Por Ana Creusa
Papai era um exímio observador da natureza. Ele se guiava pelos planetas e estrelas. Venerava o Sol, contemplava-o todas as manhãs com uma saudação de louvor e admiração, recebendo dele a energia necessária para mais um dia de trabalho.
José Santos se conectava ao Universo de forma peculiar e poderosa. Ele, a cada dia se lapidava como uma pedra preciosa de alto quilate – José era um ser humano ímpar. Tinha sua forma própria de captar Sabedoria, como disse Sodrezinho no artigo Palavras ditas e não ditas: não se sabia o que ele não sabia.
Atribuo a sabedoria de meu pai à obediência às leis universais. Por meio dessa conexão habitual à natureza, ele alimentava o sentimento de amor e devoção a Deus.
Todas as manhãs, José dirigia sua atenção ao Sol nascente. O momento em que o Sol aparecia no horizonte, na direção leste, era sagrado para José. Ele não perdia esse momento mágico por nada neste mundo. Sempre lá estava ele, em posição de sentido aguardando para saudar o astro rei, em completo silêncio.
No inverno, as imagens do campo cheio misturavam-se à imensidão do céu que se espreguiçava do repouso da noite anterior. José era envolto àquela paisagem inédita a cada alvorecer.
No verão, a relva molhada da noite encontrava-se com as nuvens furta cor, formando um todo, incapaz de se estabelecer qualquer divisão. José era envolto àquela dança, flutuava no mesmo compasso. Ele fazia parte daquele Universo multicolorido. Sem perceber, fechava os olhos.
Naquele estado letárgico, ele permaneceria a eternidade. Quando, aos primeiros clarões ao leste, o canto e revoar das graúnas, fazia com que ele abrisse os olhos. Com espanto, via que o cenário era outro, tudo mudara. Nada do que via antes do estado letárgico existia mais.
Estabelecia-se uma nova harmonia, que se juntava a ele, desta feita ornamentando tudo com o brilho do Sol, para dizer que o dia chegou!
Sempre tive a curiosidade de saber qual a fonte de Sabedoria do meu pai, como ele aprendeu tantas coisas. Quem conheceu meu pai, sabe que ele tinha algo especial. Ele sabia de coisas que jamais tivera experiência.
Lendo Deepreck Chopra, não tive dúvidas: era nesse encontro com o Sol que ele acessava a Sabedoria Infinita.