COISAS E LOAS XIV – ESPLÊNDIDO REMÉDIO

Por Zé Carlos

Fico imaginando como se comportaria uma criança, da cidade, se voltasse no tempo, para o período de nossa infância. Certamente, tomaria um choque tamanho que, no mínimo, “entraria em parafuso”. Ficaria sem chão. Ou, no baixadês, “estaria sem eira nem beira”.

Acredite. O desespero seria estupidamente grande. Sem Miojo, sem Nutella, sem “iorgute”, sem sorvete, sem chocolate, sem cachorro-quente, sem hambúrguer, sem batata frita, sem Sucrilhos, sem e sem “besteiras”.

Imagino a cara de incredulidade ao se deparar com um “chibé”, também conhecido, Baixada adentro, como carneira, jacuba, pandu ou tiquara. Eita, lembrança! Ainda tenho um cheiro verde na geladeira. Estou mal intencionado.

Mas, voltando ao nosso papo, tal criança inexoravelmente estaria condenada ao jejum. Ou vocês acreditam que partiria para um prato de angu com isca; ou para uma jabiraca esturricada, buscando eliminar as espinhas; ou um café com farinha, “em riba” das três horas da tarde, quando o sol escaldante põe-nos à prova, para confirmar, ou não, a nossa “baixadeirice”; ou para um beiju, no formato de um abano, recheado com amêndoas de côco babaçu?! Ah, beiju! Bendita casa de forno!

As respostas ficarão a critério de cada um, que teve o privilégio de se lambuzar com mangas, bananas, araticuns, tuturubás, mamãos, “camapus”, marias pretinhas, ingás, quiriris, atas, bacuris, laranjas, muricis, anajás, melancias, ananás, cauaçus, jacas, goiabas, tucuns, abricós, sapotis … Frutas. Frutas de verdade. Frutas, que trazemos impregnadas em “nossos sabores e aromas”.

Como poderia ser normal e agradável, chamar o Zé para um LUNCH?! Que bicho seria esse? Em grego ou etrusco?! Nada feito. Agora, que sonoridade perfeita: “MEE-REEN-DAA!” Aí, sim, é o bicho. Até o bicho da goiaba “entrava”. Certamente, por isso, até hoje olho atravessado para um tal de kiwi.

E, nessa perspectiva, a verdadeira comida também seria rejeitada. Peixe, boi, carneiro, bode, pato. Sem falar nas arapucas, o que “não está politicamente correto”; embora “o politicamente incorreto” esteja a se entranhar em todas as esferas sociais. Arrop! Acrescentemos galinha e frango. Galinha e franco, sim. Já vi criança, que na tentativa de ser convencida a comer, sair-se com esta. Não gosto de galinha. Quero é frango. Se for dito que é frango, diz que gosta é de galinha. Haja perspicácia! Haja paciência, de quem cuida!

Agora, o que aconteceria se a criança, da cidade, geralmente frágil, fosse submetida a um tratamento inventado por um amigo de meu pai (do bairro “da Matriz”), ao descobrir que estava hipertenso e acometido de uma sudorese absurda?! Com certeza, “iria à cova”.

Ele, após ser questionado “como estava”, afirmou que já se encontrava melhor, desde que encontrou o meio para acabar com sua doença. Literalmente, palavras dele. “Resolvi armoçá, tod’dia, um cuzidão de carne de bufa, da maçã do peito, e jantá doi’tutano, batido com farinh’seca. Sant’remédio! Já tô ôto. Mi sintino curado”.

Eita, remédio esplêndido! Estou pensando seriamente em me auto medicar!

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