DO REINO DO FAZ DE CONTA

Por Zé Carlos

Há muito, não escuto uma verdadeira história. História, do reino do faz de conta. Que dirá dormir no meio de uma história do reino do faz de conta!

Na verdade, não encontrei mais alguém com “fome” de histórias do reino do faz de conta. Desconfio, até, com certa certeza, que está “fora de moda” gostar de histórias do reino do faz de conta.

Na ausência da bisavó Rosa e do avô Antônio do Rosário, fiquei órfão das histórias do reino do faz de conta. Talvez, por isso durmo tão pouco. O sono já não vem mais, firme e profundo, nas asas do pombo encantado, nem na argúcia da manhosa tia onça, quem dirá na malandragem do coelho sabido. Também, a situação ficou pior. Afinal, “comeram” os desenhos animados; os que ficaram, ficaram piores. A turma da Mônica cresceu. De verdade, ficou chata. E, como “paparam” as “bancas”, fiquei sem o meu Chico Bento.

Há algum tempo, fui a um evento, em que, de minuto a minuto, era anunciada uma contadora de histórias. Que alegria me invadiu! Cheguei a suar. Tive a certeza de que ali estava a minha salvação. “Até que em fim” – que atentado à gramática – eu iria “matar a minha sede de uma história do reino do faz de conta”. O certo é que fiquei muito mais empolgado do que as muitas crianças, “zumbinizadas”, pela tela do celular.

No entanto, tamanha expectativa escafedeu-se. Só restou decepção. Foi terrível. A contadora de histórias “não coisou”. Enrolou, enrolou-se e nao soube contar histórias do reino do faz de conta. Não soube, não sabe, nem saberá contar história alguma.
A minha frustração cresceu.

Fiz, como bom e obediente aprendiz, o que sempre me dizia a minha “bisa” no fim de cada uma de suas histórias do reino do faz de conta. “Enfiei a viola no saco” e, “de fininho, vazei”, antes que “a dita cuja”, a vil contadora de histórias, “vinhesse” a devorar a minha calma, a minha alma, a minha cama.
Mas, ainda procuro, mesmo que não seja, assim, “novinha em folha”, uma história do reino do faz de conta!

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