Por Ana Creusa

Por Ana Creusa
De repente, pego-me em reminiscências tantas e serenas, as quais me remetem aos bons tempos em minha querida cidade de Pinheiro, onde a felicidade realmente cristalizava-se em brinquedos simples e funcionais, geralmente improvisados com quinquilharias encontradas nas ruas, nas despensas e nos imensos quintais das casas de nossos pais e arquitetados na nossa mais profícua engenharia pueril; em “peladas” diárias, “labutadas” nos terrenos baldios, nas quadras, nas praças, nas ruas ou às margens do rio; em banhos no rio, nosso regaço sagrado, saudado pelo fulgurante lusco fusco de mais um dia, bem vivido; em banhos na chuva, no mês de maio, nas “biqueiras” fantásticas, que faziam a nossa alegria e renovavam as nossas vidas; em festejos, quermesses, show de calouros, que nos irmanavam inapelavelmente em um apego sem limites por nossa terra (…)
Entretanto, às nossas jornadas, estava assegurado um futuro promissor; e essa paz perene, abruptamente, era quebrada, com a necessidade que tínhamos de alçar voos mais promissores, novas conquistas, novos conhecimentos; quando, aí, sim, começava uma verdadeira odisseia: a viagem à capital do estado, com o intuito de fazer cursinho e buscar uma vaga em uma universidade pública (UFMA ou UEMA).
“O cordão umbilical”, enfim, era irremediavelmente quebrado, e nos deparávamos com a real situação: sem o cotidiano pinheirense, sem irmãos, sem amigos, sem aurora, sem horizonte “infinito”, sem brinquedos, sem porto seguro. Eis que surge a primeira viagem longa e a mais dorida separação dos nossos, o que antes nunca havia sido, sequer, cogitado.
Nesse cenário, o meu desenlace deu-se nos anos 80, ao me mudar para São Luís, com o intuito de estudar, uma prática “normal”, naqueles tempos, quando tínhamos de enfrentar o Itaúna e ser massacrados por maruins, sedentos e implacáveis. Entretanto, o maior e mais apavorante desafio era atravessar o temível “bouqueirão”, em barcos ou lanchas, de madeira, rangentes, chorosos e insanos, em uma travessia insalubre, em um ambiente dantescamente sufocante pelo ar pesado, impregnado com óleo queimado, nauseabundo, provocador de vômitos, dores de cabeça, ânsias (… ) misturado aos odores, nem sempre agradáveis, de farinha, porcos, bodes, camarão, bodum e tantos e indecifráveis perfumes baratos, minâncora (…)
Eram sacolejares frenéticos, principalmente nas tardes bravias de agosto, quando os ventos tornavam-se rebeldes e as ondas gemiam em sinal de protesto, por serem interrompidas em suas sestas, sagradas e guardadas pelas bênçãos del rei Sebastião.
Somente após essa aventura, estávamos “batizados”, para enfrentar nova vida, novas descobertas, novos conhecimentos.
(Texto do livro RAÍZES – recortes de minha existência)
Zé Carlos
voo abraçado às lembranças,
que se insinuam,
pulsantes,
a me carregar nas entranhas
dos teus encantos
voo as tuas manhãs,
a explodir em vital energia,
que me alimenta,
abraçado pelo azul celeste
e
pelo verde campestre,
que me sustentam
leve
e
livre
voo os teus caminhos,
trançados em sabedorias,
abraçados pelas veredas,
que me conduzem
livre
e
leve
voo leve,
a te apreciar
em tuas belezas humanas,
acobreadas pelo sol,
baixadeiros benditos,
enrijecidos no trato da terra
no cabo da foice e da enxada
no caniço prenhe de piaba
de acará
de bagruinhos
na corda de couro
a domar o sacro leite,
alimento de todo dia
e
pelos teimosos sonhares
dos teus filhos bem amados
voo livre,
a receber o verdor do vento
a essência do capim
de marreca
o sussurro do Pericumã
e
os mistérios da Juçareira,
a te carregar amuleto meu,
único
e
único
voo, voo, voo,
nas asas das saudades,
impulsionado pela tua leveza
e
pela tua infinda liberdade.
… minha avó contou histórias
mágicos
canavial
tia onça
coelho
lobisomem
pombo correio
“prinspe incantado”
pote de ouro,
no fim do arco-íris
… tremi, feito vara verde
me perdi no fundo da rede
acordei sobressaltado
tomei a sacra benção
a torto e a direito
meio sonâmbulo
bebi o bule de café
e revisitei o cochilo
… ainda errante fiz promessa,
do que não tinha,
a São Longuinho
e não me achei
… desembestei nas asas
dos ventos
nadei peixe
exalei flores
soprei campo
corri cavalo
voei passarinho
assombrei o currupira
assustei a sisuda coruja
fantasmei a alma penada
acolhi o gato, fujão e vadio,
descaretei o boi da cara preta
murmurei sacaninhas ninares
e jejuei a pão e água
no sábado de aleluia
… berrei o rascante berro,
a me rasgar a garganta
na última lua minguante
e tomei lambedor de hortelã
gemada com raiz de cantan
e
chá de romã
… com as últimas forças,
subi na coragem,
que ainda restava,
e me atirei,
sem receio,
nos becos dos medos!
Um sonho que se tornou realidade!
Em solenidade realizada no dia 24 de maio de 2024, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com Sindicato dos Profissionais da Educação e Servidores Municipais de Peri-Mirim (SINDPROESPEM), celebrou a inauguração da Biblioteca ALCAP Professor Taninho.
O nome da biblioteca foi dado em homenagem a Raimundo João Santos, Prof. Taninho, em reconhecimento ao seu extraordinário valor e pelos relevantes serviços prestados ao município de Peri-Mirim, cuja trajetória foi marcada pela competência e dedicação. Ele é patrono da Cadeira nº 28 da ALCAP, ocupada por Jaílson de Jesus Alves Sousa.
Prestigiaram o evento, os vereadores Charles Antoine Nunes Almeida; Pablo Lahonne Ferreira Gomes; membros da ALCAP; o Diretor da Secretária da Saúde do Trabalhador, Nilson França Oliveira, representando o Presidente do SINDPROESPEM, Lourivaldo Diniz Ribeiro; Diretores de Escolas, professores, alunos, membros do Coletivo BoraVer, familiares e amigos do Patrono que nomeia a biblioteca, entre outros representantes da comunidade.
Situado na Rua Desembargador Pereira Junior, nº 85, no Prédio do SINDPROESPEM, a biblioteca conta, atualmente, com um acervo de aproximadamente 900 livros, fruto de doações, variando entre literatura infantil, juvenil, poesia, literatura brasileira, filosofia e estará aberta à comunidade a partir 27 de maio de 2024, de segunda e a sexta, 08 às 11 e das 14 às 17 horas.
O professor Nilson França Oliveira, um dos diretores do SINDPROESPEM, enfatizou que a parceria do sindicato com a ALCAP trará muito benefícios para o município e rogou para que esse projeto seja valorizado pelas próximas gestões do sindicato.
A professora Alda Ribeiro Corrêa falou da honra e alegria em trazer os alunos do Colégio ARC para prestigiaram a inauguração da biblioteca e parabeniza a ALCAP pela grande iniciativa.
O aluno Yure Benedito Corrêa Amorim da Escola Municipal Cecília Botão destacou a importância das bibliotecas na transformação de novos leitores e chamou a atenção para o fato das crianças atualmente não usarem mais os livros para realizarem suas pesquisas pela facilidade que a internet proporciona.
Jessythannya Carvalho Santos, filha do patrono homenageado, agradeceu em nome da família pela grandiosa homenagem da ALCAP, pela grande parceria do SINDPROESPEM e por todas as doações de livros e no final firmou o compromisso como membro fundadora da Academia de que muitos projetos serão realizados para promover o incentivo à leitura, ampliar o acesso ao livro, a criatividade e o prazer pela leitura.
A Secretária da ALCAP, Eni do Rosário Pereira Amorim, destacou a importância o projeto para a democratização do acesso à informação e o papel social das bibliotecas e finalizou ressaltando todo o esforço da Presidente da ALCAP, Ana Creusa, para a concretização desse sonho.
“Estar presente neste momento tão significativo nos enche de orgulho e esperança em um futuro promissor para nossa cidade. Um futuro em que nossas crianças e adolescentes perimirienses possam ter acesso a livros…”, falou Ana Sheilla, voluntária do Coletivo BoraVer.
Para Ana Creusa Martins, presidente da ALCAP, cujo mandato encerrou brilhantemente com a inauguração da biblioteca, o espaço será um centro cultural na cidade de Peri-Mirim, promovendo atividades como consulta e empréstimo de livros, saraus, mediações de leitura e palestras. Ainda segundo ela, a instalação da biblioteca faz parte da expansão do Projeto Clube de Leitura Professor João Garcia Furtado, o qual visa fomentar o interesse pela leitura.
Após a solenidade a família doou para o acervo da biblioteca um quadro do Professor Taninho e professora Alda Ribeiro Corrêa doou o Testamento Emoldurado de Julieta de Almeida Castro Marques, esposa de Agripino Marques, patrono da ALCAP.
Com a instalação da biblioteca, a ALCAP reafirma seu compromisso em proporcionar recursos e espaços de promoção cultural.
Para marcar o evento, com chave de ouro, a confreira Nasaré Silva compôs um lindo poema em homenagem ao patrono da Biblioteca ALCAP, cujo texto segue abaixo:
Por Ana Creusa
A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), a Família Bordalo e representantes da Igreja Matriz São Sebastião em Peri-Mirim, promoverão hoje, 25 de maio de 2024, às 19 horas, a Solenidade da Saudade em homenagem ao imortal da Academia, José Ribamar Martins Bordalo, que faleceu no dia 16 de novembro de 2023.
José Ribamar Martins Bordalo nasceu em 25 de maio de 1945, era filho de Jacintho Soares Ferreira Bordalo e de Maria das Mercês Martins Bordalo. Casou-se com Maria Tereza Duailibe Bordalo, deixando caudalosa descendência da qual era mentor físico e espiritual. Bordalo era um líder familiar amoroso que não precisava usar da força, ou de outra forma coercitiva para dirigir seus entes queridos.
Lembrou-me que, durante a minha permanência na presidência no Fórum em Defesa da Baixada (gestão 2017-2019), levei para o município de Peri-Mirim, o projeto Academias na Baixada. Bordalo foi um dos entusiastas para a criação da Academia. Cumpriu todas as formalidades, participou da escolha do seu patrono, disponibilizou a biografia do renomado médico perimiriense Dr. Manoel Sebastião Pinheiro, que foi escolhido como patrono da Cadeira nº 04 da confraria.
Finalmente, no dia 20 de maio de 2018 a confraria foi instalada com a eleição da primeira Diretoria Executiva e Conselho Fiscal, ocasião em que foram distribuídas as cadeiras, cabendo a Bordalo a Cadeira nº 04, em cuja posse ocorreu no dia 18 de dezembro do mesmo ano, em um evento digno de muitos aplausos – vários sites da Baixada divulgaram o evento. José Ribamar Martins Bordalo estava em companhia de familiares e amigos, cujo rosto irradiava a emoção digna de quem, de fato, compreendeu o valor da Academia para nosso município.
Salvo por razões plenamente justificáveis, Bordalo sempre participava das reuniões, cobrava a admissão de novos membros e elogiava o empenho da direção da ALCAP em tentar realizar com tão pouco! Esse era o acadêmico Bordalo: uma pessoa participativa que sempre trazia sua experiência para compartilhar com os mais jovens.
Durante o ano de 2023 tomamos conhecimento que o confrade estava com a saúde debilitada. Eu, porém, jamais imaginei que a sua partida estava próxima. Na última reunião sobre a realização do II Prêmio Naisa Amorim em 19 de maio, ele pediu que gostaria de falar durante a solenidade. Fora do Cerimonial, atendemos ao pedido dele. Sua fala foi de despedida, proferiu conselho sobre a União dos membros da entidade e da importância histórica da Academia para nosso município.
Acompanhamos a doença do confrade se agravar, o visitávamos na residência dos seus familiares em São Luís, ou em Peri-Mirim. Ao sairmos das visitas, nos confidenciávamos: “meu Deus, parece que o confrade não tem consciência da gravidade da doença”! Nossa preocupação era grande que essa esperança o fizesse sofrer mais …
E o estado de saúde dele oscilava. Havia dias que pensávamos que ele viveria muitos anos, fazia planos, falava do amor pela esposa, filhos, netos e bisnetos. Ele falava sobre o farto material que detém para lançar seu livro. Nosso sentimento era um misto de tristeza e alegria por aquela força interior, mas, que segundo a sua esposa, só se agravava.
Finalmente, em 16 de novembro de 2023 recebemos a fatídica notícia que o cérebro do confrade parou!
Porém, desde sempre soubemos que José Ribamar Martins Bordalo é imortal e que qualquer homenagem que façamos a ele ainda é pequena pelo Amor que ele dedicava à sua Academia e nós a ele. Sua obra será eternizada e nossa Gratidão se estenderá por gerações.
Dentre todas as sociedades, nenhuma há, mais nobre e mais estável, que aquela em que os homens estejam unidos pelo amor. Cícero
A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP) promoverá a eleição da nova Diretoria Executiva para o biênio 2024-2026. O processo eleitoral dar-se-á na Unidade de Ensino Artur Teixeira de Carvalho CEMA, às 19:00h de sexta-feira, dia 24 de maio de 2024, por votação secreta, ou por aclamação, no caso de cadastro de chapa única. Poderão votar e serem votados os membros efetivos aptos ao voto.
A votação destinar-se-á a eleger chapa completa, conforme artigos 21 e 32 do Estatuto da ALCAP, a saber: Presidente; Vice-Presidente; 1º Secretário; 2º Secretário; 1º Tesoureiro; 2º Tesoureiro e três Membros do Conselho Fiscal.
A atual presidente do sodalício, Ana Creusa Martins dos Santos, nomeou, por meio de Edital a Comissão Eleitoral, formada pelos acadêmicos: Edna Jara Abreu Santos, Jaílson de Jesus Alves Sousa e Jessythannya Carvalho Santos. A referida comissão conduzirá o processo eleitoral e proclamará o resultado da eleição. Próximo aos seus 06 (seis) anos de existência, que ocorrerá no dia 20 de maio do ano em curso, a ALCAP promoverá a terceira eleição.
Confira na íntegra o Edital:
Na última sexta-feira, dia 26 de abril de 2024, reuniram-se em Assembleia Geral Extraordinária, os membros da Sociedade em Defesa a Baixada Maranhense (Fórum da Baixada), para eleição da sua Diretoria (biênio 2024/2025) e Conselho Fiscal. A referida reunião teve início às 19:00 horas, sob a presidência de Wewman Flávio Andrade Braga, que na ocasião escolheu Deuzenir Costa Carneiro Szekeresh para secretariar a reunião. Após iniciadas as saudações aos presentes, o senhor presidente comentou sobre os projetos da sociedade que estão em andamento, bem como discorreu sobre a importância da união e solidariedade, a relevância da eleição para que os trabalhos do Fórum da Baixada, tenham êxito, e cada vez mais, fortalecer os laços de união, elevando as suas atitudes de forma a preservar a boa convivência, com base na lealdade, fraternidade e amor universais, bem como o sentido de trabalhar em prol da Baixada Maranhense, que deve ser entendida com humildade e estar sempre a serviço do Bem. A seguir, o senhor presidente apresentou a chapa que concorreu à eleição, CONTINUANDO A CAMINHADA, para o biênio 2024/2025 foram eleitos por aclamação: EXPEDITO NUNES MORAES, Presidente; ANTÔNIO VALENTE LOBATO,1º Vice-presidente; EDUARDO CASTELO BRANCO, 2º Vice-presidente; WEWMAN FLÁVIO ANDRADE BRAGA, Presidente de Honra; ANA CREUSA MARTINS DOS SANTOS, Presidente de Honra; JOÃO BATISTA MARTINS, Presidente de Honra; LAURINETE COSTA COELHO, 1ª Secretária; DEUZENIR COSTA CARNEIRO SZEKERESH, 2ª Secretária; VALMIR FERREIRA ABREU, 1° Tesoureiro; ALEXANDRE AYRTON MUNIZ DE ABREU, 2° Tesoureiro; CONSELHO FISCAL TITULARES: JOSÉ RIBAMAR GUSMÃO ARAÚJO; JOSÉ RIBAMAR AROUCHA FILHO e JOÃO MUNIZ SILVEIRA; CONSENHO FISCAL SUPLENTES: ANTÔNIO FRANCISCO DE SALES PADILHA; ANTONIO JOSÉ MARTINS e NÁRLON SANTOS SILVA.
Em seguida os eleitos foram empossados pelo presidente da assembleia que aproveitou para parabenizar os eleitos, desejando boa gestão e agradecendo a colaboração que recebeu em sua gestão como presidente da entidade. Em seguida a palavra foi franqueada ao presidente eleito e empossado Expedito Nunes Moraes, que agradeceu a todos pela sua eleição à frente do conceituado Fórum da Baixada, agradeceu a confiança depositada na chapa CONTINUANDO A CAMINHADA, que significa continuar um novo modo de caminhar, para perseguir o objetivo de ver a Baixada próspera e bela, com foco no empreendedorismo, agricultura, turismo, educação e cultura. Ficou convalidados todos os atos da Diretoria, deste o término do mandato em dezembro e esta data, para que surta todos os efeitos legais. O presidente eleito declarou que a nova gestão se empenhará para que a Baixada obtenha paz e prosperidade e que seja reconhecida no cenário estadual e nacional.
Por Zé Carlos Gonçalves
“A minha princesa querida”, como boa parte da Baixada, já nasceu com a vocação para “o sacrifício”. E, um dos maiores “desafios” sempre foi o livre ir e vir de seus filhos, que eram, e são, obrigados a enfrentar os maiores e mais absurdos “aperreios”. Antes e agora. Principalmente, no tocante a ir à capital.
OUTRORA, sem estradas, a aventura se apresentava uma verdadeira aventura. HOJE, com “as buracostradas e os ferrugiferrys”, a aventura se torna uma aventura mais “arriscosa”.
OUTRORA, “visitá a capitá” só pelos barcos. “O que não era pros fracos”. Ainda mais no período de estio, quando o sofrimento se fazia sentir mais intensamente. O campo seco, desconfiado, sentia o arrastar de pés, a buscar “o velho Armazém”, a se arrastar numa procissão, sem pressa e sem silêncio; e sentia, também, o arrastar dos carros de boi, numa cantiga chiada e persistente, a massacrar as suas entranhas. O rio, em sua sequidão, não descansava com o vai e vem insano de canoas e batelões, abarrotados de Baixadeiros, bodes, galinhas, porcos, gado, babaçu, farinha, arroz, medos e expectativas.
Isso era só o início. Já que, desde cedo, “começavam os preparativos”. “O balaio” era sagrado. Carne salgada e carne seca, para enfrentar a incerteza das marés e a certeza da fome. As maletas, prenhes de roupas novas, a exalar a naftalina, geralmente, iam ser “batizadas”. Era a primeira vez na Ilha. As mil encomendas, a consumir a paciência de quem se encarregava de levá-las, iam parindo cartas, cofinhos de farinha, embrulhos, sacas de arroz, dinheiro, ervas, cortes, tamancos, roupas, notícias, acompanhantes …
O apogeu, dessa saga, se dava, de verdade, no coração dos barcos, a exemplo do Boa Esperança, de Benedito Bitencourt, e do Bandeirante, de Franco Castro. Ali, tudo acontecia. “O empilhamento” de gente e de bichos; das mercadorias e do bodum, a exalar no abafadiço de tão exíguo espaço, que se multiplicava, à medida que se apresentava mais um e mais um. E o emaranhado de redes, a embalar a ânsia dos estômagos mais fracos, “tão abalados, refletidos em olhares perdidos e rostos amarelinhos, a baldear as tripas”, seguros apenas pelo limão, “enficado” nas mãos, como o mais fiel e seguro passaporte para o bem estar. E o aterrorizante medo, a enfrentar a monstruosidade da Pedra de Itacolomi, sempre desafiadora e cortante, pendurado na “única arma” infalível. E as “fortes e caladas rezas”, que uniam, num só credo, crentes e descrentes. E o pernoite se fazia quase eterno, na Ponta d’Areia, a esperar a boa vontade da lua. E “a cerca”, o terror de todo navegante, a embaralhar os ventos, na mais viva roda viva, faminta de quilhas e velas, “a toldar” o tão perto, mas tão distante, cais, a boiar lá, longe, como uma miragem, que chama, chama, chama.
HOJE … nos arrastamos nos buracos, que devolvem, debochadamente, os nossos votos, a nos arrastar em nossa sina, e penamos no Cujupi!
Que os Santos baixadeiros nos protejam!
Por Zé Carlos
A fim de promover o conhecimento acerca das vivências na região da Baixada Maranhense, o Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão promoveu, nesta segunda-feira, 8 de abril, a partir das 18h30, ao “Diálogos Baixadeiros”. Com apoio do Departamento de Eventos e concursos (DEC) e do Colégio Universitário (Colun).
José Carlos Gonçalves proferiu sua palestra de modo bem peculiar, com o tema: A Baixada de minhas saudades:
Essas quirança, dá licença, pr’eu mi abancá nêsti banquinho i levá um dedinho di prosa cunsêis.
Eo venho lá dais lonjura i mi vejo, sô, muito avexado di tá êntri só doutô. Num repareim nu meo modo di falá, né. Num tive a chance di istudá cumo vancêis, mais Santo Inácio di Gaiola mi abençoô foi muito i, pur conta disso, mermo beim di vagarzinho, inda consigo levá um pápu, numa boa. A mia maió percupação é nom falá muita asnêra.
Si vancêis mi permitire, vô mi apresentá. Eo sô u Zé, qui vim di lá, da Baixada, pra cá, pra istudá i sê doutô, mais ais iscadaria, ais ladeira, us esquisito bêcu i us misterioso mistéro da Ilha num deixaro, naum. Sô poeta!