… VOLTAREI A SER MENINO

Por Zé Carlos Gonçalves

Quando eu voltar a ser
menino,
e as minhas pernas,
vagarosas,
não me levarem longe,
ainda serei!

(in)consciente, tecerei
caminhos errantes,
falarei o indecifrável
e
sorrirei de minhas
bobagens;

mijarei a rede,
cheirando à jardineira,
comerei angu com isca
e
beberei chá de erva
cidreira;

banharei com o sol
das nove,
escutarei os segredos,
mortais e mais sagrados,
em minha pretensa
surdez
e
sentirei vontade
de dizer o que o não devo!

Quando eu voltar a ser
menino,
nada me assustará:
os horrores não chocarão,
os lamentos descansarão
em lampejos de certezas,
os sorrisos perder-se-ão
na conta da demência
e
a minha fé será única!

Quando eu voltar a ser
menino,
apreciarei a beleza
da chuva,
viverei a noite
em sua calmaria

e

as lembranças serão
as minhas companheiras
fiéis!

… voltarei a ser menino!

Grupo de alunos de Penalva (MA) concorre a prêmio da Samsung com protótipo de biogás e biofertilizante

Equipe é semifinalista na 10ª edição do Solve For Tomorrow Brasil, programa de cidadania corporativa da Samsung que incentiva a criação de projetos por escolas públicas.

Um grupo de cinco alunos do Centro de Ensino Antero Câmara Penha, na comunidade Jacaré, em Penalva, Maranhão, ficou entre os 20 semifinalistas da 10ª edição do Solve For Tomorrow Brasil, com um projeto de produção de biogás e biofertilizante como alternativa sustentável para a comunidade. O programa de cidadania corporativa da Samsung é conhecido por estimular alunos e professores da rede pública de ensino a criarem soluções para demandas reais utilizando a abordagem STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

O projeto de cunho investigativo e avaliativo, visa a produção de biogás por meio de uma vegetação típica da região, chamada Eichhornia crassipes – também conhecida como aguapé – que é associada a outras biomassas locais. O projeto visa beneficiar a comunidade com baixo poder aquisitivo, bem como reduzir a poluição causada pelo gás de cozinha comum e pela queima da madeira e outros componentes. A princípio, para uma melhor definição de como esse biogás será produzido, a equipe composta por cinco alunos do 1º ano do ensino médio buscou entender a dimensão da vegetação encontrada na comunidade rural em que a escola está localizada.

Segundo Geovane Santos Muniz, professor de biologia e orientador da equipe, a ideia surgiu a partir de um trabalho na grade curricular dos alunos dentro da temática de sustentabilidade, no qual o grupo teve um primeiro contato com projetos envolvendo o estudo de microorganismos. “Primeiro tivemos que fazer alguns experimentos e fizemos uma pesquisa de campo com o envolvimento da própria comunidade rural. Um diferencial importante do projeto é a meta de reduzir o uso de plástico, por isso reutilizamos garrafas PET na construção do nosso protótipo. Além disso, usamos a horta da escola, que chamamos de horta pedagógica, para realizar experimentos com fertilizantes”, explica.

A solução apresentada pelos alunos de Penalva mostra como a ciência e a criatividade fazem diferença na vida das pessoas. E é muito gratificante observar como o Solve For Tomorrow Brasil se tornou uma importante ferramenta não apenas para contribuir com o desenvolvimento acadêmico desses jovens estudantes, mas também para sanar problemas e demandas que impactam verdadeiramente o dia a dia em suas comunidades”, afirma Anna Karina Pinto, diretora de Marketing Corporativo da Samsung Brasil. “O Solve For Tomorrow é uma iniciativa que reflete a visão global de cidadania corporativa da Samsung – ‘Together for Tomorrow! Enabling People’, que contribui com a capacitação de jovens estudantes e investe em soluções de impacto positivo para a sociedade e para o planeta”.

“O projeto da equipe de Penalva põe em prática preceitos fundamentais do Solve for Tomorrow Brasil, como o protagonismo juvenil, a criatividade, a inovação e a sustentabilidade”, destaca Beatriz Cortese, Diretora Executiva do Cenpec, organização responsável pela coordenação geral do programa. “É um projeto que olha para os desafios e para as potencialidades do território, e que relaciona os conteúdos trabalhados na escola com a possibilidade de solucionar problemas reais. É muito gratificante ver escolas públicas fazendo ciência com o objetivo de melhorar a vida de todas e todos”.

A equipe já realizou pelo menos três testes e todos com resultados bastante positivos. O grupo está checando, principalmente, os fatores de volume da biomassa usada na produção do biogás. “Fiquei bastante otimista com o resultado, mas continuamos trabalhando para melhorar. Ainda temos etapas importantes a concluir e estamos com altas expectativas em relação ao uso dessa ideia na comunidade. Nesse caso precisaremos de um protótipo maior, como um fogão, e estamos trabalhando muito para atingir esses objetivos”, afirma Geovane.

O professor conta que os alunos ficaram muito contentes e surpresos por se destacarem entre os 20 semifinalistas do programa. “A escola toda ficou em festa. Estamos representando nosso estado, apesar das limitações de uma escola pública na zona rural da baixada maranhense. É uma satisfação participar do Solve For Tomorrow Brasil, pois é um programa que incentiva e estimula as escolas e os envolvidos nos projetos. É muito motivador, principalmente porque colocamos esses alunos, muitas vezes carentes de atuação científica, em contato com a pesquisa e a ciência de forma prática. Acredito que sairemos dessa experiência com uma bagagem muito rica. Além disso, o time do Cenpec e da Samsung tem nos dado toda a atenção e suporte. Tem sido muito gratificante”.

Sobre o Solve For Tomorrow

O Solve For Tomorrow está no Brasil desde 2014 e, na edição atual, tem uma programação diversa composta por webinars, workshops e mentorias para ajudar os participantes a alcançarem seus objetivos aplicando possíveis melhorias a seus projetos. No total, a iniciativa já envolveu 173 mil estudantes, mais de 36 mil professores, e mais de 6.600 mil escolas públicas. E, em 2023, registrou um aumento de 50,92% no número de alunos inscritos, em comparação ao ano anterior.

A edição brasileira do Solve For Tomorrow conta com uma rede de parceiros, como a representação no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO no Brasil), da Rede Latino-Americana pela Educação (Reduca) e da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), além do apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a coordenação geral do Cenpec.

Para saber mais sobre o programa, acesse https://respostasparaoamanha.com.br/ ou acompanhe o Solve For Tomorrow nas redes sociais. A iniciativa está presente no FacebookInstagram e YouTube.

Fonte: https://news.samsung.com/br/. Foto da Internet (Blog do Jaílson).

“DIÁLOGOS BAIXADEIROS – FALAS SOBRE A BAIXADA” É TEMA DE RODAS DE CONVERSA EM SÃO LUÍS

Diversos olhares, percepções, vivências e memórias marcam o evento “Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada”, Projeto de Extensão do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que ganhará nova edição em São Luís, a partir desta quinta-feira (14), das 14h às 17h30, com entrada gratuita.

Com o eixo central “Falas sobre a Baixada”, em cada um dos seis encontros, a segunda edição terá sempre quatro temas centrais, com convidados especiais, autoras e autores oriundos da Baixada. No primeiro encontro, os temas são: “A Baixada do Maranhão em serões e outras falas”, com Gracilente Pinto (de São Vicente Ferrer); “Vislumbres de Viana sob o olhar de Assis Galvão”, com Adalzira Galvão e Michela Galvão (de Viana); “Anajatuba e nossas esperanças”, com Mauro Rêgo (de Anajatuba); e “Linguajar típico da Baixada”, com Flávio Braga (de Peri Mirim).

Sob organização do professor Manoel de Jesus Barros Martins, do Departamento de História da UFMA, o evento conta com o apoio do Departamento de História, do Curso de História, do Centro de Ciências Humanas e do Centro Pedagógico Paulo Freire – local onde será realizado o evento, na sala 101, Asa Norte, a partir das 14h.

Para Manoel Martins, o evento é um importante espaço para que professores, alunos e o público em geral possa debater e conhecer mais sobre essa importante região do Maranhão.

“A Baixada conta com um quantitativo expressivo de autoras e autores cujas obras remetem ao entendimento de facetas muito caras à formação social maranhense, porém essa produção e seus autores nem sempre são reconhecidos”, afirma o professor.

“Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada” será realizado em formato presencial, na UFMA. As Rodas de Conversa serão gravadas e disponibilizadas a seguir pelo canal oficial do evento no YouTube, pelo link: https://youtube.com/@BaixadadoMaranhao.

Histórico dos Diálogos Baixadeiros
A partir de maio deste ano, foram realizadas as primeiras Rodas de Conversa, no âmbito da disciplina “Baixada do Maranhão: trajetórias e perspectivas”, com o tema “Diálogos Baixadeiros”. Diferente da atual edição, que será realizado em seis datas, às quintas feiras, de 14.09 a 09.11, o evento de estreia foi realizado em cinco datas – nos dias 5, 12, 19 e 26 de maio e 2 de junho.
Os vídeos da primeira edição podem ser encontrados no YouTube, no canal @BaixadadoMaranhao. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail baixadadoma@gmail.com.

Fontes: sites O Resgate e FDBM.

Organização de Direitos Humanos “cancela” Lula por apoio a Venezuela, China, Rússia e outras ditaduras

Por Carinne Souza* (01/09/2023 15:07)

A Human Rights Watch, uma das principais organizações que trabalha em defesa dos direitos humanos e que frequentemente é usada pela esquerda para atacar seus opositores, fez uma série de críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela política de “dois pesos, duas medidas” que o petista tem adotado. De acordo com a instituição, Lula não deveria ignorar os crimes contra os direitos humanos cometidos pelos governos da Venezuela, Cuba, Nicarágua, China e outros países que o brasileiro tem se aproximado.

As afirmações da ONG foram divulgadas em uma nota contra a candidatura do Brasil para liderar o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que terá eleições em outubro. A declaração da Human Rights Watch é mais um indício de que, ao se aliar informalmente à Rússia e à China, Lula vem sofrendo um processo de “cancelamento” pelas democracias liberais do Ocidente.

Ele já havia perdido o protagonismo na área ambiental e agora deve ser descartado na área de defesa dos direitos humanos. A Rússia, a quem Lula vem apoiando, invadiu a Ucrânia e cometeu milhares de crimes de guerra, como fuzilamento de civis e rapto de crianças para adoção por famílias russas. Ele também tem sido uma voz solitária na defesa do ditador Nicolás Maduro, responsável por assassinatos políticos e pela fome em segmentos da população venezuelana.

“Esperávamos que V. Exa. [Lula] tivesse aproveitado as recentes interações com autoridades chinesas e a renovada relação diplomática com a Venezuela para condenar os graves abusos de direitos humanos que ocorrem sob esses governos e também promover sua não repetição”, diz o documento publicado pela instituição.

No caminho oposto a condenações, o mandatário brasileiro fez diversas afirmações contraditórias sobre regimes ditatoriais nos últimos meses. Em uma delas, Lula disse que a situação na Venezuela “não passa de uma narrativa”, além de ter relativizado o significado de democracia ao comentar o autoritarismo de Daniel Ortega na Nicaragua.

Lula disse que uma das prioridades do seu terceiro mandato como presidente do Brasil seria defesa dos direitos humanos, mas suas atitudes mostram que o critério do petista é seletivo. Candidato a assumir o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas pelos próximos dois anos, Lula demonstra fazer distinções ao condenar regimes autocratas.

Em um desses movimentos, o governo anunciou recentemente que o Lula é um dos confirmados na Cúpula do G7, que acontece em Cuba. O ditador cubano, Miguel Díaz-Canel, na presidência rotativa do grupo, foi quem convidou o mandatário brasileiro. O grupo reúne alguns dos países que despontam como os menos democráticos do mundo, de acordo com ranking feito pelo jornal inglês The Economist.

“Gostaríamos de encorajar seu governo a garantir que o Brasil desempenhe protagonismo na promoção dos direitos humanos em todo o mundo, conforme estabelece sua própria Constituição, abordando os abusos de direitos humanos de forma principiológica e consistente, independentemente da ideologia de qualquer governo específico, não movida por interesses geopolíticos, e baseada nos princípios de universalidade e imparcialidade, os quais o Brasil destaca em seus compromissos voluntários”, diz a carta endereçada a Lula.

Brics e o “grupo de ditaduras”
O posicionamento da HRW vem logo após a 15ª Cúpula dos Brics, que aconteceu na última semana. Na ocasião, os cinco países-membros [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] anunciaram a inclusão de seis novos países ao grupo: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. Países que, em sua maioria, considerados não democráticos.

“Entendemos que, se eleito [para o Conselho de Direitos Humanos], o Brasil estará em posição privilegiada para usar o seu assento no Conselho, para influenciar outros países – particularmente seus vizinhos latino-americanos e os países membros ou que buscam aderir ao BRICS – a assumirem compromissos concretos de direitos humanos”, ainda sugere a HRW.

O documento também critica a “vista grossa” que o governo tem adotado ao regime autocrata comunista de Xi Jinping na China: “Poderia também comprometer-se a trabalhar com Estados de todos os grupos regionais para dar seguimento ao contundente relatório da ONU sobre Xinjiang (China), o qual concluiu que o governo chinês tem cometido violações de direitos humanos que poderiam constituir crimes contra a humanidade”.  Pequim tem abusado da minoria uigur por ser muçulmana com prisões e conversão religiosa forçada (que a China chama de reeducação).
A carta também criticou o posicionamento do brasileiro em relação à guerra da Ucrânia. “Considerando ainda que V. Exa. demonstrou reiterado interesse em liderar diálogos de paz para pôr fim ao conflito Rússia-Ucrânia, esperávamos que pudesse ter incluído no centro dos seus apelos a necessidade de responsabilização por crimes tão graves”, diz.

* Carinne SouzaCarinne Aparecida de Souza Carvalho é Repórter e editora na Gazeta do Povo. /https://www.instagram.com/carinnesouzac/


 

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/humans-right-watch-critica-politica-de-dois-pesos-duas-medidas-adotada-por-lula/. Copyright © 2023, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O GATO DO HOMEM

Por: Ana Creusa

A história se passou em Peri-Mirim, no povoado Feijoal, em meados da década de 1920.

Aquela época era marcada pelo culto à família patriarcal, em que as mulheres deviam muito respeito ao marido e se encarregavam apenas das tarefas domésticas e da educação dos filhos, enquanto o homem era provedor da casa.

Naquele tempo, havia pais que não sabiam os nomes completos dos seus filhos, imagina lembrar as datas dos seus nascimentos? Frequentemente, confundiam os nomes dos filhos.

Um casal, porém, destacava-se pela união. Pedro e Maria Rosa eram diferentes. Recém-casados, ainda não tinham filhos.

O marido era visto de mãos dadas com a esposa nas festividades. Era motivo de críticas e elogios por parte dos correligionários.

Moravam em uma casa confortável. O marido trabalhava com gado, quinhão que recebera do pai pela ocasião do casamento.

No verão – campo seco – Pedro levava o gado para o campo de Pericumã ou Cafundoca em Palmeirândia, em busca de pasto abundante.

Certo dia, chegou um gato na casa do casal. Miau, miau, insistia o gato faminto. O gato logo começou a se roçar nas pernas do Pedro e o seguir por toda a casa e quintal. Demonstrando muita afeição pelo mancebo.

Sempre que Pedro chegava à sua casa, depois do trabalho, lá estava o gato miando, como se tivesse passado o dia inteiro sem comer nada: miau, miau … O jovem colocava a comida para o gato e ele comia como um esfomeado.

Pedro já estava desconfiado que a esposa não estava pondo comida ao bichano e pedia:

– Mulher, por favor, coloca comida para meu gato. No que ela respondia:

– Incrível, eu coloco comida para esse gato e ele não come. É só você chegar que ele come desse jeito! Eu não sei mais o que fazer: ele não come a comida que eu coloco.

– Oh, Rosinha, insistia o marido. Fico triste em ver meu gato sempre com fome; Maria Rosa, por favor, coloca comida para meu gato, quando eu chegar, não quero encontrar meu gato com fome.

Ela falava:

– Marido, eu sempre coloco comida para seu gato, ele é que não come. Não sei o porquê.

– Não parece, ele está sempre com fome. Falou o marido em tom ríspido.

Passados alguns dias, Pedro teria que levar o gado para Cafundoca. Juntou os animais e seguiu viagem com outros vaqueiros do lugar. Antes de sair, com o gato nas mãos, chamou a esposa e disse:

– Cuida do meu gato, eu vou demorar uns três dias.

– Não se preocupes, Pedro, que esse gato há de comer!

– Mulher, não deixe meu gato passar fome. Falou o marido zangado e não deu o tradicional beijo e abraço de despedida na esposa.

Pedro deixou o gado no Cafundoca, voltou sozinho. Os companheiros não quiseram voltar naquele dia que era sexta-feira, dia 13, pois, saindo àquela hora, iriam passar pela mata de João de Deus Martins durante a noite, o que era assustador.

Pedro, preocupado com seu gato de estimação, com receio que a esposa não gostasse do gato, não poderia demorar, pois temia que seu gato já estivesse morto, por falta de alimento e pensava:

– Que mulher traiçoeira que fui me casar! Ela não coloca comida para meu gato, só para me irritar.

Altas horas, passou pela mata, uma área preservada, floresta com espécies diversificadas. Apesar da lua cheia, o caminho estava escuro pelas copas das árvores.

Pedro, destemido, montado em seu cavalo alazão, sela e cochinil alvinho que Maria Rosa cuidava para o marido ficar feliz. Pedro era um jovem de vinte e cinco anos, moreno, alto e sorridente.

Durante a viagem, passando por uma moita de Tucunzeiro, famosa por ser mal-assombrada. Havia relatos que daquela touceira sairiam conversas de seres encantados.

Ao ouvir as vozes, Pedro arrepiou-se. Desembainhou o facão bem afiado. Parou e ouviu uma conversa nítida de aproximadamente três vozes distintas. Diziam elas, em meio às gargalhadas:

– Eu já estou garantido!

– Eu também estou, dizia outro. Pedro apurou os ouvidos e ouviu a terceira voz:

– Eu, com certeza estou garantido. Hoje ganho mais uma alma. Estou disfarçado de gato e quando o marido sai de casa eu não como mais nada, estou magrinho que dá dó. O marido está viajando. Quando ele chegar e me ver naquela situação, com certeza vai bater na mulher. Talvez até matá-la.

Pedro, por pouco, não caiu do cavalo e concluiu, sem sombra de dúvidas:

– Essa história é comigo – é o gato que está na minha casa e olha o que ele quer? Que eu mate a minha esposa e vá para o Inferno.

O rapaz, com o coração aos pulos, pensando nas injustiças que cometera com a esposa, fez uma oração. Pediu perdão a Deus, que o protegesse e seguiu viagem.

Chegou a casa, foi recebido pelo gato, que estava só pele e osso; quase não conseguia mais miar de tanta fome.

A esposa olhava a cena e lembrava de tudo que fez para aquele maldito gato comer e ele se recusava; fazia comida especial, e nada! O bicho parecia fazer de propósito para que o marido pensasse que ela estava mentindo.

O marido baixou a cabeça, olhou para a esposa e o gato mal conseguia caminhar. Pedro tirou o facão da cintura e partiu o gato ao meio[1].

Maria Rosa encolheu-se toda e pensou: – eu sou a próxima! Não conseguia sair do local, sem ação, esperou a reação do marido, ao tempo em que pediu que Deus orientasse seu esposo que estava prestes a cometer uma grande injustiça.

Pedro fitou a esposa e disse:

– Meu Amor, perdoe-me, eu errei contigo. Aquele gato era um demônio disfarçado. Contou à Rosinha a conversa que ouvira na mata. Pensava a esposa: – agora fazia todo o sentido o comportamento daquele gato endemoniado.

O Amor venceu, o casal foi feliz para sempre. Tiveram filhos e filhas. Nunca esqueceram o grande desafio que passaram em suas vidas. Aprenderam a lição de que “nem tudo que parece é”.


[1] Dessa forma foi contado pelo meu pai. Tive vontade de mudar para que o Pedro apenas se afastasse do gato, ralhasse para que ele se afastasse. Recomendo a quem desejar contar essa estória a crianças pequenas, que altere esse fato. Ademais, nunca é bom que se atribua efeitos demoníacos aos gatos, pode-se dizer que o Demônio pode usar qualquer um, até as pessoas, basta que permitamos com más ações e atitudes

CHESTERTON, um GIGANTE invisível

Por Diego Guilherme da Silva*

Muitos são os autores que deixaram marcadas com suas “penas” as páginas da literatura universal. No entanto, apesar de clássicos, ficam esquecidos como nota de rodapé de velhos livros empoeirados. É evidente o desconhecimento de grande parte dos brasileiros em relação a um dos maiores escritores do século 20 que, juntamente com outros dois ingleses, C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, se tornou um clássico da literatura universal.

Gilbert Keith Chesterton, também conhecido pela sigla G.K.C., ou apenas Chesterton, nasceu em Kensington, distrito central de Londres, em 29 de maio de 1874. Batizado no Anglicanismo, desde cedo sentiu um chamado da Igreja Católica, à qual se converteu em 1922, aos 48 anos de idade. Chesterton é um desses homens de letras muito difícil de classificar, pois era romancista, poeta, crítico literário, ensaísta, polemista, apologista, jornalista, biógrafo, cartunista e filósofo. Os escritos chestertonianos se compõem de frases geniais e paradoxais, que, mesmo tomadas isoladamente, nos permitem ver a lucidez de seu pensamento. Seu bom humor era tamanho que, perguntado certa vez por um jornalista que livro levaria para uma ilha deserta, respondeu: “Um manual de como construir uma canoa”.

Filósofo do senso comum em um século marcado pela exaltação alucinada da razão, chamado a prestar contas sobre todos os mistérios entre o céu e a terra, Chesterton também bateu de frente com o pensamento dos céticos, a quem certa vez se referiu nestes termos: “Nossos céticos modernos sempre começam afirmando aquilo em que não acreditam. Mas mesmo de um cético queremos saber primeiro o que ele faz crer. Antes de discutir, queremos saber o que não precisamos discutir. E essa confusão aumenta infinitamente pelo fato de que todos os céticos do nosso tempo são céticos em diferentes graus de dissolução do ceticismo.” (Philosophy for the Schoolroom).

Os escritos chestertonianos se compõem de frases geniais e paradoxais, que, mesmo tomadas isoladamente, nos permitem ver a lucidez
de seu pensamento

Escreveu os livros Ortodoxia (1908), The Heretics (1905), O homem que foi quinta-feira (1907), São Francisco de Assis (1923), O Homem Eterno (1925), A Inocência do Padre Brown (1911), Santo Tomás de Aquino: biografia (1933), obra a que Étienne Gilson assim se referiu: “Chesterton desespera qualquer pessoa. Estudei Santo Tomás a vida inteira e nunca teria sido capaz de escrever um livro como este.” […] E conclui dizendo que “Chesterton foi um dos pensadores mais profundos que existiram. Era profundo porque tinha razão, e não podia deixar de tê-la; mas tampouco podia deixar de ser modesto e amável; por isso, considerava-se um entre muitos, desculpava-se de ter razão e fazia-se perdoar a profundidade com o engenho”.

Por meio do livro A Inocência Do Padre Brown, ele se tornou mais conhecido no Brasil. G.K.C. criou um personagem muito diferente daqueles que normalmente povoavam a literatura policial, como os detetives C. Auguste Dupin, de Allan Poe, e Sherlock Holmes, de Conan Doyle. O detetive que descobre os casos insólitos é um simples sacerdote, Padre Brown, que aparenta ingenuidade, mas age com incríveis perspicácia e agudeza investigativa.

Escreveu também mais de quatro mil artigos. Durante 30 anos colaborou semanalmente com o Illustrated London News e, ao longo de 13 anos, escreveu para o Daily News, além dos textos diversos que redigiu para o seu próprio jornal, o G.K.’s Weekly. Chesterton valia-se desses espaços para combater a mentalidade modernista, cientificista e reducionista. Travou longas batalhas com intelectuais como George Bernard Shaw, Herbert George Wells, Bertrand Russell e Clarence Darrow.

Estabeleceu uma amizade fecunda com Hillare Belloc, levando um dos seus opositores a se referir aos dois como o “monstro biforme Chesterbelloc”. Eles são os autores do Distributismo (ou Distribucionismo), teoria política crítica do capitalismo e do socialismo sob inspiração cristã. Para eles, a propriedade privada não deveria ser abolida, e sim impedida de se concentrar nas mãos de uns poucos. “O problema do capitalismo é que não há capitalistas suficientes”, afirmava Chesterton.

Também recebeu elogios de Jorge Luiz Borges, que se referia a ele como “um homem de gênio, um grande prosador e um grande poeta. A literatura é uma forma de felicidade, talvez nenhum escritor me desse tantas horas felizes como Chesterton”. Intelectuais brasileiros como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima foram influenciados pelas obras do inglês. Apesar de desconhecido da grande maioria dos leitores brasileiros, artigos e livros de Chesterton têm sido traduzidos por iniciativa, entre outros, do professor Antônio Emílio Angueth, do Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Tarefa que não é nada fácil, dada a dificuldade em reproduzir o sentido irônico e paradoxal de que muitas vezes Chesterton, como bom inglês, se utiliza para combater os adversários.

Chesterton morreu em 14 de junho de 1936, em sua residência, em Beaconsfield. É uma pena que não seja tão conhecido no Brasil; devemos tornar visível e acessível à nossa língua a obra desse gigante. Se vivo fosse, certamente não se preocuparia com o fato de seu desconhecimento entre nós. Pelo contrário: talvez até demonstrasse um esboço de sorriso e pensasse na frase registrada no livro All things considered: “Clássicos são escritores que podemos elogiar sem nunca tê-los lido.”

*Estudante do 7° Período de Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação, bolsista Fapemig de Iniciação Científica no projeto Modelagem Conceitual para Organização Hipertextual de Documentos (MHTX)

A IMORTALIDADE DE GONÇALVES DIAS

Por Gracilene Pinto

Não sei se pelo viés quase lendário da sua história com Ana Amélia; pelo caráter passional das suas obras românticas e nacionalistas, que casam tão bem com minha natureza poética; ou mesmo por seu natural poder de sedução, Gonçalves Dias sempre me encantou.   

O poeta consegue seduzir até depois da vida.   

Acresce a isso, o fato de eu ter lido durante toda a adolescência na parede frontal do Ginásio Costa Rodrigues os célebres versos da Canção do Tamoio:    

“Não chores, meu filho; 
Não chores, que a vida 
É luta renhida: 
Viver é lutar. 
A vida é combate, 
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos 
Só pode exaltar.”  

Certo é, que desde muito cedo me senti fascinada pelo poeta maranhense, por seu histórico de vida e pelos seus versos, que declamei muitas vezes.   

Há um poema dele que me inebria sobremaneira intitulado Leito de Folhas Verdes:     

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo  

À voz do meu amor moves teus passos?  

Da noite a viração, movendo as folhas,  

Já nos cimos do bosque rumoreja.  

  

Eu sob a copa da mangueira altiva  

Nosso leito gentil cobri zelosa  

Com mimoso tapiz de folhas brandas,  

Onde o frouxo luar brinca entre flores.  

  

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,  

Já solta o bogari mais doce aroma!  

Como prece de amor, como estas preces,  

No silêncio da noite o bosque exala.  

  

Brilha a lua no céu, brilham as estrelas,  

Correm perfumes no correr da brisa,  

A cujo influxo mágico respira-se  

Um quebranto de amor, melhor que a vida!  

Gonçalves Dias é, e eu me refiro a ele no presente porque ele continua vivo dentro de cada poeta, de cada coração maranhense, uma criatura tão sedutoramente especial que, até seus ídolos depois de conhecer suas obras, viravam seus fãs.   

O consagrado português Alexandre Herculano, por exemplo, não só se tornou um fã, e mais tarde amigo também, como, após ler seu primeiro livro, “Primeiros Cantos”, escreveu elogiosa crítica ao trabalho do poeta e maior expoente do romantismo e do indianismo brasileiro.  

Baixinho, feiinho fisicamente, e mulato, quando isso ainda era um verdadeiro estigma, além da origem pobre, Gonçalves Dias nasceu na maranhense Caxias em 10/agosto/1823, filho de um comerciante português de Trás-os-Montes com uma mestiça brasileira. O pai, logo separou-se da mãe e deu-lhe uma madrasta, que por sorte o estimou.    

Revelando ainda muito cedo inteligência e talento, tanto que, desde a meninice demonstrava paixão pela leitura e aos 10 anos de idade já fazia a escrituração simples da loja do pai, este desejou tivesse o filho uma educação que lhe possibilitasse desenvolver o intelecto e garantir-lhe um futuro promissor. Infelizmente, seu genitor faleceu antes de pôr em prática tal projeto.   

No entanto, a estrela do garoto brilhava, e havendo recebido apoio da madrasta e de outros mais, tais como, o Juiz da Comarca Dr. Antônio Manuel Fernandes Júnior (que depois foi desembargador) e uma comissão de conterrâneos, os quais contribuíram com quotas mensais para subsidiar ao menino a fim de que pudesse ir estudar em Coimbra, onde se tornou, além do poeta que era por nascimento, advogado, jornalista, etnógrafo, teatrólogo, ensaísta e articulista (artigos que ele escrevia, geralmente, sobre suas viagens de estudo para o Amazonas e demais lugares do Nordeste, e até alguns países europeus e Oceania, onde esteve em missão governamental).   

Foi assim que o menino franzino, Antônio Gonçalves Dias, tornou-se um intelectual, um poliglota, que, entre outras línguas, dominava o alemão e escreveu até um dicionário de Língua Tupi, que dizem ter sido encomendado por Dom Pedro II.   

Elogiado e paparicado por todos no Brasil e em Portugal, em razão do seu talento, tinha dificuldade, no entanto, de obter os resultados materiais necessários à sua subsistência. E, apesar dos elogios que choviam sobre os seus escritos, também não estava livre dos desgostos causados por algumas críticas infundadas.  

Por exemplo, tendo enviado por outra pessoa os dois dramas escritos em Coimbra, Patkull e Beatriz Cenci, ao Presidente do Conservatório Dramático (não queria que soubessem que os textos eram de sua autoria para não ter um julgamento avaliado e aprovado em homenagem ao seu nome), descobriram nos textos os avaliadores mil defeitos e galicismos imperdoáveis.  

Magoou-se o poeta ante a injustiça sofrida, pois sabia-se um purista, e despicou-se escrevendo Sextilhas do Frei Antão. O tipo de vingança das pessoas grandiosas de espírito. 

Em outra ocasião, em carta enviada ao seu amigo Teófilo Leal, Gonçalves Dias queixava-se de ter postulado junto aos amigos que o apresentassem ao imperador, o que ainda não acontecera.   

“… nossos grandes homens – disse ele – recebem-me com a carinha d´agua, namoram-me quase como se eu pudesse dispor de alguns votos, e estou certo que se for bem recebido pelo Imperador, a quem terei a honra de ser apresentado um destes dias, ninguém será mais festejado, mais gabado… pois, veremos se os bons olhos do nosso monarca farão mudar a minha sorte; de promessas já estou farto… qualquer dia.”  

No entanto, mais tarde foi efetivamente apresentado ao Imperador. E dizem ter sido Dom Pedro II um dos correspondentes com quem ele se comunicava com assiduidade. É verdade que pelo governo imperial foi encarregado de cumprir algumas missões.   

Provido a Secretário e Professor de Latim, do Liceu de Niterói, Gonçalves Dias recebia um magro salário que mal dava para garantir-lhe o sustento. E, quando as cadeiras do Liceu de Niterói foram extintas, para sobreviver com decência, fazia extratos das sessões da Câmara dos Deputados e também artigos humorísticos e folhetins para o Correio Mercantil. No ano seguinte foi redator dos discursos do Senado para o Jornal do Comércio.   

Finalmente, em 1849, foi nomeado Professor de História Pátria e Latim, do Real Colégio Pedro II. Esse emprego, que era desejado pelo poeta, se não era algo soberbo quanto à questão financeira, juntamente com os resultados advindos da pena literária lhe garantiria certa estabilidade e folga.  

Encarregado pelo Ministro do Império, Visconde de Monte Alegre, de coletar nos mosteiros e arquivos das câmaras municipais e secretarias das províncias ao Norte da Corte do Império os documentos mais importantes para o Arquivo Público, bem como, avaliar as condições da instrução pública nessas províncias, começou Gonçalves Dias por São Luís do Maranhão, a fim de abrandar as saudades da terra natal, pois dizia:   

Minha alma não está comigo… está a espreguiçar-se nas vagas de São Marcos, a rumorejar nas folhas dos mangues, a sussurrar nos leques das palmeiras…”     

Mas, deixemos de lado os dados biográficos. Afinal, de tanto que já foi falado sobre ele neste seu bi-centenário, essas informações quase todo mundo já sabe.  

Igualmente, não quero falar sobre o Gonçalves Dias funcionário público administrativo, que, nessa fase da sua vida pouco tempo dispunha até para sua verdadeira produção literária, e se decepcionava com os compatriotas, pois dizia:   

Tudo nesta terra é divino, exceto o homem que a habita.”  

 Vamos nos ater ao poeta e ao seu lado romântico, porque, entre tantas qualidades, atributos e conquistas, foi a poesia que o imortalizou definitivamente, quando, cheio de saudades da Pátria, escreveu a sua Canção do Exílio, um dos mais lindos poemas da língua portuguesa que, de tão belo e tão cheio de brasilidade, os compositores do Hino Nacional Brasileiro lhe roubaram alguns versos para mais enriquecer sua obra:   

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá  

As aves que aqui gorjeiam   

Não gorjeiam como lá…   

…..  

Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá.    

sem qu´inda aviste as palmeiras onde canta o sabiá.   

Eu sempre acreditei que o que imortaliza o ser humano é sua obra, seu legado. E o que imortaliza o escritor é a sua capacidade de expressar os sentimentos de modo a perpetua-los no imaginário popular através dos tempos.    

De nada adiantam os títulos e as loas momentâneas, se a obra não tiver a força suficiente para se consagrar no imaginário popular e transcender no tempo, porque as criações morrerão com o autor.  A obra que não conseguir falar ao coração de gregos e troianos, dos intelectuais aos indivíduos mais simples, não terá cumprido seu papel.    

Por isso, considero que, o que realmente imortalizou Gonçalves Dias não foi só sua intelectualidade, a métrica, a erudição e o romantismo dos seus versos, mas, foi o modo como expressou suas emoções com tal profundidade, que fez com que sua obra conseguisse tocar no coração das pessoas e mexesse com os sentimentos mais lídimos, mesmo depois de passados dois séculos.    

Tudo isso, somado ao seu lendário e transcendental romance proibido com Ana Amélia, mexe com o imaginário popular, com a alma dos indivíduos, que se colocam no lugar do amante sofredor, para também vestir o manto do amor vitimado pela incompreensão.  

Todo mundo está careca de saber que Gonçalves Dias era apaixonado por Ana Amélia Ferreira do Vale. Embora, nas horas vagas, também haja se apaixonado por uma dúzia de outras mulheres, como Céline, em Bruxelas; Leontina e Natália, em Dresden, na Alemanha;  Joséphine e Eugénie N., em Paris, (por causa desta última Gonçalves Dias enfrentou a maior treta com a esposa, pois Olímpia, não se sabe como, teve conhecimento da relação dos dois e das cartas trocadas). Isto, sem falarmos na outra Amélia, a Amélia R., uma brasileirinha filha de um alto funcionário do Tesouro, que o conheceu enquanto passeava na Europa em companhia da mãe, e, com Gonçalves Dias, idealizava projetos de casamento futuro, sonhando acordada com o filhinho que teriam, que deveria chamar-se Antoninho.   

Enfim, um sedutor por excelência é o que foi o nosso Gonçalves Dias. A todas cortejava, à todas fazia promessas, e à todas piedosamente mentia, segundo a necessidade do momento.   

De acordo com Manuel Bandeira, estudioso e biógrafo de sua vida e obra 

 “nem o trabalho exaustivo das comissões, nem o peso dos íntimos desgostos, ser-lhe-iam entrave ao vezo de namorador impenitente… aquele homenzinho de um metro e cinquenta, coração agora ulcerado pela paixão de Ana Amélia, continuava o mesmo autêntico devastador de corações femininos, e nesta matéria aproveitou gulosamente as suas folgas de tempo nos quatro anos de Europa. O poeta queixava-se, era um chorão, mas o homem agia. Era junto às mulheres, como o viu João Francisco Lisboa, na festa de N. Sra. dos Remédios. Sabia falar, tinha lábia inesgotável.”     

Porém, isto, ao meu modo de ver, não significa, absolutamente, que não tivesse amado à Ana Amélia, ou que estivesse sempre mentindo para as outras Amélias.  

Quero mesmo crer que, no momento em que fazia promessas e juras às namoradas, fosse realmente o que sentia naquele momento o seu volúvel coração de poeta.  

Ou, quem sabe, muitas vezes mentisse apiedado por não conseguir sentir com a mesma intensidade a paixão despertada. Talvez a mentira fosse apenas um modo de retribuir de alguma forma o afeto recebido e não deixar a parceira constrangida por tê-lo amado.  

Quanto à Ana Amélia, seria verdadeiramente amor o que sentia pelo poeta ou apenas uma fantasia criada graças à proibição familiar?   

Segundo o  testemunho de um tal de Onestaldo de Pennafort, genro de um sobrinho de Ana Amélia, ela, que tinha um tipo mignon, vivos olhos negros e rasgados, e uma tal expressão de doçura e simpatia envolvente, nunca esqueceu de todo o poeta, e sobre ele, ainda na velhice, discorria com arroubos de sentimento. Foi uma musa digna do poeta. Não obstante, seguiu sua vida, chegando a casar-se duas vezes.    

E Gonçalves Dias, seria Ana Amélia sua alma gêmea ou apenas uma espécie de fata morgana, uma imagem idealizada do amor proibido que não pudera exaurir as emoções como devia?   

  Não se pode descartar de todo que Gonçalves Dias talvez não amasse verdadeiramente nem Ana, nem Amélia, nem Olímpia… amasse somente a ideia de um amor perfeito.  E assim, impossiblitado de ter em seus braços sua musa, imortalizou-a em seus versos, e amou-a tanto quanto alguém pode amar.   

Mas, também seguiu sua vida e casou-se com Olímpia, com quem teve uma filha, que, infelizmente, não viveu por muito tempo.   

É provável que, a seu modo, Gonçalves Dias tenha sentido algum afeto por Olímpia, pois casou-se com ela. Mas, o gênio forte desta, aliado à inquietude do marido, não permitiram que entre os dois fomentasse um amor do mesmo calibre e com o mesmo lirismo, a mesma transcendentalidade do amor que devotou à Ana Amélia.  

Porque o amor que sentimos por uma pessoa nunca é igual ao que sentimos por outra. Somente nas almas que do além se reconhecem, os corações pulsam no mesmo tom.  

E penso que, somente um amor assim, transcendental, poderia haver inspirado Gonçalves Dias a escrever, entre os outros tantos poemas maravilhosos da sua lavra, a mais bela declaração de amor em forma de poema que se conhece à paixão da sua vida, quando reviu Ana Amélia anos depois em Lisboa. Estou falando de Ainda Uma Vez Adeus.    

“Enfim te vejo! — enfim posso,  

Curvado a teus pés, dizer-te,  

Que não cessei de querer-te,  

Pesar de quanto sofri.  

…………..  

Adeus qu’eu parto, senhora;  

Negou-me o fado inimigo  

Passar a vida contigo,  

Ter sepultura entre os meus;  

Negou-me nesta hora extrema,  

Por extrema despedida,  

Ouvir-te a voz comovida  

Soluçar um breve Adeus!  

Lerás, porém, algum dia  

Meus versos d’alma arrancados,  

D’amargo pranto banhados,  

Com sangue escritos; — e então  

Confio que te comovas,  

Que a minha dor te apiade  

Que chores, não de saudade,  

Nem de amor, — de compaixão.  

O fato é que, quando se fala em Gonçalves Dias lembra-se logo de Ana Amélia. Ninguém pensa nos seus outros amores. Porém, sem querer de forma alguma desdourar a imagem do poeta, nem desmerecer seu amor pela maranhense, eu sempre me pergunto: teriam Ana Amélia e Gonçalves Dias sido felizes, se houvessem concretizado esse amor ideal, casado, gerado filhos, e vivido a rotina normal de qualquer casal?   

Pode ser que sim, pode ser que não.  

Talvez nem chegassem realmente até o casamento, porque muitas vezes a oposição familiar acaba dourando uma pílula, que afinal pode ser amarga, exacerbando em nós o desejo de possuir aquilo que nos é proibido. Isso, muitas vezes já restou comprovado. É o poder da ausência sobre a presença. Tanto que, muitos dos melhores textos de autores maranhenses foram escritos quando estavam fora do Maranhão. Gonçalves Dias não fugiu à regra, sublimando tal premissa com a Canção do Exílio.  

Consideremos que, Gonçalves Dias era um poeta, um romântico passional de alma inquieta, alguém que não se satisfaz com menos que a plenitude de um encontro de almas. Um homem cuja intelectualidade e expressividade verbal seduzia tanto às mulheres quanto aos homens. Os homens no sentido da amizade sincera. E, como poeta, incapaz de se ver refletido nuns olhos cheios de paixão sem empatizar-se com esses olhos, e com a dona dos tais olhos, fossem esses espelhos da alma negros, verdes, azuis ou castanhos.  

Teria Ana Amélia a fleuma, a sabedoria necessária para manter a harmonia do lar casada com um mulherengo, ou o poeta teria aquietado o coração se estivesse nos braços da sua musa?  

Não é demais lembrar novamente que ela, apesar de não haver esquecido o poeta dos belos versos e falar sedutor, como há testemunhos, foi capaz de reconstruir sua vida e casar-se e ter filhos com outros, pois casou-se duas vezes.  

Eis a questão que nunca se conseguirá responder!   

Isso acontece com os poetas e cantores, com os cantadores de boi, que volta e meia pelos arraiais maranhenses despertam desses amores efêmeros nas expectadoras. Estas, atraídas muitas vezes somente beleza da música e da voz, que nem todos os cantadores tem a sorte de ser fisicamente bonitos. Mas, tem carisma. E contam com a magia da música, que é embriagante. E, convenhamos, Gonçalves Dias não era bonito fisicamente. Mas, com certeza tinha muito talento e carisma. Tinha molho. Daí fazer o estrago que fazia.  

Eu, de fato acredito na sinceridade das declarações de amor de Gonçalves Dias por Ana Amélia. Afinal, foi um sonho que não se realizou, ficando apenas na dimensão do ideal, e isso tem bastante peso. 

 Mas, não desacredito também da sinceridade do poeta quando fazia suas promessas e demonstrações de afeto pelas outras Amélias que passaram por sua vida.  

Talvez, nos momentos de paixão, ele próprio irrefletidamente acreditasse no amor que dizia sentir. Porém, passado o arroubo, conseguia ver o quanto fora impulsivo e talvez lhe viesse um arrependimento tardio. Quem sabe?   

Amigos, a verdade é que Ainda Uma Vez Adeus, mesmo passados tantos anos, ainda emociona a todos. E a Canção do Exílio, tão simples e eloquente, ainda hoje se impõe como o primeiro poema do simbolismo no Brasil, e, Gonçalves Dias, segundo Carpeaux, foi “o primeiro poeta verdadeiramente nacional”, também classificado por José Veríssimo como “o maior e mais completo poeta do Brasil”.  

Deste modo, para felicidade geral da Nação, o melhor mesmo é deixarmos de lado os alvitres e digressões filosóficas e aceitar a corrente que idealiza o amor através de Gonçalves Dias e Ana Amélia. Assim também viveremos felizes para sempre com nossas convicções.  

Pois, foi lembrando da saga de Antônio Gonçalves Dias que, em 03/11/2020, dia em que se rememorava o falecimento do poeta a bordo do navio Ville Bologne, na Baía de Cumã, eu me vi, de repente, meditando que, a despeito dos outros títulos auferidos por ele, a despeito de ser patrono da Cadeira nº 15, da Academia Brasileira de Letras, que eu saiba, o poeta não foi membro de nenhuma academia, só do Instituto Histórico, não precisou disso. Foi a sua obra que o imortalizou. 

Imaginei também que, que se a fé pública pode encantar Dom Sebastião na Ilha dos Lençóis, quem sabe também Gonçalves Dias não esteja encantado na Baía de Cumã, de onde já podia avistar suas amadas palmeiras, mesmo que, do sabiá só pudesse ouvir o canto em sua imaginação? Mas, convenhamos, imaginação de poeta é coisa milagrosa!   

E, naquele momento até pareceu-me ter ouvido Gonçalves Dias afirmando cheio de certezas:    

 mentira, não morri! 

Não morri nem morrerei, 

Nem hoje nem nunca mais.    

Minha alma já fez morada 

Na pátria dos imortais.

Palestra de Gracilene Pinto na AMEI, 21 de agosto de 2023

“Sem FPM não dá, as prefeituras vão parar”

Prefeitos e prefeitas do Maranhão vão paralisar as atividades por um dia inteiro. A medida é uma retaliação contra a redução do repasse de verbas Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Os prefeitos e prefeitas maranhenses querem causar burburinho no próximo dia 30 (quarta-feira). Em reunião na sede da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM) ficou decidido que as prefeituras maranhenses vão aderir ao ato nacional “Sem FPM não dá, as prefeituras vão parar”. Ou seja, haverá paralisação geral dos atividades nos municípios.

A medida é uma retaliação contra a redução do repasse de verbas Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Segundo disse o presidente da FAMEM e prefeito do município de São Mateus, Ivo Rezende, em entrevista coletiva nesta terça-feira (22), a situação tem ficado insustentável em todo o Brasil e se agrava a cada repasse, com perdas cada vez maiores.

Estamos enfrentando um momento crítico, no qual os municípios têm sido prejudicados pela redução dos repasses do FPM. Esses recursos são fundamentais para garantir o funcionamento de áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura. Nossa união nesse movimento é essencial para sensibilizar as autoridades competentes”, disse Ivo Rezende.

Ficou decidido também que os gestores municipais vão marcar uma reunião com a bancada federal maranhense, para encontrar formas de reverter o quadro atual. O apoio da bancada é considerado primordial para as pretensões dos gestores. Esse encontro deve acontecer no dia 1º de setembro, na própria sede da FAMEM.

A reunião desta terça-feira contou com a presença de mais de 200 prefeitos e prefeitas e também com deputados estaduais.

Fonte: https://oimparcial.com.br/

Polícia Federal e Força Nacional desembarcam no MA para mega operação na Baixada

Nesta terça-feira (22), policiais da Polícia Federal e Força Nacional chegaram ao Maranhão para deflagrar uma mega operação na região da baixada e do Gurupi.

A ação visa o combate ao tráfico de drogas e plantação de maconha nas cidades de Santa Helena, Turilândia, Cururupu, Pinheiro e outros municípios, além de Maracaçumé, Godofredo Viana, Governador Nunes Freire, Centro do Guilherme, Turiaçu e outros.

o cerco envolve dezenas de policiais federais, helicóptero com artilharia, tanques, armas pesadas e quase 20 viaturas estão se deslocando para os municípios da Baixada Maranhense e Gurupi.

A Polícia Federal solicitou apoio da prefeitura de Turilândia, que cedeu o campo de futebol da cidade para servir como estacionamento dos veículos.

Fonte: https://johncutrim.com.br/

Academia Perimiriense apresentará Prestação de Contas do Exercício de 2022

Academia Perimiriense apresentará Prestação de Contas do Exercício de 2022  – O RESGATE

Edna Jara Abreu Santos promoveu a Convocação para Prestação de Contas de 2022. Em nome da Tesouraria da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense – ALCAP, os membros do Conselho Fiscal e demais acadêmicos foram informados da Assembleia Geral Ordinária que ocorrerá no dia 19 de agosto de 2023 (sábado), às 15 horas, no Centro de Ensino Médio Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), para avaliação e prestação de contas do ano 2022.

Edna Jara sempre se destacou pela organização e alto senso de responsabilidade na missão de controlar as contas da agremiação que tem grande responsabilidade na sua área de atuação.

Na oportunidade, a presidente da entidade, Ana Creusa Martins dos Santos, divulgou a pauta dos assuntos a serem discutidos na referida assembleia, conforme abaixo:

Pauta da Reunião ALCAP do dia 19/08 (sábado) às 15 horas no CEMA:

1) Apresentação da prestação de Contas do ano de 2022;

2) Debate sobre erros e acertos do II Prêmio Naisa Amorim e propostas para o III Prêmio;

3) Discussão sobre a implantação da Biblioteca Prof. Taninho: providências já tomadas;

4) Debate sobre o Projeto Plantio Solidário;

5) Debate e aprovação do Regimento Interno e

6) Comemoração dos aniversariantes do período de 01/01 a 19/08.