O TIO BOBO (E a sua curta “pacença”)

Por Zé Carlos Gonçalves

Há dia, em que acordamos e “sintimos” que a terra distante nos acompanha e vem, forte, em cenas, que se multiplicam em um flashback confortador.

Hoje, estou assim. “Não me deixa em paz” a figura do tio Bobo e “suas filusufia”. E sou desta vez “tomado por um bom bate papo”, ocorrido “no seu Nana”, em um belo final de tarde, de uns longínquos e belos anos.

Após uma boa conversa, “caí na asneira de lhe perguntar” por um querido amigo, o qual havia muito não encontrava.

– Ó tio, o senhor tem notícias de Zé de Cota? Preciso falar com ele.
– O qui tu quê cum êli?
– Eu tenho um serviço para lhe oferecer.
– Tu só pôdi tá di miolo môli! Aquilo lá é um irresposávi, qui bêbi mais qui nóis tudo junto. Só anda meio troncho, cu’cu cheio de cachaça.
– É triste saber isso. Era meu amigo no Odorico Mendes. Não sabia que já não é mais o mesmo. Como que ele ficou assim?
– Rum, rum … Tu quê é abusá di minha pacença, qui é curta pra isso, ou tu tá é ti fazeno di besta? Logo cu’êssi?! Nunca trabaió. Vévi inté ôji na costa da velha mãi dêli. Êssa é ôta. Num é qui inté arranjô dois apusento cum __ di __. Tudo pur dibaxo dus pano.

E tu’inda quê é perdê tempo cum êssi otaro. Isquéci qui é um caso pirdido. Num é mais o mermo, ói?! Inté paréci! Si nunca foi. Aquilo é um poço di priguiça di dá dó. Ôstro dia mermo, v’êli na maiô cara de pau, na porta dum viriadô, só quereno dá uma ferrada nêli. Saiu foi di lá cuspino fogo, é! Seim nadinha. Êssis bicho qui num faiz uma graça pra pôbri. Nunquinha qui ajudo arguéim. Não é mais como nu tempo di Doutô di Memeco, Adelman, Ramundo Pinheiro, Dondona e Zé d’Arimatéa. É, ali, sim, ero gênti da gênti. Chego as casa dêlis vivio cheio. Agora, é cada um cuns casão. C’uns murão tamanho du mundo. O pôvu, rum, qui si lasque pra lá. Tão pouco si lixando.
– Calma, tio. Eles trabalham muito. Têm que ganhar bem.
– Deixa di lero, rapá. Tu tá é debochano cu’a minha cara, é?! Tu, istudado do jeito qui é, num vai caí im cunversa pra boi durmi. Ou vai?! Mais, boi di meu tempo, purque os boi di ôji tão muito é sabido. Só véve é na tevê. Tratado qui neim um rei.

Tu quê sabê duma coisa, é mió nóis vortá a cunversá, di pé n’ouvido, cum essa pinga du Tubajara. Êssis pulítico já tão tudo cum a vida ganha. E só vão aparecê mai pra frênti nais eleição. Irgá cachorrinho pidão. E o povo qui neim uns mané, só pegano sol i chuva, chuva i sol, trabaiano pr’êlis. Só mi rio di uns qui si mato pur êssis marfazejo.

Quero é vê é si tu inda tá na ativa e num veim mi fazê uma disfeita. Tu, né, é du Rosário e Pessoa, qu’eu sei. Mais, acho qui já num sei mais é di nada. Vocêis, né, adespois qui vai morá pra cidade, fico tudo é fresco e di istômbugo pôdi. É só bebê e bardeá irgazinho um discondenado.

Vamo, vamo, vira êssi quarto i num vai fazê a cara mais fêa qui êssa qui tu já teim!
Eita, tio Bobo sabido!

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