Da terra, a gema mais cara, teimosa e resistente. A mais pura e forte raiz. Liberto das camisas de força e das tantas e tantas algemas. O chorado suor do cavalo, a jorrar na carreira desembestada e na tração do arado; o lamentoso mugir do bezerro, tão saudoso da teta materna; a calejante e gemente enxada, a semear barriga cheia, no lastro do paiol; a mais plena e enfeitiçante lua, a guiar a sina, alegre-triste, de quem morre a cada quarto minguante.
A viva aquarela, pincelada na magia do mais intenso azul e do mais verdejante verde e no fascínio do horizonte infindo, que chama e enfeitiça.
A seiva, a brotar do cheiro da terra, nascido das primeiras e sacras chuvas, refrescantes e renovadoras.
A brisa marítima, trazedora de toda maré enchente, a se banhar nas águas doces do meu sustento.
O bom dia, de todo dia, franco e honesto, “a saudá us cumpádi i ais cumádi, cum us afilhado iscanchado nais cintura, tisga i faminta, mais parideira i dançante, devoradora dais gengiva dais tigela di café, a abençoá u mar di piquenos, ispalhados nus terreiro, qui queimaum eim tanta inergia”.
O eito voraz e implacável, a carcomer a alma, desprovida de todas as maldades do mundo.
A tapera resistente, pedinte de socorro, a fim de escapar da solidão e da fome do tempo, que casmurro lhe devora.
“Ais novena, ais incelência, ais desobriga, us culto, a roda do tambô di criôla, u cordão di São Gonçalo, a zabumba, a ciranda, u merengue, u reggae, u samba di roda, us fuzileiro du samba, a quadrilha, a bôca di forno, ais dificulidade, ais precisão, a quebra du côco babaçu, a meia quarta de açúcar, a tarrafa, u socó, u corral di peixe, u chibé, a jabiraca, u vinha d’alho, u buriti, a juçara, a bacaba, u murici, u mé di tiúba, i leithe di Janaúba, u azeite di carrapato” … a fé sem medida!
A poeira do caminho, a vestir com a teimosia a quem quer sobreviver, untado com o barro soprado pela graça divina.
A água salobra, a adoçar a terrível sede, que queima e solapa a velha carcaça, a sorrir da sorte, que não alivia nem brinca em serviço.
O torrão incremente, a povoar as enseadas e os baixios, esturricados e castigadores dos pés rachados, pelo calor perverso, que consome a força bruta, a berrar capoeira a dentro, na tentativa vã de domar rebeldes coivaras.
O grito da guariba, a reclamar a hora sagrada e a avivar a certeza de que é certeza a presença do pai eterno!
O joelho fincado no imaculado chão, à sagrada hora, “rezano i agradeceno, améim”, por ter nascido
B A I X A D E I R O!