PASSEIO PELA BAIXADA MARANHENSE

A Baixada no olhar de João Silveira*

Fui dar um pulo na Baxada,
Começando pur Arari,
Ondi cumi melancia
E travessei o miarim.
Passei drento de Vitória,
Mar num achei nada ali.
Ino in Garapé do Meio
Pro mode cumprá farinha,
Arresorvi i in Monção
Ispiá o que lá tinha,
E travessei pra Cajari,
Cidade piquinininha.
Peguei no rumo de Viana
Pra vê se um peixe eu cumia,
Mar de peixe num achei nada,
Lá só tinha carestia.
Daí rumei pra Penalva,

Lugar de boa cachaça,
Terra de bom pescadô,
Cabôco bom de tarrafa.
Num cheguei in Jacaré,
Pois num dava pra ir de a pé
E carro pra lá num passa.
Desci pa Pedo do Rosário,
Mar de lá tive que vortá
Pra incurtá o caminho
E por Matinha passar,
Pra mode cumê u’as mangas,
Qui é produto do lugar.
Seguindo no rumo da venta,
Em Olinda Nova eu parei,
Mas resorvi i adiante
E em São João armoceí.
Terra de caboco home,
Grandes criador de gado.

Lá tem muita gente grande,
Muito cabra indinherado.
Disimbargador e médico,
Já deu inté deputado.
Mar, dizem que a aligria
É quando o boi tá laçado.
Deichando São João Batista,
Pra São Vicente eu rumei,
Quiria cumê carambola,
Pena que num encontrei.
Num sei se num era tempo,
Ou foi um azar que eu dei.
Sai no rumo do campo,
Pra viage continuar.

Passei pur Bacurituba
Mar lá num quis incostar.
Fui inté Cajapió,
Tinha praga pra daná,
Vortei pur riba do rasto
Pra pernoitar in São Bento,
Cumeno um queijinho bom,
Saboreando um mussum
E arroz cum jaçanã dento…
Mar num achei nada disso
Pur lá in lugar ninhum.
Andei, andei… e só vi mermo
Um pução e muinto anum.
Pensei qui in Parmeirândia
Pudesse me arrumar.
Ou mesmo in Peri Mirim,
Qui diz qui é piquinininha,
Mar, eu acho qui né tanto assim.
Entonce, indo adiante
Fui batê in Bequimão,
Cidade bem cuidadinha.

Pur nosso amigo João.
Diz que tem té ponte nova,
Mar pur lá num passei não.
Dali, vortei pra Pinheiro
A princesa da Baixada,
Que, se num é das mais bela,
Mar é uma cidade arretada.
O seu povo todo é rico
E a cidade abastada.
Não pude dechá de ir
In Prisidente Sarney,
U’a cidade pequena
Que fica naquele mei.
Na sagrada Santa Helena,
Da bera do rio vortei.
Pur curpa da Geografia
Eu num fui ao litoral.
Nim Guimarães, Porto Rico,
Cururupu e Cedral,

Muinto meno in Central,
Qui já num son mar Baixada,
Sigundo os intelectual.
Me discurpe os cumpanhero,
Os verso de pé quebrado
I a viage mal’arrumada.
Tava sem tempo i dinhero,
Mar cum o peito apertado
De sardade da Baixada.

(*João Silveira é piscicultor, natural de Matinha – Maranhão, membro fundador do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM, utilizando o linguajar baixadeiro, presenteia seus conterrâneos com este significativo texto).

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