CENAS DO COTIDIANO IV
Ainda é carnaval.” Sum Pedro”, talvez saudoso do São João, “quis se amostrá. Mandô uns relâmpu, pra nóis si alembrá de suas fugueiras”. “Tombéim uns toró, pra dá uma lavage” e despertar a alma, que andava tão adormecida, da cidade. É! “Sum Pedro, cum certeza, quê provocá ciúme ni Dioniso”.
O fofão está muito triste. Sua aproximação, perigosa. “Caiu na desconfiança”. Qualquer bandido, astucioso, pode vir, com bandidagem, habitando o seu interior, dele, do fofão. “E, aí, né, babou. E babau pro carná”, que se atirará no rio Anil, ainda que a maré esteja seca.
O salão de festa, o confete e a serpentina se recolheram, rumo ao esquecimento. Até já são palavrões proibidos “nos bate papo sério”. Deles, ainda eu lembro. “Tu não lembra. E nóis não si importa”. Afinal, a rua, tão desnuda, nos arrasta, sem direção, em todas as direções.
A maisena, felizmente, “saiu de moda”. Fugiu até da papa e do mingau. “Não dá pra ajeitá cara de marmanjo, cum essa caristia”. “Sim, sinhô!” Muitos escondiam suas feiúras nas sacras máscaras de maisena e saíam a fazer “gatimonhas, por aí”. “A cara néim trimia. Iam iludidos e convencidos”.
E por falar em máscaras … ausentaram-se das ruas. Tão e muito temerosas de serem reconhecidas e recolhidas à Papuda ou à Colmeia. Hoje, de verdade, “papuda e só a mina, qui si faiz de besta”, na falta de um adjetivo mais apropriado. E colmeia, graças a Deus, é “a salvação certa da lavoura”.
A minha praça – em ritmo de rima – tão maltrapilha, “frivilha na alucinação da galera”, que, mui alucinada, segue alheia à agonia da velha praça. Insano, o folião delira; a praça sangra; o palácio fecha as portas e silencia.
Meu bloco de sujo negou-se a sair, ante a sujeira que toma de assalto a cidade, que há muito já foi assaltada pelos “momos glutões”. O carnaval, assim, se perpetua “para todo o sempre”. Dura de janeiro a dezembro, “como no reino do faz de conta”. Aí, nem a turma da reciclagem vai conseguir “alimpá”.
O ferryboat resolveu “pular” carnaval, “charlando a estrada despovoada de veículos e bordada em buracos”… e saiu rasgando as vagas do voraz Boqueirão, “louco” e alucinado por uns dois tragos de algum lubrificante “batizado”, ao som do mais “puro axé”. “Por ironia do destino”, ou por muitos e outros mortíferos mistérios, navegantes da nau encantada de Dom Sebastião, só não se faz suficientemente eficiente para o baixadeiro, no decorrer do ano. O sofrimento continua “terrívi”.
A gigantesca “fila de espera”, na Ponta da Madeira, deveria fazer “uma quilométrica greve” e tornar o carnaval mais divertido. Que legal, um carnaval quilométrico, e grevista, a vingar o desdém que sofre o povo Baixada.
E ainda será carnaval até os lava pratos, a pipocarem na quaresma. Depois, “nóis não sabe pur que tantos sapo de rabo”, a desfilarem nos carros alegóricos, da vida!