BENDITA CATUABA (… quase vejo Ana Jansen)

Por Zé Carlos Gonçalves

Por esses dias, ao passar pela Madre de Deus, vi-me no “Ponto de Fuga”. Ali, foi o meu reduto. Invariavelmente, até o auge da madruga, quando era, praticamente, expulso pelos garçons dormintes. E ainda saía contrariado, a vagar pelo centro da minha nova cidade. Mas, o destino final era certo. “O Come em pé”, lá, na praça João Lisboa.

Em uma noite, a lua, em sua plenitude, seguiu “os meus ‘firmes’ passos”, reflexos dum tremendo porre. Assim que me aproximei da Santa Casa, na rua do Passeio, invadiu-me o som de um tropel, que, cada vez mais, se aproximava. Eu, como estava no meio da rua, quase fui atropelado por uma carruagem em desembestada carreira.

Fiquei sem reação alguma. O meu sangue fugiu para os confins do medo. E, para me aniquilar de vez, ouvi o freio estrondoso, a ecoar como coisa de outro mundo. Fechei os olhos. Balançava mais que um joão teimoso. Aí, veio um frio, mais do que gelado, e se apossou da minha “espinha”.

Estático, permaneci. O suor descia tal uma cachoeira. Até parece que “se passou-se” uma eternidade. O silêncio era pleno. Com muito custo, resolvi abrir um dos olhos. Santa barbaridade! Lá estava “a bendita!”

Lutei com o olho curioso, que se negou a fechar. Teimei ainda, mas nada. O certo é que o clarão estava à minha frente, alimentado pelas vivas labaredas, que se mantinham firmes nos pescoços dos cavalos.

Nessa agonia, nem procurei vislumbrar quem estava ali, dentro da ardente carruagem. Só sei que, por longo tempo, não soube o que fazer. Mas, já me sentindo devorado, por vorazes línguas de fogo, senti a calça molhar, em todos os sentidos, e me arrisquei “a me despregar” do chão e fui saindo lentamente. A cada passo aumentava, e como, a dificuldade. Lutei que lutei, a fim de me mover. E, o receio “foi saindo de fininho”, após uma dúzia deles. Só aí me equilibrei, sem olhar para trás, e a caminhada continuei, afinal, “estava montado em algumas dúzias de talagadas de catuaba”; o que ainda me manteve vivo, para poder lhes contar “essa vivença”.
Mas, a coragem, naquele momento, de verdade, não era, ainda, a minha alma!

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