A MINHA LAMPARINA (… e minhas pegadas)

Por Zé Carlos Gonçalves

Ontem, ao passar lá, pelo Mercado Central, vi, numa lojinha de quinquilharias, uma imponente lamparina dependurada. Que beleza de imagem!

Imagem, que me trouxe, concretamente, lampejos vivos. Arremeti-me a uma época, em que importante peça alumiava a melhor parte de minha vida. E, o melhor, denotativa e conotativamente.
Verdade verdadeira!

Hoje, a velha e milagrosa Lamparina perdeu-se. E se tornou desconhecida para uma boa parte de nossos irmãos maranhenses. Mas a verdade, também, é que espantou a vil e tenebrosa escuridão, nos apontou os caminhos, nos clareou as ideias. E, com isso, pode se apresentar como o elo, metafórico, entre o foi e o é. Digo, até, romantizado!

Afinal, havia “uma magia” a rondá-la, que se fazia, do seu abastecimento “ao seu acendimento”, em um ritual pleno.

Ritual, a encantar olhos acesos e curiosos. Olhos sonolentos e cansados. Olhos puros e, até, os não tão santos, assim. Olhos, a verem e a admirarem o murrão, mergulhado no “criosene”, a se comportar imprevisivelmente. Ora guloso, a devorar-se em suas entranhas, com a certeza do seu iminente e inevitável fim. Ora muito e muito “enfastiado”, a ir se arrastando na lerdeza do tempo, que lhe sorvia a alma, repousante no mais absoluto silêncio.

Ritual, a ditar a fome do murrão, que se alimentava da chama gulosa, de luz. Que, implacável, tragava a inocente mariposa, numa dança errônea e suicida, a se consumir na ardente fome do fio.
Ritual, a tisnar a parede, faminta e tão necessitada de respirar a fuligem, que se impunha e lhe dava alma renovada.

Ritual, a sacramentar a fumaça, a enfumaçar os olhares, tolhidos, de mui outros olhares.
Ritual, a ditar o rito da caminhada, tão árdua e tão rica e tão imprevisível e tão voraz; a me devolver à minha lamparina, que, de tão teimosa, teima em se apagar, com a mais serena serenidade de minhas pegadas.

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