GONÇALVES DIAS: A ESCRAVA

O biem qu’aucun bien ne peut rendre,
O Patrie, ó doux nom que l’exil fait comprendre!
Marino Faliero

Oh! doce país de Congo,
Doces terras d’além-mar!
Oh! dias de sol formoso!
Oh! noites d’almo luar!

Desertos de branca areia
De vasta, imensa extensão,
Onde livre corre a mente,
Livre bate o coração!

Onde a Ieda caravana
Rasga o caminho passando,
Onde bem longe se escuta
As vozes que vão cantando!

Onde longe inda se avista
O turbante muçulmano,
O Iatagã recurvado,
Preso à cinta do Africano!

Onde o sol na areia ardente
Se espelha, como no mar;
Oh! doces terras de Congo,
Doces terras d’além-mar!

Quando a noite sobre a terra
Desenrolava o seu véu,
Quando sequer uma estrela
Não se pintava no céu;

Quando só se ouvia o sopro
De mansa brisa fagueira,
Eu o aguardava — sentada
Debaixo da bananeira.

Um rochedo ao pé se erguia,
Dele à base uma corrente
Despenhada sobre pedras,
Murmurava docemente.

E ele às vezes me dizia:
— “Minha Alsgá, não tenhas medo:
Vem comigo, vem sentar-te
Sobre o cimo do rochedo.”

E eu respondia animosa:
— “Irei contigo, onde fores!”
E tremendo e palpitando
Me cingia aos meus amores.

Ele depois me tornava
Sobre o rochedo — sorrindo:
— “As águas desta corrente
Não vês como vão fugindo?

“Tão depressa corre a vida,
Minha Alsgá; depois morrer
Só nos resta!… — Pois a vida
Seja instantes de prazer.

“Os olhos em torno volves
Espantados — Ah! também
Arfa o teu peito ansiado!…
Acaso temes alguém?

“Não receies de ser vista,
Tudo agora jaz dormente;
Minha voz mesmo se perde
No fragor desta corrente.

“Minha Alsgá, por que estremeces?
Por que me foges assim?
Não te partas, não me fujas,
Que a vida me foge a mim!

“Outro beijo acaso temes,
Expressão de amor ardente?
Quem o ouviu? — o som perdeu-se
No fragor desta corrente.”

Assim praticando amigos
A aurora nos vinha achar!
Oh! doces terras de Congo,
Doces terras d’além-mar!

Do ríspido Senhor a voz irada
Rábida soa,
Sem o pranto enxugar a triste escrava
Pávida voa.

Mas era em mora por cismar na terra,
Onde nascera,
Onde vivera tão ditosa, e onde
Morrer devera!

Sofreu tormentos, porque tinha um peito,
Qu’inda sentia;
Mísera escrava! no sofrer cruento,
“Congo!” dizia.


Fonte: https://vinteculturaesociedade.wordpress.com/. Foto de destaque: Aqualtune foi uma princesa congolesa escravizada no Brasil e líder quilombola à frente de um dos 11 mocambos do Quilombo dos Palmares, que resistiu ao regime colonial por cerca de 130 anos, ela é avó de  Zumbi dos Palmares.

Foto de quadro em memorial na OAB/MA.

PERI-MIRIM: Associação dos Moradores do Quilombo Pericumã discute a implantação de projetos

No sábado, dia 18/03, a AMQUIPÉ (Associação dos Moradores do Quilombo Pericumã), esteve reunida. Na ocasião tratamos de vários assuntos.

Fizemos um histórico da nossa associação reconhecendo que, apesar de muitos erros, nós devemos muito ao Senhor Simeão Gonçalves.

Fizemos, também, uma retrospectiva do nosso conflito com Ariolando Braga. Explicamos que a Justiça é o caminho que buscamos para a solução dessa disputa.

Definimos que a nova diretoria fará uma atualização no quadro de associados e estabelecemos que a mensalidade será de RS 10,00. Definimos alguns critérios para um projeto de casas do programa Minha Casa Minha Vida. Terão prioridades quem mora em casa de taipa, quem já tem família, mas vive agregado em casa de pai e mãe e as mães solteiras. Tem que ser filhos do lugar e sócio da associação.

Lamentamos a ausência do Secretário de Ação Social, Paulo Sérgio, que não pôde comparecer. Vamos marcar uma nova reunião com a presença dele. Contamos com a presença de Geilsa Ferreira, Secretária de Igualdade Racial do Município. Tivemos, ainda, a grata presença de Maria de Antônia que é filha do lugar, é formada em psicologia e se colocou à disposição da associação para contribuir em nossa caminhada.

Projeto Memorial Gonçalves Dias: uma estratégia de articulação entre a organização de arquivo e pesquisa biográfica e bibliográfica.

Por Wybson Carvalho*

Resumo:

Apresentação do projeto Memorial Gonçalves Dias se propõe a organizar e divulgar o legado cultural e a memória do poeta, teatrólogo, pesquisador, e advogado.
O projeto prevê a instalação de um Centro de Documentação para catalogar o acervo de Gonçalves Dias; de um Portal na Internet para disponibilizar em uma base de dados online o acervo histórico do homenageado; a redação da Biografia Oficial, iniciada através de pesquisa do próprio centro de documentação; e a instituição de um Memorial, um espaço museográfico e cultural permanente.

1 Introdução e Justificativa:

Salvaguardar a memória de Gonçalves Dias, através de um projeto à altura de sua expressão nacional, é uma aventura comparável apenas à sua própria trajetória. Mas é preciso fazê-lo, urgentemente, com o mesmo espírito audacioso que sempre o caracterizou. Primeiro porque, se protelarmos essa empreitada, corremos o risco de desperdiçar a documentação que hoje está dispersa. Da mesma forma, temos urgência na reconstrução de sua memória a fim de termos subsídios para organizar sua biografia e o país compreenderá com profundidade a história desse imortal.

Em segundo lugar, não podemos deixar escapar a oportunidade de celebrar, e, potencializar, a possibilidade de uma boa execução desse projeto, pode se tornar um símbolo para despertar no país o interesse pela obra e memória Gonçalvina.

A cidade de Caxias – MA, atualmente, também, oferece as melhores condições para constituir-se no centro irradiador desse trabalho. A cidade concentra um grande número de conterrâneos do poeta, que querem conhecer a sua biografia e bibliografia e, principalmente, conviver com a memória de Antônio Gonçalves Dias. A região da Mata do Jatobá, distrito municipal da circunvizinha cidade de Aldeias Altas foi o cenário escolhido pela natureza para que ele nascesse, e a própria cultura regional já revela muito interesse do conhecimento intelectual que permeou sua obra e que pode ser conhecida, através de oficinas e envolvimento para apoiar a logística do projeto.

Enfim, simultânea à urgente demanda por um trabalho sólido, amplo e permanente que faça jus à vida pública do poeta e seu berço natal, temos todas as condições físicas e humanas para a execução desse projeto.

2 Objetivos Gerais:

2.1 Instituir um centro de referência documental para conservar o acervo histórico de Antônio Gonçalves Dias e apoiar pesquisadores e pessoas interessadas em sua vida e produção intelectual;
2.2 Constituir um site oficial de informação on-line e multimídia sobre Antônio Gonçalves Dias, organizando na Internet um banco de dados inédito com textos, documentos, fotos e arquivos multimídia sobre o escritor;
2.3 Estabelecer no país um livro de referência sobre Antônio Gonçalves Dias;
2.4 Criar um espaço museográfico sobre sua a vida e obra, abrangendo também documentação sobre a cultura da região.

3 Procedimentos gerais:

Com o objetivo de preservar e divulgar o legado cultural do escritor, o Projeto “Memorial Gonçalves Dias” propõe quatro programas que se darão de forma gradual e simultânea. São eles:

3.1 – Instituição do Centro de Documentação Gonçalves Dias;
3.2 – Desenvolvimento na Internet do Portal Gonçalves Dias;
3.3 – Pesquisa, redação e publicação da Biografia Oficial de Gonçalves Dias;

3.4 – Instalação do Memorial Gonçalves Dias.

A verdadeira concretude em homenagem a Gonçalves Dias

Brasileiros, maranhenses e, particularmente, caxienses; pois bem, neste ano de 2023 no qual o poeta Gonçalves Dias, 10 de agosto, completará para nós e para o mundo dois séculos de vida à eternidade literária, além de, em nossa Caxias, haver desde já espontâneas manifestações nas mais diversas linguagens artístico-culturais pelos fazedores de cultura locais, é imprescindível criarmos um Projeto Memorial Gonçalves Dias a fim de proporcionarmos uma estratégia de articulação entre à organização de arquivo e pesquisa biográfica e bibliográfica.
Apresentação à criação do projeto Memorial Gonçalves Dias se propõe a organizar e divulgar o legado cultural e a memória do poeta, teatrólogo, pesquisador, e advogado.
O projeto prevê a instalação de um Centro de Documentação para catalogar o acervo de Gonçalves Dias; de um Portal na Internet para disponibilizar em uma base de dados online o acervo histórico do homenageado; a redação da Biografia Oficial, iniciada através de pesquisa do próprio centro de documentação; e a instituição de um Memorial, um espaço museólogo e museográfico e cultural permanente.

* Wybson José Pereira Carvalho é membro fundador da Academia Caxiense de Letras, foi radialista, jornalista. Atualmente é escritor, poeta e funcionário público. Participou de duas antologias nacionais e de grandes saraus na capital São Luís. Gosta de escrever gêneros literários, contos e poesias.

O RIO SÓ QUER PASSAR

Por Gracilene Pinto

       É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

        De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

        Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

        Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

         Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

         Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

         Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas,  porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

           O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

            A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

            É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi ela a invadida em sua propriedade. O rio só quer passar!

            Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

O CICLO DAS ÁGUAS

Por Gracilene Pinto

É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas, porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi invadida em sua propriedade.

Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana, e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

Academia Maranhense de Letras discute planos para a celebração do aniversário de Gonçalves Dias em reunião no Palácio Cristo Rei

Na sexta-feira, 10, o reitor da Universidade Federal do Maranhão, Natalino Salgado, se reuniu com representantes da Academia Maranhense de Letras no Palácio Cristo Rei com o objetivo de planejar a comemoração dos 200 anos de Gonçalves Dias, poeta maranhense considerado um dos maiores expoentes da literatura romântica brasileira do século XIX, nascido em 10 de agosto de 1823. Na ocasião, os membros da AML realizaram uma visita ao Memorial Gonçalves Dias, espaço organizado pela UFMA em parceria com o Governo do Maranhão. Inaugurado em setembro de 2022, o memorial reúne obras e curiosidades sobre a vida e a produção literária do poeta.

A reunião foi dirigida por Lourival de Jesus Serejo Sousa, desembargador e presidente da AML. Segundo Serejo, o encontro marca um momento de maior integração entre a Academia e a Universidade. “Neste ano, toda a nossa programação gira em torno do bicentenário de Gonçalves Dias. Dessa forma, não podíamos deixar de vir aqui conhecer e nos envolver nessa iniciativa cultural da reitoria da UFMA”, comentou.

Para o desembargador, as contribuições de Gonçalves Dias para a cultura maranhense são profundas e imensuráveis. “Gonçalves Dias tem uma dimensão que extrapola o Maranhão e até mesmo o Brasil. Trata-se de um homem cuja vida era dedicada ao estudo e à pesquisa, que teve a alegria de, ainda vivo, ver seus livros publicados pelo mundo. É difícil encontrar um adjetivo para qualificá-lo, tamanha foi sua importância, não apenas como poeta, mas como etnólogo, historiador e pessoa”, ressaltou.

O reitor na UFMA e membro da Academia Maranhense de Letras, professor Natalino Salgado Filho, afirmou que a ideia para a comemoração do bicentenário envolve a participação da sociedade maranhense, por meio de sugestões de programação, visitas ao Memorial e publicações de obras consagradas do poeta. “O aniversário de Gonçalves Dias é um tema de muita relevância. Discutiremos os planejamentos das ações que tanto a UFMA quando a Academia vão organizar para que possamos ter uma comemoração altiva do nosso grande poeta”, pontuou.

Saiba mais

Considerado um dos melhores poetas do Brasil, Gonçalves Dias é patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras. Filho do comerciante português João Manuel Gonçalves Dias com a brasileira Vicência Ferreira, Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823. Entre as funções que exerceu, foi professor de latim e história do Brasil no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, uma das principais escolas do período imperial e que se encontra em atividade até hoje.

Em terras cariocas, também foi um dos fundadores da Revista Guanabara, que tinha como um de seus colaboradores Machado de Assis. Trabalhou também escrevendo para vários jornais, como o Jornal do Comércio, a Gazeta Mercantil e o Correio da Tarde. Além disso, o autor também escreveu algumas peças teatrais.

Entre suas obras e poemas, estão a “Canção do Exílio”, “Primeiros Cantos”, “Os Timbiras, “Últimos Cantos” e “I-Juca Pirama”, em que este último é considerado o maior poema do romantismo brasileiro, dividido em dez partes e narrado em terceira pessoa. A obra é caracterizada pela fusão do dramático, do lírico e do épico.

Veja mais fotos da reunião e da visita ao Memorial:

_UFM8281

Por: Orlando Ezon; Produção: Alan Veras; Fotos: Karla Costa e Revisão: Jáder Cavalcante.

Fonte: https://portalpadrao.ufma.br/

GONÇALVES DIAS É O MAIOR E MAIS COMPLETO POETA DO BRASIL

Por Albertinho Mota*

Gonçalves Dias é o maior e o mais completo poeta que o Brasil criou, ele vive e viverá na nossa literatura. Vive e viverá também pela sua influência, que foi considerável e legítima e não cessou ainda de todo, e que porventura reviverá quando, passado este momento de exotismo desvairado e incoerente, volvermos à mesma fonte donde dimana o nosso sentimento, não indígena e nativista, mas social e humano. (VERÍSSIMO, 1915, p.115).

Antônio Gonçalves Dias

A fama do maranhense fora tamanha que era o nome brasileiro nos principais periódicos de Portugal, desde o lançamento dos seus Primeiros Cantos em 1847, até o final do século.

Nem Álvares de Azevedo e nem Casimiro de Abreu, no século XIX, o grande nome da poesia romântica, fora Gonçalves Dias. O autor de Os Timbiras foi, com veemência, o brasileiro de maior receptividade de sua época. Se debruçaram sobre sua obra expressivos nomes de nossa língua pátria, como: Alexandre Herculano, Ramalho Ortigão, Lopes de Mendonça, Pinheiro Chagas, Camilo Castelo Branco, Inocêncio Francisco da Silva.

Já Graduado em Direito pela Universidade de Coimbra o caxiense retorna para sua terra natal em 1845, porém sua estadia não é longa “ralado de desgostos, por motivos que não se declara” como afirma um de seus grandes amigos e biógrafos, todavia, dar-se a entender que sua breve estadia se deu por conflitos familiares provenientes da coexistência entre a mãe e a madrasta. Em 1846, o poeta se dirige para o Rio de Janeiro onde publica os seus Primeiros Cantos que foi muito bem recebido pela crítica fluminense com calorosos e merecidos encômios que reconheceram nesta obra os dons de expressão muito superiores e que atestariam a posteriori a grandeza do primeiro grande poeta do Brasil.

Pode-se supor que tamanha repercussão do seu gênio nos primeiros anos de sua carreira tenha tido Alexandre Herculano um grande responsável, pois o mesmo já era um político e crítico literário de renome nas letras portuguesas e na vida social lusitana. Assim, quando o baluarte do romance português moderno se interessou pela obra do jovem poeta brasileiro houve uma grande agitação em torno de Gonçalves Dias.

Alexandre Herculano envolvido no descontentamento com as letras lusitanas no pós golpe de estado em 1842, quando o ministro português Costa Cabral depôs o governo do qual fazia parte e implementou uma ação política cujo modelo era o realismo político em detrimento do modelo romântico. É nesse clima que Alexandre Herculano toma a obra de Gonçalves Dias que transpirava a jovialidade e a esperança transmitida pela América.

No estudo intitulado “Futuro literário de Portugal e do Brasil”, subintitulado significativamente “Por ocasião da leitura dos primeiros cantos: poesias do Sr. Antonio Gonçalves Dias”, Herculano enfoca o quadro político da nação brasileira, a fim de confirmar a independência da nação brasileira como algo natural do desenvolvimento da sociedade tupiniquim e não com certo trocismo, como alegado por outros estudiosos da época.

Em uma das analogias de cunho biológico proferidas no texto “Portugal é o velho aborrido e triste, que se volve dolorosamente no seu leito de decrepidez”, é “o ancião na tristeza de seu vegetar inerte, e que, encostado na borda do túmulo, deplora (…) o mundo que vai morrer! (HERCULANO, 1847-1848, p. 5-8). Diferente de Portugal, o Brasil é “um país cheio de esperanças, cheio de viço e de vida”, é “mancebo vigoroso que derriba um velho caquético, demente e paralítico”, é “a nação inteira infante que sorria” (HERCULANO, 1847-1848, p. 5-8).

No contexto pregado em analogia por Herculano identificamos que Gonçalves Dias, é elevado à condição de “autor da verdadeira poesia nacional do Brasil” (HERCULANO, 1847-1848, p. 5-8) e com essas palavras o artista português apadrinha o jovem caxiense ao debutá-lo pelas suas competentes mãos já conhecidas pelas letras lusitanas.

Seguindo as expectativas geradas pelos Primeiros Cantos logo vieram os Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão, publicados também no Rio, dois anos depois e que atestaram o pensamento poético vigoroso e a riqueza da inspiração lírica de Gonçalves Dias. Ao falarmos sobre essa inspiração lírica na poética gonçalvina é imprescindível falarmos da figura do índio que se coloca aí não como figurante ou elemento de ação mais como personagem principal, o herói, sendo ele objeto de simpatia do poeta.

Na sua obra I-Juca Pirama o poeta caxiense cria uma das grandes obras primas de nossa língua e de nossa poesia que mescla o épico europeu com as vicissitudes do aborígene local e cuja expressão é mais rica, variada e melodiosa do que qualquer outro poema nacional até então criado. Assim como nenhum poeta moderno teve como Camões o sentimento de paganismo e do seu maravilhoso da mesma forma nenhum poeta brasileiro, verso ou prosa, teve em grau igual do de Gonçalves Dias no que cerne o sentimento de nosso índio e do que lhe constituía feição própria – excetuando José de Alencar.

O seu indianismo mais que uma predileção externava o seu “brasileirismo” que servia de ponte para falar com o nosso povo, na massa do sangue, que lhe era outorgado desde o seu nascimento e ao longo de sua criação em um meio genuinamente brasileiro e de influições da raça indígena na formação de seu psique que o guiaram ao estudo profundo de suas raízes que em comungo com os dissabores da vida forjaram um dos maiores poetas da língua portuguesa.

É primeiro o afastamento do torrão natal e do carinho materno em anos verdes, a perda do pai e o isolamento em terra estranha, a amargura do seu nascimento mais que humilde, o sentimento da sua inferioridade social — contrastando com a sua fidalguia moral e mental, é a humilhação de viver de amigos, é a sua penúria de recursos e mesquinhez de vida, é o desencontro de suas ambições com as suas possibilidades, é o convívio do meio mesquinho seu conterrâneo e por fim e acaso mais que tudo, quando já lhe sorrira a glória e ele assim mesmo se enobrecera pelo gênio e trabalho, a recusa da mulher muito amada, por motivo do seu nascimento. Não há, ou apenas haverá um destes passos da sua vida dolorosa, aos quais outros fora possível acrescentar, que não tenha deixado impressões, ecos, vislumbres nos seus poemas. A nostalgia inspira-lhe a Canção do exílio, no seu gênero e ingenuidade acaso o mais sublime trecho lírico da nossa poesia, a expressão mais intensa e mais exata do nosso íntimo sentimento pátrio. As agruras da sua juventude as Saudades, de tão fina sensação dolorosa, de tão bela e comovedora expressão. Os seus amores infelizes esses dois soberbíssimos trechos sem iguais no nosso lirismo: Se se morre de amor e Ainda uma vez, adeus, e mais aquele encantador No jardim, amostra peregrina em a nossa poesia de emoção profunda casada à profunda singeleza. (VERÍSSIMO, 1915, p.113).   

Ao longo de sua vida poética ainda produziu outras obras de efeito como D. Leonor de Mendonça (1847), Patkul (1843), Beatriz Cenci (1844) e mais tarde Boabdil (1860), sendo que, todos só foram publicados postumamente e não menos importante, embora esquecido, o poeta escreveu ainda em Coimbra um título realista chamado Memórias de Agapito Goiaba. Além do talento poético é evidente o talento erudito de Gonçalves Dias que o fez escrever para revistas e jornais, ensaios apenas encetados, folhetins, Dicionário da Língua Tupi e O Vocabulário da língua geral… usado no alto Amazonas.

Em 1862, o poeta retornou à Europa para fazer um tratamento de saúde. Como não obteve resultados, decidiu voltar ao Brasil. A viagem foi no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira em 3 de novembro de 1864. Todos se salvaram, menos Gonçalves Dias, que, debilitado, não conseguiu sair do seu camarote a tempo.

*Albertinho Sousa da Mota é bacharel em Direito e licenciado em Letras pela Universidade Federal do Maranhão; mestre em Ciências Jurídicas e doutorando em Ciências Jurídicas.


BORRALHOS, José Henrique de Paula.  A Athenas Equinocial: a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, 2009. 

D’ABBEVILE, Claude. História da missão dos padres capuchinos da Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975.

HERCULANO, Alexandre. Futuro literário de Portugal e do Brasil. Por ocasião da leitura dos Primeiros cantos: poesias do Sr. A. Gonçalves Dias. Revista Universal Lisbonense, Jornal de Interesses Físicos, Intelectuais e Morais, Lisboa, p. 5-8, 1847-1848. O texto encontra-se reproduzido em: Cadernos do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS, Porto Alegre, v. 1,
n. 2, p. 73-82, jun. 1995.

LOPES, Antônio. História da imprensa no Maranhão (1821-1925). Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1959, p.23.

MORAIS, Jomar. Apontamentos da Literatura Maranhense. São Luís: Sioge, 1977. 2ª edição.

VERÍSSIMO, José.. História da Literatura Brasileira.  Departamento Nacional do Livro, 1915.

Menina de 7 anos doou cabelo para banco de perucas, para ajudar na autoestima de vítimas do câncer.

Por Vitor Guerra
Allana vai ajudar na autoestima de pessoas que enfrentam o câncer. Que gesto incrível!
Educação e empatia vêm de berço, né? É isso que a história de Allana Maria, de 7 anos, mostra exatamente isso. A menina doou cabelo dela para um banco de perucas administrado pela Associação Madre Teresa, uma entidade que apoia a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital Marieta, em Itajaí, Santa Catarina.
Que gesto incrível! A menina foi apoiada pela sua avó, que a ensinou desde cedo, a palavra solidariedade! Sandra de Aguiar, matriarca da criança, ficou toda orgulhosa quando Allana topou a ideia!
O Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen mantém por intermédio da Associação Madre Teresa um banco de perucas e lenços como apoio para quem luta contra o câncer e outras doenças que causam queda de cabelo. “Quero ajudar quem precisa!”
Tão novinha, mas já com tanta consciência afetiva e social, esta é a Allana! A criança seguiu os conselhos de sua avó e resolveu ajudar o próximo. A matriarca afirmou que a menina já queria cortar o cabelo porque estava muito comprido.“Conversamos, falei sobre as pessoas que estão doentes, perderam os cabelos e precisam usar peruca, e que ela poderia doar o dela”, disse a avó.Não demorou muito para Allana embarcar na ótima ideia! A menina ficou super animada e foi com a avó em um salão mais próximo, cortaram o cabelo e fizeram a doação para a Associação Madre Teresa.
A menina ficou muito feliz! Ajudar o próximo! A menina de 7 anos doou o cabelo para o banco de perucas e ficou muito feliz em ajudar a quem precisava! “Eu tinha o cabelo até a cintura, então cortei para dar para quem está doente e perdeu o cabelo”, disse a menina que doou o cabelo. Fofura, né? Quem dera se todo mundo fosse assim! A avó da menina disse que Allana sempre foi ensinada desde criança a olhar para o outro e entender que há pessoas próximas que podemos ajudar, mesmo que com um simples gesto. Que avó incrível! No dia da doação Allana estava super orgulhosa. Ganhou até certificado da Associação Madre Teresa! Uma honraria concedida para poucos.
Fonte: https://www.sonoticiaboa.com.br/ e Foto: Reprodução/Darykumakola.

SAUDADES

Por Zé Carlos Gonçalves

Não me perco
dos meus.

Trago-os nas saudades,
que me assaltam
nas minhas orações
nos meus devaneios
no domingo, à tarde
na segunda-feira
no decorrer da tarde
no silêncio da noite!

saudades não tiram férias
nem
respeitam convenções!

saudade berram

no mais profundo silêncio
e no inconfundível cheiro
do perfume preferido
e na foto desbotada,
incorporada à parede
e na velha melodia,
cantarolada num
sussurro simples
e no sorriso livre,
liberto da maldade
e no dizer calado,
do fim da tarde
e na escápula muda,
do quarto vazio,
e na mesa posta,
com um prato
a menos
e no solitário aceno
sem resposta
e nas lágrimas amargas
do choro manso!

saudades
açoitam o corpo,
transido de tristeza,
para virem doer
no fundo d’alma;

e

acalentar
nas horas tristes!

saudades, também, abraçam
e
confortam
e
revivem lembranças!

Apaixonadas por matemática, adolescentes brasileiras são reconhecidas internacionalmente

Enigma para uns, pânico para outros. A Matemática é fascinação para duas adolescentes cearenses, de 15 anos. As estudantes simplesmente construíram o modelo matemático denominado  “Construindo padrões do sistema caótico de órbitas relativa entre astros numa matriz de multiplicação radial” que rendeu reconhecimento internacional para a dupla.

As estudantes Raissa Loana e Cellina Landim, ambas de 15 anos, foram elogiadas pelo método de pesquisa bem desenvolvido e a aplicabilidade nas leis que conduzem o Universo. O projeto foi escolhido como finalista da Malaysia Innovation, Invention and Creativity Association — MIICA 2023.

O projeto científico é também finalista em na 21ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, que ocorre em março na Universidade de São Paulo (USP).

Modelo

De acordo com o projeto, as buscaram compreender o Universo a partir da Matemática. Elas observam dois astros e os movimentos que fazem entre si, no caso Vênus e Terra.

As estudantes notaram que há um padrão de movimentos, chamado de “dança entre si”, porque ocorre em círculos. Decidiram então usar números, retas e cálculos.

Paixão

Apaixonada por Ciências, Cellina diz que viu na matemática o caminho para compreender como o universo funciona.

“Eu nunca tinha pensando realmente na matemática como algo que poderia ser aplicado, e quando eu comecei a desenvolver a ideia com a Raissa, nós começamos a pensar em como a matemática pode ser aplicada no nosso universo”, afirmou.

Em 2022, Cellina e Raissa ganharam a medalha de ouro da Internacional Science Project Competition INTOC/Turquia. Também participaram do painel e mesa redonda no Festival Nacional da Matemática, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em outubro do ano passado, no Rio de Janeiro.

“Foi uma emoção muito muito grande. Eu estava na sala junto com minha mãe vendo a premiação e liguei para a Raíssa. A gente começou a comemorar. Foi uma experiência incrível”, reagiu Cellina.

A atenção das estudantes agora está voltada para a aperfeiçoar a atual pesquisa.

“Queremos estar preparadas para tudo. Estamos focadas em divulgar nosso projeto e pesquisar mais informações que possam agregar nossa pesquisa”, completa.

https://www.sonoticiaboa.com.br/