O VOTO FEMININO NO BRASIL, UMA REPARAÇÃO HISTÓRICA

O voto feminino no Brasil foi reconhecido em 1932 e incorporado à Constituição de 1934, mas era facultativo. Em 1965, tornou-se obrigatório, sendo equiparado ao voto dos homens.

A conquista do voto feminino

Deu-se por meio do art. 2º do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, in verbis:

“Art. 2º E’ eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na fórma deste Codigo”. (grifou-se).

O referido decreto, do então presidente Getúlio Vargas, que instituiu o Código Eleitoral. Vargas chefiava o governo provisório desde o final de 1930, quando havia liderado um movimento civil-militar que depôs o presidente Washington Luís. Uma das bandeiras desse movimento (Revolução de 30) era a reforma eleitoral. O decreto também criou a Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto.

Bertha Lutz é conhecida como a maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras.

Quem foi Bertha Lutz?

 

Bertha Maria Júlia Lutz é conhecida como a maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras. Ela se empenhou pela aprovação da legislação que outorgou o direito às mulheres de votar e de serem votadas.

Nascida em São Paulo, no dia 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy Fowler e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical Adolfo Lutz, Bertha foi educada na Europa, formou-se em Biologia pela Sorbonne e tomou contato com a campanha sufragista inglesa.

Voltou ao Brasil em 1918 e ingressou por concurso público como bióloga no Museu Nacional, sendo a segunda mulher a entrar no serviço público brasileiro. Ao lado de outras pioneiras, empenhou-se na luta pelo voto feminino e criou, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF).

Em 1922, Bertha representou as brasileiras na Assembleia Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos, sendo eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Somente dez anos depois do ingresso das brasileiras na Liga das Mulheres Eleitoras, em 1932, por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas, foi estabelecido o direito de voto feminino.

Sucessora de Leolinda Daltro, fundadora da primeira escola de enfermeiras do Brasil, Bertha Lutz organizou o primeiro congresso feminista do país e, na Organização Internacional do Trabalho (OIT), discutiu problemas relacionados à proteção do trabalho da mulher. Também fundou a União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, em 1932, e, no ano seguinte, a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.

Candidata, em 1933, pela Liga Eleitoral Independente, a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte de 1934, pelo Partido Autonomista do Distrito Federal, Bertha não conseguiu eleger-se. Mas obteve a primeira suplência no pleito seguinte e acabou assumindo o mandato de deputada na Câmara Federal em julho de 1936, devido à morte do titular, Cândido Pessoa.

Sua atuação parlamentar foi marcada por proposta de mudança na legislação referente ao trabalho da mulher e do menor, visando, além de igualdade salarial, a licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho, então de 13 horas diárias.

Com o regime do Estado Novo implantado em 1937 e o fechamento das casas legislativas, Bertha permaneceu ocupando importantes cargos públicos, entre os quais a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964.

No ano de 1975, Ano Internacional da Mulher, estabelecido pela ONU, Bertha foi convidada pelo governo brasileiro a integrar a delegação do país no primeiro Congresso Internacional da Mulher, realizado na capital do México. Foi seu último ato público em defesa da condição feminina. Bertha Lutz faleceu no Rio de Janeiro em 16 de setembro de 1976, aos 84 anos.

Curiosidades e Antecedentes Históricos

Antes mesmo do voto feminino ser uma realidade em todo o Brasil, algumas mulheres do Rio Grande do Norte fizeram história e marcaram o pioneirismo na política brasileira. São desse estado nordestino os primeiros exemplos da presença feminina em disputas eleitorais.
O direito de as mulheres votarem e serem votadas só seria conquistado em todo o Brasil a partir de 1932. Porém, seis anos antes, em 1926, quando a Lei Eleitoral do Rio Grande do Norte estava sendo revista, o senador Lamartine Faria enviou telegrama do Rio de Janeiro mandando acrescentar um artigo que abria a possibilidade para efetivação do voto feminino.
O corpo do texto original dizia: “Sancionada a Lei sob o nº 660 que Regula o Serviço Eleitoral do Estado”, onde o artigo 77 das Disposições Gerais estava escrito: “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem condições segundo a Lei”. Sancionada pelo governador da época, em pouco tempo a notícia corria o País.
O voto feminino no estado potiguar começou em 1927 e, naquele mesmo ano, a professora Celina Guimarães Viana, de Mossoró, se tornou a primeira brasileira a fazer o alistamento eleitoral. Assim, fez história como a primeira mulher a se tornar eleitora no Brasil.

Foi esse primeiro passo dado no Rio Grande do Norte que permitiu a eleição de Joana Cacilda Bessa para o posto de membro do Conselho da Intendência Municipal – equivalente à atual Câmara de Vereadores – em 1928, no município de Pau dos Ferros.

Fontes: Agência Senado e https://www2.camara.leg.br/; https://www.politicadinamica.com/; https://www.tre-rn.jus.br/. Foto de destaque: Berth Lutz.

[instagram-feed feed=2]

Deixe uma resposta