VIANA

Por Gracilene Pinto

Eu vi Ana!
Eu vi Ana na janela!
Fosse princesa ou cigana,
Eu só sei que era bela.
E, quando ela aparecia
Na janela do castelo,
O dia resplandecia
Tornando o mundo mais belo.
Eu vi Ana, a bela prenda,
Em um castelo em Portugal,
Dizia a antiga lenda
Da minha terra natal.
E assim ficou batizada
A Viana do castelo,
Capital do Minho, amada,
O mais doce dos meus anelos.
Daquele porto eu zarpei
Trazendo muita saudade
De todos os que amei
E da minha rica cidade.
Porém, quis Deus que eu viesse,
Por Divina inspiração,
Fundar uma nova Viana
Nas terras do Maranhão.

AMOR ÀS AVESSAS (… Juvita, a ex rebelde)

O amor seguir o seu rito normal parecia não ser “a melhor pedida” de Juvita. Menina buliçosa, a bem da verdade “ispivitada e tisguinha”, mas criada sob a severa vigilância de sua mãe, Amparo. Logo cedo, subverteu toda e qualquer ordem ditada pelos cânones sociais de sua comunidade. Quebrou “o cabresto” e desafiou o mundo por conta própria. Proclamou-se liberta de tudo. Até da liberdade vigiada, que tinha ali.
E, deu-se o auge de sua rebeldia, assim que ela colocou os olhos, “de gato ladrão”, na mais sincera e pudica timidez do vizinho. Sentiu-se dona e senhora, “a pisar o coração” ainda imberbe e despovoado de maldades. As investidas se fizeram constantes, “sem chove-não-molha”, bem às claras. O pobre já não tinha sossego. E se escondia que se escondia. Mas, Juvita estava, ali, à espreita, sempre pronta a perseguir.
E, com tanta insistência, “o papou”, como gostava de dizer. E se lambuzou. E se apaixonou. E se retraiu. E se comportou. E virou gente! Isso em suas próprias palavras.
Mas, como sei que estão curiosos para saber por que trago “o final”, logo no meio da história, não vou desapontá-los.
Juvita revelou-se irônica. E, irônica, apregova “aos quatro cantos”, do mundo, que seu coração era mais pétreo do que a mureta, a circundar a sua casa. E, irônica, apregova as suas máximas, para justificar a conquista difícil de um amor, que se apresentava impossível.
E, assim, continuava a debochar dos silêncios, que se lhe apresentavam desafiadores, e precisava penetrá-los. Para justificar as suas certezas, se fazia “o cão que ladra e morde”. E “se aparecia”, dizendo para todos ouvir. “Quem espera sentado, se cansa”. E as investidas se faziam mais fortes.
Quando questionada de tanta insistência, saía-se com esta. “Antes mal acompanhada do que só. Brinco com fogo e, depois, apago”.
Ledo engano. A vida é cheia de mistérios. Como bem dizia a minha avó, em seu saber nonagenário, “quem desdenha quer comprar”. E, aí, o coração, endurecido, da pseudo rebelde, “se abriu como um paraquedas” … Não foi ‘nem’ preciso “a água mole furar a pedra dura”, afinal, “quem é lembrado um dia foi visto”.
O certo é que Juvita, em sua gana em tê-lo, “atiçou” o gélido moço e começou “foi” a se fazer desejada. Os olhares cruzaram-se. Os suspiros tornaram-se cúmplices. As mãos, tão inquietas, saudavam-se timidamente. A timidez passou à coragem; e a coragem não encontrou refúgio em subterfúgios. Juvita capitulou. E, feio. “Passou de caçadora à vencida”.
O certo é que “semeou a tempestade”; e, na viração dos sentires, “foi colhida como a mais suave brisa!”
Eita vida caprichosa!
Vida longa a Juvita, “a ex rebelde!”

PERI-MIRIM: Trilhando em Buritirana – uma manhã de alegria e conhecimento

Por Laércio Oliveira*

        Preservação do meio ambiente refere-se ao conjunto de práticas que visam proteger a natureza das ações que provocam danos ao meio ambiente. Devido ao atual modelo econômico, baseado em elevados níveis de consumo, o ser humano tem causado inúmeros prejuízos para a flora e fauna no planeta, ocasionando desequilíbrios ambientais, muitas vezes irreversíveis. Por isso, é fundamental a preservação para manter a saúde do planeta e de todos os seres vivos que  nele habitam.

        Apesar do protagonismo juvenil em questões ambientais ter se fortalecido nos últimos anos no Brasil, é preciso ainda investir em Educação sobre o tema para que essa grande parcela da sociedade possa se apropriar da questão. Isso é o que mostra a pesquisa “Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas”, divulgada em 4 de abril de 2023. O levantamento, conhecido pelo acrônimo “JUMA”, ouviu 5.150 pessoas com idades entre 15 e 29 anos, provenientes de todas as classes sociais e níveis de escolaridade nas várias regiões do Brasil, entre julho e novembro de 2022.

         Os resultados, considerados “curiosos e surpreendentes” pelos realizadores da pesquisa, revelam muito do que a juventude brasileira sabe e como ela é afetada pelas mensagens que recebem sobre meio ambiente e mudanças climáticas. Segundo o levantamento, 36% dos jovens respondentes não souberam identificar o bioma em que vivem.

        Nesse sentido, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a escola estadual Centro de Ensino Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), instituição que trabalhei durante doze anos, promoveram no dia 30/06/2023, nos turnos matutino e vespertino, uma expedição ao Povoado Buritirana que fica a aproximadamente 9 km do centro de Peri-Mirim.

        A expedição em formato de trilha ecológica contou com a participação de membros da ALCAP, gestor, professores e de aproximadamente 30 alunos do 3º ano do ensino médio. Eu e meu filho Laerth, de 8 anos, participamos como convidados da ALCAP.

        Nossa expedição teve início às 08:00h quando saímos da escola em um ônibus em direção ao povoado Buritirana, percurso que durou trinta minutos. Na localidade funciona uma instituição de ensino que atende diversos alunos da Baixada Maranhense, com os cursos de Pedagogia e Agente Comunitário de Saúde. O local é muito bonito, repleto de árvores e animais situado à beira do campo, que nesta época do  ano  encontra-se  alagado devido ao período chuvoso. Uma paisagem digna de cartão-postal.

        Na chegada, fomos recebidos por dois funcionários da instituição que nos deram algumas orientações de como proceder na trilha. Após algumas recomendações dos instrutores, iniciamos nossa caminhada. A trilha pela mata fechada é muito estreita obrigando a nos manter sempre em fila, com o instrutor à frente. Em alguns pontos da trilha, parávamos para ouvirmos algumas curiosidades sobre a região. Uma delas é que pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) encontraram ali uma espécie de borboleta muito rara que já consideravam extinta. No percurso observamos grandes aranhas, abelhas e porcos do mato. A flora é predominantemente composta de babaçuais e outras palmeiras. Meu filho Laerth, muito curioso, escutava com atenção e questionava o instrutor.  A descontração e o entusiasmo dos alunos eram evidentes, alguns até faziam anotações, pois teriam que entregar um relatório da trilha como forma de avaliação. Após uma hora de trilha chegamos ao nosso ponto de partida onde descansamos e saboreamos um delicioso lanche. Às 11:00h retornamos à escola.

        De acordo com Sato (2004), “o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece motivos que levam os alunos a se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para as futuras gerações”.

          Eu e meu filho Laerth agradecemos a amiga Ana Creusa, Presidente da ALCAP e Vice-Presidente do Fórum em Defesa  da Baixada Maranhense (FDBM), pelo convite.

          Agradecemos aos que participaram da expedição: Acadêmicos Ana Cléres, Diego e Ataniêta (Tata). Aos professores Fabio (gestor), André, Alex e Paula. Aos alunos do 3º ano do ensino médio e ao guia e instrutor Wanderson.


*Laércio Lúcio Oliveira é perimiriense, possui graduação em Matemática pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA (1997). Especialista em Docência do Ensino Superior-IESF (2008). Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – UNICSUL(2012). Professor efetivo de Matemática (ensino médio) da rede estadual há vinte anos .Foi professor contratado da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Programa Darcy Ribeiro de 2009 a 2012. Foi professor substituto da Universidade Federal do Maranhão-UFMA(2013 a 2015) Atualmente, Professor da Faculdade do Maranhão – FACAM nos cursos de Engenharia Civil , Engenharia de Produção e Análise e Desenvolvimento de Sistemas – ADS. Ministra aulas nas seguintes disciplinas : Cálculo Básico, Calculo I e II, Estatististica e Probablidade, Álgebra Linear e Geometria Analítica, Matemática Financeira. 

CANTO DA ORIGEM DE MAURO RÊGO

Por Mauro Rêgo*

Eu venho de muitas datas
Nasci dos canaviais
Do ouro dos cafezais
Tirei o meu refrigério
Tenho o perfume do campo
Onde há beleza e mistério
Nasci em noite estrelada
Tive a fronte ornamentada
Pela coroa do Império.

Minhas águas são moradas
De entes da natureza
Dos campos eu sou princesa.
Sou um recanto de fadas
Foi delas meu nascimento
um berço de mururu
Pois nasci do encantamento
Das águas do Sipau.

Minhas flores são do campo
Minha luz é o pirilampo
O meu fruto é o anajá
Guardo todas as riquezas
Nas correntes indefesas
Das águas do Troitá.

Tenho ilhas isoladas
Onde ninguém mora lá
Pois elas guardam as estradas
De Rita do Paricá*.
Tenho recônditos santos
Frutos raros, e são tantos,
Como a guapéua e o ameju
Pois eu nasci dos encantos
Das águas do Sipau

Pelos campos, isolados,
Tenho morros encantados
– Pacoval e Graxixá –
Velando os sagrados entes
Que moram sob as correntes

Das águas do Troitá
E o meu solo sacrossanto
Retirado de um recanto
Da Vila do Mearim,
Também de Itapecuru
E de Rosário por fim,
Viu meu povo se formando
E nos campos navegando
Nas águas do Sipaú.
Sou de mito e de magia!
Que meu canto centenário.
Honre a Virgem do Rosário
E aos céus numa prece suba!
Encha o mundo de alegria,
Pois nasci Santa Maria
Dos campos de Anajatuba.

* Mauro Bastos Pereira Rêgo nasceu em  Anajatuba (MA),   no dia 15 de fevereiro de 1937.  Filho de Anastácio Pereira Rêgo e Maria Bastos Rego. Seus primeiros estudos foram em Anajatuba, depois ingressou no curso de  Técnico em Edificações, concluído em 1957, na Escola Técnica Federal do Maranhão. Mauro Rego é Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão, com habilitação em Magistério Normal e Supervisão Escolar e também é  Licenciado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pós-graduado como Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira.

Padre Raymond Roger Gérard Gagnon

Biografia cedida à Academia Perimiriense pelo Prof. Carlos Antonio de Almeida (todos os direitos autorais a ele reservados).

Padre Gérard Gagnon, filho de Henri Gagnon e de Eva Thibeault, nasceu no dia 26 de novembro de 1928, em Wotton, Província de Québec/Canadá, e, faleceu no dia 23 de fevereiro de 1992, no Instituto do Coração, em São Paulo. Seu corpo encontra-se sepultado na Igreja de São Sebastião, em Peri-Mirim/MA, onde sempre desejou ficar. O funeral foi dirigido pelo Bispo da Diocese de Pinheiro, Dom Ricardo Pedro Paglia, além de contar com a presença de vários padres canadenses de outras Dioceses do Canadá, e também de outras paróquias e da grande multidão perimiriense.

Padre Gérard chegou ao Brasil, vindo do Canadá, no dia 13 de agosto de 1962, e, já no dia 15 de agosto deste mesmo ano chegou em Peri-Mirim. Ainda, em 1962, foi nomeado Padre Superior da Missão de Sherbrooke no Brasil. Em Peri-Mirim, inicialmente, foi Vigário Coadjutor onde permaneceu até janeiro de 1968, quando foi nomeado Vigário da Paróquia de São Sebastião, até janeiro de 1988, quando, por problemas de saúde pediu seu afastamento, uma vez que a doença o enfraquecia, cada vez mais, desde 1982.

Padre Gérard era graduado em Teologia e Filosofia, além de possuir os cursos de Língua Francesa, Língua Grega, Língua Portuguesa, Catequese, entre outros, incluindo-se aí, cursos de âmbito social. Ordenou-se padre em 03 de abril de 1954 e celebrou sua primeira Missa no dia 04 de abril de 1954, na Igreja Matriz da cidade de Wotton, local de seu nascimento. Foi professor de Francês, Grego e Capelão dos Escoteiros, no Seminário de St. Charles. No Brasil, foi Superior dos Padres Missionários da Diocese de Sherbrooke, compreendendo as Paróquias de São Luís (bairro do João Paulo), Bequimão e Peri-Mirim.

Serviços prestados em Peri-Mirim
Pode-se dizer, sem nenhuma demagogia, que ele foi uma das pessoas que mais trabalhou para que esta terra fosse o que é hoje. Lutou contra a incompreensão de alguns e enfrentou grandes obstáculos.

1963 – Iniciou o projeto de “forno” para casa de farinha a fim de facilitar o trabalho do lavrador e procurou contratar médico para dar assistência à saúde, que na época, era “zero”.

1964 – Começou a ajudar os estudantes para que fossem para Guimarães/MA, a fim de estudar com as Irmãs Canadenses de Nicolet (foi o primeiro passo para Peri-Mirim ter hoje muitos doutores).

1966 – Os padres canadenses organizaram o “Dispensário” – Posto de Saúde/Ambulatório Santa Thereza, recebendo medicação oriunda do Canadá. Neste Posto de Saúde, trabalhava Raimundo Martins Campelo tendo o apoio de uma religiosa canadense que logo foi embora. Os problemas de saúde eram muitos, além de ter um índice elevado de óbitos entre os homens pela esquistossomose (barriga d’água), e, as crianças, muitas morriam de desidratação, seguida pelas verminoses.

Padre Gérard, após decisão com os outros dois padres da Paróquia de Peri-Mirim (Padre Edmond e Padre Bertrand) pediram ajuda ao prefeito José Ribamar França (Bacaba) para pagar uma enfermeira com nível superior para vir trabalhar no município, que após relutar bastante, terminou por concordar. A partir daí, Padre Gérard que se encontrava no Rio de Janeiro, foi até a Universidade do Brasil – Faculdade de Enfermagem Ana Néri e contratou duas enfermeiras: Silvia Alves Barbosa e Ana Lúcia de Almeida, que chegaram para trabalhar em Peri-Mirim no dia 24 de janeiro de 1967.

O ambulatório era mantido exclusivamente com recursos vindos do Canadá, sendo a maior parte destes, oriundos do fundo particular de Padre Gérard, que pagava funcionários, financiava treinamentos para auxiliares de enfermagem, de laboratório e de parteiras leigas. Providenciou vindas de vacinas específicas para crianças e adultos, comprava medicação de rotina para complementar as que vinham do Canadá, além de comprar medicação de urgência e equipamentos básicos para determinadas urgências. É bom ressaltar que o Ambulatório era tão bem equipado e constituído por uma equipe profissional competente, como Dr. Manoel Sebastião, médico e filho da terra, que realizou várias cirurgias, dentre elas: cesarianas, apendicectomia e até miomectomia (retirada de mioma).

Padre Gérard também fez convênio com a Caritas Diocesana e recebia alimentos, como: feijão, arroz, trigo, manteiga, queijo, açúcar, e outros, que eram destinados às famílias cujos chefes trabalhavam como voluntários na abertura e manutenção de estradas e barragens, como as que foram feitas em Santana, Feijoal, Poções, Meão, Minas, entre outras. Construiu pontes com recursos próprios em Pericumã, Meão, Serra, Santana, etc. Também fez convênio com o Governo do Estado e recebia, mensalmente, para o Ambulatório Santa Thereza, leite, açúcar, feijão, arroz e farinha que eram distribuídos para ajudar na alimentação das crianças, gestantes, idosos e doentes crônicos.

Quando a Previdência Social criou o FURURAL – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, Padre Gérard legalizou o Ambulatório Santa Thereza junto aos órgãos competentes, com CNPJ, e assim, mensalmente, recebia uma pequena quantia que ajudava na manutenção do Ambulatório. Porém, após três anos, o Governo Federal suspendeu os recursos porque no País havia sido criado um novo sistema de saúde: era o preparativo para o SUS.

Retrocedendo um pouco no tempo, quando o Governo iniciou a aposentadoria para o trabalhador rural e aos “inválidos”, Padre Gérard foi buscar a lei que amparava, sobretudo os portadores de hanseníase (lepra), já que, naquela época, início dos anos 1970, dentre a população de Peri-Mirim, foram diagnosticadas 33 pessoas com hanseníase, as quais viviam em condições sub-humanas, isoladas em pequenos quartos de tetos bem baixos, chão batido, sem fossa, sem poder sair do quarto, não tocavam em dinheiro e nem podiam se misturar com os outros e, sobretudo, nem na igreja podiam entrar.

Diante dessa situação, Padre Gérard localizou todos e com a ajuda das enfermeiras os levou para aposentá-los. Levava-os para São Bento, em um jeep da Paróquia, entrando com eles pela parte dos fundos da Unidade de Saúde para o médico fazer a perícia e dar o laudo para eles receberem uma pensão mensal. Muitas vezes, alguns chegaram a dormir na Casa Paroquial por morarem em área de difícil acesso, pois, pela manhã tinham que estar em São Bento, onde, até o médico ajudava a levar os mutilados (sem pés, sem mãos) para o exame. Este foi o passo inicial no nosso município para a reintegração dos hansenianos na sociedade, pois, a partir daí, eles saíam mais, entravam no ambulatório (o povo fugia um pouco), já não ficavam fora da igreja principalmente quando batizavam o filho. Foi, sem dúvida, um avanço da equipe de saúde local que trabalhava para mudar e acabar com o estigma, entretanto, a Paróquia foi fundamental, especialmente na pessoa de Padre Gérard, para a transformação e a realidade de hoje. Também foram aposentados outros doentes portadores do mal da barriga d’água, consequência da esquistossomose, que ainda hoje, em menor incidência, acomete à população. Eis algumas pessoas que foram beneficiadas pela aposentadoria, com problemas de hanseníase: João Pindova (Meão), Maria Pindova (irmã de João – Meão), Chico (das Minas), Maria José (Juçaral), Curujinha (Portinho) e muitos outros, em sua maioria do Meão. Também teve um do Poço Dantas (irmão de João), outros do Rio da Prata e também da Sede.

Da mesma forma, levou alguns jovens e adultos para Teresina/Pl, em seu carro próprio, a fim de consultar e operar, quando necessário, com Dr. Mansueto Martins Magalhães, oftalmologista e cirurgião oftalmologista, especialista glaucoma e catarata, pagando hospedagem com alimentação, inclusive para acompanhantes quando havia cirurgia para algumas pessoas. Dentre essas pessoas, citam-se Inácia de Jair, Herbelino Pereira, Aluísio Pereira, dois primos jovens do Centrinho cujos nomes não são lembrados, mas há fotos deles, que fizeram cirurgia e ficaram curados, entre outras pessoas.

Procurou, juntamente com um agrônomo que contratou, introduzir a agricultura rotativa, para evitar as queimadas e mudança de local para as roças, usando um trator da Paróquia para destocar e arar as terras, mas não avançou muito. Também introduziu as hortas comunitárias, com campo experimental em Santana e que foi um sucesso, pois abastecia todas as famílias do local. Todavia, pela falta de estradas para escoamento, não teve continuidade. Portanto, procurou implantar várias fontes de renda para melhorar a vida de todos de Peri-Mirim.

Na Festa da Fraternidade reunia todas as comunidades (27). Era um dia de brincadeiras (cada comunidade apresentava alguma coisa) e também ocorriam orações, abraços, almoço partilhado, procissão, culminando com a Santa Missa que quase sempre contava com a participação do Bispo da Diocese, em algumas ocasiões, pelo Bispo do Canadá, além de vários padres e amigos convidados.

A Casa Paroquial, Salão Paroquial e todo terreno do Ambulatório Santa Thereza, com o fechamento da Diocese de Sharbrooke em Peri-Mirim, ficaram para o Padre Gérard, por decisão e recompensa do Canadá, mas que diferente dos demais padres de outras Paróquias não vendeu nem doou a terceiros, deixando tudo para a Diocese de Pinheiro. Do mesmo modo, durante os anos de permanência dos Padres canadenses em Peri-Mirim, a Paróquia foi mantida exclusivamente com recursos do Canadá, e, no final, com recursos próprios de Padre Gérard.

Padre Gérard fundou as Comunidades Eclesiais de Base, que em princípio eram poucas, mas ele conseguiu elevar para vinte e sete. Abaixo a relação das comunidades. As que têm asteriscos eram visitadas mensalmente, usando sempre os sábados e domingos, fazendo sempre três em cada um desses dias. Durante a semana celebrava a Missa às 6:15 horas (de segunda a sábado). Também pregou e incentivou a devoção a Virgem Maria e incentivou a vocação sacerdotal e religiosa.
Eis a relação das vinte e sete comunidades:
*Sede / *Portinho / Minas / *Jaburu / Sacoanha / Meão / *Santa Maria / *Igarapé-Açu / *Centro dos Câmaras / Canaranas / *São Lourenço / Poções / Feijoal / *Ilha Grande / *Taocal / *Inambu / Ponta de Baixo / *Santana / *Torna — Rio Grande / *Miruíras / *Baiano / *Pericumã / *Conceição / *Poço Dantas / *Rio da Prata / *Tijuca / *Três Marias.

Outros serviços prestados
Fundou e organizou escola para adultos em várias comunidades;
Fundou a Cooperativa, começando pela Comunidade de Santana, e, em 1969, criou a Cooperativa Agro-Pecuária de Peri-Mirim Ltda., com sede própria, onde, atualmente funciona o Sindicato dos Produtores Rurais, (também teve uma filial da Cooperativa em Pericumã – casa do Sr. João Dias);
Comprava redes das rendeiras, coco de babaçu, apenas para ajudar essas pessoas;
Beneficiava arroz para vender mais barato, com máquinas próprias, em sede própria, no prédio onde funcionou a Central da Telma, atualmente, funcionando o Conselho Tutelar;
Comprou búfalos e uma ilha (Ilha das Pedras) mandando cercá-la com mourões e arame (entretanto, tudo que compunha à Cooperativa, foi repartido igualmente com os associados no momento da dissolução da mesma, que aconteceu por causa de sua saúde que não permitia tamanha responsabilidade).
Construção de estradas com participação da comunidade, como: Meão, Centro dos Câmaras, Santana, entre outras;
Construção de pontes no Meão, Pericumã (perto da casa de Sr. Honório), Santana, etc. Construção de barragem no Feijoal e em Santana;
Ambulatório: fundou e equipou com material básico e medicamentos; contratou duas enfermeiras formadas para assumir a parte da saúde;
Colégio Bandeirantes: primeiro ginásio, ou seja, curso secundário de Peri-Mirim, que só foi implantado porque Padre Gérard aceitou ser Diretor, em 1967, já que, naquela época, nenhum professor tinha curso para desempenhar essa função. Portanto, Padre Gérard, de certa maneira, abriu as portas para a educação e para a cultura do município;
Pagou para alguns filhos de Peri-Mirim o curso secundário (alguns até a faculdade), como foi o caso do ex-prefeito João França Pereira.

Eis a relação dos cidadãos de Peri-Mirim que foram para Guimarães/MA ou para São Luís/MA, para estudar na Escola Normal, na Escola da Fé (Guimarães/MA) ou no Seminário São José ou Santo Antonio (São Luís/MA). Todos com bolsa de estudo integral (maioria) ou parcial, pagas por Padre Gérard Gagnon (uma pequena ajuda do Canadá): Itapoã França Santos, Maria Campos Botão, Francisco Viegas Paz, Izidoro Ferreira Nunes, Regina Braga, Raimundo Martins Campelo, Graça de Maria França, Antonio João Pereira, Esdras Serra Maia, Maria das Graças Serra Maia, Vital Boás (catequese), Anastácio Florêncio Corrêa (catequese), José de Jesus Câmara, Miriam Costa Pereira, José Carlos Durans (catequese), João Amorim Pereira, Ednaldo Pereira (catequese), Lilázia Ribeiro, João Garcia Câmara, José João Lopes, Raimundo João Santos , Raimundo Martins dos Santos Filho, Nadir Alves Nunes, Terezinha Botão Melo, Maria de Lourdes Santos, Torquato Leandro Santos (catequese), Francisco Antonio Câmara, Ana Maria Câmara, Rosevelt Silva Ferreira, Maria Botão Melo, Luís Martins, João Garcia Furtado, Waltemar Braga, João França Melo, João França Pereira (até a Faculdade, ex-prefeito), José de Ribamar Silva, Ione Serra Maia, Pedro Alfredo Câmara (catequese), Manoel Lopes (Nhozinho – catequese), Manoel Azevêdo Martins, Pedro Pinheiro Martins (catequese), José Dias Pinheiro (catequese), João Ferreira (catequese), Raul Mendes Filho, Luzinete França Pereira, Cloves Ribeiro Filho, Maria Pinto Pinheiro, Antonio Lima, José Raimundo Pinheiro, Irene Cecília Nunes, José Mariano da Silva (catequese), Raimundo Martins Nunes, Afonso Pereira Lopes (catequese, ex-prefeito), Francisca Maria Câmara e Conceição de Maria Botão.
Observação: outros jovens ou adultos também foram beneficiados com bolsa de estudos mas, infelizmente, não foram relacionados. Também, alguns dos nomes mencionados poderão ter seus nomes incorretos, a quem se pede desculpas.

Semana Escolar: quatro dias por semana, nas férias dos estudantes, custeava despesas para que eles pudessem dar sua colaboração às comunidades com culinária, artesanato, aulas de português e matemática (à noite);

Clube das Mães: incentivou e colaborou na construção de sua sede;
Escola da Fé: curso de preparação para catequistas em Guimarães/MA, para onde enviava representantes de nossa comunidade, sendo custeadas pela Paróquia as despesas de viagem e hospedagem, sem contar a ajuda que dava aos familiares que aqui ficavam, como por exemplo: Anastácio Corrêa, José Silva, José Dias, João Silva Ferreira, entre outros que também participaram.
Legião de Maria: fundou várias capelas para incentivar e cultuar a devoção à Virgem Maria, sua Santa preferida, chegando a fundar em 1967 a Consagração da Paróquia a Ela.
Além disto tudo, sua maior preocupação foi sempre a pessoa humana voltada para Deus. Por isso, manteve sempre as comunidades com Missas regulares, os casamentos para todos, cursos bíblicos, cursos para Batismo, para Crismas e para Casais. Foi padre, “pai” e amigo, pois, sua maior alegria era ver seus paroquianos tementes a Deus e devotos de Maria, deixando como legado para todos nós, que é a oração: “Ó Maria, minha mãe, / Oferecei por mim a Deus Pai, / O Sangue de Jesus.”

Adepto da PAZ, quando havia desunião dentre os membros da comunidade, inicialmente não rezava a Missa, porém, realizava encontros comunitários com os desafetos, em particular, e, no final, rezava a Missa da Reconciliação, com celebração festiva.

Quando ainda era capaz de trabalhar, mas dependia dos amigos para que os sinais de sua doença não aparecessem, muito sofria em ser mal interpretado. Porém, antes de morrer, balbuciando disse que “foi feliz com o povo de sua terra, Peri-Mirim”.
Diagnosticado com o “Mal de Alzheimer” desde 1973, em Belém/PA, corria contra sua perda de memória para trabalhar pela evangelização e pelo bem dos mais pobres. Peri-Mirim tem motivo demais para agradecer a Missão Canadense, em especial a Padre Gérard Gagnon, que com sua visão de um futuro melhor, concedeu a inúmeras pessoas uma formação humana e cristã. Muito do que temos hoje, deve-se à iniciativa e ao esforço deste grande homem e padre. Ao longo de seus vinte e cinco anos à frente da Paróquia São Sebastião deixou a lembrança para muitas famílias que foram abençoadas por meio do batismo, casamentos, missas, comunhão, reflexões, ajuda espiritual, moral, financeira e material. Foram inúmeras as maneiras de ajuda que a população perimiriense recebeu gratuitamente pelas suas simples e humildes mãos, mesmo sentindo diminuírem sua memória e suas forças em virtude da doença que a cada dia só progredia, jamais os abandonou.

Finalmente, aquele que deu tudo, precisava receber tudo (orações) para continuar vivendo até o dia em que faleceu: 23 de fevereiro de 1992, às 19:45 horas, um domingo que poderia ser de alegria, mas terminou triste e saudoso, no Instituto do Coração, em São Paulo. O corpo de Padre Gérard foi trazido para Peri-Mirim e sepultado no dia 25 de fevereiro de 1992, onde sempre desejou ficar: “sua casa” como costumava chamar a Igreja de São Sebastião.

Prazo para inscrição no Prouni termina nesta sexta-feira (30)

O Prouni é o programa do governo federal que oferece bolsas de estudo integrais (100%) e parciais (50%) em instituições de educação superior particulares.

Termina nesta sexta-feira (30/06/2023) o prazo para inscrição no Programa Universidade para Todos (Prouni) para o segundo semestre. Os interessados em participar do processo seletivo devem acessar o Portal Único de Acesso ao Ensino Superior.

Segundo o Ministério da Educação (MEC), serão disponibilizadas 276.566 bolsas – 215.530 integrais e 61.036 parciais –, em cursos de graduação e cursos superiores sequenciais de formação específica.

Para se inscrever no programa, o candidato precisa ter participado da edição de 2021 ou de 2022 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ter obtido pontuação igual ou superior a 450 pontos na média das notas.

Além disso, é necessário que não tenha zerado a nota da redação, e que não tenha participado do Enem na condição de treineiro – quando o aluno faz a prova antes de concluir o ensino médio, apenas para se autoavaliar.

Para fins de classificação e eventual pré-seleção no Prouni, o MEC utiliza a edição do Enem em que o participante obteve o melhor desempenho.

Para ter acesso à bolsa integral, o estudante deve comprovar renda familiar bruta mensal de até 1,5 salário mínimo por pessoa. Para a bolsa parcial, a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários mínimos por pessoa. Desde 1º de maio, o salário mínimo no Brasil é de R$ 1.320.

A MINHA LAMPARINA (… e minhas pegadas)

Por Zé Carlos Gonçalves

Ontem, ao passar lá, pelo Mercado Central, vi, numa lojinha de quinquilharias, uma imponente lamparina dependurada. Que beleza de imagem!

Imagem, que me trouxe, concretamente, lampejos vivos. Arremeti-me a uma época, em que importante peça alumiava a melhor parte de minha vida. E, o melhor, denotativa e conotativamente.
Verdade verdadeira!

Hoje, a velha e milagrosa Lamparina perdeu-se. E se tornou desconhecida para uma boa parte de nossos irmãos maranhenses. Mas a verdade, também, é que espantou a vil e tenebrosa escuridão, nos apontou os caminhos, nos clareou as ideias. E, com isso, pode se apresentar como o elo, metafórico, entre o foi e o é. Digo, até, romantizado!

Afinal, havia “uma magia” a rondá-la, que se fazia, do seu abastecimento “ao seu acendimento”, em um ritual pleno.

Ritual, a encantar olhos acesos e curiosos. Olhos sonolentos e cansados. Olhos puros e, até, os não tão santos, assim. Olhos, a verem e a admirarem o murrão, mergulhado no “criosene”, a se comportar imprevisivelmente. Ora guloso, a devorar-se em suas entranhas, com a certeza do seu iminente e inevitável fim. Ora muito e muito “enfastiado”, a ir se arrastando na lerdeza do tempo, que lhe sorvia a alma, repousante no mais absoluto silêncio.

Ritual, a ditar a fome do murrão, que se alimentava da chama gulosa, de luz. Que, implacável, tragava a inocente mariposa, numa dança errônea e suicida, a se consumir na ardente fome do fio.
Ritual, a tisnar a parede, faminta e tão necessitada de respirar a fuligem, que se impunha e lhe dava alma renovada.

Ritual, a sacramentar a fumaça, a enfumaçar os olhares, tolhidos, de mui outros olhares.
Ritual, a ditar o rito da caminhada, tão árdua e tão rica e tão imprevisível e tão voraz; a me devolver à minha lamparina, que, de tão teimosa, teima em se apagar, com a mais serena serenidade de minhas pegadas.

ACADEMIA PERIMIRIENSE INOVA EM EXPEDIÇÃO QUE PROMOVE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Por meio do Projeto ALCAP Itinerante, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a escola estadual Centro de Ensino Artur Teixeira de Carvalho (CEMA), realizarão no próximo dia 30/06/2023 uma expedição ao Povoado Buritirana que fica a aproximadamente 9 km do centro de Peri-Mirim.

A expedição será em formato de trilha ecológica e atenderá a aproximadamente 160 alunos do 3º ano dos turnos matutino e vespertino da referida escola.


O espaço agroecológico Buritirana fica no povoado Buritirana, pertencente ao município de Peri-Mirim. Na localidade funciona uma instituição de ensino que atende diversos alunos da Baixada Maranhense, com os cursos de Pedagogia e Agente Comunitário de Saúde.

– A expedição ao povoado Buritirana ocorrerá em dois grupos: 1º (alunos do matutino) saída da escola às 07:30h e retorno às 10:30h;  2º (alunos do vespertino) saída da escola às 13:30h e retorno às 16:30h;
– A gestão da escola ficou responsável em repassar aos alunos e professores informações sobre a expedição, conseguir o transporte para locomoção, a autorização dos pais ou responsáveis dos alunos e o lanche para os alunos;
– Os alunos farão um relatório da trilha para entregar à escola como quesito de avaliação.

Logo, o percurso nas trilhas ecológicas, além da oportunidade de apreciar as belezas da fauna e flora do local, é uma estratégia de aprendizagem, que vem ao encontro às atuais necessidades educativas para construção de mudança de pensamento e de atitude, a partir dos preceitos propostos na Educação Ambiental, visando o desenvolvimento sustentável.

Dessa forma, o projeto ALCAP ITINERANTE visa contribuir com o ensino almejado em que se pretende, não só repassar informações dos acontecimentos que ocorrem no cotidiano e no mundo, mas, também, formar o participante, levando-o à prática do descobrir, refletir e discutir as ações e pensamentos resultantes da interação do homem com a natureza.

Poema de uma professora normalista publicado em 1925

Por Nila de Mendonça Ramos

SAUDAÇÃO

Aceita saudações, boa amiguinha

Pelo diploma que recebeste,

És bem uma criança, uma avezinha

Que de plumagem rica ora se veste!

Dos estudos, os louros que colheste,

Enfeitando-te a fronte inocentinha,

Dão-te o aspecto de visão celeste

E valem mais que a coroa de Rainha.

Prossegue na cultura do talento

De estudos mil povoa o pensamento,

Avante, Nila, assim não esmoreça!

Não desanime, pois, um só segundo,

Que todo esse ouro que contém o mundo,

Em face do saber desaparece …

Escrito pela normalista Nila de Mendonça Ramos, publicado no Jornal Folha do Povo, em 21 de novembro de 1925.

DESAFIO: Por onde andam os parentes de Nila de Mendonça Ramos?

 

Tratamento multidisciplinar de autismo deve ser coberto de maneira ampla por plano de saúde

​A Terceira Tuma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento a recurso especial da Amil Assistência Médica Internacional que questionava a cobertura do tratamento multidisciplinar – inclusive com musicoterapia – para pessoa com transtorno do espectro autista (TEA) e a possibilidade de reembolso integral das despesas feitas pelo beneficiário do plano de saúde fora da rede credenciada.

A relatora, ministra Nancy Andrighi, comentou que, embora a Segunda Seção do STJ tenha considerado taxativo o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o colegiado, no mesmo julgamento do ano passado (EREsp 1.889.704), manteve decisão da Terceira Turma que concluiu ser abusiva a recusa de cobertura de terapias especializadas prescritas para tratamento de TEA.

A ministra destacou que, após várias manifestações da ANS reconhecendo a importância das terapias multidisciplinares para os portadores de transtornos globais de desenvolvimento, a agência reguladora publicou a Resolução Normativa (RN) 539/2022, que ampliou as regras de cobertura assistencial para TEA. A agência também noticiou a obrigatoriedade da cobertura de quaisquer métodos ou técnicas indicados pelo médico para transtornos globais de desenvolvimento.

TJSP reincluiu musicoterapia no tratamento multidisciplinar

No caso julgado agora, o beneficiário, menor de idade, ajuizou ação contra a Amil pretendendo a cobertura do tratamento multidisciplinar prescrito, sem limite de sessões, bem como o reembolso integral das despesas.

O juízo de primeira instância atendeu o pedido quanto ao tratamento sem limite de sessões, mas excluiu a musicoterapia, que foi reincluída pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) no julgamento da apelação.

No recurso ao STJ, a Amil alegou que os tratamentos não tinham cobertura contratual nem constavam da RN 465/2021 da ANS, e contestou a obrigação de reembolsar integralmente as despesas em clínicas não credenciadas.

ANS afastou exigência para várias coberturas

Em relação à musicoterapia, a relatora apontou que ela foi incluída no Sistema Único de Saúde por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, e a ocupação de musicoterapeuta foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho, passando a integrar o tratamento multidisciplinar de TEA a ser coberto obrigatoriamente pelos planos de saúde, quando prescrita pelo médico.

Nancy Andrighi apontou ainda que, ao editar a RN 541/2022, a ANS alterou a RN 465/2021 (mencionada pela Amil em seu recurso) para revogar as condições exigidas para a cobertura obrigatória de psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.

Diante do entendimento jurisprudencial do STJ e das diretrizes adotadas pela ANS, a ministra endossou a decisão do TJSP de impor ao plano a obrigação de custear o tratamento multidisciplinar, incluída a musicoterapia.

Reembolso integral só com violação de contrato, ordem judicial ou norma da ANS

A ministra ressaltou que a recusa da Amil se baseou no fato de as terapias prescritas não constarem no rol da ANS, não havendo, à época, determinação expressa que obrigasse as operadoras de saúde a custeá-las.

Na avaliação da relatora, não caracteriza inexecução do contrato – a qual justificaria o reembolso integral – a recusa de cobertura amparada em cláusula contratual que tem por base as normas da ANS. Como os fatos foram anteriores à RN 539/2022, a ministra decidiu que a Amil só terá de reembolsar integralmente as despesas se tiver descumprido a liminar concedida no processo. Caso contrário, o reembolso será nos limites da tabela da operadora.

“A inobservância de prestação assumida no contrato, o descumprimento de ordem judicial que determina a cobertura ou a violação de atos normativos da ANS pela operadora podem gerar o dever de indenizar, mediante o reembolso integral, ante a caracterização da negativa indevida de cobertura”, concluiu.

Leia o acórdão no REsp 2.043.003.