Quais são as causas do aumento do suicídio entre jovens nos EUA e as lições para o Brasil: Os jovens estão nos dizendo que estão em crise.

Por Eli Vieira*

A Divisão de Saúde Adolescente e Escolar dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos divulgou esta semana um relatório de dez anos de acompanhamento dos jovens americanos. O documento, que incluiu pesquisas bienais realizadas entre 2011 e 2021, com foco neste último ano, aponta que os adolescentes tiveram redução em comportamentos sexuais de risco e uso de drogas, tiveram experiências com a violência em nível constante, mas em alguns casos crescentes, e, importantemente, pioraram sua saúde mental em todas as faixas etárias.

Apesar de o sexo arriscado e abuso de drogas terem diminuído, com metade em 2011 para menos de um terço dos jovens relatando já ter feito sexo em 2021, também diminuiu o uso de contraceptivos e a testagem para doenças venéreas; além disso, o nível de abuso de substâncias continua “alto demais”, resume a agência sanitária americana.

Mais de 40% dos estudantes do ensino médio relataram se sentir tristes ou desesperançados nas duas semanas anteriores à sua inclusão na pesquisa, um sinal diagnóstico de depressão. As principais afetadas são as garotas. Em 2021, quase 60% delas apresentaram esse sintoma durante o período anterior de um ano – é o dobro da taxa dos garotos. Um quarto delas relatam ter feitos planos de suicídio, e o número que relata ter sido vítima de estupro subiu de 12% em 2011 para 14%.

Para especialistas como Cori Green, pediatra do centro médico Weill Cornell em Nova York, as diferenças de sexo são importantes de se observar, pois, nos meninos, sintomas de depressão podem se manifestar de forma diferente, como irritabilidade e agressividade. Victor Fornari, vice-presidente de psiquiatria pediátrica no sistema de saúde Northwell, também em NY, pensa que não é coincidência que o padrão de piora de saúde mental dos jovens tenha acompanhado a ascensão dos smartphones, lançados em 2007, que tiraram o porto seguro do lar e os expuseram a escrutínio constante nas redes sociais. Em sua clínica, ele observou 250 visitas por tentativa de suicídio de adolescentes em 1982, três mil em 2010 e oito mil em 2022. Ambos os profissionais falaram ao New York Times.

Outro grupo especialmente atingido por má saúde mental, segundo o relatório dos CDC, é o dos jovens de minorias sexuais (LGBT). Um quarto deles tentou suicídio nos 12 meses anteriores, metade teve problemas de saúde mental e 70% tiveram sentimento de desesperança e tristeza persistentes. O relatório não faz o comparativo histórico na proporção de jovens que se dizem LGBT, mas em 2021 foram 22%. O número é consistente com outros estudos que sugerem um contágio social de identidades LGBT: a proporção natural do grupo, segundo uma revisão de 2016, seria de 5%.

As taxas de sentimento negativo persistente são as maiores encontradas em uma década e antecedem as medidas da pandemia, como fechamento de escolas, que pioraram a situação. “Não há dúvidas a respeito do que esses dados estão nos dizendo”, comentou Kathleen Ethier, diretora da divisão dos CDC. “Os jovens estão nos dizendo que estão em crise”. Foram inclusos 17 mil estudantes do ensino médio no estudo de 2021.

É importante, contudo, olhar de forma crítica para os números. O próprio relatório do CDC aponta que o número de adolescentes que relataram precisar de cuidado médico por uma tentativa séria de suicídio manteve-se estável na década considerada, não ultrapassando 3% nem caindo muito abaixo de 2%.

Perscrutando as causas

O relatório traz uma novidade em relação a suas versões anteriores: perguntas que medem determinantes sociais da saúde e que sejam protetores para os jovens. Um fator é a instabilidade do lar, ou seja, o jovem não ter constância de um lugar para dormir, tendo de recorrer à casa de amigos, parentes ou outros porque teve de sair de casa ou não tem onde morar. Somente 3% dos adolescentes passaram por esse tipo de instabilidade, mas os LGBT estão desproporcionalmente presentes no grupo.

Outro fator considerado é a conexão com a escola: sentir-se parte da comunidade escolar. Tem “um impacto protetivo de longo prazo para os adolescentes, até a vida adulta”, diz o relatório, “em quase todos os comportamentos e experiências incluídos”. Neste quesito, as mulheres, os LGBT e os estudantes de minorias étnicas tiveram as menores notas.

Um terceiro fator protetivo chave é o monitoramento dos pais. Felizmente, a maioria “disse que seus pais na maior parte ou sempre sabem onde eles estão e com quem estão”. Mais de 95% das crianças e adolescentes passam boa parte de seu dia na escola. Os autores do relatório concluem que o papel das escolas não é só acadêmico, “elas têm um papel crítico em moldar o crescimento mental, físico e social”.

Saúde mental dos jovens no Brasil

Segundo um relatório de 2021 da Unicef, a incidência de transtornos mentais entre jovens dos 10 aos 19 anos no Brasil é de 17,1% – mais alto nas garotas (17,6%) que nos garotos (16,7% ou um a cada seis). Na América Latina e o Caribe, diz o documento, o suicídio é a terceira maior causa de morte entre adolescentes entre 15 e 19 anos, abaixo apenas da violência interpessoal e acidente de trânsito. O número de jovens que tiram a própria vida nessa região, de dez por dia, é o dobro dos que morrem por afogamento e o triplo dos que são vítimas da leucemia.

Se está correta a tese de Fornari sobre a participação dos smartphones e redes sociais na deterioração da saúde mental dos jovens americanos, fenômeno similar pode estar ocorrendo no Brasil. Em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou uma “nota de alerta” a respeito da saúde mental dos jovens. Foi a primeira vez que a SBP incluiu saúde mental de jovens e adolescentes no Tratado de Pediatria, publicação direcionada à comunidade médica de todo o país.

A sociedade relata que, durante a pandemia, “pediatras têm atendido solicitações de famílias que descrevem o surgimento de insônia, anorexia, crises de ansiedade ou depressão em seus filhos”. Um dos sinais de problemas dessa natureza, nas idades menores, é o reaparecimento de comportamentos já superados antes, como o xixi na cama e pedidos para dormir com os pais, diz a organização, que também faz um alerta a respeito da estabilidade do lar.

“Há um sofrimento público”, disse Roberto Santorno, coordenador de grupo de trabalho em saúde mental da SBP, para a Fiocruz. “Já sabemos que os quadros de ansiedade e depressão dobraram por conta da pandemia. Isso é percebido na clínica e ratificado em estudos científicos”.

Uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz observou que, entre 2011 e 2014, houve 15,7 mil ocorrências de cuidado médico a adolescentes por tentativa de suicídio. Um perfil comum era de garotas de 15 a 19 anos, residentes do Sudeste, e os eventos geralmente ocorreram em casa.

Já o Ministério da Saúde, em boletim epidemiológico (nº 33), relatou um aumento geral de 43% no número de suicídios entre 2010 e 2019 e destacou maior vulnerabilidade dos nascidos após 1995. Segundo o documento, esses jovens têm “menos mecanismos para lidar com frustrações e adversidades (menor resiliência) e dificuldades em adiar o prazer (imediatismo) [que] também podem ser fatores sociais que influenciam no desencadeamento de quadros mentais que têm contribuído com o aumento do suicídio”.

* Eli Vieira é biólogo, mestre em biologia molecular pela UFRGS e mestre em genética pela Universidade de Cambridge, Reino Unido. Escreve para o público em blogs desde 2007, ganhou em 2014 o Outreach Fund da Sociedade Europeia de Biologia Evolutiva, e suas publicações acadêmicas já foram citadas mais de 500 vezes. Colabora com a Gazeta do Povo desde 2020. Coautor de A Crise da Política Identitária (2022).

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/

Nunca houve na história brasileira tantos presos por razões políticas

Por J.R. GUZZO*
O Estado de São Paulo (15/02/2023).

Não existem crimes coletivos; a acusação de cada delito dos mais de 900 detidos em Brasília tem, obrigatoriamente, de ser individualizada.

O que está acontecendo com as mais de 900 pessoas presas em Brasília, acusadas ou suspeitas de participar da depredação dos edifícios-sede dos Três Poderes no dia 8 janeiro, é uma desgraça para o Brasil. Como pode haver democracia, mesmo em sua definição mínima, num país com prisões em massa, cárceres políticos e centenas de pessoas presas sem que haja acusação individual contra elas? Nunca houve na história brasileira, mesmo em seus piores momentos de treva, tantos presos por razões políticas – não ao mesmo tempo, e nem por tanto tempo.

O mais sinistro nos acontecimentos de hoje é que a repressão é executada em defesa do “regime democrático de Direito”. Para salvar a democracia, alegam os carcereiros, é preciso passar por cima da lei – e não existe democracia se não há absoluto respeito à lei por parte da autoridade que tem o poder de investigar, prender e punir os cidadãos.

PGR diz que ex-comandante da PM ‘sabia, podia e devia ter agido’ contra radicais em Brasília e defende que ele permaneça preso.

É chocante que não uma meia dúzia, mas centenas de homens e mulheres estejam presos há mais de 40 dias sem que a polícia e o aparelho judiciário tenham sido capazes, até agora, de dizer o que eles fizeram. Não existem crimes coletivos; a acusação de cada delito tem, obrigatoriamente, de ser individualizada, e essa exigência elementar da legislação penal brasileira está sendo ignorada pela autoridade pública.

Há, no ataque aos prédios das instituições, criminosos já identificados e com participação comprovada nos atos de vandalismo – inclusive através de imagens. Mas há centenas de pessoas que não quebraram nada, nem desrespeitaram lei nenhuma.

Muitos nem estavam na cena do crime; foram presos em frente a quartéis do Exército em Brasília, onde faziam manifestações pacíficas e legais. Outros entraram só para espiar, em lugares que estavam com as portas abertas. Estão sendo punidos como aqueles que efetivamente praticaram crimes; seu crime é estar em local próximo ao crime. O fato é que a justiça não sabe se os 900 presos cometeram ou não infrações ao Código Penal. Enquanto tenta descobrir, fica todo mundo no xadrez.

As organizações de defesa dos direitos humanos e do direito de defesa, a Ordem dos Advogados e os que se consideram heróis por terem assinado manifestos em favor da democracia estão em silêncio absoluto diante de tudo isso. É a nova ordem do Brasil. Não há nenhum corrupto na cadeia – nem o ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 400 anos de prisão por roubo de dinheiro público no Rio de Janeiro. Um assassino preso em flagrante é libertado em menos tempo que os acusados de terrorismo em Brasília.

Mas não existem direitos para os que estão do lado errado da ideologia que comanda atualmente o aparelho judicial brasileiro.

*José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.

HEROÍNAS ANÔNIMAS

Por Gracilene Pinto

Maria estava tendo um parto difícil. Embora não fosse parturiente de primeira viagem, que esse já seria seu terceiro filho, e a mulher estivesse fazendo toda força para ajudar, a criança não saía nem com reza mansa nem com reza braba. Parecia que todas as orações e súplicas à Nossa Senhora do Bom Parto e a São Raimundo Nonato, para que tivesse uma boa hora, não surtiam efeito. E a moça fazia força se contorcendo e gemendo, enquanto tentava manter a esperança de sobreviver ao parto. Ela e o filho. Mas, a verdade é que a confiança estava se esvaindo aos poucos.

Para piorar tudo, Maria já se encontrava em um estado perigoso de estresse, pois a parteira Salu, mulher experiente, pois que estava no ofício há muitos anos, ao invés de tranquilizá-la e orientá-la, ralhava o tempo todo com a pobre moça, chamando-a de fraca e “isgaenta”, e dizia ao nervoso Biné que Maria não estava ajudando e que acabaria matando a criança com seus “isgaio”.

Auxiliando no parto estava uma sobrinha de Biné chamada Ana. Uma adolescente de dezesseis anos recém-chegada da Capital onde fora fazer um curso de Auxiliar de Enfermagem-Parteira, curso este patrocinado pela Prefeitura local.

Ana tentava ajudar, porém, a parteira a empurrava e dizia que não precisava da ajuda de nenhuma pirralha recém-saída dos cueiros para fazer um parto, depois de trazer ao mundo uma centena de bebês.

Biné, por sua vez, apoiava Salu, e dizia para Ana ficar quieta e deixar quem já tinha experiência agir, pois a parteira sabia o que estava fazendo.

E Salu continuava em seu mal humor a resmungar contra Maria e a enfiar suas mãos, de unhas enormes e sujas, sabe-se lá com quantos milhares de bactérias, nas partes íntimas da parturiente.

O comportamento da parteira chegava às raias do absurdo. E Ana, que tinha aprendido sobre as infecções que poderiam advir da falta de assepsia e o modo de tratar com os pacientes, estava estarrecida. No entanto, não se sentia com forças para tomar uma atitude em virtude, não só da sua juventude como também da falta de apoio do tio, que ainda não tinha nenhuma confiança na sobrinha.

Além disso, naqueles lugares longínquos, onde não havia médicos e muito menos hospitais, as parteiras antigas eram consideradas autoridades da área médica. E, verdade seja dita, que a maioria delas foram verdadeiras heroínas e salvaram muitas vidas em um tempo em que era bem comum as mulheres não resistirem ao parto e chegarem ao óbito.

Porém, quando a esperança de um feliz desfecho já se desvanecia e alguns começavam a dar o caso como perdido, pois Maria já agonizava e Salu tentava puxar o nascituro pelo queixo com suas mãos nodosas, em vias mesmo de arrancar um pedaço do bebê, Ana lembrou-se que a parteira era muito amiga da primeira companheira de Biné. A ex-companheira detestava Maria, embora já estivesse separada de Biné há muitos anos. Mas, talvez ainda alimentasse alguma paixão recolhida pelo ex. Vai saber! Cabeça dos outros é universo onde ninguém passeia. Mas, o fato é que essa lembrança trouxe consigo a suspeita de que, talvez, ao invés de ajudar a parturiente, a intenção de Salu fosse deixar Biné livre para a amiga. Quem sabe Salu não desejasse a morte de Maria por solidariedade com a amiga, já que não conseguia esconder a antipatia?

Foi então, que Ana esqueceu o respeito à hierarquia da parteira velha, a autoridade do tio, e, esquecendo sua condição de adolescente recém-formada, assumiu uma autoridade e uma autoconfiança que nem ela mesma sabia ter, até então. E assim, empurrando Salu de forma enérgica, e até rude, assumiu o posto decidida a salvar a vida de Maria.

Fechando os olhos, como quem pede inspiração a Deus, Ana apalpou a barriga de Maria, já quase desmaiada, localizou o bumbum do bebê, e, sentou o joelho no vazio logo após, empurrando com força, o que fez com que a criança espirrasse para fora em um jato.

A pele do recém-nascido já estava arroxeando-se pela falta de oxigenação. Mas, nada que um tapinha no bumbum não pudesse resolver. Sobreviveram mãe e filho, para felicidade da família.

E foi desta forma que Ana, quase uma menina, mostrou-se uma verdadeira heroína e salvou a vida da primeira de muitas Marias que sobreviveram ao parto em suas mãos na Baixada do Maranhão.

SAPUCAEIRA

Por Maria Zilda Costa Cantanhede*

Nestes 74 anos de emancipação política da nossa querida Matinha, peço permissão aos demais ilustres matinhenses, com quem tenho a honra de compartilhar minha naturalidade e adjetivo pátrio, para falar de um “canto” especial do nosso torrão. Um espaço geográfico, que tem como limítrofes dois pujantes municípios da Baixada Maranhense: Viana e São Vicente Férrer.

Aproximadamente 27 km da sede de Matinha- MA, fica localizado um povoado que tem nome de uma santa, a Santa Isabel, que ao lado de Santa Rita, São Francisco, Santa Maria, São Raimundo, São Caetano, Santa Aninha, Santa Vitória, São Rufo, São Felipe e São José abençoam, protegem nossa não mais tão Pequena Mata.

Muitas são as histórias vividas e compartilhadas, contos, causos, prosas e poesias inspiradas à sombra da frondosa Sapucaeira, um topônimo do lugarejo. Uma árvore histórica que tem um formato exuberante para “guardar seus frutos”.

Nasci muito próximo da Sapucaeira; vivi até os meus oito anos. Quando nos mudamos para o povoado vizinho, Cutias II. Tenho as melhores lembranças e saudades deste tempo pueril, das criancices, brincadeiras com os irmãos e um quinteto muito especial de amigos-irmãos: Néia, Socorrinho, Mariinha, Rubinho e Rubenice, que o tempo e a distância nos afastaram fisicamente, porém estão e estarão para sempre presentes nas minhas melhores reminiscências infantis. Obrigada gigantes!

Foi lá, também – Santa Isabel – que construí fortes amizades com grandes e inesquecíveis adultos: meus primeiros compadres Vadoca e Maria, Sibá, minhas “mães de leite” Rosa Amélia, Nôca, Isidória; com os adolescentes Cid e Neco de Zé Roberto, meu padrinho e compadre.

Um quilombo que tem marcas significativas na contribuição cultural do nosso povo. Palco de resistência, resiliência, bravuras e conquistas. Vale ressaltar que por meio do professor Weliton Lemos, neto de Dorotéia Sousa Lemos, (uma mulher forte, que carrega consigo bravura e altivez, e, que bem representa a comunidade), submeteu um projeto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações sendo aprovado na Mostra de Ciência e Tecnologia 2022 realizada em Matinha; foram três estudantes da Escola Municipal Thales Ribeiro Gonçalves (onde fui alfabetizada, literalmente debaixo da Sapucaeira), para compor o grupo de Pesquisadores Bolsistas de Iniciação Científica Júnior – ICJ do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq. O que muito nos honra!

Tive o privilégio de ser recebida neste mundo pelas mãos habilidosas de uma das maiores parteiras de Matinha: Damiana Alves Borges. Uma mulher além de seu tempo, que merece muito ser homenageada. Digna de todas as honrarias, comendas e reconhecimentos do legado que deixou. Trouxe vidas e muitas vezes as salvou: tanto das mães quanto dos bebês.

Ao lado dela, outra relevante celebridade deste sagrado lugar: José Raimundo dos Santos, nosso eterno Zé de Figênia. Como não lembrar este homem! Eu e minha turma (irmãos e amigos) aprontávamos bastante. E lá estávamos nós, em sua casa para que ele, com seus próprios recursos (disponíveis), fizesse nossos curativos; aplicar as injeções… Tenho todos os atendimentos impressos na memória de um profissional humanamente amoroso e cuidadoso. Ele fazia com que nossas dores fossem menores. Não! Ele não era médico de diploma acadêmico. Entretanto, possuía o dom de curar. Era o médico de todos nós. Lembro-me de ir muitas vezes à sua casa, fui uma paciente bastante assídua.

São para estas duas importantes e excelsas personalidades: Parteira Damiana e “Médico” Zé de Figênia, que não tinham nada de leigo, todavia um conhecimento divino, experiências de vidas, leituras de mundo-humano, que rendo minhas homenagens póstumas, meus aplausos, vivas, salves; gratidão pela relevante e necessária contribuição para a história desta pequena gleba que se junta a outras glebas do mapa-pássaro, Matinha, de um povo que vive diariamente suas labutas, conquistas e vitórias; mas, sobretudo que: “quebra o coco e não arrebenta a sapucaia”!

*Maria Zilda Costa Cantanhede* Presidenta da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL; Especialista em Linguística, Educação do Campo, Educação Pobreza e Desigualdade Social; Articulista, cronista, poetisa, revisora textual; Professora da Rede Estadual de Ensino; Supervisora de Normas e Organização da Rede Integral/ SUNORI/SEDUC/SAEPI; Coordenadora de Mostras e Feiras Científica do CNPq/MCTI; Pesquisadora do CNPq.

O DIA DO ESPORTISTA É COMEMORADO EM 19 DE FEVEREIRO

O exercício físico atrelado com uma dieta saudável é recomendado por todos os especialistas em saúde para manter uma boa qualidade de vida.

A data tem o objetivo de incentivar, conscientizar e homenagear a prática do esporte, como meio para o desenvolvimento de uma vida muito mais saudável.

Aprender a trabalhar em equipe, concentração, paciência, cooperativismo e fortalecimento muscular são algumas das várias vantagens que a prática do esporte garante para o ser humano, seja fisicamente ou mentalmente.

Origem do Dia do Esportista

O Dia do Esportista, originalmente, foi criado a partir da Lei nº 8.672, de 6 de Julho de 1993, conhecida como “Lei Zico”. No artigo 54 constava que o dia 19 de fevereiro seria destinado como Dia do Esportista.

Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, conhecida popularmente por “Lei Pelé” ou “Lei do passe livre”, revogou a Lei Zico, estabelecendo o dia 23 de junho como o Dia do Desporto, mesma data do Dia Mundial do Desporto Olímpico. No entanto, a população mantém a antiga data ainda hoje como o dia para comemorar a prática do esportismo no Brasil.

Aprender a trabalhar em equipe, concentração, paciência, cooperativismo e fortalecimento muscular são algumas das várias vantagens que a pratica do esporte garante para o ser humano, seja fisicamente ou mentalmente.

Fontes: https://notisul.com.br/ e https://www.calendarr.com/

Uma história de superação: Ex-ajudante de pedreiro tornou-se Juiz de Direito

Um dos 29 magistrados que irão compor o Poder Judiciário de Rondônia, chamou a atenção na solenidade de posse do TJRO em Porto Velho: Eliezer Nunes Barros foi servente de pedreiro, depois pedreiro e, por fim, agente penitenciário, até conseguir ingressar na tão sonhada Faculdade de Direito e após anos de estudo, dedicação, provações e privações, conseguir ser aprovado no concurso público de provas e títulos para ingresso na carreira da magistratura rondoniense em 2023.

O novo magistrado rondoniense relatou durante a sua posse para a TV, em Porto Velho, capital de Rondônia, que durante a sua fase jovem ele trabalhava como pedreiro e acabava por atrapalhar a condução de seus estudos no ensino médio.

Abandonou a escola por 4 anos, e aos 24 anos, conseguiu retornar aos estudos e concluiu o ensino médio (EJA). Em seguida, aos 26 anos, foi aprovado no concurso de agente penitenciário em Rondônia em 2009, após perceber que poderia iniciar uma nova jornada em sua vida.

Foi durante o trabalho de agente penitenciário que o recém empossado juiz rondoniense percebeu que era possível realizar o sonho de se tornar magistrado. O juiz relata que conheceu pessoas que acreditaram em seu potencial e vontade de vencer os obstáculos da vida e colocou como meta os estudos jurídicos.

Aos 28 anos, 2 anos após ingressar como agente penitenciário da SEJUS em RO, iniciou o curso de Direito que foi concluída aos 32 anos. A partir dos 33 anos a sua meta de se tornar juiz de Direito em Rondônia não parou e, após 6 anos e milhares de horas de estudos e dedicação, torna-se magistrado do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. “Quero aproveitar para dizer que irei pagar 22 parcelas do FIES que estavam atrasadas com o meu primeiro salário de juiz”, destacou.

Ele conta nos bastidores que a ideia de virar juiz veio tarde, já no final da faculdade e por influência de amigos. Até então o objetivo dele era apenas “melhorar de vida”. A graduação, de acordo com o juiz, já parecia uma grande superação para ele, já que o trabalho começou cedo e as dificuldades também. A superação venceu o medo e hoje o ex-servente de pedreiro, é o novo juiz de direito em Rondônia, aos 39 anos.

Fontes: https://www.tjro.jus.br/ e https://www.instagram.com/ e https://www.google.com/.

Violência doméstica, uma herança patriarcal

Por Eni Amorim

Vamos chamá-la de Valentina, ela era uma menina, sonhadora, alegre, cheia de vida, gostava de sorrir, cantar dançar, de ser feliz.

Nasceu em uma comunidade do interior a onde a vida era bastante difícil devido a pobreza extrema naquele dado momento histórico.

Valentina era semiletrada, só aprendeu a escrever o nome estudando na casa do professor como era costume da época.

Começou a trabalhar muito cedo, desde criança na agricultura (trabalhos na roça), tecia redes de fio têxtil e fazia serviços domésticos em casa de famílias.

Ainda adolescente, no auge dos seus doze anos fugiu de casa com um rapaz de nome Bernardo, dez anos mais velho que a iludiu com falsas promessas de uma vida melhor.

Perdeu sua virgindade em um processo muito violento e doloroso, na verdade um verdadeiro estupro que a deixou cheia de culpas. Logo em seguida, foi abandonada pelo rapaz.

Ela se sentiu totalmente violentada e naquela época uma jovem perder a virgindade era inaceitável pela família e pela sociedade e ela teve que sobreviver com esse estigma na alma.

Sua mãe ainda tentou dar queixa do dito cujo que a violentou, mas a justiça o protegeu como sempre fez com o “macho” nessa herança patriarcal de dominação de poder.

Diante da nova realidade e da dureza da vida teve que se prostituir para ajudar a família. Ganhava mimos, joias e falsas promessas dos seus amantes que na maioria eram homens casados.

Manteve um relacionamento com Carlos Garcia com o qual teve dois filhos.

Bem mais tarde quis o destino que ela se reencontrasse com o seu violador, Bernardo com o qual teve um relacionamento estável que durou quarenta e cinco anos, com o qual teve onze filhos.

Valentina teve que trabalhar muito para criar seus treze filhos naquele período de muitas dificuldades, fez muitos serões noite à dentro trabalhando em casa de famílias. A pobreza era tanta, teve que desmanchar suas roupas para fazer roupas para os filhos. Contou que , chegaram a passar fome várias vezes e que trabalhava em troca de comida para os filhos.

Muitas vezes quando não tinham comida, pegavam banana quase madura, cortavam em tirinhas, mergulhavam em água de sal, colocavam em espetos, assavam e comiam. Muitas vezes comiam peixe seco com angu de farinha, chibé ou dividiam um ovo para dois filhos, outras vezes iam dormir a barriga roncando de fome e o desejo de no outro dia ser diferente.

O Bernardo por sua vez gastava o pouco que tinha com prostitutas e com bebida, gostava de se sentir boêmio. Bernardo era extremamente ignorante, ela sofria todos os tipos de violência doméstica de seu companheiro, violência psicológica, moral, lhe dava amantes e chegou a lhe bater varias vezes de relho, de pau, de corda. Até tentou lhe matar por algumas vezes, em uma dessas vezes um de seus filhos a salvou e foi então que resolveu separar-se do seu companheiro antes que o pior acontecesse.

Valentina sofria sua dor pensando no futuro dos seus filhos que segundo ela são o seu maior tesouro e o seu amparo agora que a velhice chegara trazendo suas limitações.

Nesse cenário nada fictício, podemos dizer que Valentina, além de vítima é também sobrevivente pois é alguém que conseguiu romper o ciclo da violência, alguém que saiu ou sobreviveu, que superou de alguma forma a brutalidade da violência doméstica em todas as suas formas. “Afinal, não tem como ignorar que o Brasil é o quinto país em número de feminicídios no mundo.”

N.A. Conto baseado em fatos reais. O nome dos atores são fictícios para preservar a identidade das pessoas.

Dia de Combate ao Alcoolismo

 Todas as coisas me são lícitasmas nem todas as coisas convêmTodas as coisas me são lícitasmas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. (Coríntios 6:12).
18 de fevereiro é celebrado o Dia de Combate ao Alcoolismo, como oportunidade para conscientizar a população acerca da doença e dos prejuízos causados por ela.
Conforme apontou estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), cerca de 85 mil mortes a cada ano são 100% atribuídas ao consumo de álcool nas Américas.

Alcoolismo

É caracterizado pela vontade incontrolável de beber, falta de controle ao tentar parar a ingestão, tolerância ao álcool (doses cada vez maiores para sentir os efeitos da bebida) e dependência física, que se manifesta com sintomas físicos e psíquicos nas situações de abstinência alcoólica.
O diagnóstico de alcoolismo não tem relação com o tipo e quantidade da substância ingerida pela pessoa, mas sim à capacidade em controlar o consumo de bebida.
Além da já reconhecida predisposição genética para a dependência, outros fatores podem estar associados: ansiedade, angústia, insegurança, fácil acesso ao álcool e condições culturais. Por ser muito relacionado à socialização – os primeiros efeitos do álcool são euforia e desinibição – é comum que o hábito se inicie na adolescência, período em que começam a ser frequentes reuniões com oferta de bebidas alcoólicas.
No Brasil, 10% da população sofre com o alcoolismo. Os homens correspondem a 70% dos casos, enquanto as mulheres correspondem a 30%.
Sinais e Sintomas
​​Os sinais e sintomas classicamente associados à dependência de substâncias são falta de controle sobre o uso, tolerância cada vez maior e manifestações de síndrome de abstinência. Neste último caso, a pessoa manifesta alguns sintomas quando interrompe o consumo de álcool: tremores nos lábios e extremidades (mãos, pés), náuseas, vômitos, suor excessivo, ansiedade, irritação, podendo evoluir para convulsões e estados de confusão mental, com falta de orientação no tempo e no espaço e alucinações.
O Tratamento é a eterna vigilância
A família exerce papel fundamental nesse apoio, pois alguns precisarão de internação, compreensão e acolhimento.
Desde cedo, os pais devem explicar aos filhos sobre os malefícios do uso do álcool. Tem várias justificativas falaciosas de que o uso de álcool pode fazer bem à saúde. Meu pai costumava nos ensinar por parábolas e histórias para nos deixar claro que o álcool é prejudicial à saúde e compromete o convívio da pessoa em sociedade. Ele costumava nos contar a história que tinha no seu livro: Vá e entrega-te ao vício da embriaguez, recomendo que leiam a seus filhos neste dia.
O PRIMEIRO PASSO é o doente reconhecer que é alcoolista e querer mudar a situação. Depois, a família e/ou o dependente devem procurar um psicólogo ou psiquiatra, que avaliará as possibilidades de tratamento.
O tratamento pode envolver a desintoxicação, que é a retirada da bebida com acompanhamento profissional, a ingestão de medicamentos que auxiliam no controle do desejo de beber e aconselhamento individual ou em grupo.
O envolvimento da família é fundamental nessa etapa, pois o alcoolismo é uma doença que envolve não só o dependente, mas também todos de seu convívio.]
Impacto
O álcool, junto com o tabagismo, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças.
Quando utilizado por tempo prolongado, tem ação tóxica sobre diversos órgãos. O uso constante provoca danos ao sistema nervoso, podendo causar demência, bem como diminuição da sensibilidade e da força muscular nas pernas. Outras possíveis consequências são: no estômago, pode ocasionar gastrites e úlceras; no fígado, pode desencadear hepatites, acúmulo de gordura e cirrose; no pâncreas, gera pancreatite; e no sistema circulatório, aumenta o risco de miocardites, pressão alta, acidentes vasculares cerebrais e aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos).
O álcool também tem relação com o desenvolvimento de câncer no trato intestinal, na bexiga, próstata e outros órgãos.
Além disso, ficam prejudicadas as relações sociais. No excesso e na ausência dele, o dependente se torna irritado, tem tremores e crises de ansiedade, que só melhoram com o consumo cada vez maior. Muitos instituições combatem o uso de álcool, como o Alcoólicos Anônimos. Muitos casos são levados a hospitais psiquiátricos.

O que é o A.A.?

Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de pessoas que se reúnem para resolver seu problema com a bebida. Não custa nada assistir às reuniões do A.A.. Não há requisitos de idade ou escolaridade para participar. A irmandade é aberta a qualquer pessoa que queira fazer algo a respeito de seu problema com a bebida.

O objetivo principal de A.A. é ajudar os alcoólatras a alcançarem a sobriedade.

O vinho é zombador e a bebida fermentada provoca brigas; não é sábio deixar-se dominar por eles. (Provérbios 20:1).

Sente-se falta de campanhas governamentais contra o uso de álcool, que seriam baseadas na exposição dos malefícios à saúde do indivíduo e da sociedade. Verifica-se o sucesso da campanha contra o cigarro e por que não fazer a campanha contra o uso do álcool?

Fontes: https://www.aa.org.br/; https://portal.al.go.leg.br/; https://www.einstein.br/

Chegou o Carnaval e os artistas da nossa terra “dançaram”

CENAS DO COTIDIANO III

Por Zé Carlos Gonçalves

O carnaval toma conta da cidade. E, como bem diz o poeta, “a cidade pega fogo!” No caldeirão fervente, alegria é a palavra chave. Somem “as dificulidades”, “como em um passe de mágica”. Afinal, não há bêbedo pobre! Bêbedo é riqueza! E bêbedo “faz coisa de até Deus duvidar”. Sozinho, faz até um carnaval! Ôxi!

Tudo é permitido. É hora de “vaca não conhecer bezerro”. Pena, que a “ressaca moral” já se constitua só em um termo arcaico. E a ressaca alcoólica não tem “um tempinho” de se manifestar; “o lava prato”, tal um tsunami, vem arrastando “até pensamento de doido”. E se “de doido todo mundo tem um pouco” … o carnaval está inocente.

Só lamento pelos meus ouvidos, que são invadidos, até rimou, por uma bagunça musical “dos infernos!” Esse plural é fantástico. Não sei quem foi lá, mas viu mais de um. Assim, “é difíci de nóis escapá”. Mas, é carnaval, e as ruas se transformam em banheiro. Até a “lei seca” tira férias. E os “sãos” se revelam; tão reprimidos estavam, presos em suas frustrações.

Os inconsequentes são a maior praga carnavalesca. Se “atolam” na barbárie. Podem tudo. Maisena, loló, cerveja quente … O comportamento é deplorável. Esquecem toda e qualquer gentileza.O

Os artistas da nossa terra “sobraram”. E, “por ironia do destino”, recebo a notícia de que os hotéis estão cheios. Muitos turistas vêm “pular” o carnaval do Maranhão. Mas, “fakearam” o carnaval. Até despediram o “Zé Pereira”. “O portuga!” Os incautos turistas “estão é levando gato por lebre”. O que é bem feito, né?! Maranhão não é terra de lebre! É terra, sim, de legitimar o abandono dos gatos. Fez-se até a praça.

Preguiçosamente felina. E, “ântis qui m’isqueça”, o Maranhão “é, de verdade, é” terra de palmeiras. E, “pra não perder o mote”, as palmeiras, e fechar com “uma pitada de humor”, até lembrei longe. Lá, no Zé Maria do Amaral. “Né, qui” um aluno, “um tantinho” gaiato, parodiou, tão bem, “o outro Gonçalves”. O Dias. E, por muito pouco, não causou o infarto do mestre geógrafo, o meu grande amigo – , que lhe pediu para dissertar sobre a grande riqueza deste estado. Então, “não se fez de rogado”. E, “curto e grosso, mandou certeiro”: “Aqui, no Maranhão, babaçu abunda!”

“Que doidiça de petulança!” Foi o melhor zero que já vi!
Só mesmo o carnaval para me trazer esse adormecido episódio!
Eita, carnaval “pilantra”!

Zé Carlos Gonçalves em fevereiro de 2023.

.. E VAMOS FALAR SOBRE O CARNAVAL

Por: Flaviomiro Silva Mendonça

Ainda é muito controverso sobre a origem do Carnaval. Alguns defendem que seu surgimento pode ter ocorrido no Egito Antigo, e outros na Grécia ou em Roma. Mas o mais importante de tudo isso é que o carnaval encontrou no Brasil um lugar privilegiado para ser festejado. É a maior festa popular do nosso país, sem dúvida alguma. Pensar no Brasil, sem pensar no carnaval e no futebol nos soa muito estranho, já que os dois já viraram elementos muitos fortes dentro da nossa identidade nacional.

De acordo com Soihet (2003), o carnaval foi somente introduzido no Brasil na década de 1830, com a finalidade de substituir o entrudo, considerado por Galvão (2009), como uma forma primitiva, festa trazida pelos primeiros colonizadores portugueses. O entrudo é uma palavra que vem do latim (introitun), significa entrada, início, abertura para a Quaresma.

No Brasil, não teve como assumir características peculiares com elementos de forte influência negra e indígena. Com o passar do tempo, a brincadeira do entrudo foi considerada vulgar e simbolizava, também, o atraso. Assim, esse tipo de festa carnavalesca foi perdendo, progressivamente, seu espaço e dando lugar ao modelo europeu (elitista e burguês) de festejar o carnaval, utilizando máscaras importadas de Paris e Veneza, fantasias luxuosas, confetes, serpentinas e lança-perfume, contrastando, de fato, com o entrudo, que durante os dias que antecediam o tempo quaresmal, a população sai pelas ruas jogando, entres si, pós, água de líquidos malcheirosos, limões-de-cheiro (feitos de cera) etc.

Na década de 1850, surgiram no Brasil as Grandes Sociedades. Esse tipo de agremiação carnavalesca ganhou grande popularidade dentro do carnaval carioca que se perpetuou por um longo período. O desfile destas entidades lembra muito as escolas de samba de hoje, por possuírem carros alegóricos e mulheres seminuas dançando durante sua apresentação. É uma permanência dos antigos carnavais.

De acordo com a pesquisadora Galvão(2009: 73), ela nos acrescenta que: “a partir de então proliferaram e impulsionaram um novo modelo de Carnaval, considerado mais civilizado e mais europeu”. Interessante é que até os nomes dessas agremiações eram associados a denominação de algum lugar na Europa, como: União Veneziana, Boêmia, Estudantes de Heidelberg e Acadêmicos de Joanisburg. É importante destacar que, mesmo sendo entidades elitistas, carregavam dentro de si ideais abolicionistas, progressistas e republicanos. Em muitos casos, compravam até alforrias de alguns escravos, com dinheiro arrecado pelos seus sócios.

Entretanto, mesmo com a forte implantação de modelo preferencialmente francês de se fazer carnaval, “pela porta dos fundos” se ergueram as manifestações formadas por classes populares compostas, principalmente, por negros e mestiços, afrontando não intencionalmente a crença da superioridade racial e social, dentro de um processo de civilização dos brasileiros à moda europeia. Isso foi motivo para fortes críticas e repúdio por parte dos cronistas e dos intelectuais da época, como Artur Azevedo, que em um artigo publicado no jornal O Paiz, afirmava que: “um estrangeiro que desembarcasse no Rio de Janeiro, num domingo de Carnaval, pensaria estar nalguma terra dominada de africanos” (Soihet, 2009: 304).

Outro problema apontado nesse período era o espaço de sociabilidade que seria destinado a foliões distintos. Havia uma verdadeira segregação: a Rua do Ouvidor (transferido posteriormente para a Avenida Central) era reservada às elites, e a Praça Onze, limitada aos populares (sambistas e malandros). Contudo, esses espaços considerados populares foram, aos poucos, atraindo a classe média, que ao sair de seus corsos, iam diretamente aos blocos de sujo para complementar e extravasar sua euforia.

O Movimento Modernista, na década de 1920, foi decisivo para que as manifestações culturais populares ganhassem definitivamente um lugar em destaque: “Após a Primeira Guerra Mundial desmorona-se a ilusão da Europa como centro de um progresso ilimitado, tomando vulto no Brasil um movimento em busca de suas raízes” (Sohiet, 2009: 308). Era um momento de muita reflexão, de repensar nos valores nacionais, assim como conhecer sua expressão cultural e dessa forma inserir elementos peculiares à nação brasileira em constante processo de construção.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SOIHET, Rachel. O povo na rua: manifestações culturais como expressão de cidadania. In: O Brasil Republicano – Livro 2. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 2003.
GALVÃO, Walnice Nogueira. Ao som do samba – uma leitura do Carnaval carioca. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo: 2009…. ma leitura do Carnaval carioca. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo: 2009.

Flaviomiro é o último da esquerda para a direita. No Carnaval FDBM 2019.

 * Flaviomiro Silva Mendonça

É natural de Penalva. Possui graduação em História/Licenciatura (2019) e em Ciências Econômicas, ambos pela Universidade Federal do Maranhão (2002). Tem experiência na área de ensino e pesquisa, atuando principalmente no seguinte tema: HISTÓRIA ARQUEOLOGIA ENSINO