Quando eu voltar a ser
menino,
e as minhas pernas,
vagarosas,
não me levarem longe,
ainda serei!
(in)consciente, tecerei
caminhos errantes,
falarei o indecifrável
e
sorrirei de minhas
bobagens;
mijarei a rede,
cheirando à jardineira,
comerei angu com isca
e
beberei chá de erva
cidreira;
banharei com o sol
das nove,
escutarei os segredos,
mortais e mais sagrados,
em minha pretensa
surdez
e
sentirei vontade
de dizer o que o não devo!
Quando eu voltar a ser
menino,
nada me assustará:
os horrores não chocarão,
os lamentos descansarão
em lampejos de certezas,
os sorrisos perder-se-ão
na conta da demência
e
a minha fé será única!
Quando eu voltar a ser
menino,
apreciarei a beleza
da chuva,
viverei a noite
em sua calmaria
e
as lembranças serão
as minhas companheiras
fiéis!
… voltarei a ser menino!