NAS ÁGUAS DE MARÇO, NASCE UMA ESTRELA

NAS ÁGUAS DE MARÇO

Por Gracilene Pinto

Noite escura e tenebrosa
Lá nos campos da Baixada.
A chuva descia em torrentes
Com a força da invernada

Lavando casas e matas,
Daquele ermo sertão,
Com as fortes águas de março
Deste nosso Maranhão.

Como diziam os mais velhos,
Chuva é sinal de fartura.
É bênção de Deus que ameniza
O rigor da vida dura.

É sinal de abundância,
Na terra, na água, no céu:
Peixes, aves, boa safra,
Arroz, farinha, a granel.

Com o barulho das torrentes
Não se ouvia quase nada,
Só a orquestra coaxante
Da imensa saparada.

Mas, alguém de bons ouvidos,
Prestando bem atenção,
Iria ouvir uns gemidos
De dor e muita aflição.

Uma bela moça ruiva,
Gemendo em grande sofrer,
Fazia força ajudando
O seu filhinho a nascer.

Do mesmo modo que um dia
Sofrera a mãe de Jesus,
Ela era também Maria
E tentava ao filho dar a luz.

A mãe, a irmã, as vizinhas,
Rezavam com devoção,
Pai-Nossos, Ave Marias,
O Rosário da Conceição.

A moça sofria tanto!
Tanto gemia, coitada!
E a criança não nascia
Com chá, com reza, com nada!

Foi, então, com grande fé,
Nascida do coração,
Que à Senhora do Rosário
Numa contrita oração

Pediu ajuda e socorro,
A bela Maria das Graças.
Clamando ao auxílio divino,
Suplicava pelas graças:

Que viesse logo o bebê,
Cheio de saúde e beleza.
Corpo de anjinho barroco
E rostinho de princesa.

A prece chegou ao céu
E o milagre aconteceu:
Um olhar da cor do mel
Em São Vicente nasceu.

Pelas dez horas da noite
A neném tão esperada
Deu seu grito de vitória
Chorando desesperada.

Do jeito que a mãe pediu
Veio ao mundo, a pequenina.
E assim todo mundo viu
A grande bênção divina.

Ainda era doze de março,
E a chuva continuava.
Sagrada água de março
Que a menina batizava.

… Enfim, nasci!

UM CASALZINHO NO MAIOR GRUDE, SÓ QUE NÃO!!

Por Zé Carlos Gonçalves

COISAS E LOAS
(… olho no olho)

Um dia desses, ao esperar o meu filho na porta da escola, vi uma cena, que me chamou atenção. Ali se achava “um casalzinho, no maior grude”. Mas o grude não os grudava. “Que crazy!” Estavam juntos, e tão distantes. Cada qual em seu mundinho, aprisionados às telas mágicas, que os hipnotizavam.

O grude era, na verdade, com os sacripantas dos celulares. A garota estava mais contida, “soltando uns sorrisinhos disfarçados”. Já o garoto se retorcia todo, fazia caretas e caretas; e, o mais incrível, mastigava a língua numa insistência desmedida. Até lembrei da brincadeira de “cabo de guerra”. Quem não tinha como sustentar a força braçal, ia transferindo-a para a língua. E haja mascar a língua, como “uma brejeira”.
Mas, voltemos “ao namoro”. Será que estavam “namorano atravéise di mensági. Cad’um ligando pr’ôto. Só pôdi!”

Bom mesmo foi não termos vivido plugados e alheios. Os eletrônicos “ero a nossa praia, não, tio”. O olhar, geralmente, discreto. O interesse nascia. A coragem nem sempre se apresentava; mas, quando vinha, o valente e enamorado “indivíduo” se manifestava. “E, com força!” Se manifestava de todos os modos, mas com modo. Um psiu, abafado; uma tímida piscadela; um aperto discreto das mãos bobas; um bilhetinho, que era traficado pelos melhores amigos; uma dança nervosa; cabia até uma abordagem direta.

E, como tudo isso é verdade, a cena referida no início desta crônica me remeteu ao meu estimado e “danado” parente, Batista Pessoa, que sempre se refere ao início do namoro, “daqueles menos corajosos”, inclusive ele, que se muniam de infalíveis armas: pedrinhas milagrosas, “avoadoras” e tão certeiras, a serem verdadeiros cupidos, com o único intento de conquistar a cara paixão. O início era difícil, trabalhoso e trabalhado. Hoje é ausente. Não há início … Não há … Não há …

E veio a me remeter, também, ao apogeu de “uma conquista bendita”. O nervosismo, cruel e pilantra, dum indivíduo, que, “seim papu, au su vê nu mato seim cachorro”, e sem gato, se “chegou à pretendida” e direto, sem preâmbulo, “se saiu com esta”. “Sou fã teu!” E, para sua sorte, a “piquena, insensívi li disculhambô, num li deu bola e ind’o chamô di dismiolado”. Digo, sim, sorte. Sorte … pois se fosse “ôji” … ! “Arre égua!”‘ e outras zebras … Com toda certeza!
E, com toda certa certeza, havia mais olho no olho!

ENFIM, FOMOS ESTUDAR NA SEDE DO MUNICÍPIO DE PERI-MIRIM

Por Ana Creusa

Cada nova etapa das nossas vidas, papai (José dos Santos) nos preparava. Ele não nos chamava para uma conversa, apenas falava sobre o tema de forma natural. Passado o tempo, percebi que todas aquelas conversas, aparentemente casuais, eram meticulosamente planejadas pelo nosso orientador sem rival [1].

As orientações eram passadas em muitas etapas: dando exemplos, contando histórias, de todas as formas, até que o orientando pudesse colocar em prática aqueles ensinamentos.

Claro que, em uma prole numerosa, havia os teimosos, que não colocavam em prática os ensinamentos, ou não entendiam. Mas papai tinha certeza de que a semente fora plantada. Tanto que, passados os anos, aqueles que não seguiam as orientações, se diziam arrependidos e, não raras vezes, se viam repetindo as lições aos seus próprios filhos.

Nós estudávamos na Escola Sá Mendes[2], no povoado contíguo ao nosso, a Ilha Grande. A partir do 2º ano primário, nossos pais decidiram nos colocar no Grupo Escolar Carneiro de Freitas, cujo acesso se dava com uma entrevista com diretora do Grupo, Cecília Euzamar Campos Botão.

Era início do ano de 1969. Nossa mãe foi nos matricular com a temida Cecília Botão. Essa missão era da nossa mãe. Eu, como sempre, a acompanhava nessas missões, apenas para “ouvir conversa”[3].

Mamãe foi comigo à casa de Cecília. Devidamente munida dos documentos dos filhos e respectivos boletins.

Cecília examinava tudo. Queria saber do desempenho dos candidatos e, principalmente, do comportamento. Mamãe elogiava cada um de nós. Eu até pensava que ela estava falando de outras pessoas, eram somente elogios.

Mamãe havia dito que eu e minha irmã Ana Cléres iríamos iniciar o 1º ano e os demais o 2º ano, para que fôssemos todos juntos. Antes da minha matrícula no 1º ano, mamãe falou para Cecília que eu já sabia ler e escrever antes de ir para a escola. A mestra fez um teste rápido e me pôs no 2º ano, juntamente com os demais irmãos naquela série: Ademir e Maria do Nascimento.

Antes de irmos para a escola, papai falou muitas vezes:

– Vocês vão estudar em Peri-Mirim, lá tem filho de pobre, como nós, mas tem filhos de ricos. Vocês vão para lá não é para se equiparar com esses meninos e sim estudar.

Sempre falava: vocês não vão para a escola, para se compararem aos filhos de Dico de Álvaro, José Sodré, Clóvis Ribeiro ou Altiberto[4], que meu pai considerava que fossem ricos. Vocês vão para escola estudar e para ser alguém na vida.

Nessas conversas, ele contava histórias de ricos sem conhecimentos e de pobres instruídos, estes sempre levavam vantagens sobre aqueles. Lembro-me da história dos amigos, um rico e outro pobre. O pobre foi estudar e o rico ficou trabalhando com o pai para aumentar a fortuna[5].

Nossos pais estavam sempre atentos para que frequentássemos as aulas e tivéssemos bons rendimentos. Acordávamos muito cedo para início das aulas às 07:30h, após trocarmos a roupa, pois, que fazíamos a viagem do nosso povoado até a sede.

Papai e mamãe nos auxiliavam em todas as atividades antes de irmos à escola. Quase sempre papai nos convencia a tomar banho:

– Tem que tomar banho para tirar a murrinha de japi[6].

E nós dizíamos[7]:

– Vamos banhar na casa de Vovó Patuca[8], para que banhar aqui?

Não adiantava argumentar. Tinha que tomar banho, era inegociável. Afinal, tinha que tirar o cheiro de japi e substituir pelo cheiro agradável das plantas: jardineira, estoraque, trevo, erva santa e outros. Não tinha sabonete que se comparasse àquele perfume campestre.

Outro ritual sagrado era: enquanto nossa mãe coava o café, papai ia até à horta do quintal colher macaxeira ou batatas para cozinhar, para ninguém sair com fome, senão não conseguia aprender nada, dizia ele para nos convencer a comer bem.

Uma cena inesquecível: papai lavava a macaxeira bem lavadinha, de forma a sair toda a terra. Depois descascava com cuidado para não sujar, pois ele não lavava a macaxeira branca porque, para ele, parte dos nutrientes se perderia.

Passado o tempo do banho difícil. Daí para frente, era só alegria.

Papai colocava aquele alimento fumegante no prato e mamãe vinha com o café, sempre gostoso. Eram abençoados pelos dois. Mamãe sempre preocupada para não esquecermos nada e papai, contando alguma história e dando conselhos, por meio de parábolas.

Quem não iria feliz para a escola depois desse ritual? Caminhávamos todos os dias 10 quilômetros para ir e vir da Escola, enfrentando sol, chuva, poeira e lama. Atualmente contamos com transporte escolar – muita coisa mudou … 

Esse relato demonstra muitas mudanças no processo de ensino de Peri-Mirim. Hoje temos transporte escolar, livros, farda.

Nós quebrávamos coco babaçu durante o verão para comprar os livros e a farda. Ainda pagávamos Caixa Escolar. Era tudo mais difícil.

Nossa maior alegria era olhar o trator do padre para pegar uma carona, era um transporte muito desconfortável.

Um senhor que tinha um carro chamado Rural, ele passava por nós e nem olhava! Ainda jogava em nós poeira ou lama, a depender da estação do ano.


Referências

[1] Papai gostava de dizer “fulano é sem rival”, significa que ninguém sabe fazer melhor. Definitivamente, José Santos era um orientador sem rival, nesse quesito, ele era um campeão absoluto.

[2] Escola Sá Mendes, nome dado em homenagem ao 1º intendente de Peri-Mirim (cargo que equivale ao de prefeito). João de Deus Martins, meu bisavô materno conseguiu com o seu amigo a instalação dessa escola municipal. Atualmente, a escola funciona no povoado Cametá.

[3] Eu tinha o hábito de ouvir as conversas dos adultos com muita atenção.

[4] Eu tinha muita curiosidade de saber quem eram essas pessoas. Por coincidência, ou não, estudei com filhos de Dico de Álvaro, Clóvis Ribeiro e Altiberto. Comprovei que eles tinham condições financeiras bem melhores que as nossas. Com essa convivência pude entender o queria dizia o meu pai. Eles poderiam comprar sapatos de couro (nós usamos de borracha, bem mais baratos); trocar de fardas todos os anos, ou sair em pelotão especial nos desfiles de 7 de setembro; coisas que não estava em nossos planos.

[5] Recomendo a leitura da história alusiva a esse assunto no Capítulo “Estórias que fizeram História”.

[6] Japi – Conhecido vulgarmente como xexéu, japi, japim, japiim. A ave é conhecida por ter mal cheiro.

[7] Alguns filhos tinham mais resistência e tomar banho. Fazíamos um gritinho característico para espantar o frio: “foi papai que mandou …”.

[8] Patuca é alcunha de Patrocina Pinto, mãe de Jacinto Pinto.

Artigo publicado na página 50 do Livro CEM ANOS DE GRATIDÃO  de autoria de Ana Creusa.

Flores, flores…

Por Gracilene Pinto

Pedacinhos de arco-íris, multicores, de variados matizes,
E nos deixam mais felizes
Com a alegria do jardim.
São dádivas preciosas,
Delicadas, olorosas,
Que o Deus da misericórdia
Nas manhãs sempre concorda
Em de novo dar pra mim.
Flores são do céu pedaços,
Do sol, delicados traços
Que a boa Mãe Natureza,
Exuberante em beleza
Vai desenhando pra nós.
São musas inspiradoras
Das lindas aves cantoras,
Que em todo canto e recanto
Vão encantando com seu canto
Alvoradas e arrebóis!

A DESCENDÊNCIA DE JOSÉ DOS SANTOS

Levou para aquela terra seus filhos, seus netos, suas filhas e suas netas, ou seja, toda a sua descendência. Gênesis 46:7.

José dos Santos é o patriarca da Família Martins Santos, ele conservou em si a ideia primordial da Paz, pregando que todas são irmãos entre si, filhos de um único Pai. Seu maior desejo era ver a família sempre unida.

Pregava em parábolas, falava que os irmãos devem se unir como feixes de varinhas que juntas não poderiam ser quebradas, mas, se separadas seriam facilmente quebradas. 

Até 20 de dezembro de 2021 José dos Santos contabilizou 81 (oitenta e um) descendentes, sendo 11 (onze) filhos, 31 (trinta e um) netos, 35 (trinta e cinco) bisnetos e 7 (sete) tataranetos, conforme abaixo:

F I L H O S

  1. FRANCISCO XAVIER MARTINS DOS SANTOS
  2. ADEMIR DE JESUS MARTINS DOS SANTOS (in memoriam)
  3. CLEONICE DE JESUS MARTINS SANTOS
  4. EDMILSON JOSÉ MARTINS DOS SANTOS
  5. ADEMIR MARTINS SANTOS
  6. RICARDINA MILITINA DOS SANTOS PIRES
  7. MARIA DO NASCIMENTO MARTINS DOS SANTOS
  8. ANA CREUSA MARTINS DOS SANTOS
  9. ANA CLÉRES SANTOS FERREIRA
  10. JOSÉ MARIA MARTINS SANTOS
  11. CARLOS MAGNO MARTINS SANTOS (in memoriam)

 

N E T O S

  1. FRANK XAVIER AMORIM DOS SANTOS
  2. FREDSON AMORIM DOS SANTOS
  3. FÁBIO AMORIM DOS SANTOS
  4. FRANCILDA AMORIM DOS SANTOS
  5. FRANCILENE AMORIM DOS SANTOS
  6. FRANCISCO XAVIER MARTINS DOS SANTOS FILHO
  7. JOSÉ DOS SANTOS NETO
  8. SUELY CAMPOS SANTOS
  9. SUZILENE CAMPOS REGADAS
  10. KAROLAYNE SUELMA TORRES OLIVEIRA
  11. SUELMA CAMPOS SANTOS
  12. EDMILSON JOSÉ MARTINS DOS SANTOS JÚNIOR
  13. MARIA AMÉLIA SANTOS FERREIRA
  14. ARTUR MAGNO CÂMARA MARTINS SANTOS
  15. ANA CARINA CÂMARA MARTINS SANTOS
  16. DILCIMARA NASCIMENTO SANTOS BENTES
  17. ADEMIR MARTINS SANTOS JÚNIOR
  18. DILCIANE NASCIMENTO SANTOS
  19. TALITA ÁGAPE MOURA SANTOS
  20. MICHELLE DOS SANTOS PIRES
  21. EVANDRO GOMES PIRES FILHO
  22. MARCELLE DOS SANTOS PIRES
  23. JOSÉ EDSON DOS SANTOS JÚNIOR
  24. MARCUS ANDRÉ MARTINS DOS SANTOS
  25. GUSTAVO MARTINS DOS SANTOS
  26. AIRTON LUÍS MARTINS MOTA
  27. ALANA MARTINS MOTA
  28. JOSÉ SODRÉ FERREIRA NETO
  29. PAULO VICTOR SANTOS FERREIRA
  30. AMANDA BAHURY BARROS SANTOS
  31. ANA CAROLINA SILVA MARTINS

 

B I S N E T O S

  1. ANA LÚCIA ALMEIDA MARTINS SANTOS
  2. NICHOLAS RHAMON NUNES DOS SANTOS
  3. JÚLIA VICTÓRIA NUNES DOS SANTOS
  4. LARA VITÓRIA PEREIRA DOS SANTOS
  5. CLARA LORRANY DOS SANTOS RIBEIRO
  6. NÁDILLA RASNAN DOS SANTOS PAIXÃO
  7. JOSÉ HEITOR DOS SANTOS PAIXÃO
  8. JHONATHA MESSI SANTOS BECKMAN
  9. ANNY MARISTELLA GONÇALVES
  10. THAYLLA VITÓRIA DINIZ DOS SANTOS
  11. ANA BEATRIZ THEMÍSTOCLES SANTOS
  12. JOSÉ GUILHERME LIMA SANTOS FERREIRA
  13. EDUARDO DOS SANTOS BRITO
  14. MARCOS ANTÔNIO DE JESUS LOUZEIRO SEGUNDO
  15. MATHEUS CAMPOS DOS SANTOS
  16. FRANCISCO NEVES REGADAS NETO
  17. MAX SWEEDEL OLIVEIRA DOURADO
  18. STEFHANNY DE TÁSSIA OLIVEIRA DE SOUZA
  19. MAURÍCIO HENRIQUE OLIVEIRA SOUZA
  20. MICHAEL BRUNO CAMPOS SANTOS
  21. ÁGATA NASCIMENTO SANTOS BENTES
  22. LANNA BEATRIZ VIEIRA SANTOS
  23. LUCAS VIEIRA SANTOS
  24. MARIA CLARA FIGUEIREDO SANTOS
  25. HANNA LETÍCIA NASCIMENTO SANTOS
  26. GABRIEL SANTOS ALVES
  27. DAVI CARVALHO ABREU DOS SANTOS
  28. JOÃO PEDRO ABREU DOS SANTOS
  29. ISADORA SOARES PEREIRA MARTINS
  30. ALICE SOARES PEREIRA MARTINS
  31. ESTELLA CASTRO MARTINS DOS SANTOS
  32. JOÃO LUCAS CASTRO MARTINS DOS SANTOS
  33. SARAH EMANUELLY MOURA MARTINS
  34. PAULO RICARDO MOURA MOTA
  35. MANUELA ROCHA SANTOS SODRÉ

 

T A T A R A N E T O S

  1. PAULO ROBERTO FIGUEIREDO GOMES BRITO
  2. MARIA EDUARDA FIGUEIREDO GOMES BRITO
  3. MIGUEL BUZAR CAMPOS
  4. LARA BUZAR CAMPOS
  5. CARLOS GABRIEL SILVA DA COSTA
  6. SOPHIA GABRYELLA SOUZA
  7. ISA KAROLAYNE SANTOS OLIVEIRA
  8. IZA OLIVEIRA REGADAS

A Baixada descortina sua singular epopeia

Por Ana Creusa

O lançamento do Livro Ecos da Baixada que ocorreu no dia 14 de novembro de 2017, foi um marco na história da literatura maranhense, notadamente nos anais das letras baixadeiras, e revelou-se um evento grandioso para o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense – FDBM.

Importante destacar que o citado Fórum é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, o qual trabalha por sua região e por sua gente, visando chamar a atenção do Poder Público para os graves problemas enfrentados por aquele conjunto de municípios, bem como auxilia as comunidades locais a superarem obstáculos ao seu desenvolvimento.

O evento foi um “sucesso retumbante”, conforme relato de muitos participantes. Segundo o imortal, membro da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, foi “o dia em que a Baixada parou o trânsito da Avenida dos Holandeses, em São Luís”, algo inimaginável para os 32 escritores das crônicas e para a maioria dos baixadeiros ali presentes.

Na abertura, Simão Pedro, professor de música e natural de Matinha, interpretou o Hino Nacional e uma Canção em homenagem à Baixada, de autoria de Gracilene Pinto, natural de São Vicente Férrer, cujas crônicas o leitor pode encontrar nas páginas 156 e 191.

Em seguida, o “Poema para a Baixada Maranhense” foi declamado pelo seu autor, Hilton Mendonça, natural de Arari. O belo poema consta no introito da obra. Hilton também empresta o seu talento literário por meio de duas crônicas que poderão ser encontradas nas páginas 143 e 180.

Elinajara Pereira, natural de Bequimão, declamou o poema denominado “Ecos …”, composto por Rafael Marques em homenagem aos Ecos da Baixada e à sua amiga Elinajara, esta possui uma bela crônica, que pode ser encontrada na página 56.

 A Presidente do Fórum da Baixada, Ana Creusa, ressaltou a importância da união dos baixadeiros em prol da Baixada, e destacou que o Fórum é composto de pessoas com tendências e preferências, teorias, modelos e concepções políticas diferentes. Porém, o que os une é o sentimento único de amor à Baixada, que os torna irmãos. Os textos de Ana Creusa estão nas páginas 67 e 160.

Em sua fala, o primeiro Presidente do Fórum da Baixada, idealizador e organizador da obra, Flávio Braga, natural de Peri-Mirim, agradeceu aos ecoerios, como carinhosamente são chamados os cronistas, e ainda discorreu sobre a importância da obra Ecos da Baixada para região. As belas crônicas de Flávio estão dispostas nas páginas 83 e 98.

O Superintendente do Sebrae, João Martins, natural de Bequimão, demonstrou apoio ao Fórum da Baixada, do qual é filiado. Em sua fala, destacou a importância da obra “Ecos da Baixada”, a qual ajudará a Baixada a ecoar longe, inclusive em Brasília e outros recantos do Brasil, quiçá do exterior.

O Presidente da Academia Maranhense de Letras, brincou que os ecos da Baixada chegaram a Itapecuru, sua terra natal, e que a Baixada parou o trânsito de uma das principais avenidas de São Luís.

Natalino Salgado, com seu talento peculiar, brindou os baixadeiros com a crônica “A Baixada Maranhense e sua Vocação para a Grandeza”, que pode ser encontrada à página 35.  Como representante dos ecoeiros, saudou a todos. Em seguida, nos brindou com um texto dedicado a seu pai, matéria que evidencia o amor do seu genitor pela a sua bela Cururupu.

Em seguida foi servido um coquetel que, como se diz na Baixada “não deu para quem quis”.

Foi gratificante ver tantas pessoas disputando autógrafos, tirando fotos e fazendo selfies com os ecoeiros, numa verdadeira pororoca de emoções, como disse o ecoeiro Manoel Barros, natural de São João Batista, ao descrever o festival de emoções, envolvidas em todo o processo de lançamento do livro Ecos da Baixada.

Eis que a Baixada descortina sua singular epopeia, por meio dos Ecos da Baixada!!!

Texto de Ana Creusa, presidente do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense, com revisão de Hilton Mendonça, ambos cronistas do Livro Ecos da Baixada.

Qual o seu nome?

Por Ana Creusa

A Vida é Combate

Combate pela manhã: 1) Evitar maus pensamentos  Provérbios 15:26; 1) Afastar a preguiça (Pv 10:5 e 19:15); 3) Mexa-se 4) Fazer uma boa ação.

Para evitar maus pensamentos: Faça uma meditação antes de levantar da cama; ou uma oração. Não contamine o seu dia com noticiário. Evite ouvir ou assistir notícias antes do seu café da manhã; ouvir músicas clássicas, se possível.

É quarta-feira de cinzas (22/02/2023). Desde o dia anterior, sabia que tinha que ir à feira. Tentei evitar a preguiça. Feira não é algo que me atraia, até chegar lá. Depois que chego, me sinto feliz, falo com as pessoas, que eu conheça, ou não. Hoje, a feira estava vazia: poucas pessoas se atreveram abri depois do Carnaval e vender pouco.

Encontrei uma senhora várias vezes: fui comprar chá, lá estava ela, perguntando sobre o mesmo chá. Fui compara manga, lá estava ela, comprando pequi. Ela queria comprar juçara – fui com ela onde um amigo meu de São José de Ribamar, apesar de o ter conhecido na feira, já sei a vida dele toda – exageros à parte.

Vi que ela já tinha uma certa idade, perguntei:

– Onde moras?

Falou-me que mora no Cohatrac. Novamente perguntei: 

– Vais dirigindo?

Ela disse que ia a pé porque aquelas compras eram para sua irmã que fraturou o pé e que morava próximo dali. Eu disse que a levava em casa e comecei a pegar as sacolas dela. Ela ficou assustada e eu disse: 

– Vamos conferir quantas sacolas levas, para ela ficar tranquila e assim fizemos, em 8 sacolas, eu peguei quatro e me encaminhei para o carro. Acomodei as sacolas no banco de trás com ela próxima. A casa da irmã era bem próximo. Encontrei a porta aberta. Provavelmente já a estavam aguardando, até preocupados porque ela foi somente comprar uma coisa, que não ouvi o que era.

Ela foi me contando a vida dela, eu só ouvia, uma história bem bacana. Saltei do carro para ajudá-la a retirar as compras do carro. Ela me abraçou e perguntou:

– Qual o seu nome? Eu disse me chamo Ana. Ela agradeceu demais. Disse que eu era um Anjo.

Peguei as coisas dela, ajudei-a a colocar na casa. Saí de imediato. Mas, assim que saí, fiquei incomodada. Não fiz a pergunta que não podia faltar:

– Como é o seu nome?

Cheguei e passei o dia pensando: como seria o nome daquela senhora? Pensei em voltar para perguntar, mas algo me impediu: o que ela iria pensar? Outro dia, passo lá, ocasionalmente, e pergunto.

O certo é que esta foi a minha boa ação do dia. O nome da senhora importa só por curiosidade? Com certeza não! Quero fazer a pergunta que não fiz: 

– Qual o seu nome?

Creio que hoje não fiz um bom combate: procrastinei por medo de dar mau impressão. Amanhã vou ter mais cuidado! Nem pude passar para o bom combate do turno vespertino.

HEROÍNAS ANÔNIMAS

Por Gracilene Pinto

Maria estava tendo um parto difícil. Embora não fosse parturiente de primeira viagem, que esse já seria seu terceiro filho, e a mulher estivesse fazendo toda força para ajudar, a criança não saía nem com reza mansa nem com reza braba. Parecia que todas as orações e súplicas à Nossa Senhora do Bom Parto e a São Raimundo Nonato, para que tivesse uma boa hora, não surtiam efeito. E a moça fazia força se contorcendo e gemendo, enquanto tentava manter a esperança de sobreviver ao parto. Ela e o filho. Mas, a verdade é que a confiança estava se esvaindo aos poucos.

Para piorar tudo, Maria já se encontrava em um estado perigoso de estresse, pois a parteira Salu, mulher experiente, pois que estava no ofício há muitos anos, ao invés de tranquilizá-la e orientá-la, ralhava o tempo todo com a pobre moça, chamando-a de fraca e “isgaenta”, e dizia ao nervoso Biné que Maria não estava ajudando e que acabaria matando a criança com seus “isgaio”.

Auxiliando no parto estava uma sobrinha de Biné chamada Ana. Uma adolescente de dezesseis anos recém-chegada da Capital onde fora fazer um curso de Auxiliar de Enfermagem-Parteira, curso este patrocinado pela Prefeitura local.

Ana tentava ajudar, porém, a parteira a empurrava e dizia que não precisava da ajuda de nenhuma pirralha recém-saída dos cueiros para fazer um parto, depois de trazer ao mundo uma centena de bebês.

Biné, por sua vez, apoiava Salu, e dizia para Ana ficar quieta e deixar quem já tinha experiência agir, pois a parteira sabia o que estava fazendo.

E Salu continuava em seu mal humor a resmungar contra Maria e a enfiar suas mãos, de unhas enormes e sujas, sabe-se lá com quantos milhares de bactérias, nas partes íntimas da parturiente.

O comportamento da parteira chegava às raias do absurdo. E Ana, que tinha aprendido sobre as infecções que poderiam advir da falta de assepsia e o modo de tratar com os pacientes, estava estarrecida. No entanto, não se sentia com forças para tomar uma atitude em virtude, não só da sua juventude como também da falta de apoio do tio, que ainda não tinha nenhuma confiança na sobrinha.

Além disso, naqueles lugares longínquos, onde não havia médicos e muito menos hospitais, as parteiras antigas eram consideradas autoridades da área médica. E, verdade seja dita, que a maioria delas foram verdadeiras heroínas e salvaram muitas vidas em um tempo em que era bem comum as mulheres não resistirem ao parto e chegarem ao óbito.

Porém, quando a esperança de um feliz desfecho já se desvanecia e alguns começavam a dar o caso como perdido, pois Maria já agonizava e Salu tentava puxar o nascituro pelo queixo com suas mãos nodosas, em vias mesmo de arrancar um pedaço do bebê, Ana lembrou-se que a parteira era muito amiga da primeira companheira de Biné. A ex-companheira detestava Maria, embora já estivesse separada de Biné há muitos anos. Mas, talvez ainda alimentasse alguma paixão recolhida pelo ex. Vai saber! Cabeça dos outros é universo onde ninguém passeia. Mas, o fato é que essa lembrança trouxe consigo a suspeita de que, talvez, ao invés de ajudar a parturiente, a intenção de Salu fosse deixar Biné livre para a amiga. Quem sabe Salu não desejasse a morte de Maria por solidariedade com a amiga, já que não conseguia esconder a antipatia?

Foi então, que Ana esqueceu o respeito à hierarquia da parteira velha, a autoridade do tio, e, esquecendo sua condição de adolescente recém-formada, assumiu uma autoridade e uma autoconfiança que nem ela mesma sabia ter, até então. E assim, empurrando Salu de forma enérgica, e até rude, assumiu o posto decidida a salvar a vida de Maria.

Fechando os olhos, como quem pede inspiração a Deus, Ana apalpou a barriga de Maria, já quase desmaiada, localizou o bumbum do bebê, e, sentou o joelho no vazio logo após, empurrando com força, o que fez com que a criança espirrasse para fora em um jato.

A pele do recém-nascido já estava arroxeando-se pela falta de oxigenação. Mas, nada que um tapinha no bumbum não pudesse resolver. Sobreviveram mãe e filho, para felicidade da família.

E foi desta forma que Ana, quase uma menina, mostrou-se uma verdadeira heroína e salvou a vida da primeira de muitas Marias que sobreviveram ao parto em suas mãos na Baixada do Maranhão.

Uma história de superação: Ex-ajudante de pedreiro tornou-se Juiz de Direito

Um dos 29 magistrados que irão compor o Poder Judiciário de Rondônia, chamou a atenção na solenidade de posse do TJRO em Porto Velho: Eliezer Nunes Barros foi servente de pedreiro, depois pedreiro e, por fim, agente penitenciário, até conseguir ingressar na tão sonhada Faculdade de Direito e após anos de estudo, dedicação, provações e privações, conseguir ser aprovado no concurso público de provas e títulos para ingresso na carreira da magistratura rondoniense em 2023.

O novo magistrado rondoniense relatou durante a sua posse para a TV, em Porto Velho, capital de Rondônia, que durante a sua fase jovem ele trabalhava como pedreiro e acabava por atrapalhar a condução de seus estudos no ensino médio.

Abandonou a escola por 4 anos, e aos 24 anos, conseguiu retornar aos estudos e concluiu o ensino médio (EJA). Em seguida, aos 26 anos, foi aprovado no concurso de agente penitenciário em Rondônia em 2009, após perceber que poderia iniciar uma nova jornada em sua vida.

Foi durante o trabalho de agente penitenciário que o recém empossado juiz rondoniense percebeu que era possível realizar o sonho de se tornar magistrado. O juiz relata que conheceu pessoas que acreditaram em seu potencial e vontade de vencer os obstáculos da vida e colocou como meta os estudos jurídicos.

Aos 28 anos, 2 anos após ingressar como agente penitenciário da SEJUS em RO, iniciou o curso de Direito que foi concluída aos 32 anos. A partir dos 33 anos a sua meta de se tornar juiz de Direito em Rondônia não parou e, após 6 anos e milhares de horas de estudos e dedicação, torna-se magistrado do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. “Quero aproveitar para dizer que irei pagar 22 parcelas do FIES que estavam atrasadas com o meu primeiro salário de juiz”, destacou.

Ele conta nos bastidores que a ideia de virar juiz veio tarde, já no final da faculdade e por influência de amigos. Até então o objetivo dele era apenas “melhorar de vida”. A graduação, de acordo com o juiz, já parecia uma grande superação para ele, já que o trabalho começou cedo e as dificuldades também. A superação venceu o medo e hoje o ex-servente de pedreiro, é o novo juiz de direito em Rondônia, aos 39 anos.

Fontes: https://www.tjro.jus.br/ e https://www.instagram.com/ e https://www.google.com/.

ZÉ NINGUÉM E ZÉ ALGUÉM …

Por Zé Carlos Gonçalves

CENAS DO COTIDIANO

A cidade, agitada, não dorme. Está, impotente, a ver a noite passar. O silêncio deixa-a só e parte rumo ao continente do descanso.

O galo, gaiato, “saído não se sabe de onde, rasga um canto desafinado”, a agitar a manhã, que vem surgindo apressada, e a enfurecer o corpo tão mal dormido.

No pulo da cama, o mirrado “zé ninguém” cega-se à casa. Não enxerga a companheira nem os filhos nem o seu fiel cachorro, comprado em dez vezes, sem juros. Só lhe resta um pedaço de pão, duro, a lhe rasgar a fome, que não teve tempo de se saciar com a fria marmita.

A cidade furiosa e insana lhe vai sugando a já combalida energia; e “zé ninguém”, que se autofagiou e se perdeu da família, busca numa tentativa, desesperadora, alimentar as contas bancárias estranhas e, cada vez, mais famintas.

O dia finda-se. Lá, fora, só resta a pressa de “voltar pra casa”. Mergulhado no mar de gente, alimenta o banguela e voraz ônibus, que lhe devora a força já tão débil. Desenxerga quem está sentado ao lado; desenxerga a praça e a a sua rosa solitária, dorminte, no canto esquerdo do jardim; desenxerga a sisuda ponte, a suster-se nas marés altas de muitas luas; desenxerga até a solícita praia, a lhe chamar, e lhe chamar, e lhe chamar. Vai. Vai alheio, sem um qualquer pensamento seu.

A noite, em sua ligereza, lhe “come” o sonho, perdido em um sono tão sobressaltado e vacilante, à espera “do gaiato galo” rodar a roda viva de uma outra e apressada manhã. Manhã, que talvez nem venha clamar por “zé ninguém”!

CENAS DO COTIDIANO II

No povoadozinho, dormia um sono solto e acompanhava os seus, ainda que esgotado da insana lida.

Do velho e esperado galo, esperava o canto, a despertar a barra do dia, no espetáculo mais espetacular de todos os outros espetáculos. Um mar de cores.

Os passarinhos, mais sábios que nós, despertavam felizes, a agradecer a nova alvorada. O fantástico e ensurdecedor alarido rasgava os sentidos de “zé alguém” em todos os tons!

Ao bem-ti-vi, alerta e canoro, só restava atiçar-lhe o sentido em todos os sentidos.

Pelo telhado, uma verdadeira peneira, invadiam-se tantos e tantos “raiozinhos de sol”, a gritarem que o “desacordar” chegava. Era hora de começar a labuta de todo dia.

Na casa de forno, o apogeu. O beiju, a exalar em todos os olfatos, ia “zumbinizando” o faminto do alimento sagrado.

A manhã seguia tranquila. E, de repente, só era quebrada a calmaria, com o mesmo grito, da mesma hora, a oferecer tudo. A dona de casa, alheia às suas preocupações, corria à porta e abastecia a faminta despensa, as suas panelas e fartava todas as bocas, que choramingavam em volta de sua saia.

A tarde, calma e dormente, era invadida pela verdadeira Babel. Piiróóléé, piiruuliitoo, algoodãoo dooce, piipoocaa. Fazia-se a mágica. Garrafas e litros brotavam em profusão. O escambo mais doce e justo realizava-se; e a saciedade a afogar a fome, que estava ali, sempre a espreitar.

À noite, o cabecear de sono era obra da velha Telefunken e do velho rádio Semp, que amoleciam o corpo, já tão em frangalhos; mas que dormia, sonhava belos sonhos e, até, contava co’outra promissora alvorada.

“Zé alguém” podia, enfim, ir labutar de novo!