MINHA CRIANÇA, “AINDA”, VIVE!

Por Zé Carlos

Ontem, vivi mais um dia, “ainda”. Dia radiante e vivo, assaltado por lembranças, serenas, de tantas correrias. E alegrias.

Lembranças, que me remeteram à expectativa por um simples carrinho. De plástico. Que não durava nem um dia, “inteiro”. Que ficava sem graça, logo, logo, despedaçado e trocado por um “possante”, feito de latas de óleo, com rodas de “chinela” e feixe de mola triplo.

Carrinho, que já não encontro mais. Ou uma bola, dente de leite, para substituir, mesmo que rapidamente, a bola de meia ou a bexiga de porco. Bexiga de porco, sim. Só quem jogou ou tomou uma bolada “no bucho” ou ficou com o cheiro impregnado “no couro” sabe a aventura que é jogar com uma bexiga de porco.

Lembranças, que me remeteram à corrida de saco, ao roubar bandeira, à corrida com o ovo na colher, ao pular corda … ou, simplesmente, rolar, rolar, rolar, até me saciar com a areia bendita, a “encharcar” os calções, que eram o terror do “banco de lavar”.

Quão bom foi reviver tudo isso! Quão bons foram os meus dias de criança! De janeiro a dezembro. Sem férias, sem dia santo, sem ponto facultativo. Dias de criança, plenos e verdadeiros.

Em razão disso, não me deixo enfeitiçar por moderníssimos eletrônicos. Uso-os, porém, com certo pudor. Sempre recorro às orientações do meu filho, que parece que veio com os dedos conectados às teclas.

Talvez, por isso, outro dia, vi-me surpreso a observar uma cena, hoje, considerada incomum. Uma mãe comprava um kit completo para a sua filha de aproximadamente 6 anos. Uma vassourinha, uma pazinha de lixo, um aventalzinho, uma bandana, umas colherzinhas de pau (…) Uma cena belíssima. Fiquei a cismar. Aquela mãe é integralmente dona de casa!? Ou será que hibernou por algumas décadas?! Entretanto, muito fiquei preocupado. Cheguei a perscrutar ao redor, à cata de algum fiscal ou alguma “fiscala”, de plantão, a interpelar ou, até, processar a mãe, acusando-a de um ato machista ou de alimentadora do pensamento de submissão.

Verdadeiramente, tremi. E temi. Pela mãe. Sublime, em sua simplicidade e pureza, a comprar um simples presente simples para sua filha. Verdade verdadeira! O “big brother” tornou-se insuportável e irracional.

“Ainda” bem que consigo, “ainda”, seguir por entre muitas dessas novidades e “chaturas”. “Ainda” bem que, “ainda”, trago a minha criança, em mim; o que me garante, “ainda”, estar vivo!

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