Por Zé Carlos
Há algum tempo … muito tempo, venho matutando a respeito das peculiaridades linguísticas em nosso estado. Um campo vasto para uma pesquisa significativa. Entretanto, encantei-me pelo “hum, (r)hum”. Onomatopeia, por demais curta, e estupidamente poderosa, que em lugar algum “do mundo” apresenta-se envolta em tanto mistério, graça e vigor como aqui, no Maranhão.
Duvido se há algum maranhense, que nunca entendeu e/ou se fez entender com um “hum, (r)hum”. É-lhe, sem dúvida, um patrimônio sagrado. Um “patrimônio material”, haja vista a sua “onipresença” em cada ladeira, cada esquina, cada beco, cada escadaria (…). Verdadeiramente, a “maranhensidade!”, para “ficar na moda”.
Acontecimento linguístico, único e “multifacetado” (a polissemia é-lhe pouco), traduzido em um impassível olhar, um suspiro, um leve meneio de cabeça, um espichar de beiços, um “sorriso amarelo”, um descontentamento, um palavrão, uma apoplexia (…). Com certeza, tudo se fala, e pode, com o “hum, (r)hum”.
A sua força impõe-se silenciosa e definitiva, a nos encantar com o seu ciciar, ou com os seus sussuros, ou com os seus muxoxos, ou com os seus gritos silenciosos. Também, a nos dominar com a sua simplicidade; e a nos guiar com a sua bonomia; e a nos “enigmar” com as suas reticências.
Enigma que torna o “hum, (r)hum” o mais espetacular e indecifrável possível, ao ser empregado, quando se fala ao telefone. Afinal, a expressão facial é “a alma do negócio”; e quem não vê cara, não poderá ler fielmente os traços do “destino”.
Assim, a imaginação “viaja” – “livre, leve e solta” – sem idear, com precisão, se a certeza vem na mesma medida da dúvida; ou se o suspense não “cora” nem “dá fuga ao sangue”; ou se a preguiça tornou-se menos enfadonha; ou se, até, o “papo” descontraído virou uma contrita conversa com Deus!
Então, é melhor ficar “cada um em seu canto”. “Hum, (r)hum”, “tá reno”, nem te digo nada!