LUA DE LOUCOS

Por Gracilene Pinto

Rola no céu uma lua clara e bela,
Que amarela e enfeita o meu quintal
Para o baile dos sonhos e quimeras
Da madrugada tranquila e irreal.

Reina em meu peito uma paz
Feita de encantos, sedução e fantasia.
Eu queria que a noite fosse longa
E que os sonhos não fugissem ao vir o dia.

Não sei qual é o mistério da lua cheia,
Que embriaga e seduz
Minh’alma aos poucos.

Talvez por que ela seja mesmo dos poetas,
Dos amados, dos amantes…
Enfim, dos loucos.

(Imagem Luar do Renascença em São Luís do Maranhão )

O Maranhão tem a maior Alíquota de ICMS do Brasil (22%) a partir 19 de fevereiro

A Lei 12.120/2023 aprovada em novembro de 2023, agrega um conjunto de medidas tributárias a entrar em vigorar a partir de 19 de fevereiro de 2024.

Com a aprovação da Lei 12.120/2023, foi alterada para 22% a alíquota média do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em substituição à alíquota de 20%. A partir do dia 19 de fevereiro, os produtos que eram tributados com a alíquota de 20% passam a ser taxados com a alíquota de 22%.

Para a entrada em vigor da alíquota média de 22% do ICMS o Estado do Maranhão observou, tanto princípio da anterioridade, quanto cumpriu o prazo de 90 dias antes da vigência do novo percentual.

Maranhão já havia elevado o imposto de 18% para 20% em abril de 2023, depois da cobrança ser aprovada em 2022. O reajuste, portanto, será de 4 pontos percentuais de 2023 a 2024. O Estado é o que mais elevou o percentual entre todos os 27 entes Federativos, demonstrou o Jornal Poder 360, conforme Tabela abaixo:

Fontes: https://sistemas1.sefaz.ma.gov.br/ e https://www.poder360.com.br/economia/maranhao-eleva-para-22-a-aliquota-do-icms/

PASSEIO PELA BAIXADA MARANHENSE

A Baixada no olhar de João Silveira*

Fui dar um pulo na Baxada,
Começando pur Arari,
Ondi cumi melancia
E travessei o miarim.
Passei drento de Vitória,
Mar num achei nada ali.
Ino in Garapé do Meio
Pro mode cumprá farinha,
Arresorvi i in Monção
Ispiá o que lá tinha,
E travessei pra Cajari,
Cidade piquinininha.
Peguei no rumo de Viana
Pra vê se um peixe eu cumia,
Mar de peixe num achei nada,
Lá só tinha carestia.
Daí rumei pra Penalva,

Lugar de boa cachaça,
Terra de bom pescadô,
Cabôco bom de tarrafa.
Num cheguei in Jacaré,
Pois num dava pra ir de a pé
E carro pra lá num passa.
Desci pa Pedo do Rosário,
Mar de lá tive que vortá
Pra incurtá o caminho
E por Matinha passar,
Pra mode cumê u’as mangas,
Qui é produto do lugar.
Seguindo no rumo da venta,
Em Olinda Nova eu parei,
Mas resorvi i adiante
E em São João armoceí.
Terra de caboco home,
Grandes criador de gado.

Lá tem muita gente grande,
Muito cabra indinherado.
Disimbargador e médico,
Já deu inté deputado.
Mar, dizem que a aligria
É quando o boi tá laçado.
Deichando São João Batista,
Pra São Vicente eu rumei,
Quiria cumê carambola,
Pena que num encontrei.
Num sei se num era tempo,
Ou foi um azar que eu dei.
Sai no rumo do campo,
Pra viage continuar.

Passei pur Bacurituba
Mar lá num quis incostar.
Fui inté Cajapió,
Tinha praga pra daná,
Vortei pur riba do rasto
Pra pernoitar in São Bento,
Cumeno um queijinho bom,
Saboreando um mussum
E arroz cum jaçanã dento…
Mar num achei nada disso
Pur lá in lugar ninhum.
Andei, andei… e só vi mermo
Um pução e muinto anum.
Pensei qui in Parmeirândia
Pudesse me arrumar.
Ou mesmo in Peri Mirim,
Qui diz qui é piquinininha,
Mar, eu acho qui né tanto assim.
Entonce, indo adiante
Fui batê in Bequimão,
Cidade bem cuidadinha.

Pur nosso amigo João.
Diz que tem té ponte nova,
Mar pur lá num passei não.
Dali, vortei pra Pinheiro
A princesa da Baixada,
Que, se num é das mais bela,
Mar é uma cidade arretada.
O seu povo todo é rico
E a cidade abastada.
Não pude dechá de ir
In Prisidente Sarney,
U’a cidade pequena
Que fica naquele mei.
Na sagrada Santa Helena,
Da bera do rio vortei.
Pur curpa da Geografia
Eu num fui ao litoral.
Nim Guimarães, Porto Rico,
Cururupu e Cedral,

Muinto meno in Central,
Qui já num son mar Baixada,
Sigundo os intelectual.
Me discurpe os cumpanhero,
Os verso de pé quebrado
I a viage mal’arrumada.
Tava sem tempo i dinhero,
Mar cum o peito apertado
De sardade da Baixada.

(*João Silveira é piscicultor, natural de Matinha – Maranhão, membro fundador do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM, utilizando o linguajar baixadeiro, presenteia seus conterrâneos com este significativo texto).

Presidente do FDBM, Expedito Moares, convida para reunião de Planejamento

“O desenvolvimento regional compreende um esforço das sociedades locais na formulação de políticas regionais com o intuito de discutir as questões que tornem a região sujeito de seu processo de desenvolvimento”. Rodolfo Alves Pena.

O presidente do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM) convoca para reunião de Planejamento que se dará com a assessoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/MA), nos seguintes termos:

Prezados Companheiros Forenses,

  1. REUNIÃO: DIREÇÃO DO FORUM/SEBRAE
  2. OBJETIVO: Traçar as Diretrizes básicas. (Diretrizes: servem para orientar a tomada de decisões e ações em determinada área, processo ou atividade. Elas têm como propósito principal garantir a qualidade, eficiência e segurança nas práticas desenvolvidas, além de promover uma uniformidade e padronização que facilitem a gestão e controle dos processos.), ou seja construir um Plano eficaz e possível;
  3. LOCAL: MULTICENTER SEBRAE ao lado do Centro de Convenções e Assembleia Legislativa;
  4. DIA E HORÁRIO: 12.01.24 (sexta feira), das 16 às 18 HORAS

Os nossos ancestrais, assim como nós, conviveram e convivem com os flagelos das secas e enchentes na nossa região por séculos. É possível solucionar isto? Eu acredito que sim. Como? Essa resposta é que pretendemos ter num ou vários em encontros com técnicos, estudiosos, nativos, gestores municipais, estaduais, federais, universidades, etc. A  ideia é definir um Plano para execução a curto, médio e longo prazo. Esse plano deverá fazer parte do Plano de Estado.

De posse desse Plano teremos resposta para, entre outras coisas, responder perguntas que há pouco foram feitas pelo nosso Governador aos baixadeiros: “…digam o que eu posso fazer?”. Porém, os nossos representantes, também, não sabem. E nem nós sabemos responder como podem ser feitas obras estruturantes de que necessitamos. Só sabemos que temos que apresentar um Plano, Programa e Projeto, para isso temos que nos dispor a formulá-los, pois:

O PLANO 

É mais abrangente e geral;

Deve contemplar as linhas políticas, estratégias e diretrizes;

Marco de referência para estudos setoriais e/ou regionais para subsidiar a elaboração de programas e projetos específicos;

Deve sistematizar objetivos e metas;

Deve contemplar os tipos e a magnitude dos recursos humanos, físico e instrumentais indispensáveis, acompanhados, sempre que possível, de cronograma;

Deve atribuir responsabilidades de execução, controle e avaliação dos resultados;

Deve especificar as fontes e/ou modalidades de financiamento;

Maior nível de agregação de decisões.

PROGRAMA 

É o desdobramento do plano;

Os objetivos setoriais do plano constituirão os objetivos gerais do programa;

Permite projeções mais detalhadas;

Deve conter a estratégia e a dinâmica de trabalho a serem adotadas para a realização do programa;

Contempla as atividades e os projetos que comporão o programa, bem como os recursos humanos, físicos e materiais a serem mobilizados.

PROJETO 

Sistematiza e estabelece o traçado prévio da operação de um conjunto de ações;

Proposição de produção de algum bem ou serviço, com emprego de técnicas determinadas, com a finalidade de obter resultados definidos em um período temporal específico e conforme limite de recursos;

É a menor unidade do processo de planejamento;

Executa empreendimentos mais específicos;

Deve haver simplicidade e clareza na redação e

Descreve cada operação da ação.

Para tanto, necessitamos de ajuda profissional. Nesse sentindo contamos com a ajuda do SEBRAE, nosso parceiro que nos reuniremos no dia 12/01/2024 (sexta-feira), para início à elaboração dos referidos documentos.

Respeitosamente,

Expedito Moraes

Presidente do FDBM

CRIANÇA DIZ CADA UMA! (… ôndi ais pata tomo?!)

Por José Carlos Gonçalves

Há uma fase da criança, que acho fantástica. Logo que ela começa a falar e começa a entender o que acontece ao seu redor; a se defender de nossas neuroses; a curiar tudo aquilo, que não temos a capacidade de responder.

E, muitas vezes, ficamos “apertados”, como bem diz “o cabôco”. Sem saída, sem respostas, sem ação.
Deixo claro que falo da inocência, da criança, pura e sublime, que, em geral, nos recolhe ao silêncio, sem resposta, e nos deixa abatidos, sem chão e sem norte.

Não considero, aqui, a falta de educação, tão em voga, nestes modernosos tempos, resultante da degeneração da família, que “solta” a sua criança, de forma absurdamente irresponsável, ao léu, a desafiar todos, para sofrer só as amarguras da vida, mais tarde. E, de verdade, tenho observado algumas situações críticas em conversas, em filas de supermercados, em shoppings, em salas de aula, em aniversários, em festinhas escolares … Até cansei! Mas, jamais me canso de me revoltar ante o domínio da criança mal formada, a desafiar pais e mães, ausentes, que, com “uns sorrisinhos amarelos”, se perdem em suas irresponsabilidades.

Bom, não é este o real motivo da crônica. Louca explosão! Descambei na “vibe” do texto! Que o desabafo fique como uma revolta minha, em que tenho certeza de que não estou sozinho!

Voltemos! Voltemos! Falemos de situação, como a que passou um velho companheiro de boêmia, que repreendeu a sua “filhinha” de três anos e uma desconcertante resposta recebeu. Isso, depois da “menininha” o olhar com o cinto na mão e o “medir”, da cabeça aos pés, em seu um metro e oitenta. Agarrou-se-lhe às pernas e mandou direto e certeira. “Paizinho, tu é um gigante; eu, só uma piquinininha!” Besta! Que cacetada! Os seus braços ficaram bambos … e o que dizer do coração! Só sei que os olhos fugiram, e um gole seco lhe veio atravessar a garganta. Estava, definitivamente, vencido.

Essa é a inocência maravilhosa! Espetacular! E vitória da perspicácia infantil! Como a de uma criança, que deixou a mãe “incabulada”,diante de um pedido, incompreendido. É importante deixar claro que a mãe “talhava” uma blusa. “Filhinha, traz a tesoura, para eu cortar um dedinho, aqui”. A pergunta veio fulminante, junto com a tesoura e a mãozinha bem aberta. “Qual deles, mãezinha?!”

Já comigo a situação foi mais “difíci”. A curiosidade dos meus cinco anos me levou à ira da mamãe. Vou contar.

O meu avô Antônio do Rosário me chamou e me mandou, à casa de “seu’ Zé de Cristina, comprar banana maçã, que era a fruta de sua preferência. Quando cheguei lá, Cabo Isidoro “estava passando” e, “brincando”, perguntou a “seu” Zé. “Cumpâdi aquêli rapaiz já apareceo?!” “Seu” Zé lhe “respostou”. “Si êli aparecê, vô mandá é êli tomá ôndi ais pata tomo!”

Nunca, nunca, havia escutado essa expressão. Deixei as bananas e “vazei pra casa”. “Us ôios aceso, tinindo di curioso”. “Como um raio”, entrei na cozinha e, também, mandei direto e certeiro para mamãe. “Mãi, u qui é tomá ôndi ais pata tomo?!” Como um verdadeiro “raio”, as patas não tomaram, mas eu “tomei foi” um cascudo, e “bem criado”, na Baixa do Gedeão, acompanhado de “arguns ilugius”. “Piqueno seim vergonha, ôndi foi qui tu aprendeo isso?! Tu aprêndi só u qui num presta!” E outras coisitas mais.

“Foi uma luta danisca, e inglória pra eo ixpricar”. E, o pior, foi ela querer entender. O certo é que ainda passei bom tempo, “incucado” com isso. Tinha medo e vergonha de perguntar a alguém. “Vai qui ‘tomasse” outro ou outros cascudos, né?! Esses, sim, sabia eu que “tomava!”

A SECA NA BAIXADA, O DESAFIO ANCESTRAL

Foi amplamente divulgado pela imprensa que, neste ano de 2023, ocorreu a maior seca dos últimos 10 anos na microrregião da baixada maranhense e causou a morte de milhares de peixes. Para os baixadeiros, esse fato é uma tragédia anunciada e provocou debates sobre a necessidade de construção dos Diques da Baixada, que ajudariam combater os efeitos da seca inclemente.

A ideia é compor uma COMISSÃO para elaborar a pauta para um SEMINÁRIO ou coisa parecida onde técnicos, estudiosos da Baixada e outras instituições públicas e privadas, prefeitos, técnicos do Governo, principalmente da área de infraestrutura, meio ambiente, etc. Nesse sentido, o presidente do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM), Expedito Morais, compilou as sugestões abaixo:
  1. As ideias e ações discutidas e implementadas até agora no território da Baixada não foram suficientes para evitar tragédias como essas. Até porque, são intervenções (obras) localizadas e normalmente sem uma metodologia construtiva adequada;
  2. Não existe até a presente data consenso entre os baixadeiros, técnicos, estudiosos e poderes públicos  sobre os tipos de ações possíveis de serem  implementadas  e capazes de corrigir estes ciclos de escassez de água ou de excesso;
  3. Os DIQUES DA BAIXADA,   BARRAGENS DE ENSEADAS, AÇUDES, TAPAGENS – como alguns pensam, não serão a solução que a Baixada necessita. São de fundamental importância como parte de um conjunto de intervenção que provavelmente pode e deve acontecer;
  4. Não vamos encontrar a forma de superar este ancestral desafio se não formos capazes de envolver todos os atores numa elevada discussão técnica, científica, para definirmos um Plano de ações concretas, razoáveis e possíveis;
  5. Esta PRESIDÊNCIA está disposta a organizar este debate em ambiente apropriado e presencial. Não é possível tal discussão via WhatsApp;
  6. Vamos formar uma comissão Organizadora e
  7. O GOVERNADOR BRANDÃO quer saber o quê, como e quando podem ser feitas essas obras. Em conversa com EDUARDO e outros, demonstrou sua preocupação. Então, vamos às soluções. Será nossa grande oportunidade.
Expedito Moraes
Presidente do FDBM

Diques da Baixada na ponta da língua

Por Alexandre Abreu

A fim de dirimir eventuais dúvidas acerca da importância do projeto Diques da Baixada Maranhense, Alexandre Abreu, engenheiro civil e membro destacado do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense, escreveu este esclarecedor artigo.

O projeto Diques da Baixada prevê a construção de 71 quilômetros de diques, abrangendo os municípios de Viana, Matinha, São João Batista, São Vicente Férrer, Cajapió, São Bento e Bacurituba. A obra consiste em um sistema de diques e vertedouros, em sentido paralelo à margem da baía de São Marcos. Quem conhece bem a realidade social da Baixada sabe do grande alcance social e do impacto positivo desse projeto para a nossa microrregião. Sem exagero, ele representa a redenção dos municípios abrangidos, com melhoria imediata no IDH da população rural beneficiada.

Os objetivos fundamentais do Sistema de Diques da Baixada são: a) proteção das áreas baixas contra a entrada de água salgada pelos igarapés, decorrente das variações da maré, protegendo assim os ecossistemas e os mananciais de água dessa região; b) contenção e armazenamento de água doce nos campos naturais durante a estação chuvosa, retardando assim o escoamento para o mar, sem alterar, no entanto, as cotas máximas naturais de inundação; e c) aumentar a oferta da disponibilidade hídrica em boas condições durante o ano, para usos múltiplos.

O material a ser usado nessa construção é basicamente barro do campo que será retirado ao longo do caminhamento da construção. Serão utilizados também a piçarra para a crista da barragem e o concreto para a construção dos vertedouros.

Serão construídos 23 vertedouros que permitirão o controle da lamina d´água, bem como a velocidade do escoamento das águas do campo. Com a retirada do material ao longo da construção para a execução dos diques, será criado um canal de aproximadamente 1,5m de profundidade e largura variando de 30 a 40m, que acompanhará toda a extensão da construção, permitindo o tráfego de pequenas embarcações (canoas etc) além de servir como reservatório de água doce, propiciando a pesca de peixes nativos durante todo o ano.

Os campos da Baixada não ficarão permanentemente cheios. O ciclo existente hoje será preservado, os campos continuarão possuindo a época da cheia e a época de seca, apenas o ciclo de cheia se prolongará por mais tempo beneficiando toda a região.

Com a construção dos diques, o SEBRAE pretende desenvolver arranjos produtivos para favorecer a agricultura familiar, pecuária, piscicultura, pequenas criações, além de inúmeras outras oportunidades para melhorar a vida dos moradores que serão diretamente beneficiados.

Veja maiores informações sobre o Projeto Diques da Baixada.

“TESOS E ENSEDAS” E OS DESAFIOS DA BAIXADA

Por Expedito Moraes

A Baixada Maranhense corresponde à região do entorno do Golfão, caracterizada por relevo plano a suavemente ondulado contendo extensas áreas rebaixadas que são alagadas durante o período chuvoso, dando origem a extensos lagos interligados por um sistema de drenagem com canais divagantes, associados aos baixos cursos dos rios Mearim, Pindaré e Pericumã.

Constitui um ambiente rebaixado, de formação sedimentar recente, ponteado de relevos residuais, formando outeiros e superfícies tabulares cujas bordas decaem em colinas de declividades variadas. Os lagos transbordam durante o período chuvoso e servem como vias de comunicação entre as cidades e os povoados, substituindo parcialmente as estradas. Durante o período seco, o cenário hídrico transforma-se em grandes extensões de campos ressequidos. O desafio é encontrar uma situação de equilíbrio nesta região que poderá ser muito rica. Uma delas seria a ligação entre os “TESOS” atravessando as imensas “ENSEADAS”.

Postado em 2013. Fonte: https://fdbm.org.br/tesos-e-ensedas-e-os-desafios-da-baixada/

JOSÉ VIVIA NA GRAÇA

Por Ana Creusa

O apoio das leis da natureza é o estado de graça. (Deepak Chopra).

Banho tomado. Barba feita. Perfume exalando. Lá estava ele, pronto para mais um baile, em que fora formalmente convidado[1]  pelo dono da casa.

Sentindo um leve remorso, por deixar seu irmão João Pedro em casa e, por cima, ainda ardendo em febre, apesar dos chás que lhe preparava a irmã Maria Santos.

Papai falava com tio João Pedro:

– Acho que não devo ir, e se você não melhorar?

– Já estou melhor, Zé, repetia o irmão enfermo.

Papai percebia que aquelas palavras eram apenas para que ele pudesse ir ao baile em paz.

Papai colocava a mão no pescoço do irmão e nada de a febre aliviar, estava igual brasa. Parecia até que a temperatura havia aumentado.

Mas afinal, o que ele poderia fazer? Maria estava cuidando do irmão. Poderia sim, ir ao baile tranquilamente.

Era inverno. Acondicionou sua roupa bem passada em uma caiambuca[2] e saiu, sempre conversando com o irmão que repetia:

– Vai, Zé, eu já estou melhor.

Na saída da casa na Jurema[3] existia um palmeiral[4] que se movia com a ação do vento, fazendo um barulho assustador.

Papai saiu em meio àquelas palmeiras. Logo percebeu que um temporal se avizinhava. Tinha a sensação de que as árvores cairiam naquela hora.

Voltou para casa correndo para que aquela situação melhorasse.

Conversou com o irmão enfermo que estava sentado na rede de dormir. Não chegou a chover. Era apenas uma ventania.

Na terceira vez que saiu de casa para ir à festa, novamente a tempestade se formou e José voltou para casa. No caminho de volta decidiu que não iria mais àquela festa, que não deveria mais insistir. Quem sabe o seu irmão pudesse piorar.

Naquela festa no Povoado de Poções o seu grande amigo Raimundo de Genoveva que atendia pela algunha de Raimundo Lagarto[5] foi duramente espancado, sofreu açoites de cassete e facão. Ficou muito doente e, dias depois, veio a óbito.

A conversa no dia seguinte era que os inimigos de Raimundo Lagarto iriam primeiro matar José Santos, para que o caminho ficasse livre para eles poderem matar seu amigo.

José Santos sabendo dessa história, não teve dúvidas: todos aqueles eventos, doença do irmão e tempestade, o livraram da morte naquele dia.

Sempre pensava como teriam ficado seus irmãos se ele fosse assassinado? Com essa experiência, ele jamais insistia. Seguia sua intuição, que ele tinha certeza de que vinha de Deus.

Papai tinha o hábito de não insistir, não teimar, não “forçar a barra”, viva na Graça. Cultivava a sua intuição.

Não raro, formávamos uma viagem, arrumávamos tudo e quase na saída, ele dizia:

– Eu não vou mais.

– Como assim? Já estamos prontos, já compramos a passagem!

Ele repetia:

– Eu não vou mais.

Os habituados àquela situação nem mais instigavam. Alguns queriam explicação:

– Por que o senhor não vai mais?

Ele não explicava, apenas desistia e procurava concentrar-se em outra coisa. Viagem desfeita. Negócio inconcluso.

Assim vivia meu pai: na Graça. Surfava na onda. Deixa a vida o levar. Sem pressa. Obedecia aos comandos da sua intuição e ponto final.

Ele contava a origem desse comportamento que ele definia como obediência a Deus. Foi exatamente no dia da festa em que seu irmão João Pedro estava doente e seu amigo foi morto que, após vários sinais, ele resolveu entender que não era para ele comparecer àquela festa em que estava preparado o seu assassinato.


Para mais detalhes sobre o personagem principal desta história, leia a Biografia de José dos Santos.

[1] O convite para os bailes era requisito essencial.

[2] Era costume à época acondicionar roupas em caiambuca para proteger da chuva.

[3] Refere-se ao Sítio Jurema no Povoado Cametá (ou Cametal) onde residia José Santos e seus irmãos.

[4] Área que possuía muitas palmeiras de babaçu antigas, por isso, eram bem altas.

[5] Eu havia esquecido o nome do amigo de papai, tio João Pedro confirmou o nome Raimundo de Genoveva era irmão de Dionísio.

João Pedro dos Santos

Nasceu em Peri-Mirim/MA, em 19 de dezembro de 1927. Filho de Antônio Almeida e de Ricardina Santos.  É o único dos guerreiros da Jurema que ainda está entre nós. Seus irmãos são Maria; Zoelzila; José; Alípio; Antônio; Izidório e Manoel.

João Pedro tem o nome do pai do seu avô materno. Após a morte de sua mãe, ele era o homem de confiança de José dos Santos, com quem dividia o trabalho que possibilitava a subsistência da família. Ele também era exímio lutador, sempre sob a supervisão do irmão.

Estudou no Feijoal, com a professora Nasaré Serra.

Aos 22 anos partiu para São Luís, capital do Estado, em busca de uma vida melhor, trabalhou no Café Paulista, que ficava na esquina da Rua de Santana. Ele se encarregava de levar café torrado para a Rede Ferroviária Federal que ficava na Praia Grande. Morava em quartos alugados. Depois trabalhou na fábrica do Sabão Martins e depois no escritório da Petrobrás.

Retornou para Peri-Mirim, mas não demorou. Voltou a São Luís e de lá para Coelho Neto, a convite do amigo Raimundo Baleia. A viagem era longa e cansativa, por via férrea até Caxias.

Em Coelho Neto, casou-se em 18/08/1959 com a bela jovem Liseneide, com quem teve dezesseis filhos, dos quais treze estão vivos.

Da união nasceram: Manoel Bastos dos Santos (in memoriam); Francisco das Chagas Bastos dos Santos; Íris Ricardina dos Santos Lima; Sueli Bastos dos Santos (in memoriam); João Bastos dos Santos; Maria do Socorro Bastos dos Santos; Iranilda Bastos de Paula; Renato Bastos dos Santos; Reginaldo Bastos dos Santos; Marisa Bastos dos Santos Magalhães; Maria José Bastos dos Santos; Raimunda Bastos dos Santos; José Mário Bastos dos Santos; João Paulo Bastos dos Santos (in memoriam); Raquel Bastos dos Santos e Ivanice Bastos dos Santos.

A força de João Pedro está na limpidez do seu caráter; na originalidade de sua alma; na personalidade dividida entre o bom humor e a inteligência ímpares.

Aniversário de 96 anos (19/12/2024)

Aniversário de 97 anos
(19/12/2024)