Após procurar “pano pra manga”, em A FORÇA DO BAIXADÊS I, fiquei “doidinho di vontade” de me encontrar entre os meus. E, “cumo isso tá muito difíci, fiz uma viági nu nosso linguajá”. Pelo menos, em pensamento, “vô matano um pôco a vontade lôca di ouvi, mi ouvino”.
E, de verdade, me peguei sorrindo das primeiras palavras, que “me lavaram a alma”. E não se tratam de palavrões. Mentalmente, comecei a balbuciar “urupema”. E, veio a imagem da peneira quadrada, a me espiar dali do gancho, a descansar no velho caibro, do centro da cozinha. E, a acompanhar e bem ilustrar o flashback, veio a figura da vovó Dedé, a preparar o “alguidar” de juçara, que ia se transformando no jantar, rico e delicioso, “bem acompanhado” da farinha e “da jabiraca”, que chiava, sendo “sabrecada”, na brasa, que estava, também, faminta de nossa iguaria.
O certo é que as palavras continuaram a jorrar, num turbilhão de emoções. Palavras fortes e tão familiares. E, por incrível que pareça, mesmo que não pareçam, são nossas. “Ananás, tipiti, peneira, urinó, mençaba, mucajuba, filhós …”
E, para se tornar mais fantástico ainda, “entrou em campo” a riqueza semântica, que permeia o BAIXADÊS e nos sustenta em nossas lembranças. E, veio “balaio”, a nos remeter à peneira, ou ao cesto, ou à “merenda”, ou “à expressão porreta”, “balaio de gatos”. E “capanga”, uma pequena bolsa, repleta de “soluções”; ou um reles guarda costas, “um puxa saco”, a não viver a própria vida.
E, para não supervalorizar “balaio e capanga”, vou puxar “carrapeta”. Um utensílio tão comum no universo das costureiras. Também, um brinquedo, subtraído de entre “os riris”, os botões, as linhas, as agulhas e os dedais, a criar confusão e alguns “cascudos”, que não eram peixes. Ou, ainda, a criança “traquina”, que passa a ser sinonimizada como “capeta, endemoniada, elétrica, faísca …” Barbaridade!
E, para fechar, “qui tal” fazer referência a “cocho”, a gerar “confusão” com sua homônima. Aquela, usada para a retenção de água ou comida, para animais; esta, “coxo”, vai se desdobrando em “cachibento, coxolé, capenga, manquitola, manco …” Eita, Santo Inácio de Loiola!
E, assim, “um tiquinho qui seja”, matei a vontade do meu BAIXADÊS! “Arre égua!”