PLANTIO SOLIDÁRIO: Academia de Peri-Mirim planta árvore em homenagem à sua patrona

Por Ana Creusa

A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP) lançou o projeto intitulado: Plantio Solidário “João de Deus Martins”. A primeira etapa do projeto prevê que cada membro da ALCAP deverá plantar uma árvore duradoura em homenagear ao seu patrono.

Para representar a patrona da Academia e da Cadeira 01 da ALCAP, Naisa Amorim, foi escolhida a Sumaúma ou Samaúma (Ceiba pentranda), árvore conhecida pela sua grandiosidade e beleza. A árvore foi plantada na entrada da cidade, na Praça Simpatia. O casal João Simpatia e dona Raimunda são os padrinhos da planta, destinando os cuidados necessários para que ela cresça e floresça naquele lugar especial.

Árvore rainha da Amazônia, gigantesca e sagrada para os maias e povos indígenas. Pode chegar a 50 metros de altura e viver cerca de 120 anos.

É das famílias das Malvaceae, encontrada em florestas pluviais da América Central, da África ocidental, do sudeste asiático e da América do Sul. No Brasil, ela ocorre na região da Amazônia, onde existe também uma ilha denominada Sumaúma, no rio Tapajós. Suas gigantescas raízes, são chamadas de sapopemas (palavra do tupi que significa raiz chata).  Conhecida como a “árvore da vida” ou “escada do céu“. Os indígenas consideram “a mãe de todas as árvores“.

Curiosidades sobre a Sumaúma

Seus frutos são cápsulas amareladas de 5 a 7 centímetros de diâmetro, por 8 a 16 cm de comprimento, onde cada uma pode conter de 120 a 175 sementes, envoltas em uma paina (fibra natural semelhante ao algodão), de características leves, brancas e sedosas.

Das sementes também pode se extrair o óleo que, além do uso alimentar, é usado também na produção de sabões, lubrificantes e em iluminação, além de ser eficiente no combate à ferrugem. Rica em proteínas, óleo e carboidratos, a torta das sementes serve de ração para animais e como adubo.

A fibra natural que envolve os seus frutos, é utilizada como alternativa do algodão, usada para encher almofadas, isolamentos e até colchões.

A samaúma também possui propriedades medicinais Da seiva da sumaúma é produzido medicamento para o tratamento da conjuntivite. A casca tem propriedades diuréticas e é ingerido na forma de chá, indicado para o tratamento de hidropisia do abdômen e malária. Certas substâncias químicas extraídas da casca das raízes combatem algumas bactérias e fungos. Em margens de riachos secos, as raízes descobertas da sumaúma fornecem água potável no verão.

Quanto à sua veneração, de acordo com a sabedoria da floresta, na base da sumaúma há um portal, invisível aos olhos humanos que conecta esta realidade com o universo espiritual. Os seres mitológicos das matas entram e saem por esse portal.

A muda de Sumaúma foi plantada, por membros da ALCAP, em 09 de março de 2024 na entrada da cidade de Peri-Mirim, na Praça  Simpatia,  em homenagem a Domingos Raimundo Gonçalves (in memoriam, vulgo simpatia. A muda foi plantada pela gestora do Projeto, Ana Cléres Santos Ferreira, a semente foi coletada de uma árvore localizada no bairro do Outeiro da Cruz em São Luís, que já é tombada pelo município.

Fonte de pesquisa: https://portalamazonia.com/amazonia/conheca-a-arvore-rainha-da-amazonia-a-gigantesca-sagrada-sumauma.

TATACHI (… a comida, que não é japonesa, e precisa de farinha)

Por Zé Carlos Gonçalves

Na semana passada, na fila de um self service, uns jovens estudantes vieram chegando com a algaravia que lhes é peculiar. Muita alegria. Querendo chamar a atenção. O tom de voz alto, incomodativo. E, sempre, alguém tentando levar vantagem sobre o outro. O que, “no meu tempo de escola”, se chamava “fobar”.

O certo é que queriam se mostrar, ali, como os maiores entendedores de comida. E, nós sabemos bem o que é isso. “Querer se aparecer!” Afinal, quem nunca chamou a atenção para si, que atire “a pedra”. A segunda, a terceira … ou qualquer outra pedra.

E, como não podia ser diferente, condenaram a comida, toda, que estava disposta nas cubas. Viam com desmedido desdém até os demais clientes.

O clima não era dos melhores, mas … Mas, a conversa daqueles jovens aguçou-me os ouvidos, ao descambar para um desfecho, hiper,  super, por demais fantástico. E, não duvidem.

A mais jovenzinha, “uma magricela”, que mais gritava que falava, veio  desfilando uma fileira de pratos japoneses. Juro que só conheço, e de nome, sushi. Mas, saiu sashimi, tempurá, guioza, hamuraki, missoshiru, temaki … Eita, Santo Inácio de Loiola, fiquei “de boca aberta”, com tanta novidade! E não foi de vontade!

E, não poderia ser de outra forma. Eu, “como todo baixadeiro da gema’, conheço é comida de verdade. “Cará pitanga e peba, piaba, jandiá, tarira, sarapó, baguinho, cabeça gorda, camuri, jeju, bucho de sarro, pampo, cascudo, bodó, jurará, galinha, pato, catraio, carneiro, leitão, bode e vaca! É, séro! E, a mais verdadeira da mais verdadeira comida”. Arroz, feijão, ovo frito, banana e farinha!

A verdade é que cada um foi “se amostrando” mais. Um desfilar comida, que não “me arrisco” a escrever, quanto mais pronunciar. Se tentar, com toda certeza, “quebrarei a minha língua”. Só em pensar. Misericórdia! Até parece “nome” de remédio, super amargo! Aquele, que “revira a boca do estômago!”

Bem poderia acabar a narração aqui; mas, se tal fizesse, estaria sendo leviano. Há mais “algumas coisinhas”.

Um dos jovens, à medida que seus amigos “fobavam”, ia se retraindo. A minha atenção já se concentrava só nele, que estava desconfortável. E, para piorar a sua situação, “um desassuntado” lhe pediu que falasse a sua comida preferida. O tímido “cabra” suou com vontade. Mas, de repente, a todos surpreendeu. Mandou direto e certeiro. “Lá, em casa, mamãe só faz pra mim é tatachi”.

“Tatachi?! É comida japonesa?! Não conheço. Nunca ouvi falar”. Em pura inocência, se manifestou “a magricela”.

“Rá, rá, rá. Tatachi … Mamãe solta o ovo do alto, e, com a colher, ‘tá… tá …!’ Ele cai na frigideira e faz ‘chiii!” Tá … tá … chiii!

A gargalhada foi geral.

Eu saí dali feliz, “pela vitória do rejeitado” e por acrescentar mais “uma semântica” a “ovo frito”. Agora, tenho o repertório mais rico. “Bife do olhão, ovo estralado, estrelinha, tatachi, disco voador!”

E, não fica só nisso. Em minhas andanças, dando curso no interior do estado, ouvi, mais de uma vez, “filé de pobre” e “bife de toda ocasião!” Agora, só faltou a farinha!

BAIXINHO INVOCADO: Peixe minúsculo gera ruídos de 140 decibéis

Tamanho não é documento. Nas profundezas dos riachos de Mianmar, na Ásia, reside uma criatura notável de cerca de 12 mm, trata-se de um peixe que possui capacidade surpreendente de produzir sons de intensidade equivalente a um tiro – que ultrapassam com folga, um show de rock ou as sirenes de ambulâncias e viaturas policiais. Continue reading “BAIXINHO INVOCADO: Peixe minúsculo gera ruídos de 140 decibéis”

A MENTE DAS ABELHAS

Por Mauricio Brum e Bruno Garattoni

As abelhas sabem contar. Medem distâncias e horários, aprendem a usar ferramentas, transferem conhecimento aos descendentes – e também brincam, por puro divertimento. Podem até ser capazes da chamada metacognição: a habilidade de refletir sobre si próprio. Continue reading “A MENTE DAS ABELHAS”

A verdadeira história do “milagre” de Paulo Freire

Por Eli Vieira*

O conto de fadas “O Alfaiate Valente”, história popular alemã com primeira aparição impressa em 1557 e recontada pelos irmãos Grimm e Walt Disney, tem como título alternativo “Sete de uma tacada só”. É porque o protagonista, ao servir geleia, mata sete moscas de uma vez. Ao sair pelo mundo contando a história, as pessoas entendem que ele se referia a sete homens ou sete gigantes, começando assim uma trama de mal-entendidos em que as capacidades do alfaiate são exageradas.

Trama similar aconteceu com o professor pernambucano Paulo Freire (1921-1997), declarado patrono da educação brasileira por uma lei de 2012. Como contou o Ministério da Educação na época, Freire, em 1961, quando diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade de Recife, “montou uma equipe para alfabetizar 300 cortadores de cana em 45 dias” no município de Angicos, no Rio Grande do Norte, na época com 75% de taxa de analfabetismo. O método de Freire seria audiovisual e fonético, com uso pioneiro de projetores de slides e palavras comuns para o vocabulário da própria comunidade.

Mas o designer Cícero Moraes, em um artigo em pré-publicação postado na rede social acadêmica ResearchGate, lança dúvida nos números e métodos. Os formandos do curso “na verdade eram 122” e os alunos não foram plenamente alfabetizados, só “aprenderam a escrever o nome, ler e escrever algumas poucas palavras”. Em conversa com a Gazeta do Povo, Moraes, que tem experiência em ensinar computação gráfica desde 2001 e ensina técnicas avançadas de planejamento cirúrgico para pessoas de 27 países, diz que leu Paulo Freire ainda na graduação e sempre achou a abordagem do educador “pouco objetiva e pouco útil”.

Na publicação, o designer de Sinop (MT) — que se especializou em produzir modelos tridimensionais e entrou para o livro Guinness em 2021 após reconstruir um casco artificial para um jabuti vítima de um incêndio — vai além. O projeto de Paulo Freire não teria acabado por causa da repressão política da Ditadura Militar (embora Moraes não conteste que ele foi perseguido e tenha se exilado), mas por causa da “deficiência de material voltado à alfabetização e o excesso de politização das aulas”. Para o projeto de alfabetização, Freire, apesar de compartilhar do antiamericanismo dos colegas de ideologia, aceitou dinheiro do governo dos Estados Unidos porque seria, na sua visão, um recurso que “voltava ao Brasil” porque o último seria “explorado” pelo primeiro. Também houve apoio do vigário de Angicos, que cedeu espaço da paróquia católica para a empreitada. Os recursos americanos eram da iniciativa “Aliança para o Progresso”, da USAID (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional).

Trezentos de uma tacada só?
A revista O Cruzeiro, em sua edição 30 de 1963, conta que o presidente da República, João Goulart, deu a aula de encerramento do curso de Freire, a quadragésima hora-aula. “Trezentas pessoas inteiramente analfabetas aprenderam a ler e escrever em 40 horas de aula”, informou a revista, que curiosamente também alegou que o método de alfabetização preocupava “maus políticos e os comunistas”, apesar de Paulo Freire ser famoso por sua base marxista.

No mesmo ano, o New York Times noticiou o sucesso do programa de Freire abrindo uma reportagem com a história da mãe de seis filhos Maria Pequena de Souza, 32 anos, que verteu lágrimas ao conseguir escrever uma palavra. O jornal também destacou as meras 40 horas do curso, mas apontou que havia politização: “Enquanto aprendem a ler, os adultos ouvem que (…) ‘a reforma agrária é necessidade urgente’”. Outra aluna, a lavadeira Francisca de Andrade, teria escrito ao presidente que “não sou mais das massas, pertenço ao povo e posso defender meus direitos”, mencionando reforma agrária. O jornal americano já desmente em 1963 a informação do Ministério da Educação: “150 adultos completaram o curso e 135 foram considerados alfabetizados com base em testes escritos e cartas escritas ao presidente Goulart. Os alunos também foram avaliados quanto à consciência política”.

Cícero Moraes, contudo, usa outra fonte: o livro “As Quarenta Horas de Angicos” (Cortez, 1996), de Carlos Augusto Lyra Martins, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que coordenou os trabalhos pedagógicos em Angicos na época. Os dados fornecidos por Lyra mostram que a evasão estava alta no curso de Freire: uma semana e meia após o início, o número de presentes caiu pela metade, resultando em uma média de 115 alunos por dia. O número de monitores envolvidos, de 21, também parece ter caído para 14 nos diários de classe arquivados. É do livro o número 122, o total de alunos que fizeram a avaliação final.

Moraes não duvida que as aulas tenham dado uma injeção de ânimo para uma comunidade pobre e esquecida, mas questiona o método: “visto que a cada dia era ministrada apenas uma hora de aula e parte dela era tomada por debates, como os alunos teriam tempo e condições para aprender a ler e a escrever?” Ele faz uma comparação com o programa mais moderno do Instituto YDUQS, que “demanda 144 horas, ou seja, 3,6 vezes o período do projeto original de Freire”, habilitando os estudantes para usos simples da língua como uso de transporte público. A avaliação final em si teve problemas: os monitores rejeitaram os testes finais do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife e resolveram elaborar suas próprias avaliações. Foram duas provas, uma de alfabetização e outra de politização.

Um terço dos 122 não passou na prova de letramento. Mas o resultado da politização foi melhor, com 87% de aprovados. As duas notas então foram mescladas, fazendo com que a nota da politização puxasse para cima o resultado em alfabetização, o que o autor do artigo chama de “jeitinho brasileiro” para “aprovar um maior número de pessoas ao reduzir o peso da alfabetização… em um programa de alfabetização”.

Tinha como dar certo?
Cícero não está sozinho em seu ceticismo ao reavaliar a história de educador valente de Paulo Freire. “Ninguém cortava cana. Não se plantava cana em Angicos”, desmente o professor Ronai Pires da Rocha, doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor da Universidade Federal de Santa Maria e autor do livro “Quando ninguém educa: questionando Paulo Freire” (Editora Contexto, 2017).

Rocha conta que a cultura principal de Angicos era o algodão mocó, seguido por cabras, ovelhas, vacas e a fabricação de linha de costura. Ele cita como fonte o livro “40 Horas de Esperança: o método Paulo Freire” (Editora Ática, 1994), de Calazans Fernandes e Antonia Terra. A obra também afirma que os alunos do curso de Freire só começaram a tentar formar frases na 37ª hora das menos de 40 totais do curso. “Ao se aproximar do final do curso, os alunos começaram a dizer que não sabiam escrever ou que sentiam dificuldade de leitura, quando já haviam dominado as mesmas dificuldades em outras situações”, escreveram Fernandes e Terra. Os monitores interpretaram essas reclamações como uma forma de retardar o fim do curso para manter a relação afetiva que formaram com os mestres.

“As duas coisas eram verdadeiras, eu acho”, comenta Ronai Rocha. “Os alunos foram, a rigor, familiarizados com letras e palavras, aprenderam a assinar o nome e a ler coisas muito simples ligadas ao que havia sido trabalhado nas aulas”, resume o especialista, que já trabalhou com alfabetização de adultos.

“É muito difícil alfabetizar adultos e, a rigor, deveríamos fazer uma espécie de gradação nas habilidades que eles vão conquistando, sendo que o teste final ideal, de escrita de um bilhete, uma cartinha, com ortografia e sintaxe razoáveis, é bem demorado”, explica Rocha.

Concorda com Rocha a professora Simone Benedetti, autora do livro “A falácia socioconstrutivista” (CEDET, 2020), um apelo para uso de bases científicas para o letramento no Brasil. Ela imagina que é mais difícil alfabetizar adultos “dado o menor nível de plasticidade e especialmente se o adulto tiver problemas de processamento auditivo e fonológico”. Para ela, “45 dias parecem pouco” para a aquisição integral das competências de uma pessoa capaz de ler e escrever com fluência.

O método de Paulo Freire não é tanto de Paulo Freire
Independentemente, Benedetti e Rocha contaram à Gazeta do Povo que o método de Freire existe, mas que não é exatamente “dele”, dando cada um peças do quebra-cabeça histórico do desenvolvimento da técnica. Benedetti aponta que Freire “se ‘apropriou’ de uma ideia pedagógica de um missionário norte-americano chamado Laubach e, aqui no Brasil, essa ideia de usar palavras ‘significativas’ para o aprendiz misturou-se às ideias equivocadíssimas da Emília Ferreiro, o que resultou no que chamo de ‘desensino’, pois não se oferece informação explícita aos alunos sobre o funcionamento do código escrito e seus padrões”. Em vez disso, detalha a especialista, espera-se que o aluno faça suas próprias inferências sobre a gramática e a grafia. Essa abordagem “nunca funcionou”, mas seus defensores insistem que “nunca foi aplicada” ou “os professores é que não sabem trabalhar”. No entanto, “é apenas ela e somente ela que é ensinada nas faculdades de pedagogia do país”, lamenta Benedetti.

Outra fonte de Freire que caiu no esquecimento, informa Rocha, foi um “Livro de Leitura para Adultos”, uma cartilha elaborada pelas pedagogas Norma Porto Carreiro e Josina Godoy, elogiada efusivamente pelo famoso educador Anísio Teixeira em 1962, ano em que a equipe de Freire mandou uma estudante para coletar as 400 palavras mais usadas pelo povo de Angicos. “Considero essa cartilha a melhor cartilha para adultos analfabetos que, até agora, conheci no Brasil”, disse Teixeira em outubro de 1962, na época à frente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.

Freire soube da cartilha quando ainda estava sendo elaborada por Norma Carreiro e disse, numa reunião de funcionários do Movimento de Cultura Popular, da prefeitura de Miguel Arraes no Recife (1960-1963), que estava pensando na alfabetização de adultos, “mas sem cartilha”. A informação é do livro “MCP: história do Movimento de Cultura Popular” (CEPE, 2012), de Germano Coelho. O autor acrescenta que encorajou Freire a trabalhar na questão da alfabetização com as palavras do ditador genocida comunista Mao Tse-tung: “É preciso deixar florir mil flores”. O MCP era “laboratório de novos métodos e novas técnicas de ensino”, contou Coelho. As ideias desenvolvidas no livro mais famoso de Freire, “Pedagogia do Oprimido” (Paz & Terra, 2019) vieram só depois da cartilha para “iluminar a prática” com ideias políticas.

A obra relata que a ideia de Freire era dar cursos com inspiração na cartilha de Carreiro, mas sem entregá-la aos alunos. “Ou seja, ele pegou o bonde andando”, comenta Ronai Rocha, “e teve a sacada de fazer a coisa em pílulas, de forma mais participativa. Mas a Norma e a Josina ficaram esquecidas nessa história”.

Freire acabou sendo acusado de plágio, como ele próprio comenta em nota de rodapé do livro “Educação como prática da liberdade” (Paz & Terra, 2019): “nunca nos doeu nem nos dói quando se afirmava (…) que apenas fizemos ‘um plágio de educadores europeus ou norte-americanos’. E também de um professor brasileiro, autor de uma cartilha”. O educador se justifica: “a respeito de originalidade sempre pensei como [John] Dewey [filósofo americano], para quem ‘a originalidade não está no fantástico, mas no novo uso de coisas conhecidas’. O que nos deixa perplexos é ouvir ou ler que pretendíamos ‘bolchevizar o País’.”

O que explica a ascensão meteórica do alfaiate valente da educação?
Por que Paulo Freire se tornou tão célebre no Brasil e no mundo? Internamente, Rocha pensa que foi uma questão de conveniência:

“a grande promoção que o método teve estava ligada ao fracasso das leis que permitiriam o voto do analfabeto. Como a esquerda não conseguiu aprovar essas leis, a ideia era fazer uma alfabetização em massa e rápida. Esse contexto foi decisivo para que Freire tivesse o apoio governamental que teve”.

Nem todos os contemporâneos acreditaram na reputação ilibada do alfaiate valente da educação, informa Rocha. Francisco Julião Arruda de Paula (1915-1999), advogado atuante nas Ligas Camponesas do Partido Comunista Brasileiro que conviveu com Freire no exílio no México, escreveu com aparente sarcasmo que “nosso Paulo, barbado como um profeta, puxado a Buda, com sua mania de feijoada e seu modo de ser, sempre repousado e provincial dentro de seu universalismo, era uma flor de maracujá-peroba, porque chamava a atenção de todos!” Depois, no mesmo texto, parece ter mandado uma indireta a respeito de compatriotas “que eu mandaria à Lua na esperança de que a árida solidão os humanizasse e os fizesse sentir que fora da solidariedade não adianta que alguém bata no peito e diga: eu sou revolucionário! Eu sou marxista! Eu sou cristão”. Na época, Freire fora trabalhar para o Conselho Mundial de Igrejas e se dizia marxista e cristão. Outro militante comunista da década de 1960, Flávio Tavares, creditava a projeção do educador à generosidade dos comunistas.

No resto do mundo, Freire bateu recordes com 35 títulos de doutor honoris causa e já foi citado mais de 550 mil vezes no Google Acadêmico — mais que Albert Einstein e Charles Darwin. Mas céticos começaram a aparecer. No livro “A marxificação da educação: o marxismo crítico de Paulo Freire e o roubo da educação” (New Discourses, 2022; trad. livre, sem edição no Brasil), o matemático e ativista americano James Lindsay faz duras críticas ao brasileiro. O autor pensa que Freire “revela o suficiente de seu caráter pelos nomes que invoca repetidamente: Karl Marx, G. W. F. Hegel, Vladimir Lênin, Mao Tse-tung, Fidel Castro e, com lugar de destaque, Che Guevara. Poucos teóricos da educação (pedagogos), se algum, são mencionados, citados como referência ou aplicados”.


*Eli Vieira é biólogo, mestre em biologia molecular pela UFRGS e mestre em genética pela Universidade de Cambridge, Reino Unido. Escreve para o público em blogs desde 2007, ganhou em 2014 o Outreach Fund da Sociedade Europeia de Biologia Evolutiva, e suas publicações acadêmicas já foram citadas mais de 700 vezes. Colabora com a Gazeta do Povo desde 2020.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/

IBGE – O Maranhão segue com a pior renda per capita do Brasil

O IBGE divulga hoje os valores dos rendimentos domiciliares per capita referentes a 2023 para o Brasil e unidades da federação, calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua. O rendimento domiciliar per capita para o Brasil foi de R$ 1.893, variando de R$ 945 no Maranhão a R$ 3.357 no Distrito Federal.

Essa divulgação atende à Lei Complementar 143/2013, que estabelece os novos critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE e, em consequência, aos compromissos assumidos quanto à definição dos valores a serem repassados ao Tribunal de Contas da União (TCU) para o cálculo dos fatores representativos do inverso do rendimento domiciliar per capita.

O rendimento domiciliar per capita foi calculado como a razão entre o total dos rendimentos domiciliares (nominais) e o total dos moradores. Nesse cálculo, são considerados os rendimentos de trabalho e de outras fontes. Todos os moradores são considerados no cálculo, inclusive os pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos.

Os valores foram obtidos a partir dos rendimentos brutos de trabalho e de outras fontes, efetivamente recebidos no mês de referência da pesquisa, acumulando as informações das primeiras visitas da PNAD Contínua feitas no 1º, 2º, 3º, e 4º trimestres de 2023.

Rendimento nominal mensal domiciliar per capita da população residente, segundo as Unidades da Federação – 2023
Unidades da Federação Rendimento nominal mensal domiciliar per capita da população residente (R$)
Brasil                                                   1.893
Rondônia                                                   1.527
Acre                                                   1.095
Amazonas                                                   1.172
Roraima(1)                                                   1.425
Pará                                                   1.282
Amapá                                                   1.520
Tocantins                                                   1.581
Maranhão                                                      945
Piauí                                                   1.342
Ceará                                                   1.166
Rio Grande do Norte                                                   1.373
Paraíba                                                   1.320
Pernambuco                                                   1.113
Alagoas                                                   1.110
Sergipe                                                   1.218
Bahia                                                   1.139
Minas Gerais                                                   1.918
Espírito Santo                                                   1.915
Rio de Janeiro                                                   2.367
São Paulo                                                   2.492
Paraná                                                   2.115
Santa Catarina                                                   2.269
Rio Grande do Sul                                                   2.304
Mato Grosso do Sul                                                   2.030
Mato Grosso                                                   1.991
Goiás                                                   2.017
Distrito Federal                                                   3.357
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Pesquisas por Amostra de Domicílios, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua – 2023.
Nota (1): Em cumprimento ao Mandado de Segurança – Ação Judicial nº 1000261-89.2020.4.01.4200, o valor de Roraima é R$1.339.

A PNAD Contínua é uma pesquisa domiciliar, amostral, realizada pelo IBGE desde janeiro de 2012, que acompanha as flutuações trimestrais e a evolução da força de trabalho, entre outras informações necessárias para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do país.

CENAS DO COTIDIANO XXIII (… si é pra piorá, piora!)

… há muito, defendo que vivemos uma involução cultural violenta, que vem se tornando irreversível. E, a seguir nesse ritmo, o tão propalado “país do futuro” morre tão deprimente e eterno colonizado. No pior dos sentidos. E, voltará, em definitivo, à “República da Mandioca”.

… e, se é pra piorá, piora. Em uma roda de conversa, questionado do cenário sociopolítico do Brasil, defendi a ideia já posta. Os meus companheiros de trabalho gostam de me provocar. Aí, um professor, “de História”, enfezou-se. Depois que se acalmou, mui educado, “sugeriu-me” revisar a História, porque isso é o maior absurdo, já ouvido por ele. Mui calmo, também, disse-lhe que me havia atribuído uma tarefa muito árdua. E, “como não guardo almoço pra janta”, apresentei a ele um santo remédio. “Sugeri” a ele que “não doía nadica de nada” orientar-se com “o mestre Manoelzinho!” Besta! “Procurou, logo, foi se aquietar!” Bem dizia a minha avó que “o remédio de doido é doido e meio!” Bem entendido, eu jamais duvidei, ou duvido, da sanidade “do meu mestre! “Santo Inácio de Loiola, livrai-me de tamanho sacrilégio! É só “semântica!”

… e, continuo defendendo a minha tese. E, de novo, a situação vai piorar. Vem aí “a bolsa preguiça”, a encher as escolas de “fantasmas da internet!” Acreditem, há “visitadores e visitadoras”, que chegam, à escola, como “verdadeiros sonâmbulos”. Passam a noite toda em claro, e vão dormir na sala de aula. Principalmente, se há “arcom”, como eles dizem. Ah, vovó sabida. Aí, “nem mel nem cabaça!”

… e, volto à vovó. No meu tempo … não estudou … virou carroceiro. “Ixprico”. Carroceiro “sirvia era di izemplo pur sê a lida, qui martratava, muito, muito, u trabaiadô”. Não era um insulto nem menosprezo. Só que essa chantagem, não pode acontecer mais. Deus, nos livre! Primeiro, é “bulingue”. Segundo, tal profissão já não existe. Aí, o chato, mesmo, era ter que escutar os exemplos dos filhos “do seu fulano e do seu sicrano, qui viraro dotô, purque istudaro”. E muito. Hoje …

… e, “si é pra piorá, piora, ôta veiz”. Alguns países, já há alguns anos, aboliram a letra cursiva da grade curricular. Um retrocesso! A justificativa é que os eletrônicos só oferecem maiúsculas. Como somos “copiadores fidedignos” do primeiro mundismo, “a bagaça com complexo de vira lata”, espero que não surja algum “geniozinho” político, a apresentar um projeto de lei … Hum, hum! Urubu levou a chave!

PERI-MIRIM: Coordenação do Território Quilombola Pericumã fez sua primeira reunião do ano de 2024

No sábado, dia 24/02/24, a Coordenação do Território Quilombola Pericumã fez sua primeira reunião do ano. Estivemos reunidos na sede da Associação Dona Moça que fica no Rio da Prata e que nos foi cedida gentilmente pela amiga Joana Bitencourt. Estiveram representadas na reunião, as comunidades de Pericumã, Muritim, Capoeira Grande, Malhada dos Pretos, Santa Cruz e Pedrinhas.

Iniciamos a reunião fazendo uma homenagem ao nosso saudoso amigo Simeão Soares Gonçalves que nos deixou recentemente. Relembramos a sua grande contribuição para a estruturação do nosso Território Quilombola. Apresentamos uma placa que deverá ser entregue à família dele como gratidão.

Tratamos em seguida da Eleição do Conselho de Igualdade Racial. Lamentamos a ausência da Secretária Geilsa que se estivesse presente facilitaria o debate da questão e, também, que até agora não houve um processo de discussão política sobre o assunto.

Concluímos que o Território tem que estar cada vez mais fortalecido para que a gestão municipal não nos atropele em questões como essa e outras. Em seguida, tratamos do Território Tijuca que é formado por 3 comunidades. Tijuca ,Capoeira Grande e Muritim. Esse Território recebeu a titulação do ITERMA junto para as 3 comunidades. Isso nos leva a formação de uma coordenação conjunta o que não foi feito ainda.

É urgente que se faça essa coordenação para poder caminharmos de braços dados. Por último, tivemos uma palestra sobre psicultura com o nosso amigo Ivaldo de Pedrinhas. Palestra essa que foi muito proveitosa, pois, é nossa intenção tornar o Território Quilombola Pericumã em um grande Polo de produção de alimentos. Finalmente, marcamos a próxima reunião para o dia 24/03/24, domingo, para a comunidade de Santa Cruz.

Texto de Maninho Braga

PLANTIO SOLIDÁRIO DA ALCAP: Igreja Católica de São Jerônimo recebe mudas de plantas

Hoje, dia 24 de fevereiro de 2024, foi a vez de os fiéis da Igreja Católica de São Jerônimo receberem mudas de Acácia Roxa, Angelim, Pau Brasil e Ipê. As mudas foram doadas pela ALCAP (Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense), referente ao projeto Plantio Solidário que é liberado pela amiga da Academia Ana Cléres Santos Ferreira. Juntamente com a comunidade, realizaram o plantio, os confrades Nani Pereira da Silva, Diêgo Nunes, Venceslau Júnior e a amiga da ALCAP, Maria do Carmo Pereira Pinheiro. Foram plantas aproximadamente 20 mudas que irão fornecer sombra e uma paisagem ainda mais agradável, além de estimular atitudes de preservação ambiental.

O Projeto Plantio Solidário “João de Deus Martins” da ALCAP trata-se de uma ação que tem como objetivo repovoar áreas que tiveram a vegetação removida por força da natureza ou pela ação humana, como exploração de madeira, expansão de ambiente para agropecuária, queimadas, entre outros.

A exigência/orientação, para esta fase do projeto, é que a comunidade se responsabilize pelas atividades de cuidados com as mudas. A equipe da ALCAP sentiu um excelente engajamento da comunidade, traduzida na participação no plantio, e gestos de gratidão, com oferecimento de um delicioso lanche.

Consolidação de Parceria: Fórum da Baixada reúne-se com a CODEVASF

O Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM), desde o início do ano de 2024, vem buscando consolidar parcerias com diversos órgãos das esferas das três esferas de Governo.

Considerando-se que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF tem por missão desenvolver bacias hidrográficas de forma integrada e sustentável, contribuindo para a redução das desigualdades regionais, em 22 de fevereiro de 2024, uma equipe do FDBM reuniu-se com a equipe de trabalho da CODEVASF.

Nessa reunião tomamos conhecimento do atual estágio do Projeto DIQUE DA BAIXADA, projeto que tem fundamental importância para toda a região. De um lado, evita a entrada da água salgada nos campos e igarapés (como já acontece) e, do outro possibilita o acúmulo de água da chuva durante quase o verão todo.

Ocorre que, para este projeto, ainda faltam muitas exigências a serem cumpridas, como: licenças ambientais e outros procedimentos legais. O que consideramos altamente relevante é o empenho que o ex-deputado GIL CUTRIM, agora um dos Diretores Federais da CODEVASF, ter solicitado ao atual Superintendente no Maranhão, CLOVES PAZ, incluir no alinhamento das ações da atual gestão, o Projeto dos Diques da Baixada. E muito mais satisfeitos ficamos foi sabermos que o Governador BRANDÃO já demonstrou bastante interesse pelo Projeto, pois, autorizou o Secretário da SINFRA, APARÍCIO BANDEIRA, formar com a CODEVASF uma comissão conjunta de trabalho para agilização e acompanhamento desta grande obra.

O FDBM se colocou à disposição para, de alguma forma, contribuir nessas demandas, bem como demonstrou seu interesse na construção dessa obra, que é a principal reinvindicação dos baixadeiros.

Compareceram à sede da Superintendente da 8ª Superintendência Regional da CODEVASF, o presidente do FDBM, Expedito Moraes e os forenses: Alexandre AbreuAntônio Valente, Benito CoelhoEduardo Castelo Branco e Narlon Santos, foram recebidos por Eduardo Madeira e Clovis Luís Paz Oliveira, Superintendente da 8ª Superintendência Regional da CODEVASF, que presidiu a reunião.