SAPUCAEIRA

Por Maria Zilda Costa Cantanhede*

Nestes 74 anos de emancipação política da nossa querida Matinha, peço permissão aos demais ilustres matinhenses, com quem tenho a honra de compartilhar minha naturalidade e adjetivo pátrio, para falar de um “canto” especial do nosso torrão. Um espaço geográfico, que tem como limítrofes dois pujantes municípios da Baixada Maranhense: Viana e São Vicente Férrer.

Aproximadamente 27 km da sede de Matinha- MA, fica localizado um povoado que tem nome de uma santa, a Santa Isabel, que ao lado de Santa Rita, São Francisco, Santa Maria, São Raimundo, São Caetano, Santa Aninha, Santa Vitória, São Rufo, São Felipe e São José abençoam, protegem nossa não mais tão Pequena Mata.

Muitas são as histórias vividas e compartilhadas, contos, causos, prosas e poesias inspiradas à sombra da frondosa Sapucaeira, um topônimo do lugarejo. Uma árvore histórica que tem um formato exuberante para “guardar seus frutos”.

Nasci muito próximo da Sapucaeira; vivi até os meus oito anos. Quando nos mudamos para o povoado vizinho, Cutias II. Tenho as melhores lembranças e saudades deste tempo pueril, das criancices, brincadeiras com os irmãos e um quinteto muito especial de amigos-irmãos: Néia, Socorrinho, Mariinha, Rubinho e Rubenice, que o tempo e a distância nos afastaram fisicamente, porém estão e estarão para sempre presentes nas minhas melhores reminiscências infantis. Obrigada gigantes!

Foi lá, também – Santa Isabel – que construí fortes amizades com grandes e inesquecíveis adultos: meus primeiros compadres Vadoca e Maria, Sibá, minhas “mães de leite” Rosa Amélia, Nôca, Isidória; com os adolescentes Cid e Neco de Zé Roberto, meu padrinho e compadre.

Um quilombo que tem marcas significativas na contribuição cultural do nosso povo. Palco de resistência, resiliência, bravuras e conquistas. Vale ressaltar que por meio do professor Weliton Lemos, neto de Dorotéia Sousa Lemos, (uma mulher forte, que carrega consigo bravura e altivez, e, que bem representa a comunidade), submeteu um projeto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações sendo aprovado na Mostra de Ciência e Tecnologia 2022 realizada em Matinha; foram três estudantes da Escola Municipal Thales Ribeiro Gonçalves (onde fui alfabetizada, literalmente debaixo da Sapucaeira), para compor o grupo de Pesquisadores Bolsistas de Iniciação Científica Júnior – ICJ do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq. O que muito nos honra!

Tive o privilégio de ser recebida neste mundo pelas mãos habilidosas de uma das maiores parteiras de Matinha: Damiana Alves Borges. Uma mulher além de seu tempo, que merece muito ser homenageada. Digna de todas as honrarias, comendas e reconhecimentos do legado que deixou. Trouxe vidas e muitas vezes as salvou: tanto das mães quanto dos bebês.

Ao lado dela, outra relevante celebridade deste sagrado lugar: José Raimundo dos Santos, nosso eterno Zé de Figênia. Como não lembrar este homem! Eu e minha turma (irmãos e amigos) aprontávamos bastante. E lá estávamos nós, em sua casa para que ele, com seus próprios recursos (disponíveis), fizesse nossos curativos; aplicar as injeções… Tenho todos os atendimentos impressos na memória de um profissional humanamente amoroso e cuidadoso. Ele fazia com que nossas dores fossem menores. Não! Ele não era médico de diploma acadêmico. Entretanto, possuía o dom de curar. Era o médico de todos nós. Lembro-me de ir muitas vezes à sua casa, fui uma paciente bastante assídua.

São para estas duas importantes e excelsas personalidades: Parteira Damiana e “Médico” Zé de Figênia, que não tinham nada de leigo, todavia um conhecimento divino, experiências de vidas, leituras de mundo-humano, que rendo minhas homenagens póstumas, meus aplausos, vivas, salves; gratidão pela relevante e necessária contribuição para a história desta pequena gleba que se junta a outras glebas do mapa-pássaro, Matinha, de um povo que vive diariamente suas labutas, conquistas e vitórias; mas, sobretudo que: “quebra o coco e não arrebenta a sapucaia”!

*Maria Zilda Costa Cantanhede* Presidenta da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL; Especialista em Linguística, Educação do Campo, Educação Pobreza e Desigualdade Social; Articulista, cronista, poetisa, revisora textual; Professora da Rede Estadual de Ensino; Supervisora de Normas e Organização da Rede Integral/ SUNORI/SEDUC/SAEPI; Coordenadora de Mostras e Feiras Científica do CNPq/MCTI; Pesquisadora do CNPq.

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