIANO CUTRIM, com base política no povoado Tanque de Valença, consolidou-se em expressiva liderança, mesmo sem ter exercido mandato eletivo. Candidatou-se a vereador, porém não foi eleito, mesmo atingindo mais de 90% dos votos da seção eleitoral do Tanque. Em 1965 formou chapa com Juarez Silva Costa, como candidato a vice prefeito.
JUSTINO fazia política por gostar de fazer a boa política, tinha alegria em praticá-la. Era vibrante e atuante! Mantinha uma liderança paternal. No povoado Tanque, a maioria era seus parentes, seus descendentes ainda vivem lá.
Nas suas vindas para a sede, foi nosso hóspede várias vezes. Raimundo Viana, seu neto, morou conosco.
As idas de seu JUSTINO à sede do município, em quase todas as ocasiões, eram movidas na busca de benefícios para seu povoado. Assim, na administração do Prefeito Juca Amaral, conseguiu implantar a primeira escola pública no povoado Tanque. Uma pequena escola, construída com taipa e coberta de palha. As crianças assistiam às aulas sentadas em comprimidos bancos de madeira, sem o apoio das costas.
A professora nomeada para ensinar as crianças do Povoado Tanque foi a professora Lili Pinto, procedente do povoado Aquiri.

A grande amizade do senhor JUSTINO com meu pai, oportunizou a minha aproximação com esse ícone da política matinhense, o admirava, gostava de conversar com ele.
Apesar de ser mais próximo do senhor JUSTINO, conheci os aqui citados como grandes líderes da nossa política.
Texto em construção, aberto a correções e acréscimos.

Texto escrito em 01/08/2023.

José Ribamar Aroucha Filho (Arouchinha) é natural do município de Matinha-MA, Engenheiro Agrônomo aposentado do INCRA, exerceu os cargos de Executor do Projeto Fundiário do Vale do Pindaré e Executor do Projeto Colonização Barra do Corda. Ex Superintendente do INCRA Maranhão. Foi Superintendente da OCEMA e Chefe de Gabinete da SAGRIMA.

ABELHAS SÃO CAPAZES DE IMAGINAR, RECONHECER ROSTOS E TER EMOÇÕES, AFIRMA PESQUISADOR

Professor da Universidade Queen Mary de Londres estuda os insetos há mais de 30 anos e defende que eles têm algum nível de consciência.

O pesquisador Lars Chittka, professor de ecologia sensorial e comportamental da Universidade Queen Mary de Londres, acredita que as abelhas são capazes de imaginar, de reconhecer rostos, de ter algum nível de emoção e de aprender conceitos abstratos. Chittka pesquisa os insetos há mais de 30 anos e é autor do livro “The Mind of a Bee” (A mente de uma abelha, em tradução livre), que será lançado amanhã (19) no Reino Unido.

“Temos evidências sugestivas de que há algum nível de consciência nas abelhas – uma sensibilidade, que elas têm estados de emoção. Nosso trabalho e o de outros laboratórios mostraram que as abelhas são indivíduos muito inteligentes. Elas podem contar, reconhecer imagens de rostos humanos e aprender o uso de ferramentas simples e conceitos abstratos”, afirma o cientista em entrevista ao The Guardian.

Ele acredita que as abelhas têm emoções, podem planejar e imaginar coisas e podem se reconhecer como entidades únicas e distintas de outras abelhas. Chittka tira essas conclusões de experimentos em seu laboratório com abelhas operárias. “Sempre que uma abelha acerta em algo, ela recebe uma recompensa de açúcar. É assim que as treinamos, por exemplo, para reconhecer rostos humanos”.

Neste experimento, várias imagens monocromáticas de rostos humanos foram mostradas às abelhas, que descobrem que um deles está associado a uma recompensa de açúcar. “Então, damos a ela uma escolha de rostos diferentes e sem recompensas, e perguntamos: qual você escolhe agora? E, de fato, eles podem encontrar o correto”, explica o cientista.

As abelhas levam cerca de 12 a 24 sessões de treinamento para reconhecerem os rostos.

Em outra linha de pesquisa, Chittka descobriu que as abelhas também são capazes de imaginar como as coisas pareceriam: por exemplo, elas podiam identificar visualmente uma esfera que antes só sentiram no escuro – e vice-versa. E elas podiam entender conceitos abstratos como “igual” ou “diferente”.

Abelhas tem intencionalidade

O pesquisador começou a perceber que algumas abelhas eram mais curiosas e confiantes do que outras. As abelhas, descobriu, aprendem melhor observando outras abelhas completarem uma tarefa com sucesso, então “uma vez que você treina um único indivíduo na colônia, a habilidade se espalha rapidamente para todas as abelhas”.

Mas quando Chittka treinou uma “abelha demonstradora” para realizar uma tarefa de forma não tão excelente, a abelha que observava não imitou o demonstrador e copiou a ação que tinha visto, mas melhorou espontaneamente sua técnica para resolver o problema da tarefa de forma mais eficiente.

Isso revela não apenas que uma abelha tem “intencionalidade” ou uma consciência de qual é o resultado desejável de suas ações, mas que existe “uma forma de pensamento” dentro da cabeça da abelha. “É uma modelagem interna de ‘como vou chegar ao resultado desejado?’, em vez de apenas experimentá-lo”, explica Chittka.

Estados emocionais

Em um experimento, as abelhas sofreram um ataque simulado de aranha-caranguejo quando pousaram em uma flor. Depois, toda a conduta delas mudou. “Elas ficaram, em geral, muito hesitantes em pousar em flores e inspecionaram cada uma extensivamente antes de decidir pousar nelas”, observa Chittka.

As abelhas continuaram a exibir esse comportamento ansioso dias depois de terem sido atacadas, numa espécie de transtorno de estresse pós-traumático. “Elas pareciam mais nervosos e mostraram efeitos psicológicos bizarros de rejeitar flores perfeitamente boas, sem ameaça de predação. Depois de inspecionar as flores, elas voavam para longe. Isso nos indicou um estado emocional negativo”, diz o pesquisador.

Outro pesquisador ouvido pelo The Guardian, Jonathan Birch lidera um projeto sobre senciência animal na London School of Economics, e acredita que o nível de cognição sofisticada que as abelhas exibem indica que é muito improvável que elas não sintam nenhuma emoção.

“A senciência é sobre a capacidade de ter sentimentos”, diz.”E o que estamos vendo agora é alguma evidência de que existem esses estados emocionais nas abelhas”.

abelhas, bee, bees, abelha, insetos, (Foto: Unsplash)


Fonte: https://epocanegocios.globo.com/

PERI-MIRIM: Trilhando em Buritirana – uma manhã de alegria e conhecimento

Por Laércio Oliveira*

        Preservação do meio ambiente refere-se ao conjunto de práticas que visam proteger a natureza das ações que provocam danos ao meio ambiente. Devido ao atual modelo econômico, baseado em elevados níveis de consumo, o ser humano tem causado inúmeros prejuízos para a flora e fauna no planeta, ocasionando desequilíbrios ambientais, muitas vezes irreversíveis. Por isso, é fundamental a preservação para manter a saúde do planeta e de todos os seres vivos que  nele habitam.

        Apesar do protagonismo juvenil em questões ambientais ter se fortalecido nos últimos anos no Brasil, é preciso ainda investir em Educação sobre o tema para que essa grande parcela da sociedade possa se apropriar da questão. Isso é o que mostra a pesquisa “Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas”, divulgada em 4 de abril de 2023. O levantamento, conhecido pelo acrônimo “JUMA”, ouviu 5.150 pessoas com idades entre 15 e 29 anos, provenientes de todas as classes sociais e níveis de escolaridade nas várias regiões do Brasil, entre julho e novembro de 2022.

         Os resultados, considerados “curiosos e surpreendentes” pelos realizadores da pesquisa, revelam muito do que a juventude brasileira sabe e como ela é afetada pelas mensagens que recebem sobre meio ambiente e mudanças climáticas. Segundo o levantamento, 36% dos jovens respondentes não souberam identificar o bioma em que vivem.

        Nesse sentido, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a escola estadual Centro de Ensino Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), instituição que trabalhei durante doze anos, promoveram no dia 30/06/2023, nos turnos matutino e vespertino, uma expedição ao Povoado Buritirana que fica a aproximadamente 9 km do centro de Peri-Mirim.

        A expedição em formato de trilha ecológica contou com a participação de membros da ALCAP, gestor, professores e de aproximadamente 30 alunos do 3º ano do ensino médio. Eu e meu filho Laerth, de 8 anos, participamos como convidados da ALCAP.

        Nossa expedição teve início às 08:00h quando saímos da escola em um ônibus em direção ao povoado Buritirana, percurso que durou trinta minutos. Na localidade funciona uma instituição de ensino que atende diversos alunos da Baixada Maranhense, com os cursos de Pedagogia e Agente Comunitário de Saúde. O local é muito bonito, repleto de árvores e animais situado à beira do campo, que nesta época do  ano  encontra-se  alagado devido ao período chuvoso. Uma paisagem digna de cartão-postal.

        Na chegada, fomos recebidos por dois funcionários da instituição que nos deram algumas orientações de como proceder na trilha. Após algumas recomendações dos instrutores, iniciamos nossa caminhada. A trilha pela mata fechada é muito estreita obrigando a nos manter sempre em fila, com o instrutor à frente. Em alguns pontos da trilha, parávamos para ouvirmos algumas curiosidades sobre a região. Uma delas é que pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) encontraram ali uma espécie de borboleta muito rara que já consideravam extinta. No percurso observamos grandes aranhas, abelhas e porcos do mato. A flora é predominantemente composta de babaçuais e outras palmeiras. Meu filho Laerth, muito curioso, escutava com atenção e questionava o instrutor.  A descontração e o entusiasmo dos alunos eram evidentes, alguns até faziam anotações, pois teriam que entregar um relatório da trilha como forma de avaliação. Após uma hora de trilha chegamos ao nosso ponto de partida onde descansamos e saboreamos um delicioso lanche. Às 11:00h retornamos à escola.

        De acordo com Sato (2004), “o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece motivos que levam os alunos a se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para as futuras gerações”.

          Eu e meu filho Laerth agradecemos a amiga Ana Creusa, Presidente da ALCAP e Vice-Presidente do Fórum em Defesa  da Baixada Maranhense (FDBM), pelo convite.

          Agradecemos aos que participaram da expedição: Acadêmicos Ana Cléres, Diego e Ataniêta (Tata). Aos professores Fabio (gestor), André, Alex e Paula. Aos alunos do 3º ano do ensino médio e ao guia e instrutor Wanderson.


*Laércio Lúcio Oliveira é perimiriense, possui graduação em Matemática pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA (1997). Especialista em Docência do Ensino Superior-IESF (2008). Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – UNICSUL(2012). Professor efetivo de Matemática (ensino médio) da rede estadual há vinte anos .Foi professor contratado da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Programa Darcy Ribeiro de 2009 a 2012. Foi professor substituto da Universidade Federal do Maranhão-UFMA(2013 a 2015) Atualmente, Professor da Faculdade do Maranhão – FACAM nos cursos de Engenharia Civil , Engenharia de Produção e Análise e Desenvolvimento de Sistemas – ADS. Ministra aulas nas seguintes disciplinas : Cálculo Básico, Calculo I e II, Estatististica e Probablidade, Álgebra Linear e Geometria Analítica, Matemática Financeira. 

CANTO DA ORIGEM DE MAURO RÊGO

Por Mauro Rêgo*

Eu venho de muitas datas
Nasci dos canaviais
Do ouro dos cafezais
Tirei o meu refrigério
Tenho o perfume do campo
Onde há beleza e mistério
Nasci em noite estrelada
Tive a fronte ornamentada
Pela coroa do Império.

Minhas águas são moradas
De entes da natureza
Dos campos eu sou princesa.
Sou um recanto de fadas
Foi delas meu nascimento
um berço de mururu
Pois nasci do encantamento
Das águas do Sipau.

Minhas flores são do campo
Minha luz é o pirilampo
O meu fruto é o anajá
Guardo todas as riquezas
Nas correntes indefesas
Das águas do Troitá.

Tenho ilhas isoladas
Onde ninguém mora lá
Pois elas guardam as estradas
De Rita do Paricá*.
Tenho recônditos santos
Frutos raros, e são tantos,
Como a guapéua e o ameju
Pois eu nasci dos encantos
Das águas do Sipau

Pelos campos, isolados,
Tenho morros encantados
– Pacoval e Graxixá –
Velando os sagrados entes
Que moram sob as correntes

Das águas do Troitá
E o meu solo sacrossanto
Retirado de um recanto
Da Vila do Mearim,
Também de Itapecuru
E de Rosário por fim,
Viu meu povo se formando
E nos campos navegando
Nas águas do Sipaú.
Sou de mito e de magia!
Que meu canto centenário.
Honre a Virgem do Rosário
E aos céus numa prece suba!
Encha o mundo de alegria,
Pois nasci Santa Maria
Dos campos de Anajatuba.

* Mauro Bastos Pereira Rêgo nasceu em  Anajatuba (MA),   no dia 15 de fevereiro de 1937.  Filho de Anastácio Pereira Rêgo e Maria Bastos Rego. Seus primeiros estudos foram em Anajatuba, depois ingressou no curso de  Técnico em Edificações, concluído em 1957, na Escola Técnica Federal do Maranhão. Mauro Rego é Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão, com habilitação em Magistério Normal e Supervisão Escolar e também é  Licenciado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pós-graduado como Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira.