CASARÃO DAS FREIRAS

Por Francisco Viegas Paz*

Ao visitar Peri-Mirim, depara-se com uma cena que depõe contra a Administração Municipal. Trata-se da deterioração de um casarão adquirido pelo prefeito João França Pereira, há 43 anos. E até hoje, nenhuma providência, pelos demais prefeitos que o sucederam, foi tomada para sua utilização.

A prefeitura, por desleixo, nunca tratou de recuperar uma obra importantíssima para a cidade, como é o casarão. Ali serviu de residência para as freiras canadenses da Missão de Sherbrooke, que passaram a residir em Peri-Mirim, após a chegada da Missão em 15 de agosto de 1958.

A Academia de Letras, sensível ao visual da cidade e, por desejar recuperar para a própria Academia, emitiu um documento ao prefeito Heliézer, que negou a doação e propôs recuperar o prédio e instalar algumas secretarias nele. Mas até agora não foi feito absolutamente nada e, pelo visto, não o fará. Dessa forma recorre-se ao adágio popular que diz: “Não come, mas estraga”. E o estrago está feio, com o telhado totalmente destruído e as paredes cobertas pelo limo do abandono.

Quem conhece a história do casarão, lamenta tamanho infortúnio de uma obra que serviu de moradia às irmãs canadenses, as quais ajudaram no desenvolvimento educacional e espiritual dos jovens peri-mirienses na década de sessenta e setenta.

Certamente a sua recuperação e uso pela Academia de Letras, traria, novamente, grandes aprendizados aos jovens, escritores, artistas, etc. Além do mais, a sua faixada poderia ser em azulejo, melhorando assim, o visual da sede do município.

*Francisco Viegas Paz é natural de Peri-Mirim/MA, membro fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), onde ocupa a cadeira nº 07, formado em Química pela Universidade Federal do Maranhão. Autor de vários artigos publicados em jornais; autor dos livros: Seminarista Graças a Deus; Curiosidades Históricas de Peri-Mirim; Peri-Mirim: 100 Anos de Emancipação e coautor de Ecos da Baixada.

A ACADEMIA PERIMIRIENSE SEGUE TRAJETÓRIA DE PARCERIAS E REALIZAÇÕES

Em Peri-Mirim, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP) participou de vários eventos, conforme Agenda abaixo:

– Na manhã do dia 30/03/2023, membros da ALCAP, acompanhados da arquiteta Kellyanne Gomes, vistoriam a sala medindo 2,93×2,93m², cedida pelo Sindicato dos Profissionais da Educação e Servidores Municipais de Peri-Mirim (SINDPROESPEM) para instalação de uma minibiblioteca da ALCAP.

A presidente da ALCAP, Ana Creusa Martins dos Santos, destacou a importância do gesto de solidariedade do referido sindicato, por meio de seu presidente,  Lourivaldo Diniz Ribeiro, pois a Educação não pode esperar! Estiveram presentes ao evento: Ana Creusa, Ana Cléres, Ataniêta, Francisco Viegas e Manoel Braga.

Ainda pela manhã, os membros da ALCAP reuniram-se com o Secretário Municipal de Assistência Social, Paulo Sérgio Corrêa. Na ocasião, o Sr. Secretário discorreu sobre vários projetos em desenvolvimento em sua pasta, especialmente na área de inclusão social dos vulneráveis. Os membros da ALCAP presentes demonstraram a necessidade da cessão de dois funcionários para atendimento aos leitores, com horário coincidente com o funcionamento do SINDPROESPEM.

O Secretário expôs que o desenvolvimento do ser humano por meio da educação é uma das molas propulsoras do desenvolvimento humano e social. Ficando acertado que a ALCAP expedirá ofício para oficializar o pleito.

Ainda na manhã do dia 30/03/2023 às 19 horas, reuniram-se, informalmente, na casa de Edmilson José (Nenco), Ana Creusa, Nani, Tatá e Bordalo, para tratar dos assuntos atinentes aos detalhes para instalação do embrião daBiblioteca ALCAP Professor Taninho“, cujo nome foi escolhido por votação entre os membros da ALCAP.

Em seguida, a comitiva da ALCAP se fez presente à Gincana Cultural da Escola Alda Ribeiro Corrêa (ARC), com abordagem sobre a história, geografia e cultura do município de Peri-Mirim. O acadêmico Raimundo Martins Campêlo, detentor da Cadeira nº 03 da ALCAP, visivelmente emocionado, apresentou um histórico sobre a fundação e principais ações da agremiação nesses quatro anos de existência.

Alda Ribeiro Corrêa, diretora geral da Escola atuou como cerimonialista do evento muito rico em informações. A exposição de interessante que apresentou desenhos, pinturas, materiais diversos da cultura local, bem como oportunizou aos alunos muitos conhecimentos. Em sua fala, a presidente da ALCAP, Ana Creusa, destacou a importância da Educação no desenvolvimento de um povo.

31/03/2023 (sexta-feira)participação nas homenagens aos 104 anos da emancipação de Peri-Mirim. Foram convidados ao palanque de apresentação do evento, Ana Creusa e Francisco Viegas, que contou com a presença do prefeito e da secretária de Educação, Zaine Ferreira.

Durante o desfile cívico, a Escola São João Batista, localizada no bairro de Portinho, sob a narração da acadêmica Elinalva Campos o desfile foi coroado de êxito. homenageou o Professor João Batista Pinheiro Martins (in memoriam), bem como apresentou uma linda ala representando as obras publicadas pelos acadêmico: Ana Creusa; Flávio Braga; Francisco Viegas e Eni Amorim.

Do Colégio Carneiro de Freitas, o cerimonial ficou por conta de Maria de Lourdes Campos que já foi homenageada pela ALCAP em decorrência do Prêmio do Mérito Cultural. A Escola de Lordes homenageou o ex-secretário de Educação Municipal, José do Carmo França . Os alunos recitaram versos com base na biografia do ex-secretário. Também apresentou outras manifestações culturais como bumba-meu-boi. Momento de muita emoção, quando algumas alunas representaram as quebradeiras de coco.

A Acadêmica Nasaré Silva, durante o desfile cívico narrou a apresentação da Escola Cecília Botão que, de modo geral: tratou da evolução da educação de Peri-Mirim. Também foram foram adicionados outros subtemas, como: literatura de Peri-Mirim, geografia e política, cultura, economia. O tema escolhido foi: Peri-Mirim: 104 anos de emancipação política e o homenageado foi o ex-secretário de educação, cultura, esporte e lazer Nelsolino Silva

 

 

MARANHÃO: A PARTIR DE 1º DE ABRIL HOUVE AUMENTO DA ALÍQUOTA MÉDIA DO ICMS DE 18% PARA 20%

 Com a aprovação da Lei 11.867/2022 foi alterada para 20% a alíquota média do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em substituição à de 18%. A partir do dia primeiro de abril, os produtos que eram tributados com a alíquota de 18% passam a ser taxados com a alíquota de 20%.
A Lei nº 11.867, é de 23 de dezembro de 2022, que previu em seu art. 49 que o dispositivo entraria em vigor a partir de 1º de abril de 2023.

Fonte: https://sistemas1.sefaz.ma.gov.br/portalsefaz/files?codigo=22048

Rosa Mochel: Uma Pioneira na Agronomia do Maranhão

Por José Augusto Silva Oliveira *

Rosa Mochel Martins nasceu no Município de Miritiba, hoje Humberto de Campos, em 19 de janeiro de 1919.  Nos versos do poema MIRITIBA SEMPRE, os nossos olhos descobrem uma declaração de amor e de gratidão à cidade em que ela nasceu: “Um porto, um igarapé/Barcos ancorados, velas a secar/ Crianças rolam nas areias do morro/ E se jogam nas águas salobras do Periá// Miritiba// Ali nasci/ Ali vivi a minha infância/ Abrindo os caminhos para a adolescência”.

Rosa Mochel era a oitava filha do casal José Augusto Mochel e Ercília Rodrigues Mochel. Casou-se com o Engenheiro Agrônomo Ezelberto Martins. Professora Normalista, Geógrafa e Historiadora, foi a primeira mulher do Estado do Maranhão a formar-se em Engenharia Agronômica.

Segundo o Engenheiro Agrônomo Lourenço José Tavares Vieira da Silva, idealizador e fundador da Escola de Agronomia do Maranhão, hoje incorporada à estrutura da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Rosa Mochel Martins iniciou o curso de Agronomia no Maranhão, na década de 40. A iniciativa logo se encerrou com não mais do que uma ou duas turmas, o que a levou a concluir seus estudos no Rio de Janeiro.

A Engenheira Agrônoma Rosa Mochel integrou o quadro de profissionais do Ministério da Agricultura, como Assessora Técnica. À mercê de sua formação acadêmica, ocupou diversos cargos na estrutura do Governo do Estado do Maranhão.

Com cursos de especialização e aperfeiçoamento, o de Aperfeiçoamento de Professores para o Magistério, Curso de Professores de Geografia de Ensino Superior, Curso de Folclore, Curso de Agricultura, entre outros, Rosa Mochel foi Engenheira Agrônoma da Seção de Genética da Universidade Rural do Rio de Janeiro, Chefe do Campo de Sementes dos municípios de Codó e Coroatá, no Maranhão, e do Setor de Agrostologia da Granja Barreto, em São Luís.

Entusiasta da natureza, Rosa Mochel atuou fortemente na defesa do meio ambiente. Criou um horto florestal, no bairro Maracanã, zona rural de São Luís. Nele, cultivou diversas espécies, cujas sementes eram objetos de doação o que era feito com o intuito de contribuir para a preservação ambiental local, num papel de vanguarda na defesa do meio ambiente.

Em EM BUSCA DA PRIMAVERA, obra de Rosa Mochel, publicada em 1977 e que integrava o Programa de Ação Cultural do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado do Maranhão – SIOGE, o então administrador dele, acadêmico Jomar Moraes, assim apresentou a autora: “Autora, entre muitos trabalhos, do livro CONHEÇA O MARANHÃO, Rosa Mochel Martins ama a natureza, distribui sementes, incentiva o artesanato, pesquisa manifestações folclóricas, escreve teatro, planta flores ou denuncia, como neste oportuno texto, as distorções que ferem de morte a natureza, numa época em que é necessário preservá-la”.

Dois pequenos belos trechos de EM BUSCA DA PRIMAVERA são reveladores das considerações feitas por Moraes: “[…] O menino morava em frente a uma pequena praça circundada de grosseiros bancos de cimento bastante danificados. De espaço a espaço, contavam-se trinta quadras dos abertos no chão para conterem árvores. Das trinta mudas ali plantadas, doze morreram, quatorze sumiram como por encanto e quatro conseguiram sobreviver.  Uma, a que ficava defronte de sua casa, era a mais frondosa. As três restantes, deformadas pela falta de proteção, não chegaram a alcançar dois metros. Aquele, decididamente, não era o melhor meio para abrigar andorinhas”; “[…] Plantando e protegendo árvores, talvez a primavera chegasse mais depressa e com ela, as andorinhas”.

Seguindo a obsessão de Rosa Mochel pelo meio ambiente, foi criado, em 1988, há 35 anos, portanto, o Herbário da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, como espaço das aulas práticas do Curso de Agronomia. Desde 2009, ele está registrado na Rede Brasileira de Herbários da Sociedade Botânica do Brasil – SBB como Herbário Rosa Mochel. A partir do ano de 2010, ele passou a integrar o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do MCT – Herbário Virtual da Flora e dos Fungos do Brasil.

O acervo possui cerca de 7 mil amostras de material botânico. O Herbário Rosa Mochel tem como missão conhecer e conservar a flora do Estado do Maranhão, atendendo alunos de graduação, pós-graduação, pesquisadores e bolsistas da UEMA e de outras instituições, e a comunidade escolar em geral.

Para mais, a Fazenda Escola do Campus de São Luís da UEMA, espaço para a pesquisa e experimentação dos cursos da área de Ciências Agrárias, mantém a Reserva Florestal Rosa Mochel.

Em homenagem à Professora Rosa Mochel, existe a Unidade Integrada de Ensino Rosa Mochel Martins, situada no bairro da Vila Embratel, em São Luís. Em Humberto de Campos, a Biblioteca Municipal também leva o nome dela.

No Maracanã, em conjunto com a comunidade local, Rosa Mochel criou e organizou o que vem a ser hoje a tradicional Festa da Juçara, realizada anualmente no mês de outubro.

Professora normalista, Geógrafa e Historiadora (Bacharelado), esteve à frente da Secretaria de Educação e Ação Comunitária de Toponímia para a Conservação do Patrimônio Histórico do Município de São Luís, onde desenvolveu  abrangente e arrojado programa, cujo objetivo principal era o de despertar as potencialidades da gente maranhense numa linha de preservação dos mais autênticos e mais representativos valores culturais do Estado, com ações voltadas, sobremaneira, para a educação de crianças e jovens.

Em O MUNDO LENDÁRIO DO HOMEM, a autora relata o que se diz por aí: “[…] nas calçadas altas das casas de interior, nas horas de uma roçada, no semissilêncio da espera do peixe ou da caça, nos largos de festa e até nos velórios, que tudo é motivo para relembrar o acontecido ou não, com os enfeites da imaginação humana. Talvez gostosas mentiras que caíram no ‘gosto’ e se popularizaram”.

Para Rosa Mochel, “Lendas sempre existirão. Elas nascem da imaginação popular”. Ela as retrata em O MUNDO LENDÁRIO DO HOMEM, desde o Dom Sebastião perdido na costa maranhense àquela terra em mãos dos soldados portugueses transformada, como por encanto, em pólvora que reabastece as armas no Milagre da Guaxenduba, não sem antes lembrar que “[…] em dias de sexta-feira, à meia-noite, sai uma procissão do cemitério. São os escravos sacrificados por dona Ana Jansen, rezando e pedindo o castigo à culpada. Percorre essa procissão as principais ruas de São Luís com velas acesas e regressa depois ao lugar santo”.

Rosa Mochel exerceu o magistério como Professora do Liceu Maranhense, do Colégio de São Luís, do Instituto Rosa Castro, da Escola Técnica do Comércio e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC.

Foi também, na década de 70, membro do Departamento de Geografia e Estatística da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, atuando como docente e Assessora Técnica do Programa Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC), criado em 1965, com o objetivo de formar profissionais adequados às exigências das áreas interioranas do Brasil.

Auxiliou o Geógrafo e Engenheiro maranhense e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, Dr. José Eduardo de Abranches Moura (irmão de Dunshee de Abranches) na elaboração da nova “Carta do Estado”.

Foi executante de estudos das linhas divisórias e demarcações dos municípios de Coelho Neto, Buriti, Urbano Santos, Humberto de Campos, Pastos Bons, Mirador, Colinas, Pedreiras, entre outros.

Em 3 de novembro de 1969, por meio da Lei Nº 3.003, regulamentada pelo Decreto Nº 4.045, de 12 de dezembro do mesmo ano, foi criada a Escola de Agronomia do Maranhão como entidade autárquica estadual, com autonomia orçamentária, administrativa e didática, com sede em São Luís. Em menos de uma década de existência, a Escola de Agronomia do Maranhão recebeu autorização de funcionamento do Conselho Estadual de Educação, em 30 de setembro de 1970 e, posteriormente, foi reconhecida como Instituição de Ensino Superior, em sessão plenária do Conselho Federal de Educação, em 30 de abril de 1974.

A Portaria Nº 002/70, de 04 de maio de 1970, nomeava Professor-Assistente da Escola de Agronomia do Maranhão a Professora Rosa Mochel Martins, para a Cadeira de Desenvolvimento de Comunidade.

Apresentou a Professora. Rosa Mochel o seguinte currículo: “Rosa Mochel Martins, Engenheiro Agrônomo. Bacharel e Licenciada em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia de São Luís do Maranhão (1961). Curso de Aperfeiçoamento de Professores promovido pelo Departamento Nacional de Serviço Social da Indústria (1964). Curso de Avicultura Doméstica (prático), realizado em 1966. Exercício de Magistério nas disciplinas: Complementos Humanísticos e Problemas do Desenvolvimento Brasileiro, na Escola de Engenharia do Maranhão”.

Com sensibilidade para as artes, criou o Centro de Artes Japiaçu (1972) e a Casa de Alice, onde eram oferecidos cursos voltados ao artesanato, música e teatro, além de desenvolver trabalhos com artesões e artistas.

Rosa Mochel Martins conciliou, brilhantemente, as atividades técnicas e artísticas, sendo autora de diversos poemas, poesias, contos, peças teatrais e músicas, entre os quais o poema “O Globo e a Primavera”, onde se tem: “Outras Primaveras virão/ porque o globo gira, gira/e caminha sempre/ para onde não sei/ Estou nele/ Ando com ele/ e sei que é só uma vez”.

Em “De Quem é o Arroz”, revela a expropriação do pequeno lavrador: “João roçou/ João plantou/ João apanhou/ O arroz douradão/ Depois o Chefão/ Não deixou João socar o arroz/ No seu pilão/ De quem é o arroz/ Que João plantou? Será de João?/Ah! Isso é que não/ O arroz de João/ Não chega ao pilão/ O chefe é chefão/ João é peão”.

Rosa Mochel foi agraciada com a Medalha do Mérito Agronômico pela Sociedade de Engenheiros Agrônomos do Maranhão; Medalha Comemorativa do Nascimento de Alberto Santos Dumont pelo Ministério da Aeronáutica; Medalha Gonçalves Dias pela Academia Maranhense de Letras; Diploma de Honra ao Mérito pelo Ministério da Educação – Fundação Mobral.

Rosa Mochel tem vários trabalhos publicados em suas diversas áreas de atuação. Dentre eles, o famoso CONHEÇA O MARANHÃO, de caráter pedagógico, publicado no início da década de 70.

Foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão –IHGM e ocupou, naquele sodalício, a cadeira de número 09, patroneada pelo historiador e administrador colonial Bernardo Pereira de Berredo e Castro (foi governador do Estado do Maranhão, de 1718 a 1722).

Rosa Mochel faleceu no dia 2 de fevereiro de 1985, na cidade de São Luís.

*José Augusto Silva Oliveira é Professor. Ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM.

O FAMINTO ESCAMPO SE MODERNIZOU

Por Zé Carlos Gonçalves

Um dia desses, estando na fila de um supermercado, me peguei longe, muito longe, ao ver as filas se arrastarem e se alimentarem, como se nunca fim tivessem. E, para surpresa minha, começaram a desfilar, em minha mente, cenas, que muito presenciei em minha infância.

Bons exemplos disso eram o preguiçoso e gemente rodar dos carros de boi, a “chiar” as mais tristes cantigas, quando o dia se iniciava, a invadir as sacras veredas da Baixada; e o compassado e leve andar dos bois cavalo e da mulas, “surgentes” no horizonte azul, inflados e perdidos em meio às gigantescas cargas; para depois, tão chochos, voltarem engolidos pelas magricelas cangalhas, como se fossem vítimas de uma bem sucedida bariátrica. E o “franzino e rijo cabôco” a acompanhar, no mesmo passo, se deixando levar em moroso marasmo, como se parasse a vida para lhe dar passagem.

O mais cruel, no entanto, era espiar “a deslealdade feroz do escambo”, a devorar a força bruta e a dignidade daqueles, que já eram, impiedosamente, castigados por tão implacável lida no eito. Quão trucidados eram “pela fome, sem fim, do comércio”. Muitos e muitos quilos de babaçu; e somente “uminha” quarta de café, meio quilo de açúcar, “um litro de criosene”, um pedacinho de “fumo de mólho”. O único alento, que lhe restava, era o “olhá cumprido pru lado dum vivo ispelinho, tão cobiçada e cara joia, qui discansava nais imundas partileiras”. Só um sonho, a mais, adiado.

E, no fim das contas, restava o sofrido e cansado “cabôco”, que, para piorar, “inda ia ser anotado no vil, amarrotado e ladravaz caderninho”, do qual nada desconfiava “nem tinha ciência” daquele conteúdo tão voraz. Sempre “devente”, até o suspiro final.

E eu, na bendita fila, a achar “qui us tempo são ôtos”. Que, por depravada ironia, estamos progredindo. Mas … o certo, o certo mesmo, é que o faminto escambo se modernizou!

TERRA DAS ÁGUAS

Por Gilvan Mocidade*

Terra querida
Abençoada
E hospitaleira
Terra das águas
E das juçareiras
Tu é a Rainha
Do nosso Munim

Quero ouvir
O canto
De um sabiá
Na pedra
Do tanque
Tu vai te encantar
Orgulho
Do nosso
Maranhão
Salve salve
A minha
Bela Axixá

Em perijuçara tem
Um por sol
No cais
A revoada
Dos guarás
É um Encanto
A mais
Toca minha orquestra toca
Pra meu boi dança
Essa é a Mocidade
Lá de Axixá.


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AMÉLIA FERRARI, UMA REFERÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE ORIXIMINÁ

Por Ângelo Ferrari*
 
Nascida em 1942 no lago Sapucuá, na comunidade Amapá, em Oriximiná, a Professora Amélia Ferrari, minha mãe, sempre foi uma referência sobre Educação para nossa família e na região do Baixo Amazonas.

Era uma época onde tudo era precário, onde até o deslocamento era complicado, as pessoas em suas pequenas embarcações levavam dois, três dias de canoa até o centro de Oriximiná, remando, já que ter uma embarcação motorizada era um privilégio para poucos e as embarcações maiores eram em menor número. Se atualmente as escolas ainda são precárias, imaginem naquela época em que não havia os recursos disponíveis que se tem hoje.

Estudar era difícil, mas desde cedo, meus avós, já preocupados com a educação da filha, mandaram minha mãe para a capital, Belém, onde ela estudou até se formar em Magistério, quando decidiu voltar para Oriximiná e exercer a docência, uma das mais belas profissões e, na minha opinião, a mais importante de todas, que é a de professora.

Uma memória que merece respeito, uma história irretocável, de índole e reputação ilibada. E é assim que eu, minha família e o povo de Oriximiná vamos sempre lembrar da nossa matriarca. Uma mulher de luta, honesta e, sobretudo, apaixonada pela Educação.

* Ângelo Ferrari é filho Amélia Ferrari, natural de Oriximiná/PA, Deputado Estadual. Informações de contato: E-mail: ascom@angeloferrari.com: e http://www.angeloferraripa.com/

O GRANDE AMOR DE GONÇALVES DIAS

Ana Amélia Ferreira do Vale nasceu em São Luís em 1831. Filha do comerciante português Domingos José Ferreira Vale e Lourença Francisca Leal Vale. Seu pai, Domingos nasceu na freguesia de Santa Isabel, cidade de Lisboa, no dia 18 de julho de 1785. Jovem veio com a família para o Maranhão. Trabalhou como caixeiro e depois contador da firma de Ricardo Nunes Leal, onde conseguiu sucesso e fortuna. Casou-se com Lourença, sobrinha de seu patrão Ricardo Leal, em 1813 em São Luís. Lourença Leal vem de uma família tradicional de ricos comerciantes estabelecidos no Maranhão. Filha do português Antônio Henriques Leal (o velho) e da maranhense Ana Rosa de Carvalho.

Fonte: https://eziquio.wordpress.com/

https://www.instagram.com/anacreusamartins/

GONÇALVES DIAS: O PEDIDO DE CASAMENTO

[São Luís, 1851]

A dona Lourença Ferreira do Vale,

Estou por momentos à espera do vapor, em que hei de partir para o Ceará: por este motivo, e porque a minha demora já tem sido bastante longa, não posso ir a Alcântara pedir-lhe as suas ordens nem para falar-lhe de um negócio que me interessa, e sobre o qual me permitirá de a ocupar por alguns momentos. Parecer-lhe-ei importuno e impertinente: por isso também para escrever-lhe esta, preciso de recordar-me da bondade suma com que me tem tratado.

Para lhe falar sem rodeios, a que estou pouco acostumado, eis o de que se trata: peço-lhe dona Ana Amélia em casamento. Fazendo-lhe semelhante pedido, quero, e é do meu dever, ser franco. Não tenho nem a ambição de figurar na política do meu país nem o amor de fazer fortuna, e quando se desse o contrário faltar-me-ia ainda a habilidade, o jeito para alcançar ambas, ou qualquer destas coisas. Assim parece-me que nem chegarei a ter mais do que hoje tenho, sendo difícil que venha a ter menos, nem valerei mais do que hoje valho, que é bem pouco. Não desconheço que outros, e decerto melhores partidos, se oferecerão para sua filha: a única compensação que lhe posso oferecer, mas que não sei se a julgará suficiente, é que me parece ter conhecido quanto ela por suas qualidades se recomenda, e querer lisonjear-me de que a trataria quanto melhor pu­desse, bem que não quanto ela merece. Rogo-lhe, pois, que não veja neste meu pedido atrevimento da minha parte; porém o desejo grande que tenho de me ver ligado com uma família, a quem por tantos motivos respeito e sou obrigado, e a uma pessoa a quem desejaria ter por companheira.

Sendo afirmativa a sua resposta, voltarei do Rio, tendo assegurado de alguma forma o meu futuro, e o mais breve que puder para aceitar o seu favor, e beijar-lhe as mãos por ele. No caso contrário posso asseve­rar-lhe que acostumado de há muito a sofrer reveses na vida, não será este dos menores. Procurarei persuadir-me que algum motivo mais forte que a sua natural bondade terá obstado ao seu consentimento, e consolar-me-ei com a lembrança de que me esforcei por alcançar a mão de sua filha, se não fui digno de a merecer.

Anais da Biblioteca Nacional: correspondência ativa de Gonçalves Dias. Rio de Janeiro: Divisão de Publicações e Divulgação de Biblioteca Nacional, 1971, p. 132. https://correio.ims.com.br/

 

EU, BAIXADEIRO DA GEMA!

Por Zé Carlos Gonçalves

Às vezes, vago perdido

                         de mim …

  

 as mais fantásticas belezas

                  não me encantam     

                         não me dizem    

               não me satisfazem!

 

    carrego comigo o verde,

                             terra-mãe,

                   mais e sublime,

                               e

                             o azul,

               mais vivo e alentador,

                  a me enfeitiçarem

                  no calor chamante

                       da curacanga!

 

   devaneio pelas trilhas,

           cheias de mistérios

                           e

                    sabenças,

          dos infindos campos,

             que me forjaram   

              menino e poeta,

             nas horas vagas

             de todos os dias!

 

   ouço,

      em todos os instantes,

        os “ecos da Baixada”

          a me confessarem

           a sagrada origem

                         e

          a me sussurrarem

           o amor materno,

               que me vela

                         e

                me conduz!

 

   atendo ao chamado

             do tambor grande

   queimo palhinhas,

           para alegrar os Reis

   tiro jóia para o divino    

                 Espírito Santo

   faço falar a matraca,

             a acordar São João

   passo fogueira,

          a reafirmar a amizade

   revivo presépios,

        a celebrar o Nascimento

   jogo pião, no terreiro santo

            da Floriano Peixoto

   sento na porta,

    a fortificar os meus laços

   sou o filhote,

         a não se desgarrar

               da ninhada!

 

   assim, sigo convicto

                  do que sou:

 

      baixadeiro da gema,

 

        comedor de beiju

                        de chibé

                       de murici

                      de juçara

                     de sarapó

                    de jaçanã                  

                   de bacaba                                 

                  de tapiaca

                 de marreca

                de surubim

               de mussum

              de baguinho

             de piaba frita

            de tarira seca

           de leite de bufa 

          de farinha dágua

         de angu com isca

        de bucho de sarro   

       de bolo de tapioca

      de café com farinha de galinha ao molho pardo                    

 de mandi no leite de coco

                       e             

           bebedor do Turi

                        do Mearim

                       do Pindaré

                      do Pericumã!