Há uma fase da criança, que acho fantástica. Logo que ela começa a falar e começa a entender o que acontece ao seu redor; a se defender de nossas neuroses; a curiar tudo aquilo, que não temos a capacidade de responder.
E, muitas vezes, ficamos “apertados”, como bem diz “o cabôco”. Sem saída, sem respostas, sem ação.
Deixo claro que falo da inocência, da criança, pura e sublime, que, em geral, nos recolhe ao silêncio, sem resposta, e nos deixa abatidos, sem chão e sem norte.
Não considero, aqui, a falta de educação, tão em voga, nestes modernosos tempos, resultante da degeneração da família, que “solta” a sua criança, de forma absurdamente irresponsável, ao léu, a desafiar todos, para sofrer só as amarguras da vida, mais tarde. E, de verdade, tenho observado algumas situações críticas em conversas, em filas de supermercados, em shoppings, em salas de aula, em aniversários, em festinhas escolares … Até cansei! Mas, jamais me canso de me revoltar ante o domínio da criança mal formada, a desafiar pais e mães, ausentes, que, com “uns sorrisinhos amarelos”, se perdem em suas irresponsabilidades.
Bom, não é este o real motivo da crônica. Louca explosão! Descambei na “vibe” do texto! Que o desabafo fique como uma revolta minha, em que tenho certeza de que não estou sozinho!
Voltemos! Voltemos! Falemos de situação, como a que passou um velho companheiro de boêmia, que repreendeu a sua “filhinha” de três anos e uma desconcertante resposta recebeu. Isso, depois da “menininha” o olhar com o cinto na mão e o “medir”, da cabeça aos pés, em seu um metro e oitenta. Agarrou-se-lhe às pernas e mandou direto e certeira. “Paizinho, tu é um gigante; eu, só uma piquinininha!” Besta! Que cacetada! Os seus braços ficaram bambos … e o que dizer do coração! Só sei que os olhos fugiram, e um gole seco lhe veio atravessar a garganta. Estava, definitivamente, vencido.
Essa é a inocência maravilhosa! Espetacular! E vitória da perspicácia infantil! Como a de uma criança, que deixou a mãe “incabulada”,diante de um pedido, incompreendido. É importante deixar claro que a mãe “talhava” uma blusa. “Filhinha, traz a tesoura, para eu cortar um dedinho, aqui”. A pergunta veio fulminante, junto com a tesoura e a mãozinha bem aberta. “Qual deles, mãezinha?!”
Já comigo a situação foi mais “difíci”. A curiosidade dos meus cinco anos me levou à ira da mamãe. Vou contar.
O meu avô Antônio do Rosário me chamou e me mandou, à casa de “seu’ Zé de Cristina, comprar banana maçã, que era a fruta de sua preferência. Quando cheguei lá, Cabo Isidoro “estava passando” e, “brincando”, perguntou a “seu” Zé. “Cumpâdi aquêli rapaiz já apareceo?!” “Seu” Zé lhe “respostou”. “Si êli aparecê, vô mandá é êli tomá ôndi ais pata tomo!”
Nunca, nunca, havia escutado essa expressão. Deixei as bananas e “vazei pra casa”. “Us ôios aceso, tinindo di curioso”. “Como um raio”, entrei na cozinha e, também, mandei direto e certeiro para mamãe. “Mãi, u qui é tomá ôndi ais pata tomo?!” Como um verdadeiro “raio”, as patas não tomaram, mas eu “tomei foi” um cascudo, e “bem criado”, na Baixa do Gedeão, acompanhado de “arguns ilugius”. “Piqueno seim vergonha, ôndi foi qui tu aprendeo isso?! Tu aprêndi só u qui num presta!” E outras coisitas mais.
“Foi uma luta danisca, e inglória pra eo ixpricar”. E, o pior, foi ela querer entender. O certo é que ainda passei bom tempo, “incucado” com isso. Tinha medo e vergonha de perguntar a alguém. “Vai qui ‘tomasse” outro ou outros cascudos, né?! Esses, sim, sabia eu que “tomava!”