“DIÁLOGOS BAIXADEIROS – FALAS SOBRE A BAIXADA” É TEMA DE RODAS DE CONVERSA EM SÃO LUÍS

Diversos olhares, percepções, vivências e memórias marcam o evento “Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada”, Projeto de Extensão do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que ganhará nova edição em São Luís, a partir desta quinta-feira (14), das 14h às 17h30, com entrada gratuita.

Com o eixo central “Falas sobre a Baixada”, em cada um dos seis encontros, a segunda edição terá sempre quatro temas centrais, com convidados especiais, autoras e autores oriundos da Baixada. No primeiro encontro, os temas são: “A Baixada do Maranhão em serões e outras falas”, com Gracilente Pinto (de São Vicente Ferrer); “Vislumbres de Viana sob o olhar de Assis Galvão”, com Adalzira Galvão e Michela Galvão (de Viana); “Anajatuba e nossas esperanças”, com Mauro Rêgo (de Anajatuba); e “Linguajar típico da Baixada”, com Flávio Braga (de Peri Mirim).

Sob organização do professor Manoel de Jesus Barros Martins, do Departamento de História da UFMA, o evento conta com o apoio do Departamento de História, do Curso de História, do Centro de Ciências Humanas e do Centro Pedagógico Paulo Freire – local onde será realizado o evento, na sala 101, Asa Norte, a partir das 14h.

Para Manoel Martins, o evento é um importante espaço para que professores, alunos e o público em geral possa debater e conhecer mais sobre essa importante região do Maranhão.

“A Baixada conta com um quantitativo expressivo de autoras e autores cujas obras remetem ao entendimento de facetas muito caras à formação social maranhense, porém essa produção e seus autores nem sempre são reconhecidos”, afirma o professor.

“Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada” será realizado em formato presencial, na UFMA. As Rodas de Conversa serão gravadas e disponibilizadas a seguir pelo canal oficial do evento no YouTube, pelo link: https://youtube.com/@BaixadadoMaranhao.

Histórico dos Diálogos Baixadeiros
A partir de maio deste ano, foram realizadas as primeiras Rodas de Conversa, no âmbito da disciplina “Baixada do Maranhão: trajetórias e perspectivas”, com o tema “Diálogos Baixadeiros”. Diferente da atual edição, que será realizado em seis datas, às quintas feiras, de 14.09 a 09.11, o evento de estreia foi realizado em cinco datas – nos dias 5, 12, 19 e 26 de maio e 2 de junho.
Os vídeos da primeira edição podem ser encontrados no YouTube, no canal @BaixadadoMaranhao. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail baixadadoma@gmail.com.

Fontes: sites O Resgate e FDBM.

O GATO DO HOMEM

Por: Ana Creusa

A história se passou em Peri-Mirim, no povoado Feijoal, em meados da década de 1920.

Aquela época era marcada pelo culto à família patriarcal, em que as mulheres deviam muito respeito ao marido e se encarregavam apenas das tarefas domésticas e da educação dos filhos, enquanto o homem era provedor da casa.

Naquele tempo, havia pais que não sabiam os nomes completos dos seus filhos, imagina lembrar as datas dos seus nascimentos? Frequentemente, confundiam os nomes dos filhos.

Um casal, porém, destacava-se pela união. Pedro e Maria Rosa eram diferentes. Recém-casados, ainda não tinham filhos.

O marido era visto de mãos dadas com a esposa nas festividades. Era motivo de críticas e elogios por parte dos correligionários.

Moravam em uma casa confortável. O marido trabalhava com gado, quinhão que recebera do pai pela ocasião do casamento.

No verão – campo seco – Pedro levava o gado para o campo de Pericumã ou Cafundoca em Palmeirândia, em busca de pasto abundante.

Certo dia, chegou um gato na casa do casal. Miau, miau, insistia o gato faminto. O gato logo começou a se roçar nas pernas do Pedro e o seguir por toda a casa e quintal. Demonstrando muita afeição pelo mancebo.

Sempre que Pedro chegava à sua casa, depois do trabalho, lá estava o gato miando, como se tivesse passado o dia inteiro sem comer nada: miau, miau … O jovem colocava a comida para o gato e ele comia como um esfomeado.

Pedro já estava desconfiado que a esposa não estava pondo comida ao bichano e pedia:

– Mulher, por favor, coloca comida para meu gato. No que ela respondia:

– Incrível, eu coloco comida para esse gato e ele não come. É só você chegar que ele come desse jeito! Eu não sei mais o que fazer: ele não come a comida que eu coloco.

– Oh, Rosinha, insistia o marido. Fico triste em ver meu gato sempre com fome; Maria Rosa, por favor, coloca comida para meu gato, quando eu chegar, não quero encontrar meu gato com fome.

Ela falava:

– Marido, eu sempre coloco comida para seu gato, ele é que não come. Não sei o porquê.

– Não parece, ele está sempre com fome. Falou o marido em tom ríspido.

Passados alguns dias, Pedro teria que levar o gado para Cafundoca. Juntou os animais e seguiu viagem com outros vaqueiros do lugar. Antes de sair, com o gato nas mãos, chamou a esposa e disse:

– Cuida do meu gato, eu vou demorar uns três dias.

– Não se preocupes, Pedro, que esse gato há de comer!

– Mulher, não deixe meu gato passar fome. Falou o marido zangado e não deu o tradicional beijo e abraço de despedida na esposa.

Pedro deixou o gado no Cafundoca, voltou sozinho. Os companheiros não quiseram voltar naquele dia que era sexta-feira, dia 13, pois, saindo àquela hora, iriam passar pela mata de João de Deus Martins durante a noite, o que era assustador.

Pedro, preocupado com seu gato de estimação, com receio que a esposa não gostasse do gato, não poderia demorar, pois temia que seu gato já estivesse morto, por falta de alimento e pensava:

– Que mulher traiçoeira que fui me casar! Ela não coloca comida para meu gato, só para me irritar.

Altas horas, passou pela mata, uma área preservada, floresta com espécies diversificadas. Apesar da lua cheia, o caminho estava escuro pelas copas das árvores.

Pedro, destemido, montado em seu cavalo alazão, sela e cochinil alvinho que Maria Rosa cuidava para o marido ficar feliz. Pedro era um jovem de vinte e cinco anos, moreno, alto e sorridente.

Durante a viagem, passando por uma moita de Tucunzeiro, famosa por ser mal-assombrada. Havia relatos que daquela touceira sairiam conversas de seres encantados.

Ao ouvir as vozes, Pedro arrepiou-se. Desembainhou o facão bem afiado. Parou e ouviu uma conversa nítida de aproximadamente três vozes distintas. Diziam elas, em meio às gargalhadas:

– Eu já estou garantido!

– Eu também estou, dizia outro. Pedro apurou os ouvidos e ouviu a terceira voz:

– Eu, com certeza estou garantido. Hoje ganho mais uma alma. Estou disfarçado de gato e quando o marido sai de casa eu não como mais nada, estou magrinho que dá dó. O marido está viajando. Quando ele chegar e me ver naquela situação, com certeza vai bater na mulher. Talvez até matá-la.

Pedro, por pouco, não caiu do cavalo e concluiu, sem sombra de dúvidas:

– Essa história é comigo – é o gato que está na minha casa e olha o que ele quer? Que eu mate a minha esposa e vá para o Inferno.

O rapaz, com o coração aos pulos, pensando nas injustiças que cometera com a esposa, fez uma oração. Pediu perdão a Deus, que o protegesse e seguiu viagem.

Chegou a casa, foi recebido pelo gato, que estava só pele e osso; quase não conseguia mais miar de tanta fome.

A esposa olhava a cena e lembrava de tudo que fez para aquele maldito gato comer e ele se recusava; fazia comida especial, e nada! O bicho parecia fazer de propósito para que o marido pensasse que ela estava mentindo.

O marido baixou a cabeça, olhou para a esposa e o gato mal conseguia caminhar. Pedro tirou o facão da cintura e partiu o gato ao meio[1].

Maria Rosa encolheu-se toda e pensou: – eu sou a próxima! Não conseguia sair do local, sem ação, esperou a reação do marido, ao tempo em que pediu que Deus orientasse seu esposo que estava prestes a cometer uma grande injustiça.

Pedro fitou a esposa e disse:

– Meu Amor, perdoe-me, eu errei contigo. Aquele gato era um demônio disfarçado. Contou à Rosinha a conversa que ouvira na mata. Pensava a esposa: – agora fazia todo o sentido o comportamento daquele gato endemoniado.

O Amor venceu, o casal foi feliz para sempre. Tiveram filhos e filhas. Nunca esqueceram o grande desafio que passaram em suas vidas. Aprenderam a lição de que “nem tudo que parece é”.


[1] Dessa forma foi contado pelo meu pai. Tive vontade de mudar para que o Pedro apenas se afastasse do gato, ralhasse para que ele se afastasse. Recomendo a quem desejar contar essa estória a crianças pequenas, que altere esse fato. Ademais, nunca é bom que se atribua efeitos demoníacos aos gatos, pode-se dizer que o Demônio pode usar qualquer um, até as pessoas, basta que permitamos com más ações e atitudes

.. É UMA BISCA! (… É UM BISCATE!)

Por Zé Carlos Gonçalves

Ainda inebriado “pela viagem” em meu “indioma baixadeiro”, não consegui dormir “dereito”. Sempre acompanhado por uma “gastura”, “qui num quê mi largá, meu Deus, neim mi dá sussego”. Até pensei estar perseguido por “um exército de expressões”, querendo se apresentar na crônica anterior.

Desconfiei até que eram umas almas penadas, que queriam me assombrar. E, aí, capitulei. “Tremi todo. Caguei fino. Arreguei”. Fui vencido. Só me resta dar passagem ao linguajar, que, de repente, me trouxe à memória duas figuras fantásticas. E não sei por quê. Chiquitó e “Me Dá Cem”. Encastelados em suas peculiaridades.

Mas, deixemos “de papo furado”. Matei “foi, um tiquinho, a sordade du meo falá”. Por onde ando, ultimamente, “a moda” é câmbio, deficit, superavit, flutuação, feminicídio. E, por aí vai. “Coisas”, que não escutava “no meu tempo”. Esta expressão, sim, é “porreta!” “No meu tempo!” Será que, hoje, eu ando perdido, “fora de tempo”?! “Sem documento e sem lenço?!” E “outras coisitas” mais?!

O certo é que “não ouvia nada”, há muito, como “tá ti olhano de rabo de olho, ou só anda cum a barriga desarranjada, ou tá cum u bucho afulozado”.

O que posso afirmar é que me empolguei em minhas lembranças e, no maior flagra, me peguei balbuciando “caxa di fôfi e aqui tá vasqueiro”. E, para completar a minha alegria, ataquei de “Oh, nojo!” Só para me vingar de tanto tempo ausente dos meus.

O interessante, nisso tudo, é que um sincero e leve sorriso brotou em mim, ao “me tomar a cabeça” a palavra BISCA. Vejam só! BISCA e sua plurissignificação. Ainda mais, bem acompanhada. “Êssi diabo quê levá ‘o raio’ de umas bisca. Êssis aí tão como ‘um raio’ jogano bisca. Êsse daí é ‘um raio’ de uma bisca”.
Acredito até que há um estreito parentesco, desta última, com a expressão “é um biscate!”
Que doidiça!

Síndrome de abstinência do baixadês: PANDU (… o vital baixadês)

Por Zé Carlos Gonçalves

Há muito tempo ausente, e saudoso, da Baixada, começo a ter síndrome de abstinência do baixadês. E só quem é “da gema” sabe o tanto que dói essa falta de contato com o “nosso falá”. E sofre!

Aí, a minha única saída é tatear a memória e buscar “o meu combustível”, que me mantém vivo.
E, “nessa louca viági, mi indentifico cum argumas” pérolas. E que maravilhas!
Maravilhas, que me fazem respirar, “de novo, outra vez”.

E, aí, me vejo acalentado por expressões, que “me lavam a alma”. E exemplo é o que não falta. Por isso, “Mi encho de corági i seim sabê ôndi mora u perigo”, para afirmar categórico e desafiador, com uma autoridade “qui só”. “Eu sou eu, e boi não lambe”. Ou quase “morrê di raiva”, ao ser associado a “um caniço”, dado a meu aspecto esquelético. Mas, o pior era ser chamado de “tisguinho”; o que acho está associado à terrível palavra “tísico”. Que medo! “Bato inté na madera trêis veiz”.

E, ainda, não “sastifeito”, busco, nas madrugadas infindas. De repente, me sinto no meio dos meus, a ser bombardeado, como se nos comunicássemos em outro “indioma”. Para indicar que havia pouco tempo para terminar um trabalho: “sol virô tá di tárdi”. Falta de espaço, na despensa: “intupetada de bregueço”. A mostrarem que “eu não passo” de um ingênuo e até incapaz “de pensar”: “êssi caiu numa esparrela”.

“Se viravam”, em dois animais, a esperteza e a ignorância: “quer dar uma de urso e é um cavalo batizado”. E o reflexo da gula “vem” em autênticos neologismos: “com bucho ‘afolozado’ e ‘impazinado”.

São tantas expressões baixadeiras, que nos irmanam! E muitas sem “nenhuma” necessidade de explicação. Se bastam e nos fartam. “Irgá um carrapeta; respeito é bom e eu gosto; e é melhor cair na graça do que ser engraçado”.

No entanto, nem só de situações desagradáveis “vêvi o ômi”. Então, trago a palavra mais bonita de minha infância. “Nadica de nada” de reles “chibé e tiquara”. Sim, sinhô! Sem dúvida, a sonoridade, mais sonora, agradável, alegre e convidativa é PANDU! De café, de leite, de água com açúcar, de maracujá, de juçara, de murici … de … de quarqué invençonice!
“Dá inté pra lembê us bêçu!”

“A GENTE TEMOS CADA MANIA!”

Por Zé Carlos Gonçalves

Há uns dias, ao encontrar um velho amigo, velho, ele me disse que se soubesse que a velhice é tão boa, nunca que queria ser jovem. Essa convicção me deixou boquiaberto. Ainda que ele a tenha apresentado com tanta firmeza.

O certo é que considerei essa percepção, que me perseguiu, esdrúxula. Mas, o tempo, curador de tudo, revelou outras nuances. E, aí, comecei a achar que cada um “tem o direito de ter mania”.

Ter a mania de querer ser jovem ou ter a mania de querer ser famoso. Ter a mania de querer ser rico ou ter a mania de querer ser “o que a folhinha não marca”. Ter a mania de querer ser “o dono” da limpeza, da arrumação, da geladeira ou ter a mania de querer ser ingênuo, ‘ser engraçado’ ou ser bobo (…).

E o interessante é que, de repente, começaram a vir situações as mais diversas. Mania de juntar moedas; juntar tampinhas de refri; juntar fracassos; juntar revistas, fotografias, pulseiras, colares, botões, folhas secas, carrinhos, selos … namorados.

E, para melhor entender. Vamos, como bem dizia “minha professora dona” Maria Fausta, ao “cúmulo do absurdo”. Encontrei um “chegado”, há um tempo. Ele me apresentou a uma amiga. Dele, claro! Uma fonoaudióloga. Após uns dois minutos de conversa, ela, se referindo a mim, disse. “Tu és professor!” Aí, fiz a pergunta, que não deveria. “Por quê?!” E a resposta não poderia ser pior. “Conheço professor, de longe. O tom. Fala alto, explicando. O diagnóstico é certo. Na verdade, vocês em qualquer lugar ‘têm a mania’ de ser professor!” Éguas! Me achei desnudo e sem graça. Com apenas um “sorrisinho amarelo”, a me acompanhar, quase lhe disse que, também, ela tinha a feia mania de ser fonoaudióloga. Mas não tenho mania de corrigir; e, verdadeiramente, acho isso ridículo. Ali, perdi a mania de retrucar. Só me restou o silêncio. Dei “uma senhora desculpa”, saí e fui tomar um shop, mais à frente. E, aí, um terrível medo de que já estivesse com a mania de fugir de alguém cheio de manias se apossou de mim. Que loucura! Entenderam, né?! Nem, eu!

Só sei que a raiva ficou, “pra sempre, engastalhada na minha guela!”
E, ainda hoje, não sei por que “a gente temos cada mania!”

AMOR ÀS AVESSAS (… Juvita, a ex rebelde)

O amor seguir o seu rito normal parecia não ser “a melhor pedida” de Juvita. Menina buliçosa, a bem da verdade “ispivitada e tisguinha”, mas criada sob a severa vigilância de sua mãe, Amparo. Logo cedo, subverteu toda e qualquer ordem ditada pelos cânones sociais de sua comunidade. Quebrou “o cabresto” e desafiou o mundo por conta própria. Proclamou-se liberta de tudo. Até da liberdade vigiada, que tinha ali.
E, deu-se o auge de sua rebeldia, assim que ela colocou os olhos, “de gato ladrão”, na mais sincera e pudica timidez do vizinho. Sentiu-se dona e senhora, “a pisar o coração” ainda imberbe e despovoado de maldades. As investidas se fizeram constantes, “sem chove-não-molha”, bem às claras. O pobre já não tinha sossego. E se escondia que se escondia. Mas, Juvita estava, ali, à espreita, sempre pronta a perseguir.
E, com tanta insistência, “o papou”, como gostava de dizer. E se lambuzou. E se apaixonou. E se retraiu. E se comportou. E virou gente! Isso em suas próprias palavras.
Mas, como sei que estão curiosos para saber por que trago “o final”, logo no meio da história, não vou desapontá-los.
Juvita revelou-se irônica. E, irônica, apregova “aos quatro cantos”, do mundo, que seu coração era mais pétreo do que a mureta, a circundar a sua casa. E, irônica, apregova as suas máximas, para justificar a conquista difícil de um amor, que se apresentava impossível.
E, assim, continuava a debochar dos silêncios, que se lhe apresentavam desafiadores, e precisava penetrá-los. Para justificar as suas certezas, se fazia “o cão que ladra e morde”. E “se aparecia”, dizendo para todos ouvir. “Quem espera sentado, se cansa”. E as investidas se faziam mais fortes.
Quando questionada de tanta insistência, saía-se com esta. “Antes mal acompanhada do que só. Brinco com fogo e, depois, apago”.
Ledo engano. A vida é cheia de mistérios. Como bem dizia a minha avó, em seu saber nonagenário, “quem desdenha quer comprar”. E, aí, o coração, endurecido, da pseudo rebelde, “se abriu como um paraquedas” … Não foi ‘nem’ preciso “a água mole furar a pedra dura”, afinal, “quem é lembrado um dia foi visto”.
O certo é que Juvita, em sua gana em tê-lo, “atiçou” o gélido moço e começou “foi” a se fazer desejada. Os olhares cruzaram-se. Os suspiros tornaram-se cúmplices. As mãos, tão inquietas, saudavam-se timidamente. A timidez passou à coragem; e a coragem não encontrou refúgio em subterfúgios. Juvita capitulou. E, feio. “Passou de caçadora à vencida”.
O certo é que “semeou a tempestade”; e, na viração dos sentires, “foi colhida como a mais suave brisa!”
Eita vida caprichosa!
Vida longa a Juvita, “a ex rebelde!”

PERI-MIRIM: Trilhando em Buritirana – uma manhã de alegria e conhecimento

Por Laércio Oliveira*

        Preservação do meio ambiente refere-se ao conjunto de práticas que visam proteger a natureza das ações que provocam danos ao meio ambiente. Devido ao atual modelo econômico, baseado em elevados níveis de consumo, o ser humano tem causado inúmeros prejuízos para a flora e fauna no planeta, ocasionando desequilíbrios ambientais, muitas vezes irreversíveis. Por isso, é fundamental a preservação para manter a saúde do planeta e de todos os seres vivos que  nele habitam.

        Apesar do protagonismo juvenil em questões ambientais ter se fortalecido nos últimos anos no Brasil, é preciso ainda investir em Educação sobre o tema para que essa grande parcela da sociedade possa se apropriar da questão. Isso é o que mostra a pesquisa “Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas”, divulgada em 4 de abril de 2023. O levantamento, conhecido pelo acrônimo “JUMA”, ouviu 5.150 pessoas com idades entre 15 e 29 anos, provenientes de todas as classes sociais e níveis de escolaridade nas várias regiões do Brasil, entre julho e novembro de 2022.

         Os resultados, considerados “curiosos e surpreendentes” pelos realizadores da pesquisa, revelam muito do que a juventude brasileira sabe e como ela é afetada pelas mensagens que recebem sobre meio ambiente e mudanças climáticas. Segundo o levantamento, 36% dos jovens respondentes não souberam identificar o bioma em que vivem.

        Nesse sentido, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a escola estadual Centro de Ensino Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), instituição que trabalhei durante doze anos, promoveram no dia 30/06/2023, nos turnos matutino e vespertino, uma expedição ao Povoado Buritirana que fica a aproximadamente 9 km do centro de Peri-Mirim.

        A expedição em formato de trilha ecológica contou com a participação de membros da ALCAP, gestor, professores e de aproximadamente 30 alunos do 3º ano do ensino médio. Eu e meu filho Laerth, de 8 anos, participamos como convidados da ALCAP.

        Nossa expedição teve início às 08:00h quando saímos da escola em um ônibus em direção ao povoado Buritirana, percurso que durou trinta minutos. Na localidade funciona uma instituição de ensino que atende diversos alunos da Baixada Maranhense, com os cursos de Pedagogia e Agente Comunitário de Saúde. O local é muito bonito, repleto de árvores e animais situado à beira do campo, que nesta época do  ano  encontra-se  alagado devido ao período chuvoso. Uma paisagem digna de cartão-postal.

        Na chegada, fomos recebidos por dois funcionários da instituição que nos deram algumas orientações de como proceder na trilha. Após algumas recomendações dos instrutores, iniciamos nossa caminhada. A trilha pela mata fechada é muito estreita obrigando a nos manter sempre em fila, com o instrutor à frente. Em alguns pontos da trilha, parávamos para ouvirmos algumas curiosidades sobre a região. Uma delas é que pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) encontraram ali uma espécie de borboleta muito rara que já consideravam extinta. No percurso observamos grandes aranhas, abelhas e porcos do mato. A flora é predominantemente composta de babaçuais e outras palmeiras. Meu filho Laerth, muito curioso, escutava com atenção e questionava o instrutor.  A descontração e o entusiasmo dos alunos eram evidentes, alguns até faziam anotações, pois teriam que entregar um relatório da trilha como forma de avaliação. Após uma hora de trilha chegamos ao nosso ponto de partida onde descansamos e saboreamos um delicioso lanche. Às 11:00h retornamos à escola.

        De acordo com Sato (2004), “o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece motivos que levam os alunos a se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para as futuras gerações”.

          Eu e meu filho Laerth agradecemos a amiga Ana Creusa, Presidente da ALCAP e Vice-Presidente do Fórum em Defesa  da Baixada Maranhense (FDBM), pelo convite.

          Agradecemos aos que participaram da expedição: Acadêmicos Ana Cléres, Diego e Ataniêta (Tata). Aos professores Fabio (gestor), André, Alex e Paula. Aos alunos do 3º ano do ensino médio e ao guia e instrutor Wanderson.


*Laércio Lúcio Oliveira é perimiriense, possui graduação em Matemática pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA (1997). Especialista em Docência do Ensino Superior-IESF (2008). Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – UNICSUL(2012). Professor efetivo de Matemática (ensino médio) da rede estadual há vinte anos .Foi professor contratado da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Programa Darcy Ribeiro de 2009 a 2012. Foi professor substituto da Universidade Federal do Maranhão-UFMA(2013 a 2015) Atualmente, Professor da Faculdade do Maranhão – FACAM nos cursos de Engenharia Civil , Engenharia de Produção e Análise e Desenvolvimento de Sistemas – ADS. Ministra aulas nas seguintes disciplinas : Cálculo Básico, Calculo I e II, Estatististica e Probablidade, Álgebra Linear e Geometria Analítica, Matemática Financeira. 

CANTO DA ORIGEM DE MAURO RÊGO

Por Mauro Rêgo*

Eu venho de muitas datas
Nasci dos canaviais
Do ouro dos cafezais
Tirei o meu refrigério
Tenho o perfume do campo
Onde há beleza e mistério
Nasci em noite estrelada
Tive a fronte ornamentada
Pela coroa do Império.

Minhas águas são moradas
De entes da natureza
Dos campos eu sou princesa.
Sou um recanto de fadas
Foi delas meu nascimento
um berço de mururu
Pois nasci do encantamento
Das águas do Sipau.

Minhas flores são do campo
Minha luz é o pirilampo
O meu fruto é o anajá
Guardo todas as riquezas
Nas correntes indefesas
Das águas do Troitá.

Tenho ilhas isoladas
Onde ninguém mora lá
Pois elas guardam as estradas
De Rita do Paricá*.
Tenho recônditos santos
Frutos raros, e são tantos,
Como a guapéua e o ameju
Pois eu nasci dos encantos
Das águas do Sipau

Pelos campos, isolados,
Tenho morros encantados
– Pacoval e Graxixá –
Velando os sagrados entes
Que moram sob as correntes

Das águas do Troitá
E o meu solo sacrossanto
Retirado de um recanto
Da Vila do Mearim,
Também de Itapecuru
E de Rosário por fim,
Viu meu povo se formando
E nos campos navegando
Nas águas do Sipaú.
Sou de mito e de magia!
Que meu canto centenário.
Honre a Virgem do Rosário
E aos céus numa prece suba!
Encha o mundo de alegria,
Pois nasci Santa Maria
Dos campos de Anajatuba.

* Mauro Bastos Pereira Rêgo nasceu em  Anajatuba (MA),   no dia 15 de fevereiro de 1937.  Filho de Anastácio Pereira Rêgo e Maria Bastos Rego. Seus primeiros estudos foram em Anajatuba, depois ingressou no curso de  Técnico em Edificações, concluído em 1957, na Escola Técnica Federal do Maranhão. Mauro Rego é Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão, com habilitação em Magistério Normal e Supervisão Escolar e também é  Licenciado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pós-graduado como Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira.

A MINHA LAMPARINA (… e minhas pegadas)

Por Zé Carlos Gonçalves

Ontem, ao passar lá, pelo Mercado Central, vi, numa lojinha de quinquilharias, uma imponente lamparina dependurada. Que beleza de imagem!

Imagem, que me trouxe, concretamente, lampejos vivos. Arremeti-me a uma época, em que importante peça alumiava a melhor parte de minha vida. E, o melhor, denotativa e conotativamente.
Verdade verdadeira!

Hoje, a velha e milagrosa Lamparina perdeu-se. E se tornou desconhecida para uma boa parte de nossos irmãos maranhenses. Mas a verdade, também, é que espantou a vil e tenebrosa escuridão, nos apontou os caminhos, nos clareou as ideias. E, com isso, pode se apresentar como o elo, metafórico, entre o foi e o é. Digo, até, romantizado!

Afinal, havia “uma magia” a rondá-la, que se fazia, do seu abastecimento “ao seu acendimento”, em um ritual pleno.

Ritual, a encantar olhos acesos e curiosos. Olhos sonolentos e cansados. Olhos puros e, até, os não tão santos, assim. Olhos, a verem e a admirarem o murrão, mergulhado no “criosene”, a se comportar imprevisivelmente. Ora guloso, a devorar-se em suas entranhas, com a certeza do seu iminente e inevitável fim. Ora muito e muito “enfastiado”, a ir se arrastando na lerdeza do tempo, que lhe sorvia a alma, repousante no mais absoluto silêncio.

Ritual, a ditar a fome do murrão, que se alimentava da chama gulosa, de luz. Que, implacável, tragava a inocente mariposa, numa dança errônea e suicida, a se consumir na ardente fome do fio.
Ritual, a tisnar a parede, faminta e tão necessitada de respirar a fuligem, que se impunha e lhe dava alma renovada.

Ritual, a sacramentar a fumaça, a enfumaçar os olhares, tolhidos, de mui outros olhares.
Ritual, a ditar o rito da caminhada, tão árdua e tão rica e tão imprevisível e tão voraz; a me devolver à minha lamparina, que, de tão teimosa, teima em se apagar, com a mais serena serenidade de minhas pegadas.

ACADEMIA PERIMIRIENSE INOVA EM EXPEDIÇÃO QUE PROMOVE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Por meio do Projeto ALCAP Itinerante, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a escola estadual Centro de Ensino Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), realizarão no próximo dia 30/06/2023 uma expedição ao Povoado Buritirana que fica a aproximadamente 9 km do centro de Peri-Mirim.

A expedição será em formato de trilha ecológica e atenderá a aproximadamente 160 alunos do 3º ano dos turnos matutino e vespertino da referida escola.


O espaço agroecológico Buritirana fica no povoado Buritirana, pertencente ao município de Peri-Mirim. Na localidade funciona uma instituição de ensino que atende diversos alunos da Baixada Maranhense, com os cursos de Pedagogia e Agente Comunitário de Saúde.

– A expedição ao povoado Buritirana ocorrerá em dois grupos: 1º (alunos do matutino) saída da escola às 07:30h e retorno às 10:30h;  2º (alunos do vespertino) saída da escola às 13:30h e retorno às 16:30h;
– A gestão da escola ficou responsável em repassar aos alunos e professores informações sobre a expedição, conseguir o transporte para locomoção, a autorização dos pais ou responsáveis dos alunos e o lanche para os alunos;
– Os alunos farão um relatório da trilha para entregar à escola como quesito de avaliação.

Logo, o percurso nas trilhas ecológicas, além da oportunidade de apreciar as belezas da fauna e flora do local, é uma estratégia de aprendizagem, que vem ao encontro às atuais necessidades educativas para construção de mudança de pensamento e de atitude, a partir dos preceitos propostos na Educação Ambiental, visando o desenvolvimento sustentável.

Dessa forma, o projeto ALCAP ITINERANTE visa contribuir com o ensino almejado em que se pretende, não só repassar informações dos acontecimentos que ocorrem no cotidiano e no mundo, mas, também, formar o participante, levando-o à prática do descobrir, refletir e discutir as ações e pensamentos resultantes da interação do homem com a natureza.