AQUELAS MÃOS

Por Gracilene Pinto

(Para Odila dos Anjos, in memoriam).

Um pedaço de chão, 

Uma tamarineira, 

E em volta muito mato sem divisas,  

Sem cerca, sem moirões, 

Como a continuação 

Do campo que além se estende. 

Mais adiante um cajueiro, duas mangueiras, 

E é tudo que restou do velho casarão. 

Nada há que relembre os tempos idos! 

Nem a mangueira manteiga resistiu 

Com suas mangas tão doces, saborosas, 

Que faziam a disputa de quem a viu 

Carregada das frutas olorosas. 

Onde estão as escadas, assoalhos e porões? 

Onde o velho pêndulo do corredor, o lavatório? 

Onde estão aquelas ternas e meigas mãos 

Que me mimaram, cuidaram, e que de graça 

Me ofertaram tanto amor e atenção? 

Tábuas, tijolos, telhas,  

Nada restou do antigo casarão. 

Mas, como uma fada alvar 

A sua alma amiga 

Ainda povoa o lugar, 

E a voz antiga 

Que me ninava nos tempos de criança 

Ficou guardada em meu coração 

Na feliz lembrança 

Da mais linda canção, 

E da presença, que se faz  

Sem cheiro, toque ou cor, 

Em forma de saudade 

E do mais sublime amor. 

Nota: Odila era prima da avó da autora, morava em São Vicente Férrer/MA.

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