NATUREZA INTELIGENTE: Fruteiras nos quintais… É COISA NOSSA!

Por Gracilene Pinto

A jaqueira velha tinha mais de cem anos. Foi plantada pelo meu avô. Como acontece com os idosos, já caducava. Continuava a frutificar, mas seus frutos, de tamanho regular, não continham mais do que quatro ou cinco bagos. Grandes e doces, mas muito poucos, porque o resto todo era de bagos secos. Continue reading “NATUREZA INTELIGENTE: Fruteiras nos quintais… É COISA NOSSA!”

LUA DE LOUCOS

Por Gracilene Pinto

Rola no céu uma lua clara e bela,
Que amarela e enfeita o meu quintal
Para o baile dos sonhos e quimeras
Da madrugada tranquila e irreal.

Reina em meu peito uma paz
Feita de encantos, sedução e fantasia.
Eu queria que a noite fosse longa
E que os sonhos não fugissem ao vir o dia.

Não sei qual é o mistério da lua cheia,
Que embriaga e seduz
Minh’alma aos poucos.

Talvez por que ela seja mesmo dos poetas,
Dos amados, dos amantes…
Enfim, dos loucos.

(Imagem Luar do Renascença em São Luís do Maranhão )

O NAUFRÁGIO DA LANCHA PROTEÇÃO DE SÃO JOSÉ, OU O PODER DA MÚSICA

Por Gracilene Pinto

A noite estava amena naquela terça-feira, vinte e sete de outubro de 1965.

Os irmãos João e Manoel Pinto, primos da minha mãe por ser filhos de Mariana e Chico Pinto, de São Vicente Férrer, haviam embarcado cedo na lancha Proteção de São José, a fim de ter o privilégio de escolher um bom local para armar suas redes brancas de fio tecido.

Havia três lanchas ancoradas no Porto de Rapôsa naquele dia: Fátima, Maria do Rosário e Proteção de São José. É provável que a escolha desta última haja sido influenciada pela devoção familiar ao santo que lhe emprestava o nome. Mas, também pode ter sido simplesmente porque com o grande fluxo de passageiros e cargas, a lotação das embarcações se completasse rapidamente, razão pela qual as lanchas quase sempre viajavam com excesso de carga.

As três lanchas zarparam juntas do Porto da Raposa com destino à Capital do estado, o que talvez fosse uma estratégia de autoproteção dos seus comandantes para enfrentar a aventuresca viagem com mais segurança, já que a perigosa travessia em mar aberto era tarefa para mestres experientes, e que, com a escuridão da noite, punha à prova até mesmo a coragem de quem já lhe conhecia os percalços, como escreveu Batista Azevedo, e, mais tarde, Raimundo Corrêa Cutrim em seu livro Perfil da Baixada Maranhense. Viajando próximas umas das outras, poderiam mais facilmente auxiliar-se em algum eventual problem. Mas, a Proteção de São José seguia serena, até onde se pode usar tal palavra para designar a movimentação de quem navega nas águas nada mansas do Golfão Maranhense no segundo semestre do ano.

Tendo em vista não ser a primeira vez que encaravam tal aventura, os irmãos João e Manoel Pinto estavam tranquilamente deitados em suas redes perfumadas de oriza e confortavelmente embrulhados nos alvos lençóis, desfrutando da boa música que tocava no rádio a pilhas da lancha. Com o balanço da maresia, terminaram por adormecer.

Porém, eis que inusitadamente próximo ao Porto do Itaqui, na altura de Tauá Redondo, já em plena baía de São Marcos, a lancha Proteção de São José chocou-se com os arrecifes de uma croa, e, em questão de minutos, ocorria a maior catástrofe marítima que até hoje teve por palco o Maranhão, com a embarcação partindo-se e ocasionando a morte de cerca de 270 pessoas, que poucos foram os sobreviventes, pois a tragédia ceifou a vida da maior parte dos passageiros e tripulantes da embarcação.

Quanto aos irmãos João e Manoel Pinto, tão confortáveis se achavam em suas redes macias, que não despertaram nem mesmo com os gritos e o vozerio do povo, grunhidos e cacarejos dos animais ou com o ensurdecedor barulho dos motores, ficando sepultados na Baía de São Marcos, pois seus corpos nunca foram encontrados.

Testemunhos dos poucos sobreviventes, dão conta de que, no exato momento do acidente, no rádio sintonizado com a Rádio Difusora do Maranhão tocava a magistral “Valsa da Meia Noite”. Aquela mesma música cuja autoria é atribuída por uns a Nullo Romani (que a gravou juntamente com seu conjunto) e por outros a Frank Amodio, sendo, tanto um como outro, dois ilustres desconhecidos.

Entre os poucos sobreviventes que tive conhecimento, estão Bijuca Figueiredo Marques (o Bijuca do São Francisco, que nadou do Boqueirão até o Cais da Sagração, em São Luís, onde chegou vivo, mas em estado tão lastimável, que sequer conseguia manter-se em pé); Pedrinho Duarte e sua esposa Dona Marinete (única mulher a se salvar), os quais perderam no sinistro sua primeira filha, de menos de dois meses; Pedro de Geraldo; Sandaia; Batista de Pacherá e Quidinho.

De algumas das vítimas, como os irmãos João e Manoel Pinto, Francisco Pires Corrêa, Bijuca do Goiabal e Zenaide Aranha, sequer seus corpos foram encontrados.

Em São João Batista, por iniciativa do então Vereador Zezi Serra, foi sancionada uma Lei Municipal que tornou o dia 27 de outubro, dia do naufrágio da lancha Proteção de São José, feriado municipal, em memória daqueles que sucumbiram nas águas da Baía de São Marcos.

Em São Vicente Férrer a “Valsa da Meia Noite” passou a ser considerada sinônimo de luto, tão grande é o poder da música que fica registrado como um verdadeiro marco em nosso espírito. E, a partir de então, Batista Souza, mais conhecido como Batista de Nhoí, proprietário do sistema de difusão sonora por autofalantes naquela cidade, enquanto viveu, antes de transmitir qualquer notícia fúnebre, sempre tocava a magistral Valsa da Meia Noite, honrando a memória, não só do falecido naquele momento, mas também dos conterrâneos vitimados na tragédia de 27 de outubro de 1965.

VIANA

Por Gracilene Pinto

Eu vi Ana!
Eu vi Ana na janela!
Fosse princesa ou cigana,
Eu só sei que era bela.
E, quando ela aparecia
Na janela do castelo,
O dia resplandecia
Tornando o mundo mais belo.
Eu vi Ana, a bela prenda,
Em um castelo em Portugal,
Dizia a antiga lenda
Da minha terra natal.
E assim ficou batizada
A Viana do castelo,
Capital do Minho, amada,
O mais doce dos meus anelos.
Daquele porto eu zarpei
Trazendo muita saudade
De todos os que amei
E da minha rica cidade.
Porém, quis Deus que eu viesse,
Por Divina inspiração,
Fundar uma nova Viana
Nas terras do Maranhão.

TOADA PERIGOSA

Por Gracilene Pinto

Sobre a questão de toadas na Baixada Maranhense, tem uma história, com H mesmo, de dois homens de um município vizinho que fizeram uma viagem à Viana. Chamavam-se Benedito e Nicolau (os nomes são fictícios para preservar a identidade dos protagonistas).

Lá, Benedito “tomou gosto com uma viúva”. Ela contou para seus irmãos, que a orientaram a marcar um encontro depois das 22 horas em sua residência com o saliente. A mulher marcou o encontro e os irmãos ficaram de tocaia dentro da casa esperando o sujeito, que chegou acompanhado do parceiro.

Logo, a dupla estava amarrada igual a porcos para o abate. Sobre a mesa havia, de um lado uma faca e um revólver destinados ao Benedito, por ser o autor do insulto. Do outro lado, um prato de pimenta malagueta e uma garrafa de azeite de carrapato, à espera de Nicolau. Os dois teriam que escolher a sentença que mais lhes conviria. Benedito, optou pela faca. Deixaria um importante pedaço em Viana, mas preservaria a vida. Curau, preferiu o azeite de carrapato à pimenta malagueta, pois, além de não arder ainda faria uma limpeza intestinal. Terminado o serviço os vianenses soltaram a dupla, que caiu no mundo, voada.

Seguiram a longa estrada de volta pra casa, Benedito se esvaindo em sangue e Nicolau em merda. Benedito, quase não resistiu, mas como não era ainda sua hora, não morreu. Nicolau, intestino limpo, a saúde melhorou. Os dois até engordaram, depois do evento. Os cantadores de boi tiveram novo assunto para inspira-los, e no São João matracas e pandeirões apanharam na homenagem aos dois “heróis”:

“Eu não vou mais em Viana
Que é lugar de gente mau,
Caparam Benedito
E deram azeite a Nicolau”.

(Imagem Lago de Viana – Maranhão em clic de Richard Leite).

O RIO SÓ QUER PASSAR

Por Gracilene Pinto

       É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

        De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

        Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

        Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

         Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

         Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

         Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas,  porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

           O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

            A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

            É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi ela a invadida em sua propriedade. O rio só quer passar!

            Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

O CICLO DAS ÁGUAS

Por Gracilene Pinto

É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas, porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi invadida em sua propriedade.

Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana, e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

Salve o Dia da Poesia!

Por Gracilene Pinto

Ao poeta condoreiro no Dia da Poesia

Uma chama fugaz brilhou na terra,
Teve até quem não visse o seu brilhar,
Distraída demais a vista erra
Sem o que vale a pena observar.

Assim passou também o condoreiro
Sem que o mundo notasse o seu valor,
Embora de janeiro a janeiro
Estivesse poetando sobre o amor.

Morreu como vivera, sufocado,
Pelas desilusões que a vida traz,
Possa o poeta ter na morte encontrado
Fartura de deleite, amor e paz.


Salve o Dia da Poesia!

O poeta é um duende que voa
Com a asa da imaginação,
Vê beleza em qualquer coisa atoa
E transforma a beleza em canção.

O poeta é um ente que habita
Em um jardim de enorme esplendor,
Na harmonia de sons e perfumes,
Nos cambiantes de vida e de cor.

Que, exaltado,
Em vã tentativa
Quer em rosa a vida colorir.

Que passeia entre sonhos
E que voa
Na asa multicor de um colibri.

(Gracilene Pinto in NA ASA DE UM COLIBRI – imagem da autora com sua obra na livraria AMEI).

NAS ÁGUAS DE MARÇO, NASCE UMA ESTRELA

NAS ÁGUAS DE MARÇO

Por Gracilene Pinto

Noite escura e tenebrosa
Lá nos campos da Baixada.
A chuva descia em torrentes
Com a força da invernada

Lavando casas e matas,
Daquele ermo sertão,
Com as fortes águas de março
Deste nosso Maranhão.

Como diziam os mais velhos,
Chuva é sinal de fartura.
É bênção de Deus que ameniza
O rigor da vida dura.

É sinal de abundância,
Na terra, na água, no céu:
Peixes, aves, boa safra,
Arroz, farinha, a granel.

Com o barulho das torrentes
Não se ouvia quase nada,
Só a orquestra coaxante
Da imensa saparada.

Mas, alguém de bons ouvidos,
Prestando bem atenção,
Iria ouvir uns gemidos
De dor e muita aflição.

Uma bela moça ruiva,
Gemendo em grande sofrer,
Fazia força ajudando
O seu filhinho a nascer.

Do mesmo modo que um dia
Sofrera a mãe de Jesus,
Ela era também Maria
E tentava ao filho dar a luz.

A mãe, a irmã, as vizinhas,
Rezavam com devoção,
Pai-Nossos, Ave Marias,
O Rosário da Conceição.

A moça sofria tanto!
Tanto gemia, coitada!
E a criança não nascia
Com chá, com reza, com nada!

Foi, então, com grande fé,
Nascida do coração,
Que à Senhora do Rosário
Numa contrita oração

Pediu ajuda e socorro,
A bela Maria das Graças.
Clamando ao auxílio divino,
Suplicava pelas graças:

Que viesse logo o bebê,
Cheio de saúde e beleza.
Corpo de anjinho barroco
E rostinho de princesa.

A prece chegou ao céu
E o milagre aconteceu:
Um olhar da cor do mel
Em São Vicente nasceu.

Pelas dez horas da noite
A neném tão esperada
Deu seu grito de vitória
Chorando desesperada.

Do jeito que a mãe pediu
Veio ao mundo, a pequenina.
E assim todo mundo viu
A grande bênção divina.

Ainda era doze de março,
E a chuva continuava.
Sagrada água de março
Que a menina batizava.

… Enfim, nasci!

Flores, flores…

Por Gracilene Pinto

Pedacinhos de arco-íris, multicores, de variados matizes,
E nos deixam mais felizes
Com a alegria do jardim.
São dádivas preciosas,
Delicadas, olorosas,
Que o Deus da misericórdia
Nas manhãs sempre concorda
Em de novo dar pra mim.
Flores são do céu pedaços,
Do sol, delicados traços
Que a boa Mãe Natureza,
Exuberante em beleza
Vai desenhando pra nós.
São musas inspiradoras
Das lindas aves cantoras,
Que em todo canto e recanto
Vão encantando com seu canto
Alvoradas e arrebóis!