NATUREZA INTELIGENTE: Fruteiras nos quintais… É COISA NOSSA!

Por Gracilene Pinto

A jaqueira velha tinha mais de cem anos. Foi plantada pelo meu avô. Como acontece com os idosos, já caducava. Continuava a frutificar, mas seus frutos, de tamanho regular, não continham mais do que quatro ou cinco bagos. Grandes e doces, mas muito poucos, porque o resto todo era de bagos secos.

De passagem por São Vicente convidei minha tia Morena para um passeio pelo quintal e seu grande pomar em pleno centro da cidade.

Caminhávamos entre árvores antigas e outras mais novas, passando por alguns espécimes que quase ninguém planta mais, tais como: carambola, laranja da terra, laranjão, peruana, ginja, etc., quando, para meu espanto e consternação, deparamos com a velha jaqueira que, carregada de frutos, jazia arriada no chão, com uma parte das raízes expostas, parecendo haver cedido ao cansaço de um século de existência.

Tia Morena explicou-me que a secular e copuda árvore tombara ante a força do último vendaval. É que, em São Vicente Férrer, devido ao calor excessivo, de vez em quando o vento se irrita e sai furioso a redemoinhar maltratando a vegetação e fazendo estragos por onde passa. Dessa vez a jaqueira velha foi a inocente vítima. Acrescentou minha tia, que estava esperando somente a carga de frutos madurar para mandar cortá-la. Tivemos esse diálogo diante mesmo da sua copa arriada no chão. Depois seguimos nosso caminho, um pouco mais tristes ante o trágico destino da pobre árvore.

No ano seguinte, ao voltar em São Vicente, ainda encontrei a jaqueira no mesmo lugar e questionei minha tia querendo saber o que a fizera mudar de ideia quanto a decisão de cortá-la. E tia Morena contou que nesse ano a safra de jacas surpreendeu a todos. Os frutos não tinham lugar para bagos secos. Estavam todos cheios de amarelos, suculentos e enormes bagos doces como mel. Quem teria coragem de cortar uma fruteira tão prolífera e dadivosa, mesmo caída no chão?!

E a pergunta é: será que a jaqueira velha escutou, e entendeu, a nossa conversa?

(Texto de Gracilene Pinto – imagem São Vicente Férrer – Maranhão – Brasil na primeira metade do Século XX).

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