A Baixada descortina sua singular epopeia

Por Ana Creusa

O lançamento do Livro Ecos da Baixada que ocorreu no dia 14 de novembro de 2017, foi um marco na história da literatura maranhense, notadamente nos anais das letras baixadeiras, e revelou-se um evento grandioso para o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense – FDBM.

Importante destacar que o citado Fórum é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, o qual trabalha por sua região e por sua gente, visando chamar a atenção do Poder Público para os graves problemas enfrentados por aquele conjunto de municípios, bem como auxilia as comunidades locais a superarem obstáculos ao seu desenvolvimento.

O evento foi um “sucesso retumbante”, conforme relato de muitos participantes. Segundo o imortal, membro da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, foi “o dia em que a Baixada parou o trânsito da Avenida dos Holandeses, em São Luís”, algo inimaginável para os 32 escritores das crônicas e para a maioria dos baixadeiros ali presentes.

Na abertura, Simão Pedro, professor de música e natural de Matinha, interpretou o Hino Nacional e uma Canção em homenagem à Baixada, de autoria de Gracilene Pinto, natural de São Vicente Férrer, cujas crônicas o leitor pode encontrar nas páginas 156 e 191.

Em seguida, o “Poema para a Baixada Maranhense” foi declamado pelo seu autor, Hilton Mendonça, natural de Arari. O belo poema consta no introito da obra. Hilton também empresta o seu talento literário por meio de duas crônicas que poderão ser encontradas nas páginas 143 e 180.

Elinajara Pereira, natural de Bequimão, declamou o poema denominado “Ecos …”, composto por Rafael Marques em homenagem aos Ecos da Baixada e à sua amiga Elinajara, esta possui uma bela crônica, que pode ser encontrada na página 56.

 A Presidente do Fórum da Baixada, Ana Creusa, ressaltou a importância da união dos baixadeiros em prol da Baixada, e destacou que o Fórum é composto de pessoas com tendências e preferências, teorias, modelos e concepções políticas diferentes. Porém, o que os une é o sentimento único de amor à Baixada, que os torna irmãos. Os textos de Ana Creusa estão nas páginas 67 e 160.

Em sua fala, o primeiro Presidente do Fórum da Baixada, idealizador e organizador da obra, Flávio Braga, natural de Peri-Mirim, agradeceu aos ecoerios, como carinhosamente são chamados os cronistas, e ainda discorreu sobre a importância da obra Ecos da Baixada para região. As belas crônicas de Flávio estão dispostas nas páginas 83 e 98.

O Superintendente do Sebrae, João Martins, natural de Bequimão, demonstrou apoio ao Fórum da Baixada, do qual é filiado. Em sua fala, destacou a importância da obra “Ecos da Baixada”, a qual ajudará a Baixada a ecoar longe, inclusive em Brasília e outros recantos do Brasil, quiçá do exterior.

O Presidente da Academia Maranhense de Letras, brincou que os ecos da Baixada chegaram a Itapecuru, sua terra natal, e que a Baixada parou o trânsito de uma das principais avenidas de São Luís.

Natalino Salgado, com seu talento peculiar, brindou os baixadeiros com a crônica “A Baixada Maranhense e sua Vocação para a Grandeza”, que pode ser encontrada à página 35.  Como representante dos ecoeiros, saudou a todos. Em seguida, nos brindou com um texto dedicado a seu pai, matéria que evidencia o amor do seu genitor pela a sua bela Cururupu.

Em seguida foi servido um coquetel que, como se diz na Baixada “não deu para quem quis”.

Foi gratificante ver tantas pessoas disputando autógrafos, tirando fotos e fazendo selfies com os ecoeiros, numa verdadeira pororoca de emoções, como disse o ecoeiro Manoel Barros, natural de São João Batista, ao descrever o festival de emoções, envolvidas em todo o processo de lançamento do livro Ecos da Baixada.

Eis que a Baixada descortina sua singular epopeia, por meio dos Ecos da Baixada!!!

Texto de Ana Creusa, presidente do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense, com revisão de Hilton Mendonça, ambos cronistas do Livro Ecos da Baixada.

O VELHO PORTO DA RAPOSA EM SÃO JOÃO BATISTA, MARANHÃO

Por João Batista Duarte Azevedo*

Não sei ao certo quando surgiu o Porto da Raposa. Quando me entendi, ele já existia. Mas só vim conhecê-lo de fato quando vim para a cidade pela primeira vez. Tinha que se passar por ali. Era lá o embarque nas lanchas que nos traziam até a capital.

Encravado às margens de extenso Igarapé que rasga continente adentro, o antigo Porto da Raposa ficava no povoado campestre de mesmo nome, a poucos quilômetros do Golfão Maranhense (Baia de São Marcos) e do estuário do Rio Mearim. De um lado uma extensa cortina verde formada por manguezais, de outro, mais para dentro do continente, extensas áreas de campos e tesos.

Ao longo de muitas décadas foi a única porta de entrada e saída de muitos municípios da baixada, especialmente São João Batista, São Vicente Férrer, Matinha, entre outros. Estamos falando de mais de meio século. Naquele tempo não havia estradas que ligassem estes municípios à Capital do Estado. O porto cumpria assim então a sua primordial finalidade. Era ponto de escoamento de mercadorias que iam e vinham e de embarque de passageiros que se destinavam rumo a São Luís e vice-versa.

Ainda lembro vagamente de algumas particularidades daquele lugar. Eram dois os principais atracadouros, exatamente para duas lanchas que costumavam fazer o transporte de cargas e passageiros. Eram dois pares de extensas passarelas, construídas de achas e mourões de mangue que nos levavam até ou a parte baixa, ou à parte alta da lancha, o convés, onde ficava o timoneiro, ou mestre, e onde ficavam os passageiros.

Nas lanchas, percebia-se um hiato de classes plenamente justificável. Na parte de baixo, costumavam viajar aqueles que transportavam cargas além de suas bagagens pessoais. Um odor forte de óleo e amônia exalava em meio ao cheiro de café e cozidão que costumava vir das bandas da cozinha. Já na parte alta, o segundo andar, vinham os mais destemidos, os que não tinham muito medo dos constantes balanços no alto mar e não costumavam expelir involuntariamente suas comidas boca a fora.

Às vezes três ou mais lanchas ancoravam por ali. Todas bem nomeadas. Maria do Rosário. Santa Teresa, esta, pequenina e valente, boa de navegação. A Proteção de São José, que sucumbiu na maior tragédia náutica ocorrida naquela travessia. A Ribamar. A Fátima. A Nova Estrela e a Imperatriz foram as últimas dos tempos auge do transporte marítimo. Nestas últimas fiz a maioria das minhas viagens.

A Raposa era um lugar como muitos outros numa área de campo. As casas de jirau, mostravam que ali em épocas de inverno costumava ser úmido e encharcado. Eram habitações de madeiras, desde o assoalho até as paredes. As cobertas, algumas eram de telhas de barro, outras de pindobas. Naqueles tempos de plena atividade do velho porto, Raposa devia ter cerca de cinquenta casas. A maioria eram de pessoas que viviam em função do porto. Pequenos comerciantes, estivadores, donos de pequenas embarcações e até mesmo ambulantes que viviam da compra e venda de mercadorias e produtos. Eram todos hospitaleiros. Lembro de Seu Dominguinhos, sempre cortês, atencioso, mas, dizem os que mais o conheciam, de uma astúcia e malícia sem precedentes.

Entre as muitas peripécias atribuídas a Seu Dominguinhos está a de ter dado um pernoite ao Padre Dante que certa vez se deparou numa noite escura e não quisera voltar pra sede. Fora aconselhado a ficar por ali. Após acomodar o Padre em uma rede, contam que Seu Dominguinhos acendeu uma fogueira de pau de siriba, uma espécie de mangue que ao queimar expele uma fumaça ardente aos olhos de qualquer cristão, ainda mais a quem não era acostumado, como o sacerdote italiano. Contam que o Padre passou a noite em claro, rezando para que logo amanhecesse, enquanto Dominguinhos se contorcia de risos. Ao amanhecer os olhos do reverendo pareciam duas bolas de sangue.

As principais casas de comércio e pequenos restaurantes estavam ali em redor do armazém. Um velho prédio de alvenaria que servia como uma espécie de alfândega. Era lá que trabalhavam os fiscais da receita estadual. Ali eram expedidas e pagas as guias de impostos sobre o que era embarcado, fossem cofos de farinha, cofos de banana, cofos de criações, pequenos e grandes animais. Quase nada passava sem as vistas dos coletores de impostos. Nos dias de embarque e desembarque era bastante intenso o movimento de pessoas por ali. Fossem os que viajavam, os que ali trabalhavam, e os que apenas buscavam estar no meio do vai e vem das pessoas. Não faltavam também os donos de bancas de jogo de caipira. Mas era uma alegria só. O povoado era tão movimentado que ganhou até um gerador de luz para garantir a permanência das pessoas que por ali transitavam e trabalhavam até o zarpar das lanchas.

Nos dias que não se tinha esse movimento proporcionado pelas lanchas, o povoado de Raposa mantinha um quotidiano normal. Moradores em suas tarefas diárias preparavam-se para o dia seguinte. O incremento maior do porto fora sem dúvida quando da construção da “barragem da Raposa”. Esta grandiosa obra – tanto pela extensão como na forma de como fora construída, realizada pelo então prefeito Luiz Figueiredo – permitiu um tráfego maior de veículos por mais tempo ao longo do ano.

A partir da abertura da Estrada da Beta, nome que fora dado inicialmente pela população para o ramal São João Batista – Bom Viver, que ligou a sede do município à MA -014, começaram ainda que com muitas dificuldades por conta das condições da estrada, os transportes de cargas e passageiros por via terrestre, fato este que atingiu frontalmente o cerne da economia gerada no Porto de Raposa por conta do transporte marítimo. Os primeiros ônibus a fazerem linha para São João Batista e até mesmo para outros municípios da Baixada foram os da Expresso Florêncio, que inúmeras vezes não completavam o trajeto da viagem.

Hoje, com poucas casas e sem aquele fervilhar de pessoas que faziam dali um marco da economia do município, o Porto da Raposa precisa se redescobrir com um outro propósito já que a rodovia nos leva até a capital São Luís, ou a terras além do estado.

Sempre defendi que o antigo e outrora próspero Porto da Raposa deveria absorver em tempos atuais outras finalidades. Ao que parece, por obra e graça do tempo e pela resistência de alguns poucos moradores que ali ainda residem, esta é uma realidade próxima das novas gerações. Por conta de sua aprazibilidade e beleza natural, o velho Porto de Raposa poderá ressurgir como um ponto de lazer rústico. Para tanto falta-lhe estrutura e muito precisar ser feito.

Com a palavra os homens dos poderes!

* João Batista Duarte Azevedo é natural de São João Batista (MA), graduado em Letras pela UFMA, professor e editor do blog “São João Batista On-Line”, coautor do livro Ecos da Baixada, postulante a uma cadeira na Academia de São João Batista.

Fonte: https://fdbm.org.br/

COISAS DO MARANHÃO: Polo Ecoturístico Floresta dos Guarás

Por Expedito Moraes

O Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás que está localizado nas Reentrâncias Maranhenses e o Polo Amazônia Atlântica no Pará constituem a maior floresta contínua de manguezais do mundo (8.900 km2, justamente na Costa Amazônica brasileira. O Polo Ecoturístico Floresta dos Guarás compreende os municípios de Cedral, Guimarães, Mirinzal, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Cururupu, Bacuri e Apicum Açu.

A exuberante Costa Amazônica maranhense, marcada por manguezais, estuários, ilhas, praias e baías, se estende da Baía de Tubarão até a divisa com o Pará, e compreende o Golfão Maranhense (onde está a Baía de Tubarão, Região do Munim, a Ilha de São Luís, Alcântara e a Baía de Cumã) e o litoral ocidental. São as intricadas Reentrâncias Maranhenses e o Pólo da Floresta dos Guarás, um litoral semi-selvagem e preservado, extremamente recortado por uma infinidade de ilhas, enseadas, baías, golfos, penínsulas e estuários que fazem parte da seleta lista das zonas úmidas de relevância planetária (RAMSAR). As Reentrâncias Maranhenses é um dos trechos costeiros mais originais e irregulares do país e do mundo.

A região possui altos e exuberantes manguezais que podem chegar a 40 metros de altura são onipresentes, são vitais para o equilíbrio ambiental de toda a zona costeira e servem de abrigo e habitat para inúmeras espécies da fauna aquática e terrestre; especialmente as aves, migratórias e residentes, dentre tantas se destaca o Guará (Eudocimus Ruber) – extinto na maior parte do país e típico do litoral amazônico. O guará chama a atenção pela sua belíssima plumagem vermelha e pela suas magníficas revoadas.

Outra figura marcante na região é o guará que apresenta uma coloração vermelha marcante, resultado do alimento à base de caranguejos (chama-maré ou sarará, e o maraquani). Os caranguejos têm ligação com a cor dos Guarás.

O vermelho das penas dos Guarás se deve a um pigmento chamado “cataxantina”, que é um derivado do caroteno. O caroteno é o responsável pela cor da cenoura e da casca dos caranguejos e camarões, mais evidente quando cozidos. Os guarás são capazes de absorver o pigmento de suas presas e acumulá-lo em suas penas, tornando-as vermelhas.

Fonte: https://fdbm.org.br/

As máscaras ausentaram-se das ruas

Por Zé Carlos Gonçalves

CENAS DO COTIDIANO IV

Ainda é carnaval.” Sum Pedro”, talvez saudoso do São João, “quis se amostrá. Mandô uns relâmpu, pra nóis si alembrá de suas fugueiras”. “Tombéim uns toró, pra dá uma lavage” e despertar a alma, que andava tão adormecida, da cidade. É! “Sum Pedro, cum certeza, quê provocá ciúme ni Dioniso”.

O fofão está muito triste. Sua aproximação, perigosa. “Caiu na desconfiança”. Qualquer bandido, astucioso, pode vir, com bandidagem, habitando o seu interior, dele, do fofão. “E, aí, né, babou. E babau pro carná”, que se atirará no rio Anil, ainda que a maré esteja seca.

O salão de festa, o confete e a serpentina se recolheram, rumo ao esquecimento. Até já são palavrões proibidos “nos bate papo sério”. Deles, ainda eu lembro. “Tu não lembra. E nóis não si importa”. Afinal, a rua, tão desnuda, nos arrasta, sem direção, em todas as direções.

A maisena, felizmente, “saiu de moda”. Fugiu até da papa e do mingau. “Não dá pra ajeitá cara de marmanjo, cum essa caristia”. “Sim, sinhô!” Muitos escondiam suas feiúras nas sacras máscaras de maisena e saíam a fazer “gatimonhas, por aí”. “A cara néim trimia. Iam iludidos e convencidos”.

E por falar em máscaras … ausentaram-se das ruas. Tão e muito temerosas de serem reconhecidas e recolhidas à Papuda ou à Colmeia. Hoje, de verdade, “papuda e só a mina, qui si faiz de besta”, na falta de um adjetivo mais apropriado. E colmeia, graças a Deus, é “a salvação certa da lavoura”.

A minha praça – em ritmo de rima – tão maltrapilha, “frivilha na alucinação da galera”, que, mui alucinada, segue alheia à agonia da velha praça. Insano, o folião delira; a praça sangra; o palácio fecha as portas e silencia.

Meu bloco de sujo negou-se a sair, ante a sujeira que toma de assalto a cidade, que há muito já foi assaltada pelos “momos glutões”. O carnaval, assim, se perpetua “para todo o sempre”. Dura de janeiro a dezembro, “como no reino do faz de conta”. Aí, nem a turma da reciclagem vai conseguir “alimpá”.

O ferryboat resolveu “pular” carnaval, “charlando a estrada despovoada de veículos e bordada em buracos”… e saiu rasgando as vagas do voraz Boqueirão, “louco” e alucinado por uns dois tragos de algum lubrificante “batizado”, ao som do mais “puro axé”. “Por ironia do destino”, ou por muitos e outros mortíferos mistérios, navegantes da nau encantada de Dom Sebastião, só não se faz suficientemente eficiente para o baixadeiro, no decorrer do ano. O sofrimento continua “terrívi”.

A gigantesca “fila de espera”, na Ponta da Madeira, deveria fazer “uma quilométrica greve” e tornar o carnaval mais divertido. Que legal, um carnaval quilométrico, e grevista, a vingar o desdém que sofre o povo Baixada.

E ainda será carnaval até os lava pratos, a pipocarem na quaresma. Depois, “nóis não sabe pur que tantos sapo de rabo”, a desfilarem nos carros alegóricos, da vida!

Quais são as causas do aumento do suicídio entre jovens nos EUA e as lições para o Brasil: Os jovens estão nos dizendo que estão em crise.

Por Eli Vieira*

A Divisão de Saúde Adolescente e Escolar dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos divulgou esta semana um relatório de dez anos de acompanhamento dos jovens americanos. O documento, que incluiu pesquisas bienais realizadas entre 2011 e 2021, com foco neste último ano, aponta que os adolescentes tiveram redução em comportamentos sexuais de risco e uso de drogas, tiveram experiências com a violência em nível constante, mas em alguns casos crescentes, e, importantemente, pioraram sua saúde mental em todas as faixas etárias.

Apesar de o sexo arriscado e abuso de drogas terem diminuído, com metade em 2011 para menos de um terço dos jovens relatando já ter feito sexo em 2021, também diminuiu o uso de contraceptivos e a testagem para doenças venéreas; além disso, o nível de abuso de substâncias continua “alto demais”, resume a agência sanitária americana.

Mais de 40% dos estudantes do ensino médio relataram se sentir tristes ou desesperançados nas duas semanas anteriores à sua inclusão na pesquisa, um sinal diagnóstico de depressão. As principais afetadas são as garotas. Em 2021, quase 60% delas apresentaram esse sintoma durante o período anterior de um ano – é o dobro da taxa dos garotos. Um quarto delas relatam ter feitos planos de suicídio, e o número que relata ter sido vítima de estupro subiu de 12% em 2011 para 14%.

Para especialistas como Cori Green, pediatra do centro médico Weill Cornell em Nova York, as diferenças de sexo são importantes de se observar, pois, nos meninos, sintomas de depressão podem se manifestar de forma diferente, como irritabilidade e agressividade. Victor Fornari, vice-presidente de psiquiatria pediátrica no sistema de saúde Northwell, também em NY, pensa que não é coincidência que o padrão de piora de saúde mental dos jovens tenha acompanhado a ascensão dos smartphones, lançados em 2007, que tiraram o porto seguro do lar e os expuseram a escrutínio constante nas redes sociais. Em sua clínica, ele observou 250 visitas por tentativa de suicídio de adolescentes em 1982, três mil em 2010 e oito mil em 2022. Ambos os profissionais falaram ao New York Times.

Outro grupo especialmente atingido por má saúde mental, segundo o relatório dos CDC, é o dos jovens de minorias sexuais (LGBT). Um quarto deles tentou suicídio nos 12 meses anteriores, metade teve problemas de saúde mental e 70% tiveram sentimento de desesperança e tristeza persistentes. O relatório não faz o comparativo histórico na proporção de jovens que se dizem LGBT, mas em 2021 foram 22%. O número é consistente com outros estudos que sugerem um contágio social de identidades LGBT: a proporção natural do grupo, segundo uma revisão de 2016, seria de 5%.

As taxas de sentimento negativo persistente são as maiores encontradas em uma década e antecedem as medidas da pandemia, como fechamento de escolas, que pioraram a situação. “Não há dúvidas a respeito do que esses dados estão nos dizendo”, comentou Kathleen Ethier, diretora da divisão dos CDC. “Os jovens estão nos dizendo que estão em crise”. Foram inclusos 17 mil estudantes do ensino médio no estudo de 2021.

É importante, contudo, olhar de forma crítica para os números. O próprio relatório do CDC aponta que o número de adolescentes que relataram precisar de cuidado médico por uma tentativa séria de suicídio manteve-se estável na década considerada, não ultrapassando 3% nem caindo muito abaixo de 2%.

Perscrutando as causas

O relatório traz uma novidade em relação a suas versões anteriores: perguntas que medem determinantes sociais da saúde e que sejam protetores para os jovens. Um fator é a instabilidade do lar, ou seja, o jovem não ter constância de um lugar para dormir, tendo de recorrer à casa de amigos, parentes ou outros porque teve de sair de casa ou não tem onde morar. Somente 3% dos adolescentes passaram por esse tipo de instabilidade, mas os LGBT estão desproporcionalmente presentes no grupo.

Outro fator considerado é a conexão com a escola: sentir-se parte da comunidade escolar. Tem “um impacto protetivo de longo prazo para os adolescentes, até a vida adulta”, diz o relatório, “em quase todos os comportamentos e experiências incluídos”. Neste quesito, as mulheres, os LGBT e os estudantes de minorias étnicas tiveram as menores notas.

Um terceiro fator protetivo chave é o monitoramento dos pais. Felizmente, a maioria “disse que seus pais na maior parte ou sempre sabem onde eles estão e com quem estão”. Mais de 95% das crianças e adolescentes passam boa parte de seu dia na escola. Os autores do relatório concluem que o papel das escolas não é só acadêmico, “elas têm um papel crítico em moldar o crescimento mental, físico e social”.

Saúde mental dos jovens no Brasil

Segundo um relatório de 2021 da Unicef, a incidência de transtornos mentais entre jovens dos 10 aos 19 anos no Brasil é de 17,1% – mais alto nas garotas (17,6%) que nos garotos (16,7% ou um a cada seis). Na América Latina e o Caribe, diz o documento, o suicídio é a terceira maior causa de morte entre adolescentes entre 15 e 19 anos, abaixo apenas da violência interpessoal e acidente de trânsito. O número de jovens que tiram a própria vida nessa região, de dez por dia, é o dobro dos que morrem por afogamento e o triplo dos que são vítimas da leucemia.

Se está correta a tese de Fornari sobre a participação dos smartphones e redes sociais na deterioração da saúde mental dos jovens americanos, fenômeno similar pode estar ocorrendo no Brasil. Em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou uma “nota de alerta” a respeito da saúde mental dos jovens. Foi a primeira vez que a SBP incluiu saúde mental de jovens e adolescentes no Tratado de Pediatria, publicação direcionada à comunidade médica de todo o país.

A sociedade relata que, durante a pandemia, “pediatras têm atendido solicitações de famílias que descrevem o surgimento de insônia, anorexia, crises de ansiedade ou depressão em seus filhos”. Um dos sinais de problemas dessa natureza, nas idades menores, é o reaparecimento de comportamentos já superados antes, como o xixi na cama e pedidos para dormir com os pais, diz a organização, que também faz um alerta a respeito da estabilidade do lar.

“Há um sofrimento público”, disse Roberto Santorno, coordenador de grupo de trabalho em saúde mental da SBP, para a Fiocruz. “Já sabemos que os quadros de ansiedade e depressão dobraram por conta da pandemia. Isso é percebido na clínica e ratificado em estudos científicos”.

Uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz observou que, entre 2011 e 2014, houve 15,7 mil ocorrências de cuidado médico a adolescentes por tentativa de suicídio. Um perfil comum era de garotas de 15 a 19 anos, residentes do Sudeste, e os eventos geralmente ocorreram em casa.

Já o Ministério da Saúde, em boletim epidemiológico (nº 33), relatou um aumento geral de 43% no número de suicídios entre 2010 e 2019 e destacou maior vulnerabilidade dos nascidos após 1995. Segundo o documento, esses jovens têm “menos mecanismos para lidar com frustrações e adversidades (menor resiliência) e dificuldades em adiar o prazer (imediatismo) [que] também podem ser fatores sociais que influenciam no desencadeamento de quadros mentais que têm contribuído com o aumento do suicídio”.

* Eli Vieira é biólogo, mestre em biologia molecular pela UFRGS e mestre em genética pela Universidade de Cambridge, Reino Unido. Escreve para o público em blogs desde 2007, ganhou em 2014 o Outreach Fund da Sociedade Europeia de Biologia Evolutiva, e suas publicações acadêmicas já foram citadas mais de 500 vezes. Colabora com a Gazeta do Povo desde 2020. Coautor de A Crise da Política Identitária (2022).

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/

Nunca houve na história brasileira tantos presos por razões políticas

Por J.R. GUZZO*
O Estado de São Paulo (15/02/2023).

Não existem crimes coletivos; a acusação de cada delito dos mais de 900 detidos em Brasília tem, obrigatoriamente, de ser individualizada.

O que está acontecendo com as mais de 900 pessoas presas em Brasília, acusadas ou suspeitas de participar da depredação dos edifícios-sede dos Três Poderes no dia 8 janeiro, é uma desgraça para o Brasil. Como pode haver democracia, mesmo em sua definição mínima, num país com prisões em massa, cárceres políticos e centenas de pessoas presas sem que haja acusação individual contra elas? Nunca houve na história brasileira, mesmo em seus piores momentos de treva, tantos presos por razões políticas – não ao mesmo tempo, e nem por tanto tempo.

O mais sinistro nos acontecimentos de hoje é que a repressão é executada em defesa do “regime democrático de Direito”. Para salvar a democracia, alegam os carcereiros, é preciso passar por cima da lei – e não existe democracia se não há absoluto respeito à lei por parte da autoridade que tem o poder de investigar, prender e punir os cidadãos.

PGR diz que ex-comandante da PM ‘sabia, podia e devia ter agido’ contra radicais em Brasília e defende que ele permaneça preso.

É chocante que não uma meia dúzia, mas centenas de homens e mulheres estejam presos há mais de 40 dias sem que a polícia e o aparelho judiciário tenham sido capazes, até agora, de dizer o que eles fizeram. Não existem crimes coletivos; a acusação de cada delito tem, obrigatoriamente, de ser individualizada, e essa exigência elementar da legislação penal brasileira está sendo ignorada pela autoridade pública.

Há, no ataque aos prédios das instituições, criminosos já identificados e com participação comprovada nos atos de vandalismo – inclusive através de imagens. Mas há centenas de pessoas que não quebraram nada, nem desrespeitaram lei nenhuma.

Muitos nem estavam na cena do crime; foram presos em frente a quartéis do Exército em Brasília, onde faziam manifestações pacíficas e legais. Outros entraram só para espiar, em lugares que estavam com as portas abertas. Estão sendo punidos como aqueles que efetivamente praticaram crimes; seu crime é estar em local próximo ao crime. O fato é que a justiça não sabe se os 900 presos cometeram ou não infrações ao Código Penal. Enquanto tenta descobrir, fica todo mundo no xadrez.

As organizações de defesa dos direitos humanos e do direito de defesa, a Ordem dos Advogados e os que se consideram heróis por terem assinado manifestos em favor da democracia estão em silêncio absoluto diante de tudo isso. É a nova ordem do Brasil. Não há nenhum corrupto na cadeia – nem o ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 400 anos de prisão por roubo de dinheiro público no Rio de Janeiro. Um assassino preso em flagrante é libertado em menos tempo que os acusados de terrorismo em Brasília.

Mas não existem direitos para os que estão do lado errado da ideologia que comanda atualmente o aparelho judicial brasileiro.

*José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.

SAPUCAEIRA

Por Maria Zilda Costa Cantanhede*

Nestes 74 anos de emancipação política da nossa querida Matinha, peço permissão aos demais ilustres matinhenses, com quem tenho a honra de compartilhar minha naturalidade e adjetivo pátrio, para falar de um “canto” especial do nosso torrão. Um espaço geográfico, que tem como limítrofes dois pujantes municípios da Baixada Maranhense: Viana e São Vicente Férrer.

Aproximadamente 27 km da sede de Matinha- MA, fica localizado um povoado que tem nome de uma santa, a Santa Isabel, que ao lado de Santa Rita, São Francisco, Santa Maria, São Raimundo, São Caetano, Santa Aninha, Santa Vitória, São Rufo, São Felipe e São José abençoam, protegem nossa não mais tão Pequena Mata.

Muitas são as histórias vividas e compartilhadas, contos, causos, prosas e poesias inspiradas à sombra da frondosa Sapucaeira, um topônimo do lugarejo. Uma árvore histórica que tem um formato exuberante para “guardar seus frutos”.

Nasci muito próximo da Sapucaeira; vivi até os meus oito anos. Quando nos mudamos para o povoado vizinho, Cutias II. Tenho as melhores lembranças e saudades deste tempo pueril, das criancices, brincadeiras com os irmãos e um quinteto muito especial de amigos-irmãos: Néia, Socorrinho, Mariinha, Rubinho e Rubenice, que o tempo e a distância nos afastaram fisicamente, porém estão e estarão para sempre presentes nas minhas melhores reminiscências infantis. Obrigada gigantes!

Foi lá, também – Santa Isabel – que construí fortes amizades com grandes e inesquecíveis adultos: meus primeiros compadres Vadoca e Maria, Sibá, minhas “mães de leite” Rosa Amélia, Nôca, Isidória; com os adolescentes Cid e Neco de Zé Roberto, meu padrinho e compadre.

Um quilombo que tem marcas significativas na contribuição cultural do nosso povo. Palco de resistência, resiliência, bravuras e conquistas. Vale ressaltar que por meio do professor Weliton Lemos, neto de Dorotéia Sousa Lemos, (uma mulher forte, que carrega consigo bravura e altivez, e, que bem representa a comunidade), submeteu um projeto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações sendo aprovado na Mostra de Ciência e Tecnologia 2022 realizada em Matinha; foram três estudantes da Escola Municipal Thales Ribeiro Gonçalves (onde fui alfabetizada, literalmente debaixo da Sapucaeira), para compor o grupo de Pesquisadores Bolsistas de Iniciação Científica Júnior – ICJ do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq. O que muito nos honra!

Tive o privilégio de ser recebida neste mundo pelas mãos habilidosas de uma das maiores parteiras de Matinha: Damiana Alves Borges. Uma mulher além de seu tempo, que merece muito ser homenageada. Digna de todas as honrarias, comendas e reconhecimentos do legado que deixou. Trouxe vidas e muitas vezes as salvou: tanto das mães quanto dos bebês.

Ao lado dela, outra relevante celebridade deste sagrado lugar: José Raimundo dos Santos, nosso eterno Zé de Figênia. Como não lembrar este homem! Eu e minha turma (irmãos e amigos) aprontávamos bastante. E lá estávamos nós, em sua casa para que ele, com seus próprios recursos (disponíveis), fizesse nossos curativos; aplicar as injeções… Tenho todos os atendimentos impressos na memória de um profissional humanamente amoroso e cuidadoso. Ele fazia com que nossas dores fossem menores. Não! Ele não era médico de diploma acadêmico. Entretanto, possuía o dom de curar. Era o médico de todos nós. Lembro-me de ir muitas vezes à sua casa, fui uma paciente bastante assídua.

São para estas duas importantes e excelsas personalidades: Parteira Damiana e “Médico” Zé de Figênia, que não tinham nada de leigo, todavia um conhecimento divino, experiências de vidas, leituras de mundo-humano, que rendo minhas homenagens póstumas, meus aplausos, vivas, salves; gratidão pela relevante e necessária contribuição para a história desta pequena gleba que se junta a outras glebas do mapa-pássaro, Matinha, de um povo que vive diariamente suas labutas, conquistas e vitórias; mas, sobretudo que: “quebra o coco e não arrebenta a sapucaia”!

*Maria Zilda Costa Cantanhede* Presidenta da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL; Especialista em Linguística, Educação do Campo, Educação Pobreza e Desigualdade Social; Articulista, cronista, poetisa, revisora textual; Professora da Rede Estadual de Ensino; Supervisora de Normas e Organização da Rede Integral/ SUNORI/SEDUC/SAEPI; Coordenadora de Mostras e Feiras Científica do CNPq/MCTI; Pesquisadora do CNPq.

Dia de Combate ao Alcoolismo

 Todas as coisas me são lícitasmas nem todas as coisas convêmTodas as coisas me são lícitasmas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. (Coríntios 6:12).
18 de fevereiro é celebrado o Dia de Combate ao Alcoolismo, como oportunidade para conscientizar a população acerca da doença e dos prejuízos causados por ela.
Conforme apontou estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), cerca de 85 mil mortes a cada ano são 100% atribuídas ao consumo de álcool nas Américas.

Alcoolismo

É caracterizado pela vontade incontrolável de beber, falta de controle ao tentar parar a ingestão, tolerância ao álcool (doses cada vez maiores para sentir os efeitos da bebida) e dependência física, que se manifesta com sintomas físicos e psíquicos nas situações de abstinência alcoólica.
O diagnóstico de alcoolismo não tem relação com o tipo e quantidade da substância ingerida pela pessoa, mas sim à capacidade em controlar o consumo de bebida.
Além da já reconhecida predisposição genética para a dependência, outros fatores podem estar associados: ansiedade, angústia, insegurança, fácil acesso ao álcool e condições culturais. Por ser muito relacionado à socialização – os primeiros efeitos do álcool são euforia e desinibição – é comum que o hábito se inicie na adolescência, período em que começam a ser frequentes reuniões com oferta de bebidas alcoólicas.
No Brasil, 10% da população sofre com o alcoolismo. Os homens correspondem a 70% dos casos, enquanto as mulheres correspondem a 30%.
Sinais e Sintomas
​​Os sinais e sintomas classicamente associados à dependência de substâncias são falta de controle sobre o uso, tolerância cada vez maior e manifestações de síndrome de abstinência. Neste último caso, a pessoa manifesta alguns sintomas quando interrompe o consumo de álcool: tremores nos lábios e extremidades (mãos, pés), náuseas, vômitos, suor excessivo, ansiedade, irritação, podendo evoluir para convulsões e estados de confusão mental, com falta de orientação no tempo e no espaço e alucinações.
O Tratamento é a eterna vigilância
A família exerce papel fundamental nesse apoio, pois alguns precisarão de internação, compreensão e acolhimento.
Desde cedo, os pais devem explicar aos filhos sobre os malefícios do uso do álcool. Tem várias justificativas falaciosas de que o uso de álcool pode fazer bem à saúde. Meu pai costumava nos ensinar por parábolas e histórias para nos deixar claro que o álcool é prejudicial à saúde e compromete o convívio da pessoa em sociedade. Ele costumava nos contar a história que tinha no seu livro: Vá e entrega-te ao vício da embriaguez, recomendo que leiam a seus filhos neste dia.
O PRIMEIRO PASSO é o doente reconhecer que é alcoolista e querer mudar a situação. Depois, a família e/ou o dependente devem procurar um psicólogo ou psiquiatra, que avaliará as possibilidades de tratamento.
O tratamento pode envolver a desintoxicação, que é a retirada da bebida com acompanhamento profissional, a ingestão de medicamentos que auxiliam no controle do desejo de beber e aconselhamento individual ou em grupo.
O envolvimento da família é fundamental nessa etapa, pois o alcoolismo é uma doença que envolve não só o dependente, mas também todos de seu convívio.]
Impacto
O álcool, junto com o tabagismo, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças.
Quando utilizado por tempo prolongado, tem ação tóxica sobre diversos órgãos. O uso constante provoca danos ao sistema nervoso, podendo causar demência, bem como diminuição da sensibilidade e da força muscular nas pernas. Outras possíveis consequências são: no estômago, pode ocasionar gastrites e úlceras; no fígado, pode desencadear hepatites, acúmulo de gordura e cirrose; no pâncreas, gera pancreatite; e no sistema circulatório, aumenta o risco de miocardites, pressão alta, acidentes vasculares cerebrais e aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos).
O álcool também tem relação com o desenvolvimento de câncer no trato intestinal, na bexiga, próstata e outros órgãos.
Além disso, ficam prejudicadas as relações sociais. No excesso e na ausência dele, o dependente se torna irritado, tem tremores e crises de ansiedade, que só melhoram com o consumo cada vez maior. Muitos instituições combatem o uso de álcool, como o Alcoólicos Anônimos. Muitos casos são levados a hospitais psiquiátricos.

O que é o A.A.?

Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de pessoas que se reúnem para resolver seu problema com a bebida. Não custa nada assistir às reuniões do A.A.. Não há requisitos de idade ou escolaridade para participar. A irmandade é aberta a qualquer pessoa que queira fazer algo a respeito de seu problema com a bebida.

O objetivo principal de A.A. é ajudar os alcoólatras a alcançarem a sobriedade.

O vinho é zombador e a bebida fermentada provoca brigas; não é sábio deixar-se dominar por eles. (Provérbios 20:1).

Sente-se falta de campanhas governamentais contra o uso de álcool, que seriam baseadas na exposição dos malefícios à saúde do indivíduo e da sociedade. Verifica-se o sucesso da campanha contra o cigarro e por que não fazer a campanha contra o uso do álcool?

Fontes: https://www.aa.org.br/; https://portal.al.go.leg.br/; https://www.einstein.br/

Chegou o Carnaval e os artistas da nossa terra “dançaram”

CENAS DO COTIDIANO III

Por Zé Carlos Gonçalves

O carnaval toma conta da cidade. E, como bem diz o poeta, “a cidade pega fogo!” No caldeirão fervente, alegria é a palavra chave. Somem “as dificulidades”, “como em um passe de mágica”. Afinal, não há bêbedo pobre! Bêbedo é riqueza! E bêbedo “faz coisa de até Deus duvidar”. Sozinho, faz até um carnaval! Ôxi!

Tudo é permitido. É hora de “vaca não conhecer bezerro”. Pena, que a “ressaca moral” já se constitua só em um termo arcaico. E a ressaca alcoólica não tem “um tempinho” de se manifestar; “o lava prato”, tal um tsunami, vem arrastando “até pensamento de doido”. E se “de doido todo mundo tem um pouco” … o carnaval está inocente.

Só lamento pelos meus ouvidos, que são invadidos, até rimou, por uma bagunça musical “dos infernos!” Esse plural é fantástico. Não sei quem foi lá, mas viu mais de um. Assim, “é difíci de nóis escapá”. Mas, é carnaval, e as ruas se transformam em banheiro. Até a “lei seca” tira férias. E os “sãos” se revelam; tão reprimidos estavam, presos em suas frustrações.

Os inconsequentes são a maior praga carnavalesca. Se “atolam” na barbárie. Podem tudo. Maisena, loló, cerveja quente … O comportamento é deplorável. Esquecem toda e qualquer gentileza.O

Os artistas da nossa terra “sobraram”. E, “por ironia do destino”, recebo a notícia de que os hotéis estão cheios. Muitos turistas vêm “pular” o carnaval do Maranhão. Mas, “fakearam” o carnaval. Até despediram o “Zé Pereira”. “O portuga!” Os incautos turistas “estão é levando gato por lebre”. O que é bem feito, né?! Maranhão não é terra de lebre! É terra, sim, de legitimar o abandono dos gatos. Fez-se até a praça.

Preguiçosamente felina. E, “ântis qui m’isqueça”, o Maranhão “é, de verdade, é” terra de palmeiras. E, “pra não perder o mote”, as palmeiras, e fechar com “uma pitada de humor”, até lembrei longe. Lá, no Zé Maria do Amaral. “Né, qui” um aluno, “um tantinho” gaiato, parodiou, tão bem, “o outro Gonçalves”. O Dias. E, por muito pouco, não causou o infarto do mestre geógrafo, o meu grande amigo – , que lhe pediu para dissertar sobre a grande riqueza deste estado. Então, “não se fez de rogado”. E, “curto e grosso, mandou certeiro”: “Aqui, no Maranhão, babaçu abunda!”

“Que doidiça de petulança!” Foi o melhor zero que já vi!
Só mesmo o carnaval para me trazer esse adormecido episódio!
Eita, carnaval “pilantra”!

Zé Carlos Gonçalves em fevereiro de 2023.

.. E VAMOS FALAR SOBRE O CARNAVAL

Por: Flaviomiro Silva Mendonça

Ainda é muito controverso sobre a origem do Carnaval. Alguns defendem que seu surgimento pode ter ocorrido no Egito Antigo, e outros na Grécia ou em Roma. Mas o mais importante de tudo isso é que o carnaval encontrou no Brasil um lugar privilegiado para ser festejado. É a maior festa popular do nosso país, sem dúvida alguma. Pensar no Brasil, sem pensar no carnaval e no futebol nos soa muito estranho, já que os dois já viraram elementos muitos fortes dentro da nossa identidade nacional.

De acordo com Soihet (2003), o carnaval foi somente introduzido no Brasil na década de 1830, com a finalidade de substituir o entrudo, considerado por Galvão (2009), como uma forma primitiva, festa trazida pelos primeiros colonizadores portugueses. O entrudo é uma palavra que vem do latim (introitun), significa entrada, início, abertura para a Quaresma.

No Brasil, não teve como assumir características peculiares com elementos de forte influência negra e indígena. Com o passar do tempo, a brincadeira do entrudo foi considerada vulgar e simbolizava, também, o atraso. Assim, esse tipo de festa carnavalesca foi perdendo, progressivamente, seu espaço e dando lugar ao modelo europeu (elitista e burguês) de festejar o carnaval, utilizando máscaras importadas de Paris e Veneza, fantasias luxuosas, confetes, serpentinas e lança-perfume, contrastando, de fato, com o entrudo, que durante os dias que antecediam o tempo quaresmal, a população sai pelas ruas jogando, entres si, pós, água de líquidos malcheirosos, limões-de-cheiro (feitos de cera) etc.

Na década de 1850, surgiram no Brasil as Grandes Sociedades. Esse tipo de agremiação carnavalesca ganhou grande popularidade dentro do carnaval carioca que se perpetuou por um longo período. O desfile destas entidades lembra muito as escolas de samba de hoje, por possuírem carros alegóricos e mulheres seminuas dançando durante sua apresentação. É uma permanência dos antigos carnavais.

De acordo com a pesquisadora Galvão(2009: 73), ela nos acrescenta que: “a partir de então proliferaram e impulsionaram um novo modelo de Carnaval, considerado mais civilizado e mais europeu”. Interessante é que até os nomes dessas agremiações eram associados a denominação de algum lugar na Europa, como: União Veneziana, Boêmia, Estudantes de Heidelberg e Acadêmicos de Joanisburg. É importante destacar que, mesmo sendo entidades elitistas, carregavam dentro de si ideais abolicionistas, progressistas e republicanos. Em muitos casos, compravam até alforrias de alguns escravos, com dinheiro arrecado pelos seus sócios.

Entretanto, mesmo com a forte implantação de modelo preferencialmente francês de se fazer carnaval, “pela porta dos fundos” se ergueram as manifestações formadas por classes populares compostas, principalmente, por negros e mestiços, afrontando não intencionalmente a crença da superioridade racial e social, dentro de um processo de civilização dos brasileiros à moda europeia. Isso foi motivo para fortes críticas e repúdio por parte dos cronistas e dos intelectuais da época, como Artur Azevedo, que em um artigo publicado no jornal O Paiz, afirmava que: “um estrangeiro que desembarcasse no Rio de Janeiro, num domingo de Carnaval, pensaria estar nalguma terra dominada de africanos” (Soihet, 2009: 304).

Outro problema apontado nesse período era o espaço de sociabilidade que seria destinado a foliões distintos. Havia uma verdadeira segregação: a Rua do Ouvidor (transferido posteriormente para a Avenida Central) era reservada às elites, e a Praça Onze, limitada aos populares (sambistas e malandros). Contudo, esses espaços considerados populares foram, aos poucos, atraindo a classe média, que ao sair de seus corsos, iam diretamente aos blocos de sujo para complementar e extravasar sua euforia.

O Movimento Modernista, na década de 1920, foi decisivo para que as manifestações culturais populares ganhassem definitivamente um lugar em destaque: “Após a Primeira Guerra Mundial desmorona-se a ilusão da Europa como centro de um progresso ilimitado, tomando vulto no Brasil um movimento em busca de suas raízes” (Sohiet, 2009: 308). Era um momento de muita reflexão, de repensar nos valores nacionais, assim como conhecer sua expressão cultural e dessa forma inserir elementos peculiares à nação brasileira em constante processo de construção.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SOIHET, Rachel. O povo na rua: manifestações culturais como expressão de cidadania. In: O Brasil Republicano – Livro 2. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 2003.
GALVÃO, Walnice Nogueira. Ao som do samba – uma leitura do Carnaval carioca. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo: 2009…. ma leitura do Carnaval carioca. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo: 2009.

Flaviomiro é o último da esquerda para a direita. No Carnaval FDBM 2019.

 * Flaviomiro Silva Mendonça

É natural de Penalva. Possui graduação em História/Licenciatura (2019) e em Ciências Econômicas, ambos pela Universidade Federal do Maranhão (2002). Tem experiência na área de ensino e pesquisa, atuando principalmente no seguinte tema: HISTÓRIA ARQUEOLOGIA ENSINO